“Concluímos que vacinar primeiro os ‘super disseminadores’ torna o protocolo de vacinação mais eficiente e permite salvar muitas mais vidas”, resume José Fernando Mendes, investigador do Instituto de Nanoestruturas, Nanomodelação e Nanofabricação (I3N) e do Departamento de Física da UA, responsável pelo estudo em causa, questionando assim a estratégia definida pela maioria dos países, sobretudo ocidentais, que optou por vacinar os mais velhos, a par dos profissionais de saúde, em primeiro lugar.
Mas não todos: a Indonésia, por exemplo, o quarto país mais populoso do mundo, e com mais infetados e mortos provocados pela pandemia no sudeste asiático, optou por outra estratégia. Depois dos trabalhadores da saúde e dos funcionários na linha da frente, decidiu-se que os primeiros a ser vacinados deveriam ser os adultos em idade ativa. Uma estratégia que recebeu críticas, mas também elogios – como notou então Dale Fisher, especialista em doenças infeciosas e consultor das autoridades de saúde de Singapura, que fez por explicar com clareza a lógica da abordagem indonésia.
“Os adultos mais jovens são geralmente mais ativos, têm mais contactos sociais e viajam mais, pelo que esta estratégia deverá reduzir a transmissão comunitária mais depressa do que a vacinação dos indivíduos mais velhos”, sublinhou, não deixando, no entanto, de reconhecer que tem riscos. “É claro que os mais velhos têm mais probabilidade de desenvolver doença grave e morrer. Mas vejo mérito em ambas as estratégias de vacinação.”
Agora, e usando um modelo epidemiológico, José Fernando Mendes e a sua equipa mostram que, se Portugal vacinasse 20% da população da faixa etária situada entre os 30 e os 39 anos – uma faixa que representa 2,5% da população nacional e onde os cientistas colocam o grosso dos ‘super disseminadores’ – o país teria menos 2 a 3 mil mortos.
“Mostramos ainda a importância de diferenciar quem tem um elevado número de contatos para melhorar a eficácia da vacinação”, prossegue o responsável do estudo, avançando que neste grupo estão não só os profissionais de saúde, como os professores de todos os níveis de ensino, funcionários dos transportes públicos e empregados de supermercados. “No fundo, todos os que lidam diretamente com um grande número de pessoas”, insiste o investigador. “Assim, seria possível obter uma redução muito maior no número total de óbitos e na procura de cuidados de saúde.”
Sabendo que “o principal desafio no presente contexto da epidemia SARS-CoV-2 é vacinar o maior número de pessoas, no menor espaço de tempo, para uma redução máxima do número de mortes, e limitar os impactos económicos inevitáveis” – e que “a vacinação em grande escala com o objetivo de alcançar a imunidade de grupo apresenta muitas dificuldades logísticas e sociais” – então, insiste José Fernando Mendes, a heterogeneidade da população e dos seus contactos deveria ser “considerada”, para se delinear a melhor estratégia de vacinação.