Suspende-se ligeiramente a respiração ao entrar em Siza: a grande escala dos desenhos – tantos, tantos –, a abundância das fotografias, a poderosa respiração das madeiras da sala nobre da Fundação Gulbenkian a ecoar nas peças de mobiliário criadas pelo arquiteto português, as subtis relações estabelecidas entre o longo percurso expositivo e os jardins emoldurados por janelas gigantescas, as surpresas e as soluções curatoriais, as obras convidadas e os convidados de honra, a mundividência expectável mas também a intimidade a merecer palco ao lado, o humor a aparecer aqui e ali ou os cadernos pessoais de Siza Vieira (pretos, alguns poucos vermelhos) desengavetados por milagre fac-símile…
Tudo isto estarrece, maravilha, inspira orgulho. É que a lógica tradicionalista de resumir uma carreira de arquiteto a maquetes exatas, a documentação técnica e a linguagem algo estéril e codificada não traduz a construção desta exposição.
Afetos e paixões
Siza tem argamassa de afetos, obsessões, admiração, retribuição – um “atlas”, segundo o vocabulário escolhido pelo curador Carlos Quintáns Eiras, que espelha um criador reconhecido “à escala planetária”, merecedor de uma “dimensão que por vezes Portugal esquece e ignora” e que “inspirou muitos arquitetos a que pensassem em respeitar a cidade”.
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E, dirá mais tarde o crítico galego, um arquiteto sempre crente no credo de “transformar o País, de imaginar um futuro melhor”. Até mesmo quando os seus projetos não são realizados – e é possível encontrá-los aqui, também.
Isto e muito mais são materiais e memórias descritivas que fazem parte de um complexo e vasto corpo de trabalho que Quintáns Eiras, em colaboração com a arquiteta Zaida García-Requejo, minerou em cerca de 250 mil documentos de um universo de mais de meio milhão (resultantes do cruzamento dos materiais de arquivo existentes na Fundação de Serralves e na Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian, no Canadian Centre for Architecture de Montreal, Canadá, no centro Drawing Matters na Grã-Bretanha, ou no próprio atelier do arquiteto). Só falta, aqui, dirá a dada altura o curador, “o cheiro de Siza”, o tabaco, o café, mais madeiras táteis.
Esta exposição, a primeira realizada em Lisboa, em três décadas, dedicada a Álvaro Siza Vieira, nascido há 90 anos em Matosinhos, filho de engenheiro e pai de arquiteto, defensor da arquitetura modernista de Portugal, primeiro prémio Pritzker português (em 1992), é de outra ordem. Exige tempo, mas recompensa amplamente o visitante.
É uma imersão na obra, é certo, mas é igualmente uma radiografia de um criador que revela uma compulsão para o desenho, um sentido de humor “fino” como o dos britânicos, uma paixão sem desculpas pela dança, pela música, pela viagem, pela teia de afetos – por exemplo, em Siza, é possível contemplar toda uma parede com retratos de amigos e familiares, feitos com sinuosas linhas e olho treinado para a observação, ou revisitar algumas obras singulares da mulher, a artista Maria Antónia Siza (1940-1973).
A organização de Siza segue esse pressuposto: caminha-se do profissional para o pessoal, da grande para a pequena escala, do público para o privado, do profissional para a produção plástica, tudo bem seguro por uma rede de conceitos.
A primeira parte, denominada “Arquitetura”, espelha o abrangente “atlas de Siza” através de 30 verbos, como “afastar”, “olhar”, “orar”, “traçar” ou “voar” – cada um exemplificado com três obras arquitetónicas patentes num U gigante que perfaz 90 (ecoando os 90 anos de Siza).
Antes disso, duas fileiras de cadernos permitem um voyeurismo consentido: a letra miúda de Siza Vieira, cheia de sublinhados, desenhos espontâneos, pontos de interrogação, fachadas ensaiadas. Siza, o arquiteto, é também Siza, o desenhador constante. Diz Carlos Quintáns Eiras que, “através destes cadernos, ele mostra uma forma de pensar”. “O desenho, para Siza, é conquistar, de alguma forma, o futuro”, acrescenta. E Siza desenha tudo – mesas ou candeeiros, paisagens de viagens imaginadas ou reais, em papéis e folhetos de companhias aéreas, ou retratos de músicos em maços de tabaco Camel. Aqui, também, encontramos um Siza cheio de humor: aquele que nos cadernos inscreve a palavra “disciplina” – acrescentando-lhe “nenhuma”, “pouca” ou mesmo “sem”.
Descendo as escadas, entra-se na secção “Arquiteto”, a metade da exposição dedicada às bússolas e referências de Siza. As suas primeiras aguarelas estão lá, em cores terrosas, assim como um autorretrato de diminutas dimensões. E a surpresa de obras de Picasso, Matisse e Amadeo. “Para Siza, Picasso é muito importante. Podemos ter um Siza relacionado com o impressionismo ou imensas outras coisas, mas a sua relação fundamental é com o cubismo”, defende o curador. Outras paixões estão aqui evocadas: escultura (objetos africanos), música, sobretudo o jazz, ballet… Numa vitrina, 39 maços de tabaco revelam desenhos de músicos, toda uma orquestra que serve de banda sonora muda para a instalação dos desenhos dedicados ao ballet, suspensos em plintos metálicos. Na parede, desenhos ampliados de Siza marcam o ritmo imparável da sua mão. Até onde nos conduzirá mais?
