Que a gravidez traz uma enorme mudança no corpo das mulheres já se sabe, até o cérebro sofre alterações. Em 2016, um estudo publicado na revista científica Nature Neuroscience relatava que a massa cinzenta (regiões espalhadas pelo cérebro onde estão as células nervosas, os neurónios) das mulheres encolhe depois de serem mães – embora não se saiba se essa alteração altera o seu funcionamento, já que o cérebro ainda tem muitos mistérios por desvendar.
Mas o que não parecia equacionável é que o cérebro dos pais, dos homens, bem entendido, também encolhesse. Mas foi essa a conclusão da equipa de Magdalena Martínez-García, do Instituto de Pesquisa em Saúde Gregorio Marañón, em Madrid, num paper publicado recentemente na Cerebral Cortex e citado pela revista The Economist.
No estudo foram acompanhados 40 homens à espera de serem pais (20 norte-americanos e 20 espanhóis) e um grupo de controlo com 17 homens espanhóis que não estava de “esperanças”.
Para medir as alterações nos cérebros foram feitas duas ressonâncias magnéticas com um ano de intervalo. No caso dos novos pais, uma antes e outras depois do nascimento do bebé.
As imagens dos exames serviram para comparar o volume e a espessura do córtex cerebal (zona do cérebro responsável, entre outras coisas, pela linguagem, perceção sensorial e cognição) com a do subcórtex (onde está, por exemplo, a formação da memória de longo prazo ou a regulação do medo). E o que mostraram as imagens é que há uma pequena, mas consistente, diminuição dos córtex cerebrais nos novos pais.
Esta minoração não foi, no entanto, uniforme nas várias zonas do cérebro, sendo mais notória na parte posterior do córtex, onde processamos e interpretamos a informação da retina, e na chamada rede padrão (circuitos neuronais que se distribuem por várias áreas do cérebro e que estão associados à divagação mental, como sonhar acordado).
Esta diminuição é semelhante à encontrada nas mães do estudo de 2016. A diferença foi que a diminuição no cérebro dos pais recentes revelou-se menos acentuada do que a das mães recentes – e, provavelmente, causada de forma diferente.
Descobrir o porquê desta alteração cerebral é muito difícil, e a neurociência continua a debater-se com a gigantesca dimensão enigmática do funcionamento do nosso cérebro.