Numa intervenção feita em direto a partir de Nova Iorque, David Wallace-Wells, editor da revista New York e colaborador do jornal The Guardian, falou nesta tarde de sábado no Visão Fest, começando por relacionar a descarbonização e as alterações climáticas com a atual pandemia do vírus SARS-CoV-2. “Podemos pensar que vivemos protegidos da natureza, mas a verdade é que qualquer alteração na natureza nos afeta”, afirmou, exemplificando com a forma como a subida da temperatura se relaciona com a propagação de certas doenças infecciosas.
As lições que podemos retirar da pandemia são, aliás, imensas, e Wallace-Wells percorre várias ao longo da sua intervenção, tendo sempre presente a meta do Acordo de Paris: chegar ao fim do século XXI com um aumento da temperatura média global de “apenas” 2 graus centígrados, no limite dos limites.
“Este é o melhor dos cenários. E no melhor dos cenários 150 milhões de pessoas morrem devido à poluição do ar; tempestades que antes ocorreriam uma vez em 500 anos passam a ocorrer todos os anos; várias cidades no sul da Ásia e no Médio Oriente, onde vivem entre 10 a 15 milhões de pessoas, passarão a ser tão quentes que em certos dias de verão é impossível andar na rua sem arriscar a morte; as águas do mar subirão 50 a 70 metros, afundando algumas das maiores cidades do planeta e gerando milhões de refugiados… Repito: este é o melhor cenário possível”, avisou.
Para atingir este cenário – e porque estamos a escrever uma “história em tempo real e a vivê-la não apenas como observadores, mas como protagonistas” – poderemos contar com a ajuda de novas tecnologias, sim, mas o principal motor será a ação humana. “Se tivéssemos mais tempo até poderia ser mais otimistas, mas temos 10 anos para cortar em metade as emissões de carbono para a atmosfera e 30 anos para atingir o objetivo de carbono zero. Isto requer uma ação rápida e a pandemia veio encurtar ainda mais esse tempo”, continua o autor do bestseller A Terra Inabitável.
Desde que terminou o seu livro, em 2018, David Wallace-Wells celebra o aparecimento de figuras como Greta Thunberg e movimentos como o Extinction Rebellion ou o Sunrise Movement, que “forçaram a mudança de políticas”, mas o jornalista teme que já não haja tempo para seguir este caminho. Até porque se tudo continuar como sempre, na rotina do “business as usual”, chegaremos ao fim do século com um aumento de cinco graus na temperatura média global – e aí o cenário é outro.
Entretanto, não podemos ignorar o que a pandemia de Covid-19 nos mostrou. E a grande lição foi dada durante o confinamento, em que o hemisfério norte se refugiou em casa. O grande corte na emissão de carbono que se atingiu nessa altura teve, no entanto efeitos devastadores. “Não queremos fazer um corte nas emissões dessa maneira, com tanto sofrimento humano”, diz Wallace-Wells.
Com o colapso de uma parte da economia, os governos começaram a investir “quantias nunca vistas de dinheiro para injetar na economia”. Para o jornalista, bastava que os governos investissem na descarbonização “1/10 desse montante, todos os anos, para ficarmos perto do aumento de 1,5 graus. O que é surpreendente”.
Seremos capazes de fazer o que é preciso? “Se sairmos da pandemia exaustos a todos os níveis e enveredarmos de novo pelo caminho das medidas de austeridade, o planeta não aguenta”, resume David Wallace-Wells. “Temos de nos lembrar do quão urgente é fazer essa mudança. As alterações climáticas mostram que não há um novo normal, apenas o fim do normal”, conclui.
ASSISTA AQUI À EMISSÃO EM DIRETO
Saiba mais sobre o VISÃO FEST VERDE aqui
A bp está a compensar as emissões de carbono deste evento. Saiba mais em bp.pt