O anúncio do lançamento do leilão de compra centralizada de gases renováveis foi feito esta segunda-feira pela ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, na Cimeira da Energia de Lisboa, que decorre até quarta-feira na Feira Internacional de Lisboa, no Parque das Nações.

A ajuda de Estado aos investidores assumirá a forma de um prémio variável ao abrigo de um contrato bilateral por diferença celebrado por um período de dez anos, explicou Maria da Graça Carvalho, que esclareceu que o leilão será financiado através do Fundo Ambiental.

A Comissão Europeia aprovou, em dezembro, ajudas estatais de 140 milhões de euros em Portugal para apoiar a produção de hidrogénio renovável e biometano.

O projeto que liga Dublin a Nova Iorque voltou a funcionar a semana passada, após várias polémicas que envolveram a sua criação. Conhecida como um “portal” que liga as duas cidades, a instalação tecnológica em formato circular foi inaugurada há poucas semanas, a 8 de maio. O seu objetivo passa por conectar Dublin, na Irlanda, a Nova Iorque, nos EUA, através de uma permanente ligação em tempo real. O portal permite que os habitantes e visitantes localizados no centro da cidade de Dublin possam interagir, apenas em formato vídeo, com pessoas do outro lado do oceano Atlântico, no bairro Flatiron em Manhattan, Nova Iorque.

Segundo a organização, o início do projeto terá sido um sucesso, tendo atraído “dezenas de milhares de visitantes”. Contudo, menos de uma semana depois, a 14 de maio, a ligação teve de ser interrompida, após vários relatos de comportamentos impróprios de ambos os lados. Publicados nas redes sociais, vários vídeos captaram atitudes impróprias por parte dos visitantes. Num dos vídeos virais, é possível observar a modelo Ava Louise – conhecida na plataforma Only Fans – a levantar a camisola do lado de Nova Iorque, expondo o peito para as pessoas na Irlanda. No mesmo sentido, foram ainda partilhados momentos em que pessoas do lado de Dublin exibem suásticas, bem como imagens do ataque às Torres Gémeas, em Nova Iorque, a 11 de setembro de 2001.

A polémica levou ao “desligar” do portal que só voltou ao ativo esta segunda-feira, com novas regras de utilização. Ao invés de funcionar 24 horas por dia, o Portal só estará aberto entre 11h às 21h, em Dublin, e das 6h às 16h, em Nova Iorque, contando sempre com a presença de dois “embaixadores do Portal”, em ambos os lados da instalação, de forma a dissuadir comportamentos menos próprios.

Enquanto esteve desligado, pode ler-se a seguinte mensagem no ecrã “O portal está a dormir – voltar a funcionar em breve”.
Photo by Spencer Platt/Getty Images

Do mesmo modo, e de forma a impedir o bloqueio da câmara, a grande proximidade à lente da mesma resultará agora num desfocar da imagem em ambos os lados. “Tomámos medidas para limitar os casos de pessoas que pisam o portal e seguram os telemóveis contra a lente da câmara. A equipa do Portals.org implementou uma solução baseada na proximidade. Agora, se as pessoas pisarem o portal e obstruírem a câmara, a transmissão em direto será desfocada para todos os que estão de ambos os lados do Atlântico”, pode ler-se num comunicado feito pela Câmara Municipal de Dublin.

Até ao momento não foram registados novos incidentes desde a sua reabertura. Entre os momentos partilhados nas redes sociais foi possível assistir a pessoas a jogar “pedra, papel, tesoura”, interagir através de gestos, bem como a danças partilhadas entre visitantes de ambos os lados do portal. “A esmagadora maioria das pessoas que visitou as esculturas do portal experimentou a sensação de alegria e de ligação que estas obras de arte pública convidam as pessoas a ter”, refere o comunicado.

