Está no centro de Coimbra, rodeada de prédios, uma estrada que lhe passa à frente, carros nas redondezas. E, no entanto, ultrapassado o portão da Quinta das Lágrimas, a cidade fica para trás, dando lugar ao sossego. Doze hectares de jardins e mata verde, lagos e fontes, que esta sempre foi quinta rica em água, um palacete do século XVIII pintado agora no seu branco original. Também os adeptos do golfe ali têm um campo de nove buracos para jogar, vimos já ao cimo da escada. Mas foi mesmo pelos recantos da casa que nos deixámos encantar. A receção, onde o mobiliário de época se mistura com sofás de veludo e candeeiros modernos. A sala de convívio, com tetos em gesso trabalhado. A biblioteca, toda ela forrada a livros, com uma poltrona virada à lareira, mesmo a pedir horas de leitura nos dias de inverno. A pequena capela, que se pode espreitar, o bar também com lareira, mais salas e pátios interiores para se estar, conversar, descansar.
A Quinta das Lágrimas mistura tempos e lugares, alas seculares e outras mais modernas, pelas quais se dividem os 55 quartos a merecerem remodelação, no ano em que o hotel celebra duas décadas. Tiraram-se os floreados, escolheram-se tons neutros, substituíram-se as camas. Os pequenos-almoços servem-se agora no piso térreo da casa principal, na sala que pela hora do almoço se transforma em Restaurante Pedro e Inês, com saladas e pratos leves. Para jantar é no Arcadas, à responsabilidade do chefe de cozinha Vítor Dias há cerca de um ano. Se o tempo o permitir, escolha uma das mesas lá fora, viradas para o jardim iluminado. Velas acesas, menu de degustação de quatro pratos, tudo combinado com vinhos da Bairrada e do Dão.
No edifício de linhas contemporâneas desenhado pelo arquiteto Gonçalo Byrne, fica o Bamboo Garden Spa, com piscina interior (também há outra lá fora), banho turco e sauna, sala de treinos e um menu completo de massagens. Depois, há os jardins – o romântico e o medieval, uma mata que guarda pirilampos, aves e esquilos, um bosque de bambus, um anfiteatro que serve, em julho, de cenário ao Festival das Artes. E ainda uma lista a chegar à meia centena de árvores para descobrir. O podocarpo africano, a canforeira, a araucária-da-Austrália, o castanheiro-da-Índia, as sequoias, exemplares raros de palmeiras, e a grande figueira da Austrália que guarda a Fonte dos Amores. Conta-se que era dali que Pedro marcava os encontros com a sua bela Inês, enviando barquinhos de madeira pelo canal que levava a água ao Convento de Santa-Clara-a-Velha e ao Paço da Rainha, onde estava a sua amada. Já a quem se deve o nome da Fonte das Lágrimas lhe dirá Cláudia Duval, que conduz as visitas guiadas, recheadas de curiosidades que não vêm nos livros, e que são um bom complemento à estadia.
Os jardins da Quinta das Lágrimas estão abertos ao público (€2,50, grátis para hóspedes do hotel) e a Fundação Inês de Castro, que gere todo este espaço exterior, organiza visitas guiadas que requerem marcação prévia (€5/pessoa, T. 91 810 82 32).
Quinta das Lágrimas > R. António Augusto Gonçalves, St.ª Clara, Coimbra > T. 239 802 380 > a partir de €120 (quarto duplo com pequeno-almoço)