A descoberta de dois doentes portugueses infetados com coronavírus e internados em duas enfermarias da medicina interna fez soar todas as campaínhas vermelhas no Hospital de Santa Maria. Um doente internado há 10 dias e outro desde sábado foram diagnosticados hoje com Covid-19. Estes doentes estão internados nas unidades de Medicina 1 e Medicina 2 deste hospital de referência com sintomas de pneumonia há vários dias, sem que lhes tenha sido efetuado qualquer teste ao novo coronavírus anteriormente.
Definição da DGS para caso suspeito passou a incluir ” “doente com infeção respiratória grave, requerendo hospitalização, sem outra etiologia”
Seguindo os protocolos recomendados que definem um caso suspeito, não estavam a ser efetuados testes a doentes sem terem uma ligação epidemiológica. Mas a ausência de casos deixou a comunidade médica de sobreaviso, e por isso a Direção Geral da Saúde (DGS) decidiu mudar a definição de caso suspeito e passou a incluir sintomas de pneumonia sem qualquer ligação epidemiológica. “Doente com infeção respiratória grave, requerendo hospitalização, sem outra etiologia”, acrescentou a orientação da DGS de 4 de março sobre o caso suspeito.
Passaram assim a ser testados os pacientes sem causa nem agente identificado. A partir desse momento, começaram a ser feitos testes aos doentes internados com pneumonias, e já foram descobertos pelo menos dois doentes com Covid-19 em Santa Maria.
Enfermeira-chefe contaminada
Estes doentes poderão ter infetado pelo menos uma enfermeira-chefe, que também já foi testada. Os primeiros testes deram no entanto negativo. A dúvida agora é quantos casos não diagnosticados existirão internados nos hospitais e quantas pessoas terão já contaminado durante este período.
“Este diagnóstico assustador, é muito preocupante. É só a ponta do icebergue”, diz à Visão um médico do hospital. “Basta pensar que um turno de enfermaria a cada três vezes, são mais de trinta turnos de enfermaria em 10 dias”, explica. Neste momento, estão ser testadas dezenas de médicos e enfermeiros dessas unidades e a ser estabelecidos possíveis links epidemiológicos.
No entanto, “as indicações são muito díspares”, diz este médico de Santa Maria contactado. “Os elementos da equipa médica testados agora negativamente, se não estiveram e contacto direto com estes doentes e não tiverem quaisquer sintomas, continuam a trabalhar, porque simplesmente não há equipas para meter toda a gente de quarentena. Isso significava fechar unidades. Mas um teste pode dar negativo hoje e positivo amanhã”, afirma este especialista. Há um grau de risco associado a esta decisão.
Máscaras “contadas”
Para agravar a situação, os equipamentos de proteção no hospital têm reservas muito pequenas, o que está a deixar as equipas ansiosas. “Não há máscaras”, houve-se a toda a hora no Hospital de Santa Maria. “Está tudo pelos mínimos, as máscaras estão a acabar e isto ainda nem começou? Como é possível?”, questiona.
NOTA: Notícia atualizada com dados negativos nos primeiros testes a enfermeira-chefe.