De manhã cedo, o cabo Lince e o sr. Paredes, gerente do Hotel Monte Branco, conversavam junto do balcão da receção.
– Pois é como lhe digo, sr. cabo, o desgraçado do repórter fotográfico é que ficou a arder com as máquinas… – disse Paredes –
Conte-me lá tudo de seguida – pediu o cabo Lince.
O gerente pigarreou para aclarar a voz e começou:
– Então foi assim. Estão cá hospedados os jornalistas do Diário das Novidades, de Lisboa, que vieram fazer a reportagem sobre os despedimentos da Serração Carvalho & Pinho. A redatora é a D. Maria da Pena e o fotógrafo o sr. José da Câmara. Ontem à noite, quando o sr. José da Câmara saiu para jantar no Restaurante Feijoada, parece que deixou a porta do quarto meio aberta. O certo é que quando voltou deu conta do desaparecimento de duas máquinas fotográficas que tinha deixado em cima da mesa-de-cabeceira. Desceu indignado, aos gritos. O Zé Salsa, o rapaz da Pizaria Squadra Azzurra, que estava de saída depois de ter vindo trazer uma pizza à D. Maria da Pena (ela tinha preferido jantar no quarto), e que estava nesse momento a pegar na mala que tinha deixado aqui em baixo, em cima do balcão, até deu um salto! E o engenheiro Focafoto, o japonês da mina de pirites que anda sempre a entrar e a sair com uma data de máquinas ao pescoço, até deixou cair uma lente ao pé da porta da rua, com o susto…
– Posso ir lá acima ver? – perguntou Lince. Paredes coçou a cabeça.
– Bem, os jornalistas ainda cá estão hospedados. Neste momento estão fora, mas não sei se deva…
– Esteja descansado, que eu não entro em nenhum quarto. Mas traga a chave do sr. José da Câmara, por favor.
Subiram a escada e viraram à esquerda no patamar do primeiro andar. No corredor, Paredes fez rodar a chave na fechadura do quarto do fotógrafo, que era o primeiro do lado direito, e empurrou a porta, que abria para a esquerda.
– Pronto, pode fechar – disse Lince ainda antes de a porta estar totalmente aberta.
– E onde é o quarto da D. Maria da Pena?
– Esse fica do outro lado, no corredor que segue para a direita do patamar.
– Estou a ver… E o do engenheiro Focafoto?
– É duas portas a seguir ao do sr. José da Câmara.
O cabo Lince esfregou então o queixo e perguntou:
– O engenheiro Focafoto está no quarto?
– Julgo que sim. Ainda hoje não o vi sair.
Lince bateu à porta de Focafoto.
– Desconfio que o senhor roubou uma máquina ao sr. José da Câmara – disse ao japonês mal este abriu a porta.
– Se confessar já e restituir o objeto do roubo, a coisa pode ficar por aqui. Se não o fizer…
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