Siza > Fundação Calouste Gulbenkian > Av. de Berna, 45A, Lisboa > T. 21 782 3000 > até 26 ago, seg, qua-sex e dom 10h-18h, sáb 10h-21h > €6
Miguel Albuquerque é indigitado, esta quarta-feira, presidente do Goveno Regional da Madeira. A cerimónia terá lugar, às 12h00, no Palácio de São Lourenço, no Funchal.
O representante da República, Ireneu Barreto, optou pela “solução apresentada pelo partido mais votado, o PSD”, que chegou “a um acordo de incidência parlamentar com o CDS, e a não hostilização, em princípio, do Chega, do PAN e da IL” na Assembleia Legislativa da Madeira, o que, previsivelmente, permitirá que o programa de governo seja aprovado.
Na segunda-feira, PS e JPP anunciaram que iriam apresentar a Ireneu Barreto “uma solução de governo conjunta”, ainda que sem maioria absoluta, e conversar com outros partidos. No entanto, o juiz conselheiro considerou que esta solução conjunta “não tem qualquer hipótese de ter sucesso na Assembleia Legislativa”. PS e JPP somam apenas 20 deputados – 11 e 9, respetivamente –, ainda longe dos 24 necesários para alcançar uma maioria (a Assembleia Legislativa da Madeira tem 47 assentos).
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“Eu assumo as minhas responsabilidades, farei de tudo para que este Governo funcione, espero que os outros, que têm responsabilidades ao nível da assembleia parlamentar […] saibam honrar o interesse superior da região”, afirmou Ireneu Barreto, em declarações aos jornalistas após ter recebido todos os partidos eleitos.
A segunda força mais votada foi o PS, repetindo o resultado de 2023: com 21,3% dos votos e apenas 11 deputados eleitos. O JPP viu reforçado o estatuto de terceira força política na região, com 16,9% dos votos e 9 deputados, mais quatro do que em 2023.
Outro dos grandes derrotados da noite foi o Chega. Apesar da presença constante de André Ventura no arquipélago, o candidato Miguel Castro ficou-se pelo quarto lugar, com 9,2% dos votos e quatro deputados eleitos, mantendo os resultados obtidos há um ano (tinha tido 8,8% e elegido os mesmos quatro deputados em 2023).
O CDS-PP elegeu apenas 2 deputados (com 4,0% dos votos) e a IL conseguiu 2,6% dos votos, mantendo o deputado único. Também o PAN voltou a eleger a deputada Mónica Freitas (1,9%). Destaque ainda para Bloco de Esquerda e CDU falharam a eleição para a Assembleia Legislativa da Madeira.
A Faculdade de Economia da Universidade do Algarve, em Faro, acolheu, na passada 5ª feira, a 3ª edição da ESG Talk com foco na discussão sobre Turismo e sustentabilidade. E Chitra Stern, uma entusiasta da sustentabilidade e que está envolvida em vários projetos que ela mesma desenvolveu, deu o seu testemunho. Numa apresentação com o título “ADN da sustentabilidade”, a oradora mostrou como é possível ser-se sustentável diariamente, exemplificando com os seus projetos.
Chitra Stern criou a marca Martinhal e fundou, em 2020, a United Lisbon International School – uma escola para jovens dos 3 aos 18 anos que já conta com mais de 620 alunos de mais de 50 nacionalidades diferentes.
A sua marca inicial, denominada por ‘Martinhal’, começou por estar apenas presente em Sagres, mas rapidamente se espalhou ao resto do País, com empreendimentos na Quinta do Lago, Chiado e, inaugurado no ano passado, no Parque das Nações, o Martinhal Lisbon Oriente. “Os portugueses ficam chocados com o facto de termos um edifício no Parque das Nações, ficam impressionados, mas eu tenho muito orgulho em ter um projeto lá, porque é um dos melhores locais a nível de sustentabilidade e planeamentoa nível mundial. E este é só um exemplo de um sítio sustentável”, elogia.
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Aquando da construção, em 2002, da Quinta do Martinhal, Chitra Stern já tinha uma visão sustentável para o seu projeto. “Já na altura fizemos uma pré-instalação da estrutura de dessalinização, água cinzenta para irrigação, instalamos painéis solares na primeira fase e células fotovoltaicas, entre outros. A eficiência energética é um trabalho constante. Todos os anos temos de a melhorar”, refere.
No mesmo sentido, a oradora explica como incorpora a arquitetura e a paisagem em todos os projetos, tomando como exemplo o Lisbon Oriente, onde existem 172 oliveiras à volta do prédio e outras dezenas de plantas de várias espécies.
Na sua apresentação, Chitra Stern destacou ainda a importância da questão social: “A diversidade e igualdade começa no topo. Somos 50% homens e 50% mulheres”, acredita.
United Lisbon International School
Em 2020, Chitra Stern fundou uma escola internacional em Lisboa, a United Lisbon International School, um projeto que diz possuir ‘também um interesse social para o mundo’. “É United porque só estando unidos é que conseguimos ajudar a resolver os problemas do mundo. Esta foi uma das razões porque a criámos”, refere.
