O alerta era para uma baleia-anã (Balaenoptera acutorostrata) viva, a equipa de resgate saía da Guia, perto de Albufeira, e dirigiu-se para Olhão. Aqui, uma embarcação da Polícia Marítima daquela cidade aguardava-nos, para nos levar para uma das ilhas-barreira da Ria Formosa. Minutos depois desembarcava-nos na ilha da Armona, do lado da ria. Na água, de fato de mergulho e a segurar um mamífero marinho de mais de 5 metros, estava um grupo de elementos da Polícia Marítima de Olhão. Dirigi-me para eles e apresentei-me. O elemento do grupo que estava à frente, dentro de água e com ar de quem já lá estava há bastante tempo estendeu-me a mão e apresentou-se – “boa tarde, sou o Capitão do Porto de Olhão.” Aquele grupo de agentes de autoridade, com o seu comandante à cabeça, tinha estado nas últimas duas horas a tentar manter viva e à tona de água uma baleia-anã, até à chegada da equipa de socorro.
Numa manhã de Maio, a equipa de socorro era alertada para mais uma baleia-anã em risco, desta vez por ter entrado numa armação de atum, ao largo da Fuzeta. Elementos da equipa avaliam a situação e comunicam às autoridades ambientais a necessidade de abertura de uma abertura no complexo sistema de redes, para evitar o risco de enredamento da baleia nas redes, com a sua consequente asfixia. Apenas com o apoio directo do comandante da zona marítima do Sul e o subsequente apoio da Polícia Marítima de Tavira, através dos seus meios logísticos e humanos, é que a equipa de socorro, em contacto com a Abrigos (Rede de Apoio a Mamíferos Marinhos), conseguiu coordenar os esforços que levaram ao salvamento daquela baleia de 11 metros.
Bem cedo no dia, no final de Setembro, a tripulação da NRP Dragão ajudava elementos da equipa de socorro a embarcar 3 tartarugas marinhas, que seriam devolvidas ao oceano após muitos anos em cativeiro, por diferentes motivos. O apoio daquela tripulação, que começou semanas antes na preparação da lancha para o transporte, assim como da autoridade marítima nacional que autorizou o seu apoio, foram essenciais para que esta operação, que envolvia o maneio e transporte de 3 animais com 60, 80 e 120 kg respectivamente, fosse coroada de sucesso.
Estes três exemplos, que constituem apenas uma gota no oceano que tem sido o seu apoio, permitem ilustrar apenas aquela que é a intervenção de um grupo muito especial no apoio à vida selvagem. Mesmo que, na maior parte das vezes, a sua actuação ocorra longe dos olhos do público ou de qualquer tipo de ribalta, sem a mesma muitas vezes o resgate da vida marinha em dificuldades seria impossível. São homens e mulheres que, muito para além da sua obrigação profissional, dedicam-se de corpo e alma a estas missões, que fogem bastante aquela que é a sua normal actuação. As equipas de apoio a espécies marinhas do país conhecem-nos bem, as autoridades ambientais também, falo dos homens e mulheres da Polícia Marítima e da Marinha Portuguesa. Equipas dedicadas que se mobilizam de uma forma abnegada e completamente organizada para, em conjunto com as equipas de socorro, lutarem por dar uma segunda oportunidade aos animais que dão à costa doentes ou feridos.
A estes profissionais do Norte ao Sul do país, pelos quais tenho um enorme respeito, ganho ao longo de anos de cooperação conjunta, presto aqui a minha homenagem.
Duas da manhã, numa madrugada de Agosto. Elementos das equipas de socorro do Sul e do Centro, em conjunto com a Polícia Marítima de Portimão, chegavam ao Ponto de Apoio Naval daquela cidade com um golfinho que tinha dado à costa na Praia da Rocha. Cansados de muitas horas de difícil apoio àquele cetáceo de muitas dezenas de quilos, procuravam descobrir uma forma segura de o transportar do veículo onde se encontrava para a embarcação que o iria levar para alto mar. Contavam-se cabeças, eram poucos para levar a cabo a tarefa em segurança. Subitamente ouve-se o barulho de motores, acompanhado de luzes. Uma lancha atracava no porto. Ainda mal me dirigia para a lancha e mesmo antes de conseguir falar, no meio de um sorriso a voz forte e bem-disposta do Imediato pergunta – e o que é que a tripulação da Dragão pode fazer por vocês hoje? Sorri e respondi quase emocionado – Hoje é um golfinho que precisa de vocês.
NOTA: A presente crónica é a segunda versão de um primeiro texto publicado neste espaço e com este título, a 21 de Junho de 2012. Todas as diferenças notadas entre a versão inicial e esta são da exclusiva responsabilidade do autor.