O último painel da 3ª edição da ESG Talks, que contou com moderação da subdiretora da VISÃO Margarida Vaqueiro Lopes, centrou-se na Inovação e Transformação Sustentável, com cada convidado a partilhar as suas reflexões e experiências nas áreas da Sustentabilidade e Turismo. 



Face às contradições que envolvem a ideia de um turismo verdadeiramente sustentável, André Gomes – presidente do Turismo do Algarve – acredita que é possível praticar e trabalhar, de forma honesta, no setor do turismo e ser-se sustentável. “Por um lado, as empresas têm todo o interesse em terem uma oferta cada vez mais sustentável e, do ponto de vista do cliente, também encontramos cada vez mais exigências de sustentabilidade”, referiu.

A 3º edição das ESG Talks ocorreu na passada 5ª feira, dia 23 de maio, na Faculdade de Economia da Universidade do Algarve. Esta é uma iniciativa promovida pelo Novo Banco, pela VISÃO e pela EXAME, em parceria com a PwC.  

Já o professor e economista da Universidade do Algarve Luís Serra Coelho referiu que os grandes desafios atuais do setor passam por questões de ordem social, ambiental e de ‘Governance”. Para Coelho, as novas legislações impostas pela União Europeia, apesar dos desafios que vão impor ao tecido empresarial do País, vão também gerar novas oportunidades. “Os que conseguirem tirar proveito e conseguirem posicionar-se melhor vão ter ganhos no futuro. A sustentabilidade tem de ser vista de forma realista, vai ter custos e vai chatear as pessoas, mas pode ser uma oportunidade, se tivermos a capacidade de planear e de tomar medidas que permitam capitalizar essas oportunidades”, referiu.

André Gomes acredita que é nesta fase de rápida transição sustentável que as entidades públicas podem realmente fazer a diferença. “Nós temos metas para atingir em termos europeus e metas mundiais para as quais todos podemos dar o nosso contributo. É aí que as entidades públicas podem ser um suporte às empresas que não têm tanta capacidade para responder de forma tão célere como nos é exigida. Quem não percorrer esse caminho vai ficar para trás”, avisou.

A representante da comissão executiva do Grupo Pestana presente, Verónica Soares Franco, abordou ainda algumas das medidas que estão a ser implementadas pelo grupo empresarial, numa política de transparência para com os clientes. “Temos todo um plano de descarbonização que foi desenvolvido até 2030 e cada vez mais temos de comunicar as iniciativas que estamos a fazer, não só para o cliente final mas também para os nossos colaboradores, entidades financeiras e fornecedores. É nossa responsabilidade criar um plano que lhes dê a conhecer o que é que será o futuro da empresa e qual o impacto ambiental que estão a ter. Os clientes são a parte importante e têm de conhecer bem, e cada vez mais, aquilo que as empresas estão a fazer”, contou.

Por fim, Luís Serra Coelho terminou a sua intervenção com considerações sobre o paradoxo que a nova legislação europeia pode vir a criar. “Nós queremos cumprir esta agenda na Europa, mas estamos a competir num conjunto mundial onde nem todos temos esta preocupação. Ou seja, não olhar para aquilo que outros países fora da UE estão a fazer pode ditar, a breve prazo, que a Europa – cada vez mais irrelevante do ponto de vista económico no mundo – se torne ainda mais irrelevante, embora defenda um planeta mais sustentável. E aqui está um paradoxo”, concluiu. 

O encerramento ficou a cargo de Rogério Bacalhau, Presidente da Câmara Municipal de Faro, que centrou a sua intervenção no peso que o turismo tem na economia da região, nomeadamente em Faro, e cujo crescimento os números demonstram. E lembrou que são os próprios clientes quem exige cada vez mais uma oferta sustentável e de qualidade, algo que, na sua opinião o “paraíso” algarvio está em condições de providenciar.

Rogério Bacalhau, Presidente da Câmara Municipal de Faro, no encerramento desta primeira sessão da terceira edição das ESG Talks, realizada na capital algarvia.

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As duas cadeiras aiTai, desenhadas por Kengo Kuma (ainda em protótipo), pareciam ter sido pensadas para aquele momento, em que esteve à conversa com Álvaro Siza Vieira, no seu gabinete do Porto.

