“Estar aqui ou não estar aqui, eis a questão”, diz este Hamlet da mala voadora, que volta em reposição ao Teatro São Luiz, em Lisboa, de terça, 27 de outubro, a domingo, 1 de novembro (e se apresenta no Theatro Circo de Braga a 5 e 6 de novembro). A companhia pegou na versão do texto de William Shakespeare conhecida como “mau quarto”, aquela que resultou de testemunhos de quem vira o espetáculo original – uma “versão pirateada, que mais fielmente reproduz o teatro que se fazia na altura”, considera o ator e encenador Jorge Andrade. Mais curto, este “Hamlet sem travões”, como lhe chamou o ator Alec Guiness, é também, descreve Jorge Andrade, “mais ativo” e “menos introspetivo”. Em palco, como é costume nas peças da mala voadora, os atores apropriam-se do texto e “reescrevem-no”, tal como fez quem, um dia, criou esta versão. Com um cenário que reproduz a boca de cena do São Luiz, uma grande mesa e cadeiras douradas, haverá teatro dentro do teatro. “Agrada-me a possibilidade de contar as histórias que o Hamlet encerra. É uma peça com muitas peças dentro e muitas possibilidades de fazer de conta e de descobrir o gozo de fazer teatro”, diz o encenador, que interpreta o papel de Hamlet.
Do lado de lá do rio, em Almada, o Teatro Municipal Joaquim Benite tem, de uma só vez, dois Hamlet em cena. Na Sala Principal, Luís Miguel Cintra encena, até 15 de novembro, a versão quase integral do texto de Shakespeare traduzido por Sophia de Mello Breyner Andresen. Numa coprodução entre o Teatro da Cornucópia e a Companhia de Teatro de Almada, cabe ao jovem Guilherme Gomes a interpretação de um imaturo Hamlet. Será esta, anunciou Cintra, a última peça que representará. A partir daqui só o veremos como encenador, garantiu. A seu lado, no palco, estão 16 atores nesta versão com “os valores estilísticos que nos habituámos a só reconhecer na poesia”, sublinha. “Perdemos a cabeça. A sensatez é triste companhia. E dos tristes não reza a história. E quisemos fazer um espetáculo excecional, uma última vez, o último espetáculo de uma era. Pensámos: nunca mais se fará um Hamlet integral”, contou na apresentação da peça.
Na Sala Experimental, estará na sexta, 30, e no sábado, 31, Hamlet Talvez, uma encenação de João Garcia Miguel, que explora “uma interpretação alternativa do caráter e dos impulsos que motivam o infeliz príncipe da Dinamarca”. A peça, estreada no dia 16 no Teatro-Cine de Torres Vedras e que também estará no fim do mês em Guimarães, segue-se a outras criações em diálogo com Shakespeare, Burgher King Lear (2006), Romeu & Julieta (2011) e Open Hamlet (2013). “Hamlet impõe-se como uma dúvida fraturante, uma espécie de identidade oracular e fantasmagórica que anuncia, avant la lettre, o sujeito moderno e as suas ramificações na direção do sujeito contemporâneo”, nota Garcia Miguel. Ser ou não ser, fazer ou não fazer – eis as questões em palco.
Hamlet
De William Shakespeare. Enc: Jorge Andrade
Teatro Municipal São Luiz, R. António Maria Cardoso, 38, Lisboa T. 21 325 76 40 > 27 out-1 nov, ter-sáb 21h, dom 17h30. €5 a €15
Theatro Circo, Av. da Liberdade, 697, Braga T. 253 203 800 > 5-6 nov, qui-sex 21h30. €8
Hamlet
De William Shakespeare. Enc: Luís Miguel Cintra
Teatro Municipal Joaquim Benite, Av. Professor Egas Moniz, Almada T. 21 273 9360 > 23 out-15 nov, qua-qui 20h, sex-sáb 21h, dom 16h. €6 a €13
Hamlet Talvez
De William Shakespeare. Enc: João Garcia Miguel
Teatro Municipal Joaquim Benite, Av. Professor Egas Moniz, Almada T. 21 273 9360 > 30-31 out, sex-sáb 21h30. €5 a €10
Centro Cultural Vila Flor, Av. D. Afonso Henriques, Guimarães T. 253 424 700 > 21 nov, sáb 22h. €10