Cheira a café no número 42 da Rua da Escola Politécnica, no Príncipe Real, onde até há meses funcionou a galeria comercial Entretanto. Agora, entra-se e há grãos castanhos a fazer um monte agarrado à parede e a subir pelas escadas que levam ao primeiro andar. É também por aí que nos conduzem os muitos pássaros de pano amarelos, suspensos do teto, neste cenário criado por Joana Astolfi. Mas, antes de subirmos, olhemos a gigantesca chaise-longue, do designer Hugo França, feita com um tronco morto de Pequi-vinagreiro, a madeira que é apenas usada pelos índios Pataxós para construírem as suas canoas. Chamou-lhe Boca de Jacaré e acredita que é assim, de boca aberta, que muitos ficarão ao entrar na nova casa Pau-Brasil, que junta quase duas dezenas de marcas brasileiras, muitas delas em estreia em Portugal.
Sigamos os pássaros, então, para chegar ao primeiro andar, onde se distribuem as lojas do “melhor que o Brasil tem”, descreve o português Rui Gomes Araújo, responsável pelo projeto. A primeira marca a encontrarmos é a de fatos de banho e roupa de Lenny Niemeyer, com os estampados de papagaios e vegetação verde, a trazer o Brasil para ali. Ao lado, está a Granado, fundada no Rio de Janeiro, em 1870, por um português, e também a Phebo, que juntam os seus produtos de beleza.
Seguimos pela sala da esquerda, para descobrir a moda de Julianna Herc, os calções de banho da Frescobol Carioca, os objetos de decoração da Tucum, as biojoias de Maria Oiticica, a papelaria de luxo Nina Write e o Chocolate Q, que usa nas suas criações cacau apenas, de uma fazenda em Ilhéus. “No máximo, juntamos açúcar”, acrescentam Samantha e Rodrigo Aquim, dois dos irmãos desta família chocolateira. É deles a caixa Q0, que já encantou a Rainha de Inglaterra e o Imperador do Japão e serviu de estudo em Harvard: três barras ondulantes desenhadas por Oscar Niemeyer e várias pastilhas, desenvolvidas numa “busca pela amêndoa perfeita”.
Os livros da editora Capivara e os discos da Biscoito Fino também estão na Pau-Brasil, a que se associou o Instituto Moreira Salles. Ao fundo, por fim, estão as duas salas dedicadas ao design, com uma zona para o trabalho de Sérgio Rodrigues, nome maior da arquitetura brasileira (“Não há nenhum lugar assim nem no Brasil”, orgulha-se Gomes Araújo). Lá estão – como já estavam lá em baixo, na entrada, a receber-nos – a Poltrona Mole e o Banco Mocho, duas das suas peças mais emblemáticas. Ao lado, não faltam cadeiras, mesas e outro mobiliário com a assinatura de Chicô Gouveia, Jader Almeida, Campana e Reboh. É mesmo uma nova Descoberta do Brasil, esta que aqui se faz.
Explica Rui Gomes Araújo, responsável pelo projeto da Pau-Brasil: “Fomos buscar o nome da loja ao título do livro de Oswald de Andrade, publicado em 1925, que lançou o movimento dos primitivistas, dos modernistas, na defesa das raízes brasileiras. É isso que aqui queremos concretizar comercialmente, quase cem anos depois.”
Pau-Brasil > R. da Escola Politécnica, 42, Lisboa > seg-sex 12h-20h, sáb 10h-20h, dom 12h-18h