Anualmente, ocorrem centenas de casos de morte súbita em crianças norte-americanas, aparentemente saudáveis, que morrem durante o sono, e ainda não conseguiu encontrar-se explicação para isso. A agência de notícias Associated Press falou com a família de Hayden Fell, que morreu aos 17 meses durante o sono, de forma súbita, quando tudo parecia normal.
Contudo, o intercomunicador colocado para vigiar a criança, que tinha um gémeo, filmou e gravou durante a noite inteira, e pode ter dado uma pista importante, escreve a agência.
Esta quinta feira, investigadores da Langone Health da Universidade de Nova Iorque, nos EUA, que analisaram, num estudo, vídeos que registaram a morte de sete crianças durante o sono, incluindo Hayden, nas suas casas, afirmaram que as convulsões durante o sono são uma causa potencial de pelo menos alguns casos de morte súbita inexplicável na infância.
Apesar de muito pequeno, este novo estudo, publicado na revista Neurology, oferece a primeira evidência de uma relação direta entre a morte súbita infantil e as convulsões.
A equipa informa que cinco das crianças que analisaram morreram logo após movimentos considerados típicos de convulsão breve e uma outra também parece ter tido uma convulsão, afirma ainda.
E apesar de a análise das filmagens não ser suficiente para afirmar que as convulsões foram desencadeadas por febre, várias crianças apresentavam sinais de infeções leves, de acordo com a equipa, e Hayden já tinha tido episódios de convulsões febris antes.
É possível prevenir estes casos desastrosos?
A morte súbita de um bebé, definida por Síndrome da Morte Súbita do Lactente (SMSL) e também conhecida por morte no berço, ocorre quando um bebé morre de maneira abrupta e imprevisível, normalmente durante o sono. A SMSL é uma das principais causas de morte dos bebés e acontece, na maioria das vezes, entre os dois e os sete meses de vida, sendo mais comum no outono, inverno e início da primavera, mas a sua definição abrange os óbitos inexplicados até aos 12 meses.
Já a morte súbita infantil (Sudden unexplained death in childhood, em inglês) acontece em qualquer momento após o primeiro ano de vida da criança, e ainda se sabe menos sobre ela, segundo os especialistas. Contudo, os investigadores suspeitam há muito tempo que as convulsões podem, de facto, desempenhar um papel importante nestes casos.
Segundo a equipa, as convulsões febris são muito comuns em crianças pequenas, afetando entre 2% e 5% das crianças entre os 6 meses e os 5 anos. Ou seja, embora assustadoras, raramente levam a consequências graves.
Por isso mesmo, é difícil perceber quando esses casos são sinal de uma condição mais séria e, por isso, prevenir. Laura Gould, uma das autoras deste novo estudo, perdeu, em 1997, a sua filha Maria, de 15 meses, por morte súbita durante o sono.
A investigadora, que conta que a bebé tinha acordado uma noite com febre, estava bem disposta na manhã seguinte, mas morreu durante uma sesta, diz que não pretende, com os resultados do novo estudo, assustar os pais.
Pelo contrário, a equipa pretende agora determinar se é possível encontrar diferenças entre os casos das crianças que morrem durante o sono e os casos de convulsões febris que não causam consequências graves. “Se conseguirmos descobrir quais são as crianças em risco, talvez possamos mudar o desfecho”, afirma Gould.
À mesma agência, Marco Hefti, neuropatologista na Universidade de Iowa, nos EUA, explicou que é complicado encontrar evidências de uma convulsão nas autópsias e, por isso, utilizar intercomunicadores para avaliar as causas das mortes durante o sono “é, na verdade, muito inteligente”.
Estudos recentes, realizados na Universidade de Nova Iorque e por uma equipa do Hospital Infantil de Boston, procuraram ligações genéticas com a morte súbita infantil, descobrindo que algumas crianças apresentavam mutações em genes associados a doenças cardíacas ou cerebrais, incluindo batimentos cardíacos irregulares e epilepsia.