Um novo estudo publicado na revista científica Environmental Health Perspectives, concluiu que a exposição de mulheres grávidas a químicos desreguladores endócrinos – substâncias químicas que afetam o sistema hormonal – pode ter influência no índice de massa corporal da criança – uma medida de gordura corporal baseada na altura e peso. A investigação, liderada pelo Instituto para a Saúde Global de Barcelona, teve como objetivo analisar o impacto da exposição de grávidas e bebés a substâncias químicas presentes no ar, água e alimentos e concluiu que bebés expostos a este tipo de químicos têm mais probabilidades de aumentar rapidamente de peso entre o nascimento e os nove anos de idade.
O estudo baseou-se na análise de dados de 1 911 pares de mães e filhos, recolhidos entre 2003 e 2008 para o Projeto Infancia y Medio Ambiente, realizado em Espanha. Foram medidos os níveis de vinte e três químicos presentes no sangue e urina das mulheres e analisados os índices de massa corporal dos seus bebés. Os produtos químicos foram ainda medidos de duas formas: individualmente e misturados com outras substâncias – de forma a dar aos investigadores uma representação mais realista de como os seres humanos são expostos a estes químicos. “Todas as crianças foram expostas no período pré-natal. Algumas medições estavam abaixo do limite de deteção, o que significa que a amostra tinha uma concentração demasiado baixa do produto químico a ser medido para ser registada, mas esta foi a minoria dos casos”, explicou Parisa Montazeri, coordenadora científica do Instituto para a Saúde Global de Barcelona e líder do estudo.
Os resultados mostraram que a presença de produtos químicos está associada, primeiramente, ao baixo peso à nascença – o que pode provocar atrasos no desenvolvimento da criança – e, numa fase posterior, à aceleração do índice de massa corporal que, na amostra do estudo, variou entre os 19% e 32 por cento. O rápido aumento do índice de massa corporal durante a infância está relacionado com vários problemas de saúde que podem arrastar-se até à idade adulta, como a obesidade, doenças cardiovasculares e diabetes.
Os disruptores endócrinos são substâncias químicas que afetam o sistema hormonal do ser humano e nos quais se incluem químicos de longa duração, ou seja, substâncias com uma lenta decomposição e que podem permanecer no corpo humano durante anos e décadas. Deste grupo de químicos, destacou-se a presença PFAS – ou substâncias perfluoroalquiladas – químicos sintéticos presentes em vários produtos e objetos de utilização diária, como cosméticos, utensílios de cozinha antiaderentes ou recipientes de plástico. Para além disso foi ainda investigada a presença de fungicidas e pesticidas bem como de ftalatos e parabenos, químicos que apesar de permanecerem no corpo humano menos tempo, têm um maior contacto com o organismo através de produtos de higiene pessoal – como champôs, vernizes ou cremes.
A presença destes químicos é especialmente perigosa durante a gravidez, uma vez que o feto ainda se encontra em desenvolvimento. Uma vez presentes no organismo, estes químicos interagem com o sistema endócrino humano, podendo copiar os efeitos das hormonas naturais e até mesmo bloquear hormonas envolvidas no processo de produção de energia do corpo. Estas substâncias podem, assim, influenciar o apetite da criança e o desenvolvimento de sensibilidades aos açúcares e outros hidratos de carbono, que podem levar a alterações no índice de massa corporal normal.
“O nosso estudo concluiu que as exposições a produtos químicos e as suas misturas estavam relacionadas com um risco acrescido de menor tamanho à nascença seguida de um ganho acelerado do índice de massa corporal e, para alguns produtos químicos, de maior tamanho à nascença e ganho acelerado de índice de massa corporal. Dado que o crescimento acelerado tem sido associado a consequências adversas para a saúde numa fase posterior da vida, seria importante que a investigação futura avaliasse os impactos na saúde da exposição pré-natal a químicos desreguladores endócrinos ao longo da vida”, pode ler-se nas conclusões do estudo.
Segundo os investigadores evitar a exposição a estes químicos é possível, ao evitar determinados objetos e produtos que possam conter substâncias químicas, como evitar comer de recipientes de plástico, não cozinhar com utensílios antiaderentes, preferir o consumo de alimentos orgânicos – porque isso limita a exposição a pesticidas – e, por fim, verificar sempre a existência de parabenos e ftalatos nos rótulos de produtos de higiene pessoal.