O anúncio foi feito esta sexta-feira, 24, pela ministra da Saúde francesa. “Há dois casos confirmados”, sublinhou Agnes Buzyn, citada pela Associated Press, numa conferência de imprensa durante a tarde, vincando que é possível que haja mais casos. De acordo com a governante, as duas pessoas infetadas estão internadas em Paris e estiveram recentemente na China. Ao fim da noite, confirmava-se um terceiro caso, desta vez em Bordéus.
Este novo vírus, que causa pneumonias graves, foi detetado na China no final de 2019 e já provocou a morte a pelo menos 26 pessoas. Em território chinês, mais precisamente na região de Wuhan, há registo de mais de 800 pessoas infetadas e cerca de 1200 casos suspeitos – e já foram detetados mais doentes um pouco por toda a Ásia, de Macau à Tailândia, passando por Taiwan, Hong Kong, Coreia do Sul e Japão. Alem disso, foi também confirmado um caso nos Estados Unidos.
Segundo as autoridades chineses, o país está no ponto “mais crítico” em termos de prevenção e controlo do vírus. Há três cidades em quarentena – Wuhan e também as vizinhas Huanggang e Ezhou, onde vivem mais de 18 milhões de pessoas – como quem diz, não estão autorizadas nem entradas nem saídas. Num esforço sem precedentes para tentar travar a propagação, foram também canceladas as comemorações do Ano Novo chinês em várias localidades, incluindo a capital, Pequim.
À espera do supervírus
Faz agora dois anos que a Organização Mundial de Saúde (OMS) anuía que esperava um novo agente viral capaz de provocar uma pandemia. ” A doença X representa o conhecimento de que uma séria epidemia internacional pode ser causada por um patógeno atualmente desconhecido por causar doenças humanas”, lia-se no seu relatório da primavera de 2018, após a habitual revisão dos especialistas em saúde, aludindo a um vírus hipotético a surgir num futuro próximo e capaz de causar uma infeção generalizada em todo o mundo.
Daí que, mal se voltou a ouvir falar de um vírus hipercontagioso e mortal, muitos se tenham lembrado deste comunicado. Além disso, há muito que se assumiu que a China tem mais probabilidade de desenvolver casos deste tipo por causa do tamanho do seu território, da densidade populacional e do contacto próximo com animais doentes.
Atenta à evolução do caso, a OMS reuniu esta semana em Genebra, mas considerou ser prematuro declarar já o estado de emergência internacional. Ainda assim, reconheceu que o risco existe e deixou claro que poderá voltar a reunir em breve para discutir o eventual alerta mundial.
Em Portugal, a Direção Geral de Saúde anunciou a ativação dos dispositivos de saúde pública de prevenção, enquanto o Centro Europeu de Controlo de Doenças elevou para ‘moderado’ o risco de contágio na União Europeia, continuando a monitorizar a situação e a realizar avaliações rápidas de risco. Mas, na mesma linha da OMS, Graça Freitas, a diretora-geral da Saúde insistiu que os portugueses devem estar atentos, mas tranquilos – e que Portugal tem planos de contingência regularmente testados que garantem a preparação necessária para detetar, diagnosticar e tratar eventuais casos.
À semelhança de casos anteriores, o novo coronavírus de que se fala é transmitido entre animais e conseguiu passar a barreira das espécies, infetando pessoas próximas. Além disso, já há registos de contágio pessoa a pessoa, embora em circunstâncias não totalmente fundamentadas.
Os primeiros casos do vírus, que recebeu o nome “2019 – nCoV”, apareceram em meados de dezembro na região de Wuhan, no centro da China, quando começaram a chegar aos hospitais pessoas com uma pneumonia viral. Em comum, eram trabalhadores, ou visitantes frequentes, do mercado de marisco e carnes de Huanan, na mesma cidade. Ainda não se conhece a origem exata da infeção, mas suspeita-se que foram animais
doentes, que são comercializados vivos, a transmitirem o agente aos seres humanos.
Os sintomas destes coronavírus são mais intensos do que uma gripe e incluem febre, dor, mal-estar geral e dificuldades respiratórias, incluindo falta de ar.