As libélulas, também conhecidas como libelinhas em Portugal, servem-se da coloração das asas para atrair os parceiros antes do acasalamento. Com o clima global cada vez mais quente, a tendência é para que as libélulas macho percam algumas das características originais, de forma a reduzir o sobreaquecimento do corpo.
A investigação, publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, comprovou que as libélulas macho, para se adaptarem em zonas de clima quente, estão a perder o brilho das asas. Os pigmentos pretos visíveis nas asas servem para identificar os potenciais parceiros de acasalamento, cortejá-los, mas também assustar os rivais que possam estar interessados na mesma fêmea.
O problema relacionado com o aumento da temperatura global é que a melanina presente nas asas absorve mais radiação solar e faz com que a temperatura do animal possa aumentar até 2º C, causando danos no tecido das asas, redução da capacidade de luta e até morte por sobreaquecimento. O que está a acontecer às libélulas é semelhante ao que nos acontece quando utilizamos roupa preta em dias muito quentes e de exposição ao sol.
O fenómeno parece não ocorrer em fêmeas. Os investigadores sugerem que pode ser por passarem mais tempo em microhabitats mais frios ou em locais sombrios para maximizar a fecundidade, mas admitem que são necessários mais estudos para obter conclusões. A preocupação principal com a alteração dos padrões ornamentais das libélulas machos é que as fêmeas não reconheçam os parceiros e a reprodução da espécie fique em perigo à medida que as temperaturas aumentam.
“A investigação mostra que os machos e as fêmeas destas espécies de libélulas vão mudar de formas muito distintas conforme o clima se altera”, disse Michael Moore, o principal autor do estudo e biólogo da Universidade de Washington, EUA, à CNN. “Essas mudanças provavelmente vão acontecer numa escala de tempo muito mais rápida, do que as mudanças evolutivas que já aconteceram antes nestas espécies.”
O estudo comparou as cores das asas de 2 700 libélulas, retiradas de uma plataforma onde cidadãos podiam inserir fotos da espécie, registando a data e local da imagem, com uma base de dados com cerca de 300 espécies de libélulas. A relação entre a temperatura média de cada ano e a média de melanina presente nas asas foi analisada com dados de 2005 a 2019 (cada sexo teve pelo menos 15 observações em cada um desses anos).
Os dados permitiram comparar a pigmentação das libélulas entre locais quentes e frios, bem como entre anos quentes e frios, revelando que a cor das asas de libélulas da mesma espécie mudava de acordo com o nascimento em climas mais quentes ou mais frios e os machos quase sempre respondiam a temperaturas mais altas desenvolvendo menos decoração preta nas asas.
As projeções climáticas do estudo mostram que as mudanças na coloração da asa da libélula serão um aspeto crucial para ver como a espécie responde ao aquecimento global e estimam que, pelo menos até 2070, a coloração continue a reduzir.