O projeto conta com o apoio do Conselho Municipal de Dublin, da organização Flatiron NoMad Partnership e da Portals.org – uma empresa fundada por Benediktas Gylys, um investidor e artista lituano, que descreve os portais uma “ponte que unifica e um convite para ultrapassar preconceitos e desacordos”. O objetivo dos portais passa por “redefinir as fronteiras da expressão artística e conetividade” e criar uma sensação de “alegria e ligação” para os participantes.

A ligação entre Dublin e Nova Iorque é o segundo portal deste tipo. Em 2021 a mesma organização, Portals.org, inaugurou uma experiência semelhante entre Vilnius, na Lituânia, e Lublin, na Polónia. Segundo o Portals.org podem vir a ser instalados mais portais noutras cidades.

A publicidade direta ao consumidor dos medicamentos sujeitos a receita médica é proibida em todos os países do mundo, exceto nos Estados Unidos (EUA) e na Nova Zelândia.

No primeiro, a Food and Drug Administration (FDA), responsável pela regulamentação de medicamentos e vacinas nos EUA, impõe apenas dois limites: a publicidade deve sempre indicar os principais efeitos colaterais do produto (geralmente isto é feito nos últimos segundos do conteúdo televisivo, ou até na rádio) e não pode prometer benefícios sem fundamento científico.

De acordo com a BBC, em 2022, as farmacêuticas nos EUA gastaram 1,68 mil milhões de dólares em campanhas publicitárias para os 10 medicamentos mais vendidos, incluindo o Ozempic, utilizado principalmente para o tratamento do diabetes tipo 2 mas também para a perda de peso.

A publicidade aos medicamentos estava, neste país, até à decada de 90, reservada aos médicos, mas esse cenário mudou, e a FDA foi permitindo, ao longo do tempo, a publicidade aos medicamentos sujeitos a receita médica. Inicialmente, era apenas permitida em revistas e jornais e só mais tarde foi autorizada na rádio e na televisão.

Com estas mudanças, os gastos com publicidade neste setor aumentaram, de acordo com dados da empresa IMS Health citados pela BBC, de cerca de mil milhões de dólares em 1997 para mais de 4 mil milhões em 2005. Hoje, estima-se que as farmacêuticas gastem em publicidade entre 8 mil milhões de dólares e 12 mil milhões de dólares todos os anos, sendo que uma grande parte do orçamento corresponde a anúncios televisivos de medicamentos sujeitos a receita médica, escreve o órgão de comunicação.

Foram surgindo, ao mesmo tempo, as seguradoras, e “as empresas farmacêuticas tornaram-se muito mais poderosas”, permitindo a “ascensão do ‘movimento do consumidor’ que ajudou a capacitar os pacientes a tomarem as suas próprias decisões”, explica, em declarações à BBC, a investigadora Jeanne Madden, da Northeastern University, em Boston, EUA.

Contudo, tem havido, ao longo dos anos, um grande debate sobre os potenciais efeitos negativos da publicidade a medicamentos com receita médica, com especialistas a pedirem a sua proibição, enquanto outros a consideram importante.

Por exemplo, a Associação Médica Americana (AMA) tem apelado insistentemente à proibição da publicidade direta ao consumidor, referindo, num comunicado publicado em 2015, que a prática “inflaciona a procura de medicamentos novos e mais caros, mesmo quando esses medicamentos podem não ser apropriados”.

Já a Nova Zelândia tem regras mais restritas do que os EUA, com o objetivo de garantir que a publicidade aos medicamentos não é enganosa. Por exemplo, neste país é exigida uma aprovação prévia dos anúncios publicitários antes de estes serem lançados.

Além disso, a Pharmac, a agência de medicamentos e dispositivos médicos da Nova Zelândia, negoceia os preços dos medicamentos, para os tornar mais acessíveis. Mesmo assim, a publicidade a estes produtos com receita médica não agrada a toda a gente neste país.

