A ciência comprova que hoje em dia somos muito maiores do que as primeiras espécies de Homo. Ao longo dos últimos quatro milhões de anos, a evolução humana caracterizou-se por uma tendência de aumento da massa corporal e estatura, além de um aumento relativo no tamanho do cérebro, mas os fatores que levaram a tais transformações ainda não eram muito claros.
Um grupo de cientistas da Universidade de Cambridge, Inglaterra, e a Universidade de Tübingen, Alemanha, desenvolveu uma investigação com o intuito de perceber a influência de fatores ambientais na evolução humana no último milhão de anos. Para tal, combinaram dados de mais de 300 fósseis humanos (espécie Homo) encontrados em todo o mundo, com reconstruções dos climas regionais, de forma a identificarem o clima específico que cada fóssil presenciou durante a vida. As variáveis climáticas investigadas são representativas da média climatológica (médias de 30 anos) para cada período de mil anos do último milhão de anos.
As conclusões do estudo, publicado este mês na revista científica Nature Communications, indicam que a temperatura é o principal fator da variação do tamanho corporal dentro da espécie Homo, de acordo com a regra de Bergmann, que prevê um peso corporal maior em ambientes mais frios, onde tanto a média anual quanto a temperatura média do trimestre mais frio são mais baixas e um peso corporal menor em ambientes mais quentes.
A temperatura média anual está uniformemente associada ao tamanho do corpo do Homo no Pleistoceno Médio, Neandertais e Pleistoceno Homo Sapiens. Já a precipitação está sobretudo relacionada com o tamanho do cérebro, apesar de não representar uma influência tão vincada. O tamanho do cérebro tendia a ser maior quando o Homo vivia em habitats com menos vegetação, como estepes abertas e pastagens, mas também em áreas ecologicamente mais estáveis. Os dados arqueológicos sugerem que as pessoas que viviam nesse tipo de habitats caçavam animais de grande porte para se alimentarem – o que consistia numa tarefa complexa que pode ter impulsionado a evolução de cérebros maiores.
“Há uma influência ambiental indireta no tamanho do cérebro em áreas mais estáveis e abertas: a quantidade de nutrientes adquirida do meio ambiente tinha que ser suficiente para permitir a manutenção e o crescimento dos nossos cérebros grandes e particularmente exigentes em energia”, disse Manuel Will, um dos autores do estudo e membro do Departamento de Pré-história e Ecologia Quaternária da Universidade de Tübingen.
Todos os desafios ambientais que as espécies de hominídeos enfrentaram levaram a adaptações no tamanho do corpo e do cérebro, pois de outra forma não seria possível a sobrevivência das espécies. Contudo, desde o início do Holoceno (há cerca de 12 mil anos), o tamanho do cérebro na nossa espécie parece ter diminuído – e os investigadores defendem que o motivo pode ser a crescente dependência da tecnologia.