Sabes, com certeza, o que foi o «25 de Abril». Nesse dia, em 1974, os militares portugueses derrubaram uma ditadura que já durava há 48 anos. Mas talvez desconheças que no mês anterior, a 16 de março, já tinha havido uma tentativa, que dessa vez falhou.
Portugal estava há mais de dez anos envolvido em guerras nas então chamadas «províncias ultramarinas» de Angola, Moçambique e Guiné. Na verdade, eram países africanos governados a partir de Lisboa mas que lutavam para ser independentes. Por cá, ninguém podia criticar o governo da ditadura, nem a guerra, sob pena de ser preso. Todos os rapazes eram obrigados a passar quase quatro anos na tropa e a combater em África. Ora, como a ditadura se mantinha no poder graças ao apoio dos militares, ninguém esperava que viessem a ser eles a fazer a mudança. Mas foi isso que aconteceu! É que estavam cansados da guerra.

No verão de 1973, os capitães tinham começado a fazer reuniões meio secretas. Um grupo de capitães, cada vez mais alargado, organizou-se então. Destacar nomes pode ser uma injustiça, porque se esquecem sempre muitos. Mesmo assim, devem ser lembrados os de Otelo Saraiva de Carvalho, Melo Antunes, Vasco Lourenço, Vítor Alves ou Diniz de Almeida.
Os dois generais
Enquanto os capitães conspiravam, dois generais faziam também críticas à forma como o governo prolongava a guerra, em vez de negociar a independência das «províncias ultramarinas». Eram os generais António de Spínola e Francisco da Costa Gomes. Ambos se recusaram a participar numa cerimónia em que os outros generais prometeram fidelidade à ditadura e, por isso, foram demitidos dos seus cargos de comando. Spínola publicou, em fevereiro de 1974, um livro chamado Portugal e o Futuro, no qual propunha o fim da guerra através de referendos em que seria perguntado às populações africanas se queriam ser independentes. Depois, criar-se-ia uma federação com a «metrópole», que era como o governo se referia ao Portugal propriamente dito. Este general era muito conhecido das pessoas por usar um monóculo no olho direito. Se era difícil fazê-lo calar-se era porque alcançara, entre 1968 e 1973, uma grande fama como governador da Guiné.

Quando os jovens capitães decidiram derrubar o governo pela força, falava-se em segredo de Spínola como sendo o chefe da conspiração. Mas essa ideia era errada, pois o general eleito pelos capitães para apresentarem como seu líder na hora da vitória era Costa Gomes.
A 16 de março de 1974 pareceu que tudo estava perdido. Nesse dia, tropas do regimento de Infantaria 5 saíram precipitadamente do seu quartel, nas Caldas da Rainha, e meteram-se a caminho de Lisboa para derrubar o governo, sem estarem coordenadas com as restantes.
Esses militares foram facilmente intercetados, tiveram de voltar para trás e foram castigados. «Reina a ordem em todo o País», lia-se nos jornais. Nessa época, os jornais não podiam falar de assuntos políticos «escaldantes». Aquele título significava que algo importante ocorrera que não pudera passar despercebido da população.
Com o «Golpe das Caldas», como ficou conhecido, a população recebeu um sinal de que a ditadura podia, afinal, ser abalada.
Cravos nas espingardas

Quarenta dias depois, a 25 de abril desse ano de 1974, as coisas correram bem. Já com as tropas revoltadas no centro de Lisboa, a adesão popular foi imediata. Milhares de lisboetas aplaudiram os militares e misturaram-se com eles, impedindo que houvesse luta sangrenta. O que começara por ser um golpe militar transformou-se, assim, numa revolução. Quando uma florista ofereceu cravos aos soldados e um deles se lembrou de introduzir o pé de uma das flores no cano da espingarda, nasceu a designação «Revolução dos Cravos».
Claro que quem ofereceu o corpo às balas nesse dia foram sobretudo os jovens. São quase sempre os mais jovens que fazem as revoluções.