Em Portugal, o Infarmed é a entidade responsável pela fiscalização e monitorização da publicidade de medicamentos. “A monitorização do mercado é feita através da consulta a diferentes suportes publicitários, nomeadamente, televisão, rádio, imprensa, internet, e ainda através de queixas e/ou denúncias, procedendo a uma avaliação das peças publicitárias, dirigidas quer ao público em geral, quer aos profissionais de saúde, tendo em atenção os seus efeitos e benefícios, com vista à promoção do uso racional dos medicamentos”, lê-se no site.

A Samsung recuperou o trono de maior fabricante mundial de smartphones, perdido no trimestre anterior para a Apple, e para tal muito contribuiu o sucesso da série A. Apesar de não serem os smartphones que ocupam as parangonas – espaço tradicionalmente dedicado aos topos de gama – são os que fazem movimentar um volume de unidades considerável.

Ciente disto, a Samsung tem reforçado a aposta na gama média, pelo que, por exemplo, o Galaxy A55 conta, pela primeira vez nesta série, com Knox Vault. Esta funcionalidade de segurança constrói um ambiente de execução seguro, que está fisicamente isolado do processador principal e da memória do sistema. Ou seja, ajuda, por exemplo, a proteger dados críticos como códigos PIN, senhas e padrões, mesmo que o dispositivo seja roubado ou perdido.

Ainda no campo do software, apesar de já vir com Android 14 como sistema operativo, a Samsung promete até quatro gerações de atualizações do sistema operativo e cinco anos de atualizações de segurança, o que é um garante interessante a nível de longevidade do equipamento. E a própria interface One UI possui funcionalidades apelativas. Apreciamos, por exemplo, a Modos e Rotinas, que ajusta automaticamente as definições do smartphone de acordo com a atividade ou situação (dormir, cinema, conduzir, exercício, etc.).

Design sóbrio, cores exuberantes

O Galaxy A55 é um daqueles smartphones que funciona melhor à vista do que ao toque. Tem uma estética minimalista que é elegante e o rebordo de alumínio está trabalhado junto à área dos botões, o que acaba por contribuir para um design diferenciador. E o vidro que protege a traseira é eficaz a evitar a marca de dedadas. Mas quando pegamos neste Galaxy sentimo-lo um pouco pesado na mão e com uma espessura excessiva. Por outro lado, possui certificação IP67 (pode ser submerso em água doce até 1 metro de profundidade num período máximo de 30 minutos) e está disponível em cores mais invulgares, como lavanda ou verde-lima.

Samsung Galaxy A55 5g

Como é apanágio da Samsung, o ecrã de 6,6 polegadas possui boa qualidade de imagem. É um Super AMOLED com uma resolução de 2340×1080 e muito brilho à disposição. Se tivermos de apontar alguma coisa ao painel, coberto por Gorilla Glass Victus+, é o facto de desejarmos que as cores tivessem um pouco mais de vivacidade. A qualidade de som também é convincente, pelo que este é um belo equipamento para se consumir vídeo.

Os nossos benchmarks mostram bons resultados para um terminal de gama média. O Galaxy A55 conta com um processador Exynos 1480 (de 4 nanómetros) da própria Samsung, que deu uma resposta eficaz em tarefas de produtividade e lazer (consegue correr jogos de forma relativamente fluída graças à GPU Xclipse 530). A nível de memória, há 8 GB de RAM e, na versão de teste que recebemos, 128 GB de armazenamento. Pode, no entanto, optar pelo modelo de 256 GB, embora aí o preço suba para os €519,90.

Galaxy A55 5G: Brilharete no negrume

Temos de dar o braço a torcer e confessar que a denominada Nightography da Samsung nos surpreendeu. Para um smartphone desta gama de preço, as câmaras do A55 conseguem captar imagens com mais detalhe e menos ruído em condições de fraca luminosidade do que antecipávamos. Pelas fotos que tirámos à noite, constatámos que este Galaxy é eficiente a ir buscar os pequenos pontos de luz disponíveis para processar eficazmente as imagens.

