Em entrevista à revista alemã Der Spiegel, o epidemiologista Marc Lipsitch, da Universidade de Harvard, garante que o Covid-19 terá consequências muito sérias e que mais de metade da população será infetada. “Não creio que o vírus ainda possa ser travado. É demasiado tarde para isso. Nos EUA e na Alemanha, vemos que as transmissões não estão ligadas a nada conhecido. Portanto, significa que o vírus já se espalhou localmente. É um sinal de que as coisas em algumas áreas se descontrolaram.”
Em 2003, a Organização Mundial de Saúde chegou a alertar para a possibilidade de a SARS se tornar uma pandemia, o que não se chegou a verificar. A diferença, diz Lipsitch, é que a contaminação no caso da SARS partia sempre de pacientes com sintomas, o que tornava o controlo da propagação mais fácil. “Não é o que se passa agora com o Covid-19.”
O epidemiologista, que estudou a Gripe Espanhola de 1918-1920, além da própria SARS, estima que 1% a 2% dos pacientes sintomáticos tenham morrido, até agora, mas sublinha que só saberemos a verdadeira taxa de mortalidade mais tarde, quando a crise terminar, devido à quantidade desconhecida de pessoas que não chegam a ter sintomas.
O mais importante neste momento, acrescenta, é que toda a gente que esteve em contacto com pessoas infetadas fique em casa de quarentena. “Mesmo que não consigamos encontrar todos os que estiveram em contacto, conseguimos reduzir o número de infeções.” Esta medida é fundamental para tornar mais lenta a propagação e não sobrecarregar os hospitais, além de que nos faz ganhar tempo enquanto se descobre que medicamentos são mais eficazes. “Seria melhor contrairmos a doença daqui a seis meses do que agora.”
O especialista tem, no entanto, dúvidas sobre a necessidade de um país fechar todas as escolas quando ainda há poucos casos, dizendo antes que faz sentido em locais específicos, com muitas situações declaradas. E, acrescenta, é possível que tenhamos de conviver com o vírus durante muito tempo. “É uma forte possibilidade. Mas há alguma esperança. Podemos vir a ter um longo período com poucas transmissões dentro de um ou dois anos, porque entretanto se espalhou tanto que a maioria das pessoas se tornou imune.”