Um concurso canino patrocinado pelos supermercados Manequim figurava entre as principais celebrações de Natal. «Inscreva o seu cão», lia-se em cartazes colados nas paredes da vila. E as inscrições não faltaram, pois o valor do 1.º prémio era aliciante em tempo de corte no tradicional subsídio natalício: 500 euros.
Uma tarde, o cabo Lince estava precisamente a olhar para um desses cartazes quando viu a jovem Maria Faro a olhar, aflita, em todas as direções.
– Aconteceu alguma coisa? – perguntou-lhe.
– Ai, sr. cabo – queixou-se a rapariga –, foi o meu cão, o Nito, que fugiu! Eu até o tinha fechado no quintal, não fosse o diabo tecê-las… É que se ele não aparecer até logo à noite não posso levá-lo ao concurso, que tinha todas as hipóteses de ganhar…
– Sim – concordou o cabo Lince. – Eu conheço o cão Nito e sei que é muito inteligente. Até parece gente… E a menina não sabe como é que ele escapou?
– Sei, porque ali a vizinha, a D. Maria Pulga (que também é muito amiga de cães), viu-o escavar um buraco junto da vedação, enquanto eu tinha ido com a minha mãe às compras. Foi com certeza por esse buraco que ele fugiu.
– Posse ver o buraco? – pediu o cabo Lince.
Entraram no quintal e Maria Faro conduziu Lince ao sítio pretendido. Tratava-se de um pequeno túnel escavado sob a vedação de madeira. A terra retirada fora afastada para ambos os lados.
Estavam os dois a olhar para o chão quando a rapariga exclamou, apontando para o lado de fora da cerca:
– Olhe, sr. cabo, agora reparo: as pegadas do Nito!
Com efeito, no exterior via-se, gravada na terra húmida, uma série de marcas deixadas por quatro dedos curtos, de forma mais ou menos oval.
Pensativo, o cabo Lince esfregou o queixo e perguntou:
– Sabe se a D. Maria Pulga está em casa? Preciso de falar com ela.
– Está, está – respondeu Maria Faro. – Ainda há bocadinho a vi por entre os vidros da janela, com o Zarrão ao lado. O Zarrão é o cão dela. Se o Nito não aparecer até logo, o cão Zarrão vai de certeza ganhar o concurso…
– Vai ver que o Nito aparece – afirmou convictamente o cabo Lince.
Dito isto, dirigiu-se com passos decididos para a casa da D. Maria Pulga e bateu à porta. E quando a dona da casa veio abrir, ameaçou-a assim:
– D. Maria Pulga, se não quer meter-se em trabalhos sérios, diga-me já onde prendeu o Nito, o cão da menina Maria Faro!
Porque desconfiou Lince da D. Maria Pulga? Encontra as soluções aqui!