Passando da moda no visual à moda política, o que se usava naquele tempo era os reis decidirem acerca de tudo sem ninguém poder dizer o que pensava. Chamava-se a isso «monarquia absoluta». O rei – que era o filho mais velho de rei anterior – governava «por direito divino» até morrer.
Achava-se que recebia o poder dos Céus. Agora é muito diferente, pois os governantes são eleitos (até mesmo na maior parte dos países em que existem reis).
D. João V reinou durante muito tempo: 43 anos e meio. Viveu sempre no meio do luxo. O País era então muito rico. É que pouco antes tinham sido descobertas grandes minas de ouro no Brasil, que pertencia a Portugal.
Muitas pessoas emigraram para lá, à procura de ouro, porque queriam enriquecer, mas um quinto do ouro que encontravam tinha de ser entregue à Coroa, que é quem diz, ao Estado. Portugal ficou assim «a nadar em ouro», e só foi pena que essa riqueza não tivesse sido mais bem aplicada no desenvolvimento nacional.
Grande parte desse ouro foi para pagar a construção do palácio de Mafra, erguido para comemorar o nascimento de um herdeiro do trono. Foi há 306 anos que se colocou a primeira pedra para a sua construção.
Foi também no tempo de D. João V que se construiu o Aqueduto das Águas Livres, destinado a trazer água encanada até Lisboa. As pessoas ainda não tinham torneiras em casa, mas podiam ir abastecer-se a um chafariz próximo. E havia uns homens, chamados aguadeiros, que se encarregavam de fazer a sua distribuição.
Os males da Inquisição
Havia muito dinheiro em Portugal, mas quase não existiam estradas. Os portos estavam a precisar de obras, a maioria da população era constituída por mendigos e a Inquisição (já uma vez falámos dela) perseguia as pessoas.
Em resumo, era assim: a Igreja Católica – que também não era igual à Igreja católica de hoje! – tinha então muita força e possuía um tribunal que processava e torturava quem achava que não lhe era fiel.
Quando uns piratas franceses atacaram o Rio de Janeiro, no Brasil, D. João V quase nada fez em resposta. Poderíamos pensar que Portugal não tinha uma marinha forte, mas isso não é verdade, pois a esquadra portuguesa participou nesse tempo numa guerra naval contra os turcos, a pedido do papa Clemente XI.
Como recompensa pela vitória conseguida na batalha do Cabo Matapão, o Papa ofereceu a Lisboa o direito de ter um patriarca. Isto não parece muito importante, mas foi uma honra. O bispo de Lisboa ganhou o direito a usar esse título e a ser elevado à categoria de cardeal.
O voo da ‘Passarola’
Uma das personagens mais interessantes do tempo de D. João V foi Bartolomeu de Gusmão, um dos pioneiros da aviação. Nasceu no Brasil. Em criança inventou um sistema de abastecimento de água ao colégio onde estudava. Foi na sua segunda viagem a Lisboa, em 1708, que mostrou a D. João V o seu «instrumento para se andar pelo ar».
A notícia espalhou-se com tal rapidez, que por toda a Europa surgiram logo imagens fantasiosas de uma espécie de barco voador com cabeça de ave. Era a célebre Passarola, que nunca existiu com essa forma. Sim, porque os balões de Gusmão eram aeróstatos como conhecemos de ver em ilustrações, embora pequeninos e incapazes de transportarem pessoas.
As experiências de Gusmão tiveram lugar no palácio real, à beira do Tejo. Da primeira vez, o balãozinho incendiou-se antes de levantar voo. Da segunda, a coisa correu melhor. E seguiram-se mais três ensaios, no último dos quais um balão já maior se elevou em pleno Terreiro do Paço, deixando toda a gente de boca aberta de espanto.
Mais tarde, o inventor teve problemas com a Inquisição e tentou fugir para Inglaterra o mais depressa que pôde. Se os seus balões funcionassem mesmo, poderia ter optado pela via aérea…
Quando D. João V morreu, passou a ser rei o seu filho D. José. Esse chamaria para o governo o célebre Marquês de Pombal, e o País mudaria bastante. Mas isso é já outra história, e agora ficamos por aqui.
Este artigo foi editado a 2 de janeiro de 2023