Um novo estudo alemão, publicado na revista científica Frontiers in Neuroscience, descobriu que os humanos podem necessitar de mais horas de sono nos meses mais frios. A equipa chegou a esta conclusão a partir da análise do sono REM, período em que os olhos se movem rapidamente, mas o corpo fica parado enquanto se sonha intensamente, a respiração acelera e a atividade elétrica no cérebro é excepcionalmente elevada. Este tipo de sono está diretamente ligado ao ritmo circadiano, afetado pela mudança de luz.
É durante o sono REM, que alterna com o sono não REM (responsável por cerca de 75% a 80% do tempo total de sono nos adultos), que se processam as memórias de conteúdo emocional. Na investigação, 292 voluntários com dificuldades relativamente ao seu sono foram recrutados para serem submetidos a exames denominados polissonografias.
O tipo e duração do sono dos participantes foi monitorizado e analisado num laboratório especial onde os voluntários dormiram naturalmente, sem despertador. A equipa excluiu, depois, as pessoas que estavam a ser medicadas com comprimidos que afetam o sono e aquelas que não passaram pela primeira fase do sono REM, com um total de 188 doentes a permanecer sob análise. Os investigadores descobriram, então, que os mesmos tinham um período mais longo de sono REM durante o inverno.
Embora o tempo total de sono dos participantes tenha sido, em média, cerca de uma hora a mais no inverno do que no verão, esse resultado não foi considerado significativo pelos investigadores. Pelo contrário, a equipa percebeu que o período de sono REM foi 30 minutos mais longo no inverno do que no verão, sugerindo que os humanos têm um sono REM mais longo nos meses mais frios relativamente aos mais quentes e com mais luz.
Um neurologista da Universidade da Califórnia, Jerome Siegel, tinha afirmado, anteriormente, que o sono REM pode ser o “aquecimento” que o cérebro precisa, explicando que, na natureza, as criaturas de sangue quente e com baixas temperaturas corporais tendem a ter um sono REM mais prolongado, enquanto que as espécies com temperaturas mais quentes, como os pássaros, passam por períodos de REM mais curtos.
O especialista avançou com a teoria de que o sono REM funciona como um mecanismo de aquecimento do cérebro controlado termoestaticamente, e que é desencadeado pela redução da temperatura associada ao reduzido metabolismo e diminuição do consumo de energia em sono não REM.
Siegel disse ainda acreditar que o sono REM pode existir para ajudar a proteger o cérebro dos animais do frio e permitir-lhes o necessário descanso e esta teoria ganha força por se saber que há animais que dormem durante mais ou menos tempo conforme a estação do ano em que se encontrem.
A equipa do novo estudo admite, contudo, a necessidade de os seus resultados serem testados em pessoas que não têm problemas de sono, já que as mudanças sazonais podem revelar-se ainda maias impactantes nesse tipo de população. Os investigadores do novo estudo afirmam ainda que, caso as suas descobertas se puderem aplicar em pessoas com hábitos de sono saudáveis, pode chegar-se a uma conclusão prática acerca da necessidade de ajustar os hábitos de sono à estação, como por exemplo ir dormir mais cedo nos meses mais frios e escuros.
“No geral, as sociedades precisam de ajustar os seus hábitos de sono, incluindo a duração e tempo, de acordo com a estação, ou ajustar os horários escolares e de trabalho às necessidades sazonais de sono”, afirma, citado pelo The Guardian, Dieter Kunz, autor do estudo.