Refira-se que o módulo de câmara traseira é composto por três lentes: a principal de 50 MP, f/1.8, 1/1.56″, 1.0µm, PDAF, OIS; a ultra grande angular de 12 MP, f/2.2, 123˚, 1/3.06″, 1.12µm; e a macro de 5 MP, f/2.4. Contudo, a resolução máxima de 50 MP tem de ser ativada manualmente, pois o modo predefinido é de 12 MP. No global, os resultados são equilibrados, sem serem estonteantes. Por exemplo, as câmaras conseguem captar particularmente bem a vivacidade do tom vermelho, mas deparam-se com dificuldades em situações de contraluz. E o foco automático nem sempre está afinado.

Samsung Galaxy A55 5g

A câmara frontal – 32 MP, f/2.2, 26mm, 1/2.74″, 0.8µm – tira selfies com um bom grau de detalhe nos rostos, embora o efeito bokeh seja demasiado pronunciado. Isto é, o desfoque de fundo fica com um ar artificial. Problema que se estende também ao modo Retrato da câmara traseira. Por outro lado, a Samsung disponibiliza úteis ferramentas de edição. Apreciámos particularmente o apagador de objeto, que permite eliminar itens do enquadramento ‘a posteriori’ num ápice.

Tome Nota
Samsung Galaxy A55 5G (128 GB) | €459,90
samsung.pt

Benchmarks Antutu: 654048 • CPU 242649 • GPU 91770 • UX 176887 • Memória 142742 • 3DMark Wild Life: 3989 (23,89 fps) • PCMark Work 3.0: 12894 • Geekbench (Single/Multi): 1152/3433 Autonomia (PCMark): 13 h 21 m

Ecrã Muito Bom
Autonomia Bom
Câmaras Bom
Construção Bom

Características Ecrã FHD+ Super AMOLED de 6,6” (2340×1080, 120 Hz, 1000 nits) • CPU Exynos 1480 com GPU Xclipse 530 • 8 GB de RAM • 128 GB de armazenamento • Câmaras: traseiras de 50 + 12 + 5 MP; e frontal de 32 MP • Bateria de 5000 mAh • Android 14 com One UI 6.1 • IP67 • 161,1×77,4×8,2 mm • 213 g

Desempenho: 4
Características: 4
Qualidade/preço: 3,5

Global: 3,8

No próximo sábado, dia 1 de junho, é celebrado o Dia da Criança. É aguardado com alegria por todos quantos têm no seu coração a alegria e a esperança de um presente e futuro com afeto, amor, compreensão, alimentação adequada, proteção contra a exploração, numa sociedade em paz e fraternidade.

Desde 21 de outubro de 1990 que está em vigor na ordem jurídica portuguesa a Convenção dos Direitos da Criança, cujo artigo 1.º reproduzo: “Criança é todo o ser humano menor de 18 anos, salvo se, nos termos da lei que lhe for aplicável, atingir a maioridade mais cedo.”

Na ordem jurídica portuguesa, por força do artigo 130.º do Código Civil, só aquele que perfizer dezoito anos de idade adquire plena capacidade de exercício de direitos. E só a partir dessa idade pode eleger ou ser eleito. Mas se alguém cometer um crime, basta ter dezasseis anos para se considerar que deve ser julgado em tribunal comum como se adulto fosse, não obstante, por força da Convenção, dever ser considerado criança.

A transição para a vida adulta não é isenta de engulhos e ansiedades, exigindo não só funções cognitivas, de deliberação e pensamento lógico, mas igualmente capacidade de autocontrole e de capacidade de controlar determinados impulsos num corpo que ainda está em formação.

Se consultarmos a legislação penal dos nossos vizinhos espanhóis, dispõe o seu artigo 19.º do Código Penal que “os menores de dezoitos anos não serão responsáveis criminalmente”. O que, evidencie-se, está plenamente de acordo com a Convenção.

