Ernesto Melo Antunes
Os livros. Nós – 4 (crónicas pequeninas)
Trabalhei como um danado, diariamente, anos a fio, de modo que me sinto no direito de repetir a frase de Bocage, depois de dizer aos outros um poema seu: – Isto é meu, isto não morre que é a única eternidade a que posso aspirar e que, de qualquer maneira, não me servirá de nada
Os meus manos
Pela primeira e última vez, fiz-lhe uma festa na cabeça ao sair. Foi um momento tão intenso de amor: vi-lhe as pálpebras tremerem e foi tudo. Foi tanto. O João falou-me nisso, que tempos depois, uma só ocasião. Nunca nos criticámos também. O máximo que podia sair-nos da boca
Para António Ramalho Eanes
Estava um senhor que eu não conhecia junto à porta fechada do prédio, à minha espera, de quem se distinguiam mal as feições pela falta de luz, que me entregou um envelope com uma coisa dura lá dentro e me informou que vinha da parte do senhor general Ramalho Eanes, ou seja, traduzido para a minha língua, de um amigo meu
'Cartas da Guerra': Escritas do fundo do mundo
A adaptação ao cinema da correspondência de António Lobo Antunes é uma intensa e temerária reflexão poética sobre a condição humana num conflito sem sentido