É um restaurante brasileiro diferente dos outros, porque tem o condão de juntar produtos portugueses aos aromas, temperos e sabores brasileiros sem descaracterizar uns e outros. Está num lugar discreto, entre a Estefânia e Arroios (de carro, ir pela ruas Pascoal de Melo e Ilha do Pico ou pela Dona Estefânia até à Cidade da Horta e seguir até ao cruzamento com a Rebelo da Silva) e num espaço exíguo, mas acolhedor (sala clara com 16 lugares e ambiente intimista).
A ementa está escrita numa ardósia em dúzia e meia de linhas que correspondem a outras tantas propostas, do couvert às sobremesas, com preços de 5 a 8 euros. Percebe-se a sugestão de partilhar alguns pratos e viajar por várias regiões do Brasil, em vez de ficar limitado aos conhecidos bobós e vatapás. O couvert não deve ser desprezado, porque inclui lascas de polvilho e bolinhos de queijo muito agradáveis. A seguir enumeram-se iguarias sem distinção de entradas e pratos principais, mas o serviço é esclarecedor e ajuda a escolher a refeição ao gosto de cada um. Algumas sugestões: “crocante da ilha”, que são cubinhos estaladiços de tapioca e queijo (mais uma brilhante utilização do queijo da Ilha) com geleia de pera-rocha e citrinos; “o meu pastel de bacalhau”, que parece de massa tenra, mas a massa é outra, feita com cachaça e mais estaladiça, com recheio de bacalhau, azeite de dendê e leite de coco, numa combinação acertadíssima; “bobosinho de camarão”, que tem por base um caldo (de camarão) muito bem feito a dar-lhe textura, com o azeite de dendê, a pimenta, o leite de coco e o gengibre a perfumarem o marisco; “caldinho de peixe”, que é tão simples como saboroso e delicado; “polvo com crips de mandioca”, criação feliz da chefe Juliana Adjafre, com o molusco cozinhado a baixa temperatura, em azeite, ficando macio, gostoso, e sendo muito bem acompanhado com mandioca frita e molho picante; “escondidinho de carne seca”, iguaria nordestina semelhante ao empadão com a carne seca desfiada, cebola roxa, manteiga da terra e mandioca, aqui substituída com vantagem por batata-doce; “trinchado alentejano”, que são plumas de porco preto flamejadas em cachaça, à semelhança do que se faz no Brasil com filet, a demonstrar a excelência da carne de porco alentejano.
Quatro doces igualmente apetecíveis: “amarelinho” (quindim) com caramelo de ginja (sempre o elemento português); “sagu ao Porto” (bolinhas de fécula de mandioca com creme de limão e lima), “tapioca com doce de leite”; e “brigadeiro com compota de morangos”. Carta de vinhos reduzida, quase todos de pequenos produtores, e caipirinha, que domina as atenções. Serviço muito simpático.
Aromas e Temperos > Tv. Rebelo da Silva, 2, Lisboa > T. 21 362 0119 > seg-sáb 12h-14h30,19h30-23h30 > €20 (preço médio)