E por isso mesmo deveria merecer por parte de todos nós, mas sobretudo de quem tem a responsabilidade política e representativa, uma séria reflexão e debate no sentido de se ponderar alterações na nossa legislação penal para fazer coincidir a imputabilidade penal com a maioridade civil e política, ou seja, apenas quando se atinge 18 anos.

Haverá alguns que defendem que tal seria o descalabro e era importante reforçar a educação pelo chicote num momento de crise de instituições. Haverá ainda muitos leitores de bem que, de forma pertinente, recordam de muitas crianças e jovens cometem eventos que são qualificados pela lei penal como crime, devendo a sociedade saber responder adequadamente. E com razão o fazem, porque se verifica um aumento na instrumentalização por adultos de crianças e jovens como correios de droga, recebimento de valores ou vigilância da polícia. E outras há que cometem furtos, atacam colegas ou cometem outros crimes mais graves.

Porém, quando se indaga das condições sociofamiliares, deparamo-nos com crianças e jovens em perigo, em estruturas familiares desorganizadas, carências económicas ou incapacidade na sua gestão, ausência de amor e supervisão parental, entregues a si e as seus pares, sujeitas a todo o tipo de abuso, sem alimentação certa ou local para dormir, que se renderam a promessas de pertencer a um grupo, a ter roupa nova ou simplesmente a alguém cuidar delas.

Para todas essas situações, já existe em Portugal a solução legal: “educação para o direito”. Através de Tribunais de Famílias e Menores, em articulação com a sociedade, serviços de reinserção social e múltiplas instituições, com célere comunicação e atempada e oportuna intervenção. Nos casos mais graves, está previsto a possibilidade de uma medida tutelar de internamento em centro educativo em regime fechado o qual, não sendo uma prisão, por ser um estabelecimento destinado ao ensino, limita a liberdade de quem aí se encontra por força de decisão de um tribunal.

Por isso mesmo, haverá que assegurar que existam centros educativos em Portugal com capacidade para que uma tal medida tutelar educativa seja aplicada com a maior brevidade possível. Porque condenar um jovem e depois mandá-lo para casa, à espera que tenha vaga faz recordar, mas pelos piores motivos, o texto interpretado por Raul Solnado que chegou à guerra e ela estava fechada. Tal seria o descalabro do sistema, transmitindo uma mensagem de impunidade e irresponsabilidade total, com graves consequências futuras. Espera-se que sejam apenas rumores sem substância. É que o tempo de uma criança e um jovem não é o mesmo de um adulto.

Em conclusão, celebre o Dia da Criança com afetividade, alegria e esperança. E contribua para uma sociedade mais justo e com futuro para as nossas crianças e jovens.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Segundo o diretor interino do Centro Nacional de Desastres do país, numa carta enviada este domingo ao coordenador residente das Nações Unidas, o deslizamento de terras “enterrou mais de 2.000 pessoas vivas” e causou “grande destruição”.

À AFP, Serhan Aktoprak, chefe da missão da ONU para as migrações, com sede em Port Moresby, a capital da Papua-Nova Guiné, estimara que “mais de 150 casas tenham sido soterradas e que 670 pessoas tenham morrido”.

O acidente ocorreu na madrugada de sexta-feira, por volta das 3h00 da manhã locais (15h00 de quinta-feira em Lisboa), na aldeia de Kaokalam, província da Enga, no centro do país, depois de duas horas de chuvas fortes durante a noite.