Este é um ‘projeto âncora’, nas palavras da oradora, para que Lisboa possa ter uma escola internacional e, assim, atrair investimento direto estrangeiro. “Em termos de sustentabilidade, [com a construção da escola] houve um rejuvenescimento de edifícios industriais desativados e ainda ganhámos o prémio “Lisbon Prize no World Architecture Festival”, porque rejuvenescemos os edifícios com o objetivo da educação e não de outros interesses. E isso é motivo de orgulho”, afirmou.
Neste projeto, destacou ainda as casas inteligentes, o isolamento, os apartamentos que partilham serviços e instalações e a certificação BREEAM – um sistema de avaliação internacional desenvolvido pelo Building Research Establishment. “O processo do BREEAM bom porque aprendemos muito sobre ESG durante a fase de certificação e estamos sempre a aprender. Esta é uma boa maneira para dar os passos em frente”, reconhece.
O primeiro painel da terceira edição das ESG Talks, que ocorreu a 23 de maio no Algarve, teve como convidados Ana Paula Pais – diretora e coordenadora da área de formação do Turismo de Portugal – e Carlos Leal – CEO da United Investments Portugal – que refletiram sobre o tema “Atrair e reter talento no motor da economia portuguesa”. O painel contou com a moderação de Tiago Freire, diretor da Exame.
Questionada sobre os desafios atuais do turismo atual, Ana Paula Pais abordou o estado atual do setor e avanços que têm sido feitos. “Portugal tem as melhores infraestruturas de turismo que existem. Temos o desafio da atração do talento, muito grande para quem trabalha no setor, mas também para nós. A nossa missão [do Turismo Portugal] é estar ao serviço dessas empresas e pessoas para que possam ter o melhor enquadramento possível nesta atividade profissional”, contou. A convidada referiu ainda que a organização tem procurado atuar em três áreas chave que passam pela captação de talento internacional, captação de talento nos setores mais jovens e pela retenção de talento.
A captação dos mais jovens para esta atividade profissional é um dos grandes focos de ação e desafios que o setor atravessa atualmente. “O setor tem características que não são atrativas por ser um setor difícil e de trabalho intensivo e onde existe uma perceção que não corresponde à realidade. Temos de trabalhar na perceção que os jovens portugueses têm sobre o turismo”, explicou Pais.
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Esta é a terceira edição das ESG Talks – iniciativa promovida pelo Novo Banco, pela VISÃO e pela EXAME, em parceria com a PwC.
No arranque, ainda antes da discussão, foi a vez de Hugo Coelho, Diretor Coordenador do Departamento Empresas Sul do novobanco, dar o tom daquilo que o setor financeiro tem de fazer nesta área. Para o responsável, a banca está e continuará a estar disponível para financiar o setor turístico, até pelo peso que tem na economia nacional. Mas alertou que a opção por projetos com uma componente sustentável marcada e comprovada trará vantagens imediatas e financeiras, uma vez que o próprio custo do financiamento terá de levar em linha de conta o impacto dos investimentos em causa.
Hugo Coelho, Diretor Coordenador do Departamento de Empresas Sul do novobanco
Já para Carlos Leal, CEO da United Investments Portugal e segundo convidado do painel ligado ao talento, o maior desafio que o setor enfrenta centra-se na escassez de mão de obra no País. “A indústria perdeu muita gente no pós-Covid, que foi para outras indústrias e isso causou uma escassez. Havia escassez antes, mas não ao nível que é hoje. Também temos de ter apoio, o nosso grupo [United Investments] tem vindo a ter várias iniciativas para atrair mão de obra internacional, temos empreendimentos em vários países, onde é contraciclo. Torna-se muito difícil de conseguir competir e reter bom talento, especialmente quando se trabalha com marcas internacionais”, explicou.
Para os convidados, a transição digital é também uma das questões que se impõem na continuidade do setor. “Há outra componente, a questão da tecnologia e a substituição das funções que são mais facilmente industrializadas ou automatizáveis e, portanto, temos de acelerar a transição digital para que os recursos humanos fiquem para as tarefas que não podem ser feitas de forma automática. E isto leva a outro desafio: nós não somos um país de formação dual. Vamos ter de repensar o nosso sistema de formação profissional de apoio ao setor”, explicou Pais.
Já durante as suas conclusões, Carlos Leal sublinhou a importância de se criarem condições que permitam o crescimento do setor. Para o empresário, Portugal tem problemas de logística que devem ser resolvidos o mais rapidamente possível – referindo-se às capacidades atuais do aeroporto de Lisboa – de forma a possibilitar a entrada de mais turismo no País. “Se não criarmos condições para as pessoas virem e para os turistas virem não crescemos nada. O grande problema que Portugal tem em termos de crescimento, acima da falta de mão de obra, é a logística. Se nós não levarmos a sério a questão da logística e de como é que trazemos para cá os clientes, isso é um ‘bottleneck’. Podemos formar quem quisermos, mas se o cliente não vem, então é um ‘game over’”, concluiu Leal.
A abertura da sessão ficou a cargo do anfitrião e também parceiro nesta iniciativa, na figura de Paulo Águas, Reitor da Universidade do Algarve, que salientou o valor que significa para a região caminhar para um turismo cada vez mais sustentável.
Paulo Águas, Reitor da Universidade do Algarve, no arranque dos trabalhos
Os suplementos à base de óleo de peixe, onde está incluído o popular óleo de fígado de bacalhau, são indicado há décadas devido aos seus conhecidos benefícios relacionados, por exemplo, com a saúde cardíaca e o fortalecimento dos ossos.
