Era uma vez, na Idade Média, um príncipe português que se casou com uma nobre castelhana. O príncipe chamava-se Pedro e era filho do Rei D. Afonso IV, conhecido por O Bravo. A noiva, Constança, era filha de gente importantíssima com nomes compridíssimos. Deram o nó em 1339 e, se a história tivesse ficado por aqui, não teria entrado em cena a sua principal personagem: Inês de Castro.
Mas entrou. Inês, filha de um nobre da Galiza, era uma das damas que viajaram de Castela para acompanhar Constança. Era lindíssima, e o nosso recém-casado príncipe Pedro, mal a viu, ficou logo apaixonado. Parece que Inês correspondeu àquela paixão e, é claro, as coisas complicaram-se.
Era natural os reis e as rainhas (e os príncipes e as princesas) terem namorados, mesmo sendo casados, mas não lhes ficava bem trocarem carinhos à vista de todos. Ora, Pedro e Inês andavam de mão dada e beijavam-se onde quer que estivessem. A princesa Constança, como era de prever, não gostou de ser alvo dos comentários trocistas da Corte e resolveu passar ao contra-ataque. Como? Já verás.
Foi então que o Rei D. Afonso IV que, já em vida de Constança, tinha expulsado Inês da Corte durante algum tempo, decidiu mandar assassiná-la
Assassínio no palácio
Constança lembrou-se de convidar Inês para madrinha do primeiro filho que teve com Pedro. Ser padrinho ou madrinha de uma criança é tornar-se compadre ou comadre dos pais, portanto, seu parente. Ora, naquele tempo, ter relações amorosas com um familiar (mesmo que afastado) era considerado crime. Boa tática para manter Inês e Pedro afastados…
Quando o recém-nascido morreu, apenas com uma semana de idade, desconfiou-se. Teria sido morte natural ou encomenda criminosa dos apaixonados? Andava a Corte com estas dúvidas quando Constança também faleceu, neste caso sem que houvesse suspeitas de assassínio, já que a morte ocorreu quando dava à luz o futuro rei D. Fernando. Agora Pedro e Inês poderiam viver livremente a sua paixão, mas isso não aconteceu.
Nas ruas e nos corredores do palácio, toda a gente começou a murmurar, pois os irmãos de Inês eram gente importante em Castela. Que mal tinha isso? Tinha, pois Pedro, futuro rei de Portugal, podia ser influenciado pela família da amada e escolher para seu herdeiro um filho dela, em vez do legítimo sucessor da Coroa, que era o pequeno Fernando.
Foi então que o Rei D. Afonso IV, que já em vida de Constança tinha expulsado Inês da Corte, durante algum tempo, decidiu mandar assassiná-la. Para levar a cabo essa sinistra tarefa, encarregou os seus homens de confiança: Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco. No dia 7 de janeiro de 1355, os três apanharam-na desprevenida, atacaram-na e cortaram-lhe a garganta, enquanto Pedro andava à caça. Ao ter conhecimento do crime, o príncipe ficou fora de si. Espumou, praguejou, agitou os braços, pegou em armas, convocou um grupo de amigos e, por uns tempos, fez guerra ao pai.
Rainha depois de morta?
Assim que Pedro subiu ao trono, após a morte do pai, uma das primeiras coisas que ele fez foi castigar os assassinos de Inês. Visto que Coelho, Gonçalves e Pacheco se tinham mudado para Castela, propôs ao rei vizinho a troca destes pelos castelhanos que estavam refugiados em Portugal. O negócio foi feito, e Coelho e Gonçalves foram entregues ao agora rei de Portugal, que ordenou que fossem mortos no meio de grandes torturas. Pacheco conseguira refugiar-se em lugar seguro.
Para palco das execuções, foi montado um estrado em Lisboa, diante do palácio, e D. Pedro mandou pôr em frente uma mesa, à qual se sentou a comer enquanto assistia ao «espetáculo». Depois de o coração de Coelho ter sido arrancado pelo peito e o de Gonçalves pelas costas, ambos os corpos foram queimados, enquanto o povo exprimia a sua alegria boçal.
Conta-se ainda que o novo rei mandou desenterrar Inês de Castro, fez sentar os seus restos mortais num trono e a coroou rainha de Portugal. Mas pode não passar de uma lenda.
O que é mesmo verdade é que D. Pedro I fez transladar os restos da sua amada do Convento de Santa Clara, em Coimbra, para o belo túmulo gótico no Mosteiro de Alcobaça, ao lado do que destinara para si próprio. Ainda hoje podemos admirar os dois, lado a lado.
Afinal, esta história de amor, que acabou mal, resistiu mesmo aos tempos!