Refletir e debater o movimento woke não está nunca isento de polémica. Carmo Afonso, Luís Pedro Nunes e Luís Osório confirmaram-no, num animado diálogo, moderado por Mafalda Anjos, diretora da VISÃO, que fechou a primeira jornada da VISÃO Fest, no Planetário de Marinha, em Lisboa.
O comentador político Luís Pedro Nunes não foi brando em criticar o movimento que, nos últimos anos, tem sido “acusado” de ter ido longe de mais na política de denúncias e cancelamentos. “Antes todos tinham os 15 minutos de fama, hoje todos têm os 15 minutos de humilhação nas redes sociais. Não me parece justo que possamos ficar marcados, para sempre, nas nossas vidas, por aquele que pode ser o nosso pior momento…”, defende.
Uma posição que “aqueceu” o debate. A advogada e cronista Carmo Afonso não deixou escapar a oportunidade para alertar que, “na maior parte das vezes, as críticas ao wokismo são, de facto, àquilo que o movimento defende, e isso, sim, é grave”, afirma, admitindo que “o wokismo não está imune a críticas”, mas sublinhando que o mesmo “só defende coisas boas”.
Na resposta, Luís Pedro Nunes recordou que, “em 2015, eu próprio era woke” – dando como exemplo a sua posição na sequência de movimentos como o Me Too (de denúncia de assédio sexual na sociedade norte-americana) ou do assassinato de George Floyd –, mas não deixou de criticar o caminho que o wokismo, entretanto, seguiu. E aquilo em que, atualmente, se transformou: “Hoje, um ‘woker’ acha que um ser humano não evolui. O wokismo foi raptado por radicais e o próprio [Barack] Obama já veio a público pedir moderação no interior do Partido Democrático”, diz.
Já o antigo jornalista da VISÃO, Luís Osório, assume-se como “um paradoxo” em relação a este tema. “Há uma parte de mim que está desperta para todo o tipo de injustiças e esse combate é justo e legítimo. Depois, há outra parte de mim que defende a liberdade”, destaca, afirmando que não quer deixar de acompanhar certo tipo de cinema ou literatura por causa deste movimento. “Quero continuar a ver Elia Kazan ou a ler Michel Houellebecq”, dá como exemplo, apesar dos percursos e posições polémicas destes autores.
“Há uma faceta dolorosa do wokismo, que me choca a mim próprio e que, por vezes, me coloca do outro lado da barricada de pessoas que lutam por causas que sempre reconheci como justas e defendi”, afirma Osório.
Um risco que, para o autor da rúbrica Postal do Dia, da TSF, tem resultados gravosos: “As posições polarizadas dão força e alimentam o outro extremo. O crescimento de Trump, por exemplo, surge devido à radicalização no interior do Partido Democrata”, conclui.