Os seus efeitos benéficos advêm, principalmente, de um ingrediente: os ácidos gordos ómega 3, com ação antioxidante e anti-inflamatória, que ajudam também no alívio dos sintomas de depressão e ansiedade.
Um novo estudo concluiu, no entanto, que o consumo regular dos suplementos à base de óleo de peixe pode aumentar, e não reduzir, o risco de um primeiro Acidente Vascular Cerebral (AVC) e de fibrilhação auricular (um tipo de arritmia cardíaca caraterizada por batimentos cardíacos muito irregulares e rápidos) em pessoas sem problemas cardíacos.
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“O uso regular de suplementos de óleo de peixe pode ter diferentes papéis na progressão da doença cardiovascular”, escreveram os autores do estudo, publicado na revista BMJ Medicine.
Os investigadores analisaram, ao longo de uma média de 12 anos, dados de mais de 400 mil pessoas entre os 40 e os 69 anos, retirados do UK Biobank, um grande banco de dados biológicos do Reino Unido, sendo que cerca de um terço dos participantes consumiam regularmente suplementos de óleo de peixe.
As conclusões do estudo foram que o consumo regular de suplementos de óleo de peixe foi associado a um risco 13% superior de os participantes sem qualquer problema cardíaco desenvolverem fibrilhação auricular e a um risco 5% superior de sofrerem um AVC.
Contudo, os investigadores acrescentaram que os participantes que sofriam de doenças cardiovasculares no início do estudo e consumiam regularmente suplementos de óleo de peixe tinham um risco 15% menor de a fibrilhação auricular evoluir para um ataque cardíaco e um risco 9% inferior de a insuficiência cardíaca provocar morte.
Além disso, a equipa notou que o risco de transição de uma boa saúde para a ocorrência de um evento como um ataque cardíaco, AVC ou insuficiência cardíaca foi 6% superior entre as mulheres que consumiam suplementos de óleo de peixe, e também 6% superior entre os não fumadores.
Os investigadores notaram ainda que o efeito protetor do óleo de peixe na transição de um bom estado de saúde para a morte foi maior nos homens e nos participantes mais velhos.
Mas apesar dos resultados, a equipa refere que “são necessários mais estudos para determinar os mecanismos precisos para o desenvolvimento e prognóstico de eventos de doenças cardiovasculares com o uso regular de suplementos de óleo de peixe”.
“Embora este estudo tenha sido realizado numa grande população, foi de natureza observacional, com potenciais fatores de confusão e sem ter em consideração a dose”, diz, por seu lado, em entrevista ao Medical News Today, Elana Natker, diretora de comunicação da Global Organization for EPA and DHA Omega-3s, que não esteve envolvida no estudo.
Apesar disso, Natker acredita que o estudo é “muito interessante e os resultados merecem ser mais explorados”, apesar de continuar a “recomendar que os doentes consumam pelo menos 500 mg [de] ómega-3 por dia, quer ingerindo peixe gordo, que tomando um suplemento de ómega-3, ou então combinando os dois”.
“Meta-análises de ensaios clínicos em humanos encontraram reduções estatisticamente significativas no ataque cardíaco e morte por ataque cardíaco e doença cardíaca coronária”, acrescenta ainda.
Os suplementos de óleo de peixe, em geral, são feitos a partir dos tecidos de peixes gordurosos, como salmão, cavala e sardinha, e são valorizados principalmente pelo seu conteúdo de ómega 3. O óleo de fígado de bacalhau, por sua vez, tem o benefício adicional das vitaminas A e D.
A Revolut, tecnológica especializada em serviços financeiros, tenciona lançar funcionalidades de depósitos remunerados em Portugal na sua aplicação. “Estamos a trabalhar nisso a nível europeu, já lançamos noutros países da Europa, e estamos a explorar outros mercados. Portugal está dentro das nossas intenções também”, revela Ignacio Zunzunegui, diretor de crescimento da Revolut no Sul da Europa, em entrevista à Exame Informática e na qual revela o plano ambicioso da empresa britânica para o mercado português.
“Percebemos que os clientes estão mal servidos em muitos mercados no que a produtos de poupança diz respeito. Normalmente, as taxas oferecidas pelos bancos são muito baixas, especialmente quando comparadas com as taxas que o Banco Central Europeu tem atualmente, de 4,5%. Por isso estamos a trabalhar em duas soluções”, explicou, a propósito desta aposta.
Uma das funcionalidades será o depósito a prazo convencional, no qual ao fim de um determinado período de tempo o utilizador é remunerado segundo uma taxa de juro definida no momento do depósito. “Uma é a mais tradicional, uma conta de poupança instantânea, na qual o dinheiro que lá colocas gera juros”, adiantou. Este é um produto que já existe, por exemplo, no Reino Unido desde 2020. Atualmente, a Revolut paga juros entre 2% e 3,5% aos utilizadores.
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O segundo mecanismo são as contas flexíveis, que em termos técnicos são, na realidade, fundos monetários. Neste caso, o utilizador deposita o dinheiro numa conta e a Revolut usa esse capital para investir em títulos de dívida pública de diferentes países. “Em momentos macroeconómicos de altas taxas de juro, é provavelmente o produto mais competitivo na área da poupança e dos investimentos. Por duas razões. Têm um risco muito baixo – estamos a investir em produtos como títulos públicos de governos da Europa e o perfil de risco é de apenas um em sete, portanto muito baixo. E há a possibilidade de tirares o teu dinheiro quando quiseres”, explica Ignacio Zunzunegui.
