A paciente não parecia preparada para mais uma ecografia. Estava agitada e deu luta, ao ser colocada junto ao ecógrafo. Acalmada a futura mãe, tudo se encontrava a postos para nova observação do desenvolvimento dos dois bebés. À primeira vista, não haveria problemas, não fosse a mãe em causa, uma raia uge-de-manchas-azuis, do Oceanário de Lisboa, quase desconhecida da ciência, em termos de reprodução.
A Taeniura lymma é uma espécie tropical que habita nas zonas costeiras do Indo-Pacífico, nos recifes de coral, facilmente distinguível entre as outras pela sua cor: sobre um tom amarelo, tem manchas de um azul quase luminoso, como um pirilampo.
Mas não nos deixemos ludibriar pela sua beleza sentindo-se ameaçada, esta raia faz-se valer da sua cauda com um ou dois espigões fortes e venenosos que podem provocar ferimentos mortais.
Não é fácil saber qual o tempo de gestação ou em que data ocorrerá o nascimento. Com o objetivo de dar resposta a estas e outras questões, assim que os técnicos se aperceberam de que a fêmea estava grávida, fizeram como sempre fazem em casos destes: colocaram-na de quarentena, num tanque à parte, onde é monitorizada até ao parto. Na mesma sala, há mais uma raia à espera do dia D.
Estão ambas debaixo d’olho.
VANTAGENS DO CATIVEIRO
As uges-de-manchas-azuis chegaram a Lisboa há cerca de cinco anos, mas só no ano passado nasceram as primeiras crias. “Não há muitos eventos de reprodução desta espécie em cativeiro, embora tenhamos tido bastante sucesso, com cinco nascimentos”, conta Núria Baylina, curadora do Oceanário. Este ano, veio ao mundo mais uma cria e, em breve, virão mais quatro.
Depois do nascimento, os bebés ficam em observação até serem enviados para outro aquário público europeu. “Tentamos criar potenciais casais reprodutores, com o objetivo de garantir uma população estável em cativeiro”, explica a curadora.
Está descrito que estas raias dão à luz um maior número de crias do que aquele que se tem verificado no Oceanário. “Agora, estamos a tentar quantificar e esclarecer a evolução durante a gestação “, diz Nuno Marques Pereira, médico veterinário da instituição, que planeia criar tabelas do crescimento fetal, à semelhança das que existem para seres humanos, cães e gatos.
O funcionamento reprodutor desta espécie guarda ainda muitos segredos, mas a equipa da instituição caminha a passos largos para conseguir desvendá-los. “É mais complicado controlar este tipo de situação no meio natural do que num espaço como este”, nota Núria Baylina.
Enquanto não é possível determinar a data dos nascimentos, espera-se com ansiedade que os gémeos deem um ar da sua graça durante o próximo mês. A VISÃO soube, em primeira mão, que um deles já está batizado de Pintarolas. O “padrinho” foi obtido através de um passatempo colocado no Facebook do Oceanário, que convida as pessoas a sugerirem nomes para as crias que vêm a caminho. Uma delas ainda espera pelo batismo.
Enigma – Benditas ecografias
Os exames pré-natais ajudam a desvendar alguns segredos da natureza:
- Idade de maturidade sexual
- Tempo de gestação
- Tamanho médio das crias à nascença
- Número possível de bebés por gestação
- Frequência de reprodução
- Influência do macho