O nome significa “quero ver-te”, em japonês, e de facto, foi a pedido do arquiteto japonês que se deu o encontro, promovido pela Mor Design, a editora portuguesa de design, com quem ambos colaboram – e aproveitando o facto de estar de passagem pela cidade, na quinta feira passada, para visitar as obras do antigo matadouro industrial, e antes de se dirigir para Lisboa, onde se faria o soft opening do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian (ambos os projetos são da sua autoria).

A cadeira de Siza Vieira, intitulada Alcântara, concebida há cerca de quatro anos, “abriu muitas portas”, confessou João Pereira, CEO da empresa, e permitiu que novas parcerias com designers e arquitetos de renome, nacionais e internacionais, se tivessem firmado.

A admiração de Kuma, 69 anos, pelo mestre da arquitetura portuguesa, de 90 anos, vinha de longe. Tinham-se cruzado fugazmente, em duas ocasiões, mas nunca tinham tido a oportunidade de se sentarem e trocarem opiniões. “Só tenho boas memórias do Japão”, confessou Siza. E bem frescas, acrescentamos nós, após ouvirmos algumas das histórias.

Durante cerca de duas horas, os arquitetos contaram histórias sobre o seu percurso profissional

Recordou, entre outros episódios, a atribuição do Praemium Imperiale, em 1998, concedido pela família imperial japonesa, em nome da Associação de Artes do Japão. “Foram muito generosos comigo”, disse. A cada ano eram distinguidas cinco personalidades, nos campos de pintura, escultura, arquitetura, música e teatro/cinema.

Além de Siza, um dos contemplados foi Robert Rauschenberg, de quem estava ao lado, na cerimónia encabeçada pelos imperadores japoneses. Impunha-se o mais severo protocolo, mas o artista norte-americano, “muito engraçado”, logo se esqueceu que não podia olhar o casal nos olhos e despertou os sorrisos de Akihito e Michiko.

Quando abordou a convivência com o arquiteto japonês Kenzo Tange (1913-2005), despertou um genuíno “Uau, a sério?” de admiração de Kengo Kuma, já que aquele era uma das suas grandes referências. “Tinha 10 anos quando o meu pai me levou a ver o pavilhão que fez para os Jogos Olímpicos de Tóquio [em 1964]. Era tão bonito e fiquei tão chocado que naquele dia decidi que queria ser arquiteto”, explicou.

Sentados nas cadeiras concebidas pelo outro, ambas de madeira (material “especial” e “mágico”, descrevem), discorreram ainda sobre este desafio. “A dificuldade em desenhar uma cadeira é que já foram feitas milhões ao longo da História. É preciso fazer algo diferente, mas que pareça realmente uma cadeira – há pessoas que fazem cadeiras que não parecem cadeiras, e mesas que não parecem mesas”, explicou Siza Vieira. Já para Kengo Kuma “desenhar uma cadeira é como definir-me: o que pode ensinar-me sobre mim?”

No final da conversa, veio o veredicto sobre o conforto das peças. “Sinto-bem… e sento-me bem”, disse Siza, provocando as gargalhadas dos presentes. Kuma devolveu-lhe a atenção: “É muito acolhedora… tal como a sua personalidade”.

Antes do almoço-piquenique, houve, no Auditório 3 da Fundação Gulbenkian, uma homenagem à escritora Alice Vieira, com muito tempo para conversar. O diretor da revista VISÃO chamou aos alunos que lotavam a sala “jovens jornalistas” que, durante aquela hora, tinham o “privilégio de fazer as perguntas que quisessem” à homenageada.  

Alice Vieira, que nasceu em Lisboa há 81 anos e já escreveu perto de 100 livros, sempre gostou de conversar e contar histórias, por isso nem foi preciso ouvir a primeira pergunta para começar, sorridente, a partilhar memórias e episódios da sua vida de jornalista e escritora.

“O livro que me deu mais trabalho a escrever foi o Diário de Um Adolescente na Lisboa de 1910”, disse, sorridente, lembrando que, como tinha o formato de um diário e tinha que fazer referências ao que se tinha mesmo passado naqueles dias, há mais de um século, exigiu muito “trabalho de investigação.” 

