A base chama-se Presidente Eduardo Frei Montalva, fica na baía de Fildes, na ilha Rei George, e acolhe equipas de investigação sob o comando do exército chileno. Há tempos, foi notícia depois de ter visto desaparecer o avião que lhes ia prestar apoio logístico. Agora, passa também a fazer parte da estatística diária da Covid-19, depois de 26 membros do exército daquela base (além de outros 10 trabalhadores da manutenção de outra das 13 bases do país na região) terem testado positivo ao coronavírus.
O contágio terá acontecido após a recente visita àquela base do navio na Marinha chilena “Sargento Aldea”, que realizou manobras de apoio logístico entre 27 de novembro e 10 de dezembro, noticiou a agência AFP, e as 36 pessoas infetadas foram já repatriadas para a cidade de Punta Arenas durante o fim-de-semana e já estão isoladas. Mas não só: foram ainda encontrados três casos em tripulantes de um navio da Marinha Chilena, que regressava do continente, fez ainda saber o La Prensa Austral.
A existência deste surto foi igualmente confirmada pela Fundação Nacional da Ciência dos EUA – e são estes relatórios que põem então fim a estes nove meses em que a Antártida foi o local mais seguro do mundo por estar livre da pandemia.
Cerca de mil pessoas resistiram até ao fim da estação mais fria que agora acaba – recorde-se estamos no início do verão no hemisfério sul – e quaisquer recém-chegados passam a ser submetidos a quarentena e a testes frequentes. Como explicam as autoridades locais, as bases são pequenas, as pessoas vivem em contacto estreito e o movimento maior começa agora, com a troca das equipas e novo abastecimento das bases. O maior receio, como também assume o Conselho de Gestores dos Programas Nacionais Antárticos, citado pela Associated Press, são as consequências catastróficas que um vírus destes pode ter num ambiente extremo e onde os recursos médicos e sanitários são limitados.
No início do inverno austral, investigadores de diversos países tinham proposto um conjunto de medidas para evitar que o vírus chegasse àquele continente, de forma a proteger aquela fauna e flora únicas, e cujos efeitos são ainda desconhecidos. “Não sabemos o que pode acontecer a todo o ecossistema se, por exemplo, infetar espécies como baleias, pinguins ou focas”, consideraram logo cientistas do Comité Científico para Investigação Antártida (SCAR) o grupo de trabalho de acompanhamento da vida selvagem no local, numa análise publicada no Science of Total Environment. Em causa, está sobretudo a possibilidade de um coronavírus assim contagioso poder passar do homem para a fauna, considerando que os cetáceos apresentam alto risco de infeção, enquanto o risco em focas ou aves parece ser menor.