Em Portugal são detetados anualmente entre 6.500 e 7.000 casos por ano, com um aumento ligeiro mas sustentado ao longo do tempo, explica o presidente da Liga Contra o Cancro, Vítor Rodrigues, adiantando que há “cerca de 1.800 óbitos por esta localização tumoral”. Segundo diz, “a análise das taxas de incidência e de mortalidade mostram uma realidade menos severa, fruto de um diagnóstico mais precoce e de um tratamento mais eficiente”. Vítor Rodrigues responde a algumas das dúvidas mais comuns.
1. Há mulheres cada vez mais novas com cancro da mama?
São diagnosticados mais cancros em idades progressivamente mais jovens, que, no entanto, se reflete pouco na taxa de incidência por grupos etários. Permanece por apurar, com rigor, se este aumento de número de casos se deve a situações reais e/ou se são o reflexo da utilização mais precoce dos exames de diagnóstico – mamografia e ecografia – detetando lesões que antes eram diagnosticadas mais tarde (num estadio mais avançado)
2. Quantas mamografias devem afinal ser feitas? E a partir de que idade?
O rastreio organizado populacional faz-se através de uma mamografia de 2 em 2 anos, dos 50 aos 69 anos (em alguns países até aos 74 anos), dirigido a mulheres sem sinais ou sintomas clínicos; caso necessário, podem ser realizados exames, como a ecografia, para confirmar a não existência de lesões. Situações particulares que recomendem controlos específicos devem ser discutidos entre a mulher e o médico assistente.
3. O estilo de vida interfere no risco de cancro de mama?
O cancro é reflexo da interação entre o ambiente genético e o ambiente externo. Deste modo, estilos de vida não-saudáveis são sempre fatores de risco para cancro e para outras doenças. Para além do fator hereditário (talvez o mais importante que se conhece e que parece ser responsável por cerca de 10% dos casos), têm sido implicados fatores como comportamentos reprodutivos mais tardios, características hormonais individuais, obesidade, falta de exercício físico. Mas, na grande maioria dos casos, não se deteta uma causa particular.
4 A pilula anticoncecional interfere no risco?
Embora a bibliografia evidencie, por vezes, resultados algo díspares, não parece haver causalidade no uso medicamente orientado e controlado dos anticoncecionais orais. De recordar que desde há várias décadas que estes medicamentos têm vindo, progressiva e significativamente, a diminuir a quantidade de hormonas que fazem parte da sua composição. Mas a sua toma deve, repete-se, ser instituída e vigiada pelo médico assistente, adaptada a cada pessoa.
5. Há tratamentos inovadores? Quais?
Há vários medicamentos que, ao longo do tempo, têm provado a sua eficácia e eficiência, sobretudo em casos específicos. Eles foram, são e serão o resultado da contínua investigação científica que se faz, fundamental, translacional e clínica, e que permite um conhecimento progressivamente mais profundo da pessoa, do tipo de cancro e das suas características moleculares e genéticas. A partir desse conhecimento, é possível ir criando medicamentos mais específicos, mais dirigidos, e que assim permitem a progressiva mudança do paradigma da terapêutica baseada na doença para uma terapêutica baseada no doente. Mas sempre integrados no clássico padrão terapêutico que associa, quando necessário, a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia.
6. A pandemia piorou a situação, nomeadamente de diagnóstico?
Salvo no início da pandemia, os cuidados hospitalares conseguiram reorganizar-se com bastante rapidez e eficiência no tratamento dos casos e no acompanhamento pós-tratamento. As situações de adiamentos, nestes casos, foram relativamente ligeiras.
O problema maior aconteceu na referenciação de casos suspeitos. Os rastreios organizados pararam a atividade durante três meses (exceto na região norte onde essa paragem foi de 6 meses, devido a situações burocráticas particulares) e a sua retoma foi progressiva pela necessidade de ajustar os procedimentos sanitários devido à Covid-19. Também o diagnóstico precoce sofreu atrasos e adiamentos consideráveis, seja pela menor resposta de oferta de consultas e de exames auxiliares de diagnósticos seja pelo receio generalizado da população em procurar esses cuidados.
A situação tem caminhado progressivamente para a normalidade, mas há que ter em atenção que, para além recuperar a atividade pré-covid, temos que dar resposta aos atrasos e adiamentos que se sucederam neste período.