Muitos estudos realizados ao longo do tempo têm demonstrado a relevância do consumo diário do pequeno-almoço, referindo ser a refeição mais importante do dia. Mas, no que toca a perder peso, esta refeição pode não ser assim tão benéfica, dizem vários especalistas, provocando, até, o efeito contrário.
Explicar como foi criado o mito de que as pessoas que tomam o pequeno-almoço são mais saudáveis e conseguem manter o peso ideal de forma mais fácil é importante para o conseguir desconstruir.
No seu blogue, Marion Nestle, professora de nutrição, estudos alimentares e saúde pública na Universidade de Nova York, e autora de vários livros sobre alimentação, tinha defendido que a maioria dos estudos que demonstram a alegada importância do pequeno almoço para a manutenção da saúde e perda de peso foram patrocinados por marcas de cereais de pequeno-almoço como a Kellogg’s, “cujos negócios dependem de pessoas que acreditam que os cereais foram feitos para o pequeno-almoço. ”
Por exemplo, um estudo americano de 2003, que conclui que saltar o pequeno-almoço não é uma boa estratégia para perder peso, foi financiado por esta marca.
Uma outra investigação mais recente, de 2014, que sugere, também, que não fazer a primeira refeição do dia é prejudicial à saúde, foi financiado pela empresa de cereais americana Quaker Oats, que editou, até, o conteúdo final do “estudo”.
Também existem pesquisas independentes, mas observacionais, que chegaram a conclusões parecidas. O problema é que esse tipo de estudos comparam pessoas que já tomam o pequeno-almoço com aquelas que saltam esta refeição, e não pessoas aleatórias a quem foi pedido que tomassem ou não o pequeno-amoço, registando a diferença entre os grupos.
Nos estudos realizados, o pequeno-almoço, por si só, não consegue explicar as diferenças de peso corporal ou as doenças que os dois grupos apresentam, já que há vários fatores que podem influenciar estas diferenças.
O virar do jogo
Mais recentemente, investigadores publicaram ensaios que conseguem identificar melhor os efeitos da ingestão ou não do pequeno-almoço e de que forma isso influencia a perda de peso. Neste tipo de estudos, é pedido a um grupo de participantes que tome o pequeno-almoço e a outro que salte esta refeição. Só depois são comparados os resultados entre os dois.
Já que a única diferença evidente entre grupos é ingerirem ou não esta primeira refeição, os seus efeitos tornam-se mais reais e claros.
Um exemplo é um grande ensaio de 2014, publicado na revista científica The American Journal of Clinical Nutrition, que acompanhou, durante 16 semanas, 300 pessoas que estavam a tentar perder peso e que concluiu que tomar o pequeno-almoço não teve qualquer efeito na perda de peso dos voluntários.
Já este ano, uma revisão de 13 ensaios clínicos, publicada pelo British Medical Journal e que incluiu o estudo de 2014, concluiu que “não há evidências que sustentem a ideia de que o consumo do pequeno-almoço promova a perda de peso ou que, pelo contrário, não o tomar faz com que se ganhe peso”.
Em vez disso, os investigadores perceberam que quem tomava o pequeno-almoço consumia, em média, mais 260 calorias por dia e pesava um quilo a mais relativamente a quem saltava a refeição.
Contudo, até mesmo esta grande análise tem limitações, já que as avaliações duraram apenas 16 semanas, o que não é suficiente para avaliar o impacto desta refeição na saúde, a longo prazo, daí que os resultados tenham de ser levados em conta com cautela, afirmam os autores do estudo.
Mas, afinal, deve deixar-se de lado o pequeno-almoço?
Este grande ensaio não sugere que se deva deixar de tomar o pequeno-almoço, mas sim que as alegações de que esta refeição ajuda na perda de peso são falsas.
Vários estudos realizados ao longo do tempo têm demonstrado que tomar sempre o pequeno-almoço é benéfico para a saúde. Em janeiro de 2017, uma pesquisa da Associação Americana do Coração concluiu que as pessoas que o fazem são menos propensas a ter doenças cardíacas e níveis mais elevados de colesterol e pressão arterial.
Ainda nesse ano, uma investigação realizada por pesquisadores da Universidade de Hohenheim, na Alemanha, e publicada na revista científica American Journal of Clinical Nutrition, demonstrou que saltar esta refeição, apesar de ajudar a queimar calorias, pode aumentar o risco de inflamações, quando se torna um hábito.
O importante é procurar-se alimentos que forneçam as vitaminas e nutrientes necessários para a manutenção da saúde e do peso que pretende, sem dispensar as frutas, os cerais ricos em fibras e os sumos naturais. Iogurtes com muito açúcar ou cereais de supermercado podem não ser muito boa ideia.
E, para quem quer seguir uma dieta saudável e completa e não sabe bem como fazê-lo, deve consultar-se um profissional de saúde que ajude a escolher os alimentos mais adequados, dependendo do objetivo. Cada caso é um caso.