1. Ohio Players
The Black Keys

Quando, em 2011, conseguiu fazer de Lonely Boy (do disco El Camino) um hit global, já o duo Dan Auerbach e Patrick Carney andava na estrada há muito, apurando uma sonoridade muito própria (mas assente nos mandamentos clássicos de blues e rock), feita de voz, guitarra e bateria, mesmo que ninguém desse por ele. O seu primeiro álbum, The Big Come Up, é de 2002. Mais de 20 anos depois, no 12.º álbum de estúdio, este Ohio Players, os The Black Keys conseguem, ainda, surpreender e ser originais? É difícil dizer que sim… Mas, para compensar, sente-se, ainda, uma boa dose de frescura e prazer em fazer discos que soam a Black Keys. Neste caso, tiveram duas ajudas de peso para combater a sensação de mesmice e solidão a dois: vários temas contam com a colaboração de Beck (que até canta, ao lado do rapper Juicy J, no tema Paper Crown) e de Noel Gallagher (ex-Oasis). E nota-se.

2. The Collective
Kim Gordon

É estranho que um dos melhores discos de rock lançados em 2024 tenha a assinatura de uma mulher de 71 anos? Talvez num primeiro momento… Se soubermos que ela se chama Kim Gordon e que a partir de 1981, ao lado de Thurston Moore, ajudou a desbravar caminho numa das mais influentes bandas da história do rock, os Sonic Youth, já não há nenhuma estranheza (mas indica-nos que o tempo passa a correr). Neste segundo álbum a solo (em 2019 saiu No Home Record) há ecos dos Sonic Youth, na sua identidade feita de noise e distorção, mas há, sobretudo, o desejo de continuar a experimentar, a sentir a excitação de fazer música intensa e com poucas regras. As linhas de baixo são pesadas, testando a resistência de colunas e auscultadores a sons graves, as batidas hipnotizantes e a fazerem, por vezes, pensar no lado mais interessante do hip-hop e suas variantes, e a voz de Kim Gordon é servida em registo de spoken word, que tanto evoca experimentações antigas como os possíveis sentidos atuais da expressão francesa “avant-garde”. E logo na primeira faixa, Bye Bye, fica provado que até a recitar uma lista de coisas a não esquecer de levar para uma viagem Kim Gordon é cool.

3. Interplay
Ride

Os britânicos Ride são uma banda com duas vidas. Se tivessem ficado pela primeira (que durou entre 1988 e 1996), seriam vistos, cada vez mais, como uma velha banda de culto, meio etérea, conhecida só por uns happy few que nunca esqueceriam a perfeição do rock de guitarras do disco de estreia, Nowhere (de 1990). Mas em 2014 resolveram voltar à vida e, assim, obrigaram-se a uma existência terrena e ao confronto com o seu próprio passado. Num momento em que a sonoridade e a atitude do shoegaze conquistam muitos miúdos da geração TikTok, esta banda que ajudou a dar corpo a esse movimento não parece especialmente empenhada em regressos ao passado e nostalgias. Optou por uma sonoridade totalmente nova? Também não. É, afinal, (mais) uma banda de pop rock, mais adulto do que jovial, na eterna demanda pela canção perfeita… Às vezes, anda lá perto.

4. All Born Screaming
St. Vincent

Chegamos à sexta faixa do novo disco da norte-americana St. Vincent, Violent Times, e soa-nos familiar. Aquela sensação “acho que já ouvi isto…”. A canção é nova, mas tem a inconfundível marca dos temas que ficam para a história associados a um filme de James Bond. Um acaso? Sim e não. “Não foi intencional”, disse à revista Rolling Stone, na mesma entrevista em que assumia que adoraria mesmo ser autora de um verdadeiro Bond theme. Olhando para os títulos das suas novas canções, parece que vemos St. Vincent (nome artístico de Anne Clark) sintonizada com o momento apocalíptico da Humanidade, envolvida em guerras sem fim – Hell is Near, Broken Man, Big Time Nothing, Violent Times… –, mas a sonoridade não acompanha essa intuição. St. Vincent continua desafiante, irónica e exímia escritora de canções cheias de vida, prontas para se transformarem em atuações eletrizantes em palco.