“O que estamos a observar é que o mercado das poupanças está mal servido em termos de taxas [remuneratórias], queremos oferecer os melhores produtos e estamos a olhar para duas soluções que já foram lançadas noutros mercados e estamos a trabalhar para lançá-los em Portugal tão cedo quanto possível”, concluiu o executivo.
Pode ler a entrevista completa do executivo espanhol à Exame Informáticaaqui.
Ignacio Zunzunegui tem à sua responsabilidade oito (!) mercados da Revolut na Europa, onde a tecnológica de origem britânica já conta com mais de 40 milhões de utilizadores. O que começou, sobretudo, como uma aplicação conveniente para fazer pagamentos no estrangeiro e transferências entre diferentes divisas, é atualmente um bazar com mais de 70 funcionalidades relacionadas com dinheiro, desde as simples transferências entre amigos à possibilidade de compra e venda de ações das maiores empresas do mundo em poucos cliques. O espanhol não se cansou de dizer que Portugal é, dentro do universo Revolut, um mercado importante com uma resposta positiva dos utilizadores. E isso só dá mais ambição ao plano-mestre da empresa.
Recentemente começamos a ver anúncios da Revolut na televisão portuguesa. Parece que entraram numa nova fase da empresa. O que está por trás desta decisão?
A Revolut em Portugal é única. Existem poucos mercados nos quais tenhamos visto um crescimento tão acelerado com uma população de cerca de 10 milhões de pessoas – um em dez cidadãos portugueses têm uma conta Revolut, é uma penetração de 12% no mercado. E a razão para este crescimento acelerado vem de os utilizadores fazerem recomendações entre si, pois quase 80% do nosso crescimento é através do passa a palavra. Dado que Portugal teve uma boa aceitação da Revolut, tornou-se num dos nossos mercados estratégicos, no qual queremos continuar ou até mesmo acelerar o crescimento, através do lançamento de mais produtos específicos para o mercado, mas também continuar a investir significativamente. É por isso que no ano passado tomamos a decisão de este ser um dos primeiros oito mercados nos quais fizemos campanhas em grandes meios de divulgação e os resultados foram muito promissores. Portugal destacou-se – a campanha foi incrível, tivemos quase mais 50% de clientes a serem captados durante as semanas da campanha do que teríamos em semanas normais. Tem sido uma história muito positiva para nós.
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O objetivo era captar novos utilizadores ou ter maior presença de marca para mostrar a Revolut a pessoas que, de outra forma, não conheceriam a empresa?
Quando investimos numa campanha em grandes meios de divulgação o objetivo é gerar uma maior consciencialização e consideração [sobre a macrca], o que chamamos de conversão de um público amplo, e não necessariamente mais clientes. Mas a realidade é que não tivemos apenas mais presença. Se não estiver enganado, sete em cada dez pessoas portuguesas conhecem a Revolut, o que já está ao nível de marcas com muitos anos no mercado. Não só tivemos muita divulgação, mas aquilo que mais me surpreendeu foi que o número de clientes que conseguimos durante a campanha, num pico significativo, foi muito positivo. Na realidade, agora estou sempre a discutir se devemos investir em campanhas em grandes meios de divulgação, pois funcionou também bem em termos de aquisição [de clientes].
Têm 1,3 milhões de utilizadores em Portugal e o objetivo é chegar a 1,5 milhões no final do ano. São estes os números?
Estão certos. E são realistas. Vamos continuar a investir. Contratamos recentemente alguém especificamente para liderar todas as iniciativas de marketing em Portugal, vais ver mais atividades nossas. E vamos continuar a crescer e a acelerar o crescimento. Não só a adicionar o mesmo número de clientes, mas conseguir mais clientes, semana após semana, com a adição desta pessoa e destes investimentos.
Deve existir um ponto a partir do qual o crescimento para e fica estagnado. Acredita que ainda têm muito para crescer no mercado português?
Adoro essa pergunta, porque é essa pergunta que faço aos elementos da minha equipa. Eu disse ‘olhem, qual é o ponto máximo em termos de crescimento a partir do qual já não cresceremos?’. E o exercício que fizemos foi olhar para a taxa de adoção ao nível dos mercados, olhamos para mercados diferentes com populações semelhantes, como a Irlanda, no qual sete em dez pessoas já têm o Revolut, ou noutros mercados como a Polónia, onde a adoção está em taxas semelhantes a Portugal. A realidade é que a taxa de crescimento ainda não abrandou e continua a aumentar a um ritmo forte, especialmente em mercados que são similares a Portugal. E penso que ainda há muito espaço para crescer, temos uma boa presença entre os [utilizadores na faixa dos] 25 e os 34 anos, mas até aos 24 anos ainda mostra muito potencial para continuarmos a crescer e também dos 35 aos 44 anos é um público importante. Como é que crescemos a nossa base de utilizadores? Como eu disse, 80% do nosso crescimento vem do passa a palavra, quanto mais rápido formos a aumentar a base de utilizadores, mais rápido o efeito passa a palavra acontece e mais rápido esperamos crescer. Ainda há muito espaço para crescer e de forma acelerada num mercado como Portugal, especialmente depois de uma campanha como a que fizemos e na qual os números foram muito positivos.
