O estudo brasileiro contou com cerca de 1800 crianças e sugere que as que nascem prematuras ou com baixo peso têm uma probabilidade três vezes maior de desenvolver défice de atenção e hiperatividade que uma criança que nasceu após o tempo completo de gestação.
Ao analisar dados de estudos anteriores, os investigadores perceberam também que, mesmo entre este grupo de risco, a probabilidade de desenvolver hiperatividade aumentava à medida que o tempo de gestação diminuía. Portanto quanto mais cedo e mais pequeno o bebé nascer maior é a possibilidade de ter défice de atenção e hiperatividade. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, uma gestação normal dura 40 semanas, mas os bebés que nascem a partir da 37º semana já não são considerados prematuros.
Os investigadores compararam os dados de bebés nascidos antes das 32 semanas e bebés saudáveis que nasceram depois das 37 semanas e com pelo menos 2,5kg. Foi assim que perceberam que os bebés prematuros que nasceram antes das 32 semanas ou com menos de 1,5kg tinham uma probabilidade duas vezes maior de ser hiperativos. Já nos bebés prematuros que nasceram antes das 28 semanas e com menos de 1kg a hipótese de desenvolverem o transtorno subia para 4 vezes mais que em bebés saudáveis.
A perturbação de hiperatividade com défice de atenção (PHDA) é uma síndrome associada à disfunção de certas zonas do cérebro que impede uma comunicação saudável entre os neurónios. Este transtorno é caraterizado por distração, agitação, hiperatividade, impulsividade, desorganização e ainda esquecimento não apropriado à idade da pessoa.
Carlos Renato Moreira-Maia da Universidade Federal de Rio Grande do Sul em Porto Alegre e um dos autores do estudo diz que “existem fortes evidências de que os indivíduos que nascem muito cedo ou com peso muito baixo tem um risco mais elevado de ter défice de atenção e hiperatividade” mas acrescenta que ” as razões para esse aumento de vulnerabilidade à PHDA continuam por descobrir”. No entanto, Carlos Renato disse ao jornal Daily Mail, através de e-mail, acreditar que o stress de um nascimento antes do tempo ou o desenvolvimento prematuro dos órgãos vitais do corpo do bebé possam levar a uma inflamação e a mudanças hormonais que contribuem para o transtorno.
O nascimento prematuro é uma das principais causas de morte de bebés em Portugal. Os bebés prematuros podem passar semanas ou até meses internados e durante esse tempo normalmente apresentam dificuldades respiratórias e na digestão. Ao longo da vida, estas crianças podem ter de enfrentar dificuldades visuais, auditivas e cognitivas bem como problemas sociais e de comportamento. São muitos os fatores que podem influenciar um nascimento prematuro a começar por doenças crónicas da mãe como pressão arterial elevada, diabetes e problemas de coagulação. Mas existem também fatores de risco ligados ao comportamento das gestantes como tabagismo, alcoolismo e uso de drogas.