Penso que não estava bem ciente do que ia fazer até ao momento da minha entrada no comboio. Mistificou-se naquele momento a ideia de toda a viagem, a diferença de etnias, o ambiente “Não Português”, e lá fui eu de Caxarias rumo ao resto do mundo, sem saber bem como me sentir. Pela noite fora fui deixando de reconhecer as estações, os lugares e cada vez mais as pessoas, à medida que iam entrando, até que, num foco de luz, vejo o primeiro nome que realmente me fez sentir em viagem. “Fuentes d’Oñoro”. Pela ânsia que existia o sono desaparecia. Fui de rompante à porta ver o que se passava do outro lado da minha janela, que era… nada! Totalmente vazia a estação, o que não era de estranhar, dada a hora tardia.
Senti então o vento espanhol a bater-me suavemente na cara, conseguia ouvi-lo. Nada fazia prever o que se passaria quatro ou cinco horas depois. A agitação e o reboliço da cidade de Madrid. Uma sociedade nas suas rotinas diárias, daqui para lá e de lá para aqui, mas tudo me parecia belo. Foi bom sentir este reboliço, foi bom sentir que era livre de seguir para onde quisesse. Deixo por terra a opinião de pessoas que me disseram que Madrid era uma cidade parecida com Lisboa, no que toca à agitação.
Para poupar tempo e dinheiro, quatro horas depois, apanhei um comboio rápido rumo a Barcelona, cidade esta, que ainda consegue ser mais diferenciada em termos de quase tudo. Diferente em muitos aspetos: a arquitetura gótica, o mecanismo e até a diferença de culturas se notava numa primeira análise. Lá andei eu, a pé, da estação ferroviária de “Sants” até “Las ramblas”, à procura de indicações até casa de uns colegas que aqui já moram há cerca de dois anos. Passados largos minutos, e com uma mochila de 14kg, encontrei finalmente aquilo que o Amarelo (Alexandre) tanto me gritava ao telemóvel:
– Ao pé do McDonald’s!
Ao qual eu respondia repetidamente:
– Qual dos sete?!
Enfim, cá cheguei, a uma casa que se diferencia de todas as habitações que conheço em Portugal – é numa antiga casa de reis que vivem os meus cinco colegas (Alexandre, Andreia, Maria, David e a Filipa), apesar do toque de modernidade, esta casa inspira qualquer pessoa que por aqui passe, bem ao estilo Gótico Flamejante.
E aqui estou, um bocado forçado a atravessar cidades que não seriam a minha primeira escolha, mas que por questões de distância tiveram de aparecer na rota.
Fui recebido com umas febras grelhadas, para aconchegar o estômago, e uma cama, para retemperar as forças. Agradeço-lhes do fundo do coração a hospitalidade. Ainda que de maneira nenhuma me prepare para o que aí vem… mas, confesso, soube-me pela vida.
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