Perfil: Ignacio Zunzunegui
Nasceu em Madrid, Espanha, onde reside atualmente, mas já viveu em países como o Brasil (fala bem português com sotaque carioca), Reino Unido e França. Aos 35 anos, conta com passagens por empresas como a Heineken, Glovo e AliExpress. Na Revolut, tem à sua responsabilidade o crescimento em mercados como Portugal, Espanha, Grécia, Itália, Chipre, Malta, Eslovénia e Croácia. Na vida pessoal, a responsabilidade são os quatro filhos.
Que outras planos têm para o mercado português para ganhar visibilidade e atrair novos utilizadores?
A forma como organizamos o nosso modelo de crescimento é focarmo-nos em iniciativas para um público amplo, como as campanhas em meios de grande difusão. Depois temos iniciativas intermédias que são campanhas nas quais podes medir a performance, mas ter uma componente de marca associada. Por exemplo, com o marketing de influência. Não é tão eficiente como uma campanha de performance no Google ou no Facebook, mas ainda podes medir os resultados. Isso é algo que não temos estado a fazer em Portugal e que vamos começar a fazer nos próximos meses. Penso que isso vai ser um grande fator em termos de crescimento e de visibilidade de marca, ter porta-vozes reconhecidos a falarem da marca. Também planeamos lançar um conjunto de produtos, como o crédito pessoal, que vai chegar nos próximos meses, e estamos a trabalhar para ter uma licença bancária em Portugal, essas são funcionalidades que são de grande interesse para a nossa base de utilizadores, os que nos querem usar cada vez mais como o banco do dia-a-dia. Mas também vai posicionar-nos numa perspetiva de confiança, sabendo que temos produtos tradicionais como o crédito, e não apenas pagamentos e outras funcionalidades de investimento. Temos mais de 70 funcionalidades, mas além disso, os produtos mais tradicionais ajudam-nos a construir confiança e esperamos investir mais, posicionando-nos como a principal conta bancária no mercado português.
Estes novos utilizadores, sabem quais são os seus principais interesses no serviço, a razão pela qual se juntam ao Revolut?
A funcionalidade mais usada no Revolut são os pagamentos diários com o cartão. No final do dia, penso que a experiência de utilizador de pagar com o Revolut é muito boa, tens transações instantâneas, também podes criar cartões de utilização única que são descartáveis, por exemplo, se compras num sítio no qual não confias e os teus dados não serão roubados. Também temos a capacidade de gerir as subscrições diretamente da aplicação. As pessoas gostam de pagar o Netflix, o Spotify com o Revolut. No geral, a gestão dos pagamentos é uma das nossas principais áreas. O outro fator, que é mais uma herança daquilo que costumávamos ser, é a nossa capacidade de ter várias moedas na mesma conta. Ter libras, dólares americanos, pesos mexicanos… Qualquer uma destas divisas dentro da aplicação tem uma taxa [de câmbio] competitiva, isto é algo muito apelativo para os utilizadores portugueses, usarem o Revolut como o cartão para viagens ou enviar o dinheiro para outros países com taxas muito competitivas. Estes são os destaques dos nossos principais casos de utilização, mas o que temos visto, contudo, é um crescimento forte na área de investimento, disponibilizamos produtos como ações e ETF que nos tornam muito interessantes do ponto de vista do investimento e isso está a crescer, bastante. E outra funcionalidade que tem crescido são os nossos produtos de estilo de vida, no qual temos a possibilidade de reserva de hotéis diretamente através da aplicação. É como se tivéssemos o Booking na nossa app, mas com o aspeto e facilidade de utilização do Revolut. E o mesmo para o cartão e-SIM, que as pessoas usam quando viajam, e se tens um plano diferente tens melhores taxas [Nota de redação: O serviço do subscrição de e-SIM ainda não está disponível em Portugal, mas vai ficar disponível “nos próximos meses” segundo a Revolut]. Temos vários verticais. Temos um vertical mais bancário e tradicional, que são os pagamentos, produtos como o envio de dinheiro para outras pessoas, crédito, poupança, é o que chamamos de vertical bancário. Depois temos mais produtos de investimento, produtos que geram riqueza, como são as ações, ETF, entre outros. E o terceiro vertical é o de estilo de vida, são produtos que o teu banco tradicional não disponibiliza, mas acreditamos que os nossos clientes querem e vai tornar-lhes a vida mais fácil.
Estes 1,3 milhões de utilizadores usam o Revolut todos os meses? Porque conseguir novos utilizadores é diferente de manter os utilizadores ativos.
São clientes que passaram o processo de verificação de identidade. Em termos de retenção, a Revolut é surpreendente, pois ao contrário de muitas outras aplicações que sofrem do síndrome do balde furado, que é os clientes entrarem uma vez e depois nunca mais usarem aquele serviço, as nossas taxas de retenção são muito elevadas, positivamente elevadas. Não revelamos especificamente os números, mas em termos de utilizadores ativos mensais crescemos 30% em comparação com o ano anterior e as nossas transações, que estes utilizadores fazem, cresceram mais de 90%. O que isto nos mostra é que não mantemos apenas os clientes, as pessoas têm usado [o serviço] cada vez mais. Para mim é a métrica que é mais determinante para um banco, não é se usa apenas uma vez por mês, mas se usa todos os dias.