Mas os “jovens jornalistas” de vários pontos do País tinham mesmo muitas perguntas para fazer… Das mais simples – “Qual o primeiro livro que se lembra de ter escrito?”; “Quando era criança o que desejava ser no futuro?”; “Como é que fizeram um livro com cheiro a chocolate?” – às que exigiam algum tempo a Alice Vieira para pensar na resposta – “Que conselhos dá a quem quer ser escritor?” ou “De onde vem tanta criatividade para escrever histórias e poemas?”. 

Alice Vieira, que começou a publicar livros em 1979, com o grande sucesso Rosa, Minha Irmã Rosa, e sempre quis ser jornalista (profissão que começou a exercer aos 18 anos), não deixou nenhuma curiosidade por satisfazer.

No fim, percebeu-se que se houvesse mais tempo, não faltariam mais perguntas… “Se nos trouxerem aqui o almoço podemos continuar”, brincou Alice Vieira, antes de receber um presente das mãos de Rui Tavares Guedes: uma capa da VISÃO Júnior com a sua fotografia, o seu nome e a melhor descrição possível do seu trabalho: “Contadora de Histórias.” 

(Foto: Luís Barra)

“Quantos mais miúdos chegam, mais nervosa fico”, diz Júlia Carmona, uma das locutoras da Rádio Miúdos e apresentadoras da festa “Miúdos a Votos”. A sua colega, Luana Custódio, já ensaiou o guião da apresentação do espetáculo que encerra a eleição dos livros mais votados.

Luana Custódio tem 14 anos e faz rádio há quatro. Está habituada às curiosidades dos outros meninos e meninas que não conhecem os estúdios de rádio. A maioria gosta de saber como funciona uma mesa de mistura, quer mexer nos botões e ouvir a própria voz ao microfone.

“Todas as pessoas têm potencial para trabalhar na rádio”, diz a locutora. “A comunicação oral é a mais utilizada e tem de ser a mais direta. Por isso, a escolha de vocabulário é importante”, explica Luana.

Este ano, é a oitava vez que a iniciativa se realiza. A revista VISÃO Júnior e a Rede de Bibliotecas Escolares organizam a eleição dos livros preferidos dos alunos entre o 1º e o 12º anos, de várias escolas do País. A Fundação Gulbenkian, em Lisboa, recebeu na quarta-feira, 29, 300 crianças e adolescentes participantes de “Miúdos a Votos”.

Leonor e Laura partilham, há um ano, uma hora de emissão semanal online, mas nunca se tinham encontrado ao vivo

Este dia de festa vai ficar na memória de mais duas locutoras da Rádio Miúdos. Laura e Leonor partilham, há um ano, uma hora de emissão semanal online, mas nunca se tinham encontrado ao vivo, “em carne e osso”. Ambas são de Lisboa e todas as quintas-feiras se juntam online para fazer o programa, em que falam dos seus interesses e muito mais, numa linguagem informal.

Votar: O poder da escolha

Ao mesmo tempo, no Auditório 3, Rita Canas Mendes foi a anfitriã de duas turmas, uma da Escola da Mata, de Estremoz, em que todos os alunos do 2º e 3º anos traziam boné e t-shirt branca e calções de ganga; outra da Escola EB do Ave, da Póvoa de Lanhoso.

A escritora e tradutora Rita Canas Mendes trouxe o livro Eu Voto. Contando a sua história, com voz doce e suave, começa a falar de eleições, políticos, poder, entre outros assuntos. Na conversa com a escritora ficamos a perceber que ao discutirmos as nossas preferências com os outros podemos influenciá-los nas suas escolhas.

Rita Canas Mendes com o livro “Eu Voto”

Enquanto nos “Miúdos a Votos” os candidatos são livros escolhidos pelos alunos, nas eleições legislativas ou nas próximas eleições para o Parlamento Europeu, no dia 9 de junho, são pessoas. As explicações continuam sobre as diferenças entre o voto público e o voto secreto o que é a abstenção e as razões que levam as pessoas a não irem às urnas colocar a cruz no boletim de voto.

Desde que fez 18 anos, Rita Canas Mendes nunca falhou uma eleição: “Gosto muito de votar e sentir que a minha voz está a ser ouvida.”

Corta, cola, desenha e pensa

De Sines chegou o grupo de estudantes finalistas da Escola EB N.º 3 e instalam-se em redor das três meses disponíveis para idealizarem e criarem uma capa da VISÃO Júnior.

O assunto, o desenho, a fotografia e a chamada de capa são muito importantes para despertar a curiosidade dos leitores e comprarem a edição.

Nas capas em tamanho A4 desenham-se várias ideias, algumas relacionadas com o livro O Lápis Mágico de Malala, os animais mais raros do mundo ou os melhores sítios para ir passar férias. Os alunos entre os 9 e os 11 anos trocam lápis, canetas, papel colorido e tesouras. Todos querem fazer a melhor capa, para quando estiver exposta no painel chamar a atenção de quem vê.

Vozes unidas por um mundo melhor

Noutro auditório, Mafalda Cordeiro, autora do livro A Tua Voz Importa recebe a turma do externato A Minha Escola, de Paço d’Arcos. Rapidamente a conversa aborda temas como a liberdade de expressão e o direito à opinião que todas as pessoas têm.

Mafalda Cordeiro, autora do livro “A Tua Voz Importa”

“Tudo o que se diz é importante”, sublinha Mafalda Cordeiro. Elogiar um amigo conta, perceber o que está escrito numa ementa conta, as regras são importantes para não haver confusão, mas as pessoas têm uma voz ativa.

E de que forma a política está presente no dia a dia dos cidadãos? Os braços no ar primeiro e as respostas depois falam de Educação, Saúde, Trabalho, entre outras áreas.

Cada material no seu ecoponto

O ateliê Academia Ponto Verde: Reciclar é na boa continua a ser importante para passar a mensagem que reciclar é preciso e nunca é demais lembrar que não se devem misturar os diferentes materiais nos vários ecopontos – verde para vidro, azul para papel e amarelo para plástico. É uma forma de poupar recursos naturais, bem como de poupar espaço em aterro. Além disso, também reduz os níveis de poluição.

Dicas como “não se esqueçam de espalmar as embalagens” fazem toda a diferença.

Quando se fala de energias renováveis – da eólica a partir do vento, da solar ou da hidráulica com água – todas as crianças começam a dominar o assunto e a conversa continua até à hora de almoço com um piquenique nos jardins e anfiteatro ao ar livre da Gulbenkian.

A Porsche já tinha começado a eletrificar alguns dos modelos, mas até agora só os veículos maiores como os Cayenne, Panamera ou Taycan. Agora, a marca anuncia que também vai ter um novo 911 Carrera GTS em versão híbrida, naquele que será o primeiro modelo do género para a família dos desportivos.

O design do modelo não mudou de forma significativa, o que quer dizer que a Porsche teve de fazer alguma engenharia para conseguir colocar o motor híbrido. A fabricante conseguiu aumentar a capacidade para 3,6 litros, acima dos 3 litros da versão anterior do 911 Carrera GTS, num motor de seis cilindros capaz de chegar aos 478 cavalos (357 kW) e 570 Nm de binário, noticia o ArsTechnica.

A Porsche integrou um par de sistemas híbridos, à semelhança do que acontece nos carros da F1, com um motor síncrono permanentemente ativo integrado na caixa automática PDK de oito velocidades e que gera 54 cavalos, enviando potência para as rodas e funcionando de forma regenerativa na travagem. O segundo motor é integrado, funciona a 11 kW e consegue rodar a turbina para criar impulso ou recolher energia elétrica a partir dos gases de exaustão. A bateria principal é colocada na frente, funciona a 400 V e tem capacidade de armazenamento de 1,9 kWh.

Este novo 911 é, por predefinição, um carro de dois lugares, com os utilizadores a poderem escolher depois se querem colocar bancos atrás, sem custos. No interior, há um ecrã digital curvo de 12,6 polegadas em frente ao condutor.

Os preços para a versão 911 Carrera começam nos 160 540 euros e nos 213 550 euros para a versão GTS.

Suspende-se ligeiramente a respiração ao entrar em Siza: a grande escala dos desenhos – tantos, tantos –, a abundância das fotografias, a poderosa respiração das madeiras da sala nobre da Fundação Gulbenkian a ecoar nas peças de mobiliário criadas pelo arquiteto português, as subtis relações estabelecidas entre o longo percurso expositivo e os jardins emoldurados por janelas gigantescas, as surpresas e as soluções curatoriais, as obras convidadas e os convidados de honra, a mundividência expectável mas também a intimidade a merecer palco ao lado, o humor a aparecer aqui e ali ou os cadernos pessoais de Siza Vieira (pretos, alguns poucos vermelhos) desengavetados por milagre fac-símile…

Tudo isto estarrece, maravilha, inspira orgulho. É que a lógica tradicionalista de resumir uma carreira de arquiteto a maquetes exatas, a documentação técnica e a linguagem algo estéril e codificada não traduz a construção desta exposição.

Afetos e paixões

Siza tem argamassa de afetos, obsessões, admiração, retribuição – um “atlas”, segundo o vocabulário escolhido pelo curador Carlos Quintáns Eiras, que espelha um criador reconhecido “à escala planetária”, merecedor de uma “dimensão que por vezes Portugal esquece e ignora” e que “inspirou muitos arquitetos a que pensassem em respeitar a cidade”.

E, dirá mais tarde o crítico galego, um arquiteto sempre crente no credo de “transformar o País, de imaginar um futuro melhor”. Até mesmo quando os seus projetos não são realizados – e é possível encontrá-los aqui, também.

Isto e muito mais são materiais e memórias descritivas que fazem parte de um complexo e vasto corpo de trabalho que Quintáns Eiras, em colaboração com a arquiteta Zaida García-Requejo, minerou em cerca de 250 mil documentos de um universo de mais de meio milhão (resultantes do cruzamento dos materiais de arquivo existentes na Fundação de Serralves e na Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian, no Canadian Centre for Architecture de Montreal, Canadá, no centro Drawing Matters na Grã-Bretanha, ou no próprio atelier do arquiteto). Só falta, aqui, dirá a dada altura o curador, “o cheiro de Siza”, o tabaco, o café, mais madeiras táteis.

Esta exposição, a primeira realizada em Lisboa, em três décadas, dedicada a Álvaro Siza Vieira, nascido há 90 anos em Matosinhos, filho de engenheiro e pai de arquiteto, defensor da arquitetura modernista de Portugal, primeiro prémio Pritzker português (em 1992), é de outra ordem. Exige tempo, mas recompensa amplamente o visitante.

É uma imersão na obra, é certo, mas é igualmente uma radiografia de um criador que revela uma compulsão para o desenho, um sentido de humor “fino” como o dos britânicos, uma paixão sem desculpas pela dança, pela música, pela viagem, pela teia de afetos – por exemplo, em Siza, é possível contemplar toda uma parede com retratos de amigos e familiares, feitos com sinuosas linhas e olho treinado para a observação, ou revisitar algumas obras singulares da mulher, a artista Maria Antónia Siza (1940-1973).

A organização de Siza segue esse pressuposto: caminha-se do profissional para o pessoal, da grande para a pequena escala, do público para o privado, do profissional para a produção plástica, tudo bem seguro por uma rede de conceitos.

A primeira parte, denominada “Arquitetura”, espelha o abrangente “atlas de Siza” através de 30 verbos, como “afastar”, “olhar”, “orar”, “traçar” ou “voar” – cada um exemplificado com três obras arquitetónicas patentes num U gigante que perfaz 90 (ecoando os 90 anos de Siza).

Antes disso, duas fileiras de cadernos permitem um voyeurismo consentido: a letra miúda de Siza Vieira, cheia de sublinhados, desenhos espontâneos, pontos de interrogação, fachadas ensaiadas. Siza, o arquiteto, é também Siza, o desenhador constante. Diz Carlos Quintáns Eiras que, “através destes cadernos, ele mostra uma forma de pensar”. “O desenho, para Siza, é conquistar, de alguma forma, o futuro”, acrescenta. E Siza desenha tudo – mesas ou candeeiros, paisagens de viagens imaginadas ou reais, em papéis e folhetos de companhias aéreas, ou retratos de músicos em maços de tabaco Camel. Aqui, também, encontramos um Siza cheio de humor: aquele que nos cadernos inscreve a palavra “disciplina” – acrescentando-lhe “nenhuma”, “pouca” ou mesmo “sem”.

Descendo as escadas, entra-se na secção “Arquiteto”, a metade da exposição dedicada às bússolas e referências de Siza. As suas primeiras aguarelas estão lá, em cores terrosas, assim como um autorretrato de diminutas dimensões. E a surpresa de obras de Picasso, Matisse e Amadeo. “Para Siza, Picasso é muito importante. Podemos ter um Siza relacionado com o impressionismo ou imensas outras coisas, mas a sua relação fundamental é com o cubismo”, defende o curador. Outras paixões estão aqui evocadas: escultura (objetos africanos), música, sobretudo o jazz, ballet… Numa vitrina, 39 maços de tabaco revelam desenhos de músicos, toda uma orquestra que serve de banda sonora muda para a instalação dos desenhos dedicados ao ballet, suspensos em plintos metálicos. Na parede, desenhos ampliados de Siza marcam o ritmo imparável da sua mão. Até onde nos conduzirá mais?

Siza > Fundação Calouste Gulbenkian > Av. de Berna, 45A, Lisboa > T. 21 782 3000 > até 26 ago, seg, qua-sex e dom 10h-18h, sáb 10h-21h > €6

Miguel Albuquerque é indigitado, esta quarta-feira, presidente do Goveno Regional da Madeira. A cerimónia terá lugar, às 12h00, no Palácio de São Lourenço, no Funchal.

O representante da República, Ireneu Barreto, optou pela “solução apresentada pelo partido mais votado, o PSD”, que chegou “a um acordo de incidência parlamentar com o CDS, e a não hostilização, em princípio, do Chega, do PAN e da IL” na Assembleia Legislativa da Madeira, o que, previsivelmente, permitirá que o programa de governo seja aprovado.

Na segunda-feira, PS e JPP anunciaram que iriam apresentar a Ireneu Barreto “uma solução de governo conjunta”, ainda que sem maioria absoluta, e conversar com outros partidos. No entanto, o juiz conselheiro considerou que esta solução conjunta “não tem qualquer hipótese de ter sucesso na Assembleia Legislativa”. PS e JPP somam apenas 20 deputados – 11 e 9, respetivamente –, ainda longe dos 24 necesários para alcançar uma maioria (a Assembleia Legislativa da Madeira tem 47 assentos).

“Eu assumo as minhas responsabilidades, farei de tudo para que este Governo funcione, espero que os outros, que têm responsabilidades ao nível da assembleia parlamentar […] saibam honrar o interesse superior da região”, afirmou Ireneu Barreto, em declarações aos jornalistas após ter recebido todos os partidos eleitos.

O PSD venceu as eleições regionais de domingo passado, com 36,1% dos votos, elegendo 19 deputados – apesar da vitória, este é o pior resultado do PSD na Madeira.

A segunda força mais votada foi o PS, repetindo o resultado de 2023: com 21,3% dos votos e apenas 11 deputados eleitos. O JPP viu reforçado o estatuto de terceira força política na região, com 16,9% dos votos e 9 deputados, mais quatro do que em 2023.

Outro dos grandes derrotados da noite foi o Chega. Apesar da presença constante de André Ventura no arquipélago, o candidato Miguel Castro ficou-se pelo quarto lugar, com 9,2% dos votos e quatro deputados eleitos, mantendo os resultados obtidos há um ano (tinha tido 8,8% e elegido os mesmos quatro deputados em 2023).

O CDS-PP elegeu apenas 2 deputados (com 4,0% dos votos) e a IL conseguiu 2,6% dos votos, mantendo o deputado único. Também o PAN voltou a eleger a deputada Mónica Freitas (1,9%). Destaque ainda para Bloco de Esquerda e CDU falharam a eleição para a Assembleia Legislativa da Madeira.