Quando teve nas mãos os resultados da comparação do ADN de pacientes infetados com o SARS-CoV-2, e que tinham ficado gravemente doentes, com material genético dos Neandertais e dos Denisovans (outro grupo extinto de humanos), Hugo Zeberg “quase caía da cadeira”. “O segmento de ADN era exatamente o mesmo do genoma Neandertal”, conta o professora do Instituto Karolinska em Estocolmo, Suécia, ao The Guardian.
O estudo, publicado esta semana na Nature, e que envolveu cerca de 3200 pacientes hospitalizados, identificou uma família de genes no cromossoma 3 (um dos 23 pares de cromossomas dos humanos) como fator de risco para as falhas respiratórias agudas que têm levado alguns infetados com Covid-19 a estados muito graves. Os autores escrevem mesmo que este é o principal fator de risco genético para as versões mais graves da doença.
O investigador e Svante Pääbo, co-autor do estudo e diretor do Instituto Max Planck, na Alemanha, têm uma teoria: os genes dos Neandertais chegaram aos nossos dias porque representavam uma vantagem, especulam, no combate a infeções que já não existem. Agora, perante uma infeção nova, como esta, revelaram a sua desvantagem e estas “consequências trágicas”, nas palavras de Pääbo. Como e porquê? Não é claro. Um dos genes em causa está envolvido na resposta do sistema imunitário e outro no mecanismo de que os vírus se servem para invadir as células humanas. Os investigadores não sabem qual dos genes é o principal culpado pelos casos mais graves ou se até há vários culpados.
O que se sabe é que, escrevem, estes genes, uma herança com mais de 50 mil anos, estão presentes em cerca de metade da população do Sul da Ásia – no Bangladesh, por exemplo, 63% têm, pelo menos, uma cópia desta sequência genética – e em 16% dos europeus.
Na “estimativa aproximada” de Pääbo, que liderou a equipa responsável pela sequenciação do genoma Neandertal, projeto concluído de 2010, haverá cerca de 100 mil casos de morte por Covid-19 atribuíveis a estes genes neandertais.