Sim, ter pessoas a gastar dinheiro na aplicação, penso que é isso que um banco quer.
No final do dia, o que fazemos é pegar num problema e depois aplicar a fórmula da Revolut. O primeiro problema que tentamos resolver foi quando as pessoas viajavam e precisavam de enviar dinheiro para o estrangeiro, isso estava estragado, era lento, era muito caro. E nós tornamos isso muito barato, numa boa experiência e tão rápido quanto possível. E estamos a tentar aplicar isso em cada vertical que atacamos e penso que essa é a abordagem que está a levar a uma maior utilização doméstica.
Referiu dois lançamentos que estão prestes a fazer em Portugal. Querem abrir uma filial. Como estamos a este nível? Já tinham referido isso no ano passado. É uma questão regulatória e que precisa de tempo? Adiaram os planos?
Nesta fase, está a correr de acordo com o planeado, no sentido em que qualquer discussão interna em termos de localização, tanto na Revolut, como com os reguladores, requer que tenhamos tudo certo. Agora com a chegada do Rúben [Germano] e da equipa local, isso está a ganhar ritmo, contratamos pessoas locais para nos ajudarem no lançamento da filial. Internamente, também vamos trabalhar para garantir que temos tudo o que é necessário para cumprir as regulações locais. Nascemos como uma empresa global, mas percebemos que é importante ter um sentimento local. [O processo] Está a correr de acordo com o planeado, esperamos que nos próximos meses possamos anunciar [a filial], mas há muitos elementos e peças que precisam de ser encaixadas no sítio certo para acontecer. É uma grande prioridade para o mercado e estamos a trabalhar nisso. [O facto de ainda não ter acontecido] Não significa que Portugal não é um mercado prioritário. Em termos de investimento, aumentamos quase 120% o investimento que estamos a fazer em Portugal. Como em tudo, dependemos das peças estarem no sítio certo, mas ainda queremos crescer o mais rápido possível. A nossa principal prioridade é lançar a filial.
Só para esclarecer, quando dizem que querem ter uma filial portuguesa, o que vai mudar em termos de operação, enquanto banco?
Basicamente, temos uma licença bancária europeia, cuja origem está dentro da União Europeia, e que foi emitida pela Lituânia. Isto significa que o Banco Central Europeu é o que regula, que vigia esta entidade. Tem uma garantia de depósito de 100.000 euros, como qualquer outro banco europeu. O que queremos fazer é transferir esta licença bancária da Lituânia para Portugal. O que isto significa é que continuamos a ser um banco que está situado na Lituânia, na Europa, mas criamos a possibilidade de as pessoas terem um passaporte, um IBAN, um IBAN com o PT à frente, para que possam receber os seus salários e pagamento de contas. Mas a supervisão e o regulador vai ser o Banco de Portugal. Por causa do nosso tamanho, agora como temos 45 milhões de clientes, dos quais 40 milhões estão na Europa, somos considerados um banco sistémico e também somos supervisionados pelo Banco Central Europeu diretamente.
Além da abertura da filial, querem ter opções de crédito. Ainda vamos ter esta função este ano?
Sim, o objetivo é lançar o crédito pessoal este ano e mais tarde virão os nossos cartões de crédito. A ideia é que possamos oferecer os créditos tradicionais, mas de uma forma mais inovadora, mais intuitiva. Tudo é digital, fazemos tudo na aplicação. Através da nossa tecnologia de banca aberta, somos capazes de analisar o teu perfil de risco e dar-te um empréstimo que é adequado ao teu perfil, e não requer papelada ou assinaturas. Tudo acontece na aplicação com alguns toques. É algo que já acontece em muitos mercados, como a Polónia, Irlanda, Espanha, Alemanha e Lituânia, e com as aprendizagens que tivemos nestes mercados e com a experiência de utilizador conseguir fazer isso de forma instantânea e com uma experiência digital flexível.
Que empréstimos vão fazer às pessoas?
O nosso objetivo, do ponto de vista do empréstimo, é oferecer um produto que providencia até 30.000 euros. Podem existir limitações geográficas, mas em Espanha foi este o caso e também queremos fazê-lo em Portugal, com as taxas mais competitivas que temos.
Há planos para contas de poupança com juros?
Estamos a trabalhar em diferentes frentes. Percebemos que os clientes estão mal servidos em muitos mercados no que a produtos de poupança diz respeito. Normalmente as taxas oferecidas pelos bancos são muito baixas, especialmente quando comparadas com as taxas que o Banco Central Europeu tem atualmente, de 4,5%. Por isso estamos a trabalhar em duas soluções. Uma é a mais tradicional, uma conta de poupança instantânea, na qual o dinheiro que lá colocas gera juros. Estamos a trabalhar nisso a nível europeu, já lançamos na Europa e estamos a explorar outros mercados, e Portugal está dentro das nossas intenções também, e isso está mais dependente do lançamento da filial. Assim que lançarmos a filial, por razões fiscais, fá-lo-emos aqui também. E estamos a trabalhar em contas flexíveis, que é um fundo de mercado monetário, que em momentos macroeconómicos de altas taxas de juro, é provavelmente o produto mais competitivo na área da poupança e dos investimentos. Por duas razões. Tem um risco muito baixo, estamos a investir em produtos como títulos públicos de governos da Europa e o perfil de risco é de apenas um em sete, portanto muito baixo. E ao mesmo tempo dá-te a melhor taxa do mercado. E há a possibilidade de tirares o teu dinheiro quando quiseres. Podes investir até um milhão de euros. Mas o que estamos a observar é que o mercado das poupanças está mal servido em termos de taxas [remuneratórias], queremos oferecer os melhores produtos e estamos a olhar para duas soluções que já foram lançadas noutros mercados e estamos a trabalhar para lançá-los em Portugal tão cedo quanto possível.
Empréstimos, contas poupança… parecem cada vez mais um banco tradicional. Isto é algo bom ou mau para a Revolut?
A nossa visão é sermos uma superaplicação financeira. Queremos disponibilizar tudo o que possa envolver o teu dinheiro e tornar fácil usares o teu dinheiro. O que isso significa é, quer queiras pagar a um amigo, investir, poupar, pedir um empréstimo, queremos ser a tua aplicação para isso. Mas percebemos que no centro de todas as necessidades financeiras está um banco. Por isso, a melhor descrição de para onde queremos caminhar é ser uma superaplicação financeira tendo a banca como o seu núcleo. Usas-nos para viajar, para pagar, para ligar a pessoas no estrangeiro, tudo o que envolva o teu dinheiro.
Ignacio Zunzunegui é diretor de crescimento da Revolut no Sul da Europa
Porque quando começam a ter todos estes serviços que os bancos tradicionais já têm, e os bancos tradicionais também ficaram muito melhores em banca digital nos últimos anos, porquê escolher a Revolut e não ir logo ao meu banco tradicional?
Penso que há uma diferença subtil que só vês quando a experimentas. E tens razão, de certa forma, um empréstimo é um empréstimo, onde quer que vás. Mas onde tentamos fazer a diferença é como consegues esse empréstimo, quantos cliques tens de fazer, quanta informação precisas de juntar, quão fácil é pagar o empréstimo sem teres de pagar taxas. Penso que a experiência e o preço vão ser elementos diferenciadores. Já o mostramos em diferentes áreas. E é por isso que ainda conseguimos criar diferenciação e ainda podemos ser uma das três principais entidades financeiras num mercado como Portugal.
Diria que ajudaram a avançar na digitalização do setor bancário?
Gostaria de dizer essa frase. Honestamente, há muitas tendências que moldam a forma como as pessoas usam o banco no dia-a-dia, com as aplicações e o aspeto digital, penso que é uma tendência que mais cedo ou mais tarde chegaria. Mas digo que fomos provavelmente pioneiros no mercado português e fomos aqueles que marcamos o ritmo para os incumbentes sobre quão rápido conseguimos disponibilizar este tipo de experiências através da app, garantidamente.
Têm a ambição de ser o principal banco dos utilizadores portugueses?
É esse o nosso objetivo. O nosso objetivo é nos próximos três a cinco anos tornarmo-nos na principal conta para os utilizadores portugueses, porque temos uma grande experiência, somos muito transparentes e temos uma estratégia de preço muito clara, que é apelativa para os utilizadores, e vamos investir no mercado e lançar produtos para fazê-lo.
Existem estudos que dizem que os utilizadores portugueses têm uma baixa literacia financeira. Isto é um problema para uma empresa como a Revolut?
Penso que, no geral, no Sul da Europa, não há assim tanta literacia financeira. Podes dizer que é por razões históricas ou culturais. No geral, não houve uma educação forte em termos de finanças. E penso que enquanto entidade financeira temos um papel fundamental aí. No passado, não havia muita acessibilidade no setor financeiro, nos incumbentes, em dizer aquilo que estavam a fazer com os teus investimentos, estava a ser feito mais por razões comerciais. E havia muito poucas explicações. O nosso objetivo é tentar tornar as finanças acessíveis, tudo o que é relacionado com dinheiro nós queremos torná-lo fácil, seja investir, pedir um empréstimo ou pagar, queremos tornar muito claro e acessível. Sim, queremos ter um papel fundamental aí, estamos a investir em cursos de aprendizagem, que são cursos que te ensinam a investir o teu dinheiro e queremos expandi-lo para outras áreas, não só para poupar dinheiro, mas também para poder usá-lo. Vamos continuar a apostar nisto e queremos ter um papel em tornar as finanças acessíveis.
Portugal também é importante para a Revolut, pois empregam mais de mil pessoas aqui. Têm mais planos para expandir estas operações?
Portugal é um uma fonte de talento muito interessante. Penso que o nível de qualificação dos perfis que consegues encontrar em Portugal torna-o muito interessante. Também é um mercado muito interessante para atrair talento que não é português. É por isso que decidimos criar o primeiro escritório em Matosinhos, onde temos uma grande parte dos nossos mais de mil funcionários, mas também abrimos um escritório em Lisboa, onde temos mais de 400 empregados. No total, acreditamos que Portugal vai ser, e já é, um país essencial para os nossos planos de contratação e atração de talento e continuamos a investir em termos de talento e escritórios, como viram recentemente com o novo escritório em Lisboa. Pensamos que há uma grande oportunidade aqui para contratar talento de topo.
Portugal, enquanto mercado, é lucrativo para a Revolut?
Nós não damos valores específicos por mercado em termos de lucros, mas posso dizer, como foi mostrado nos nossos resultados anuais recentes, que a Revolut é lucrativa e isto deve-se a dois fatores. O primeiro, a diversificação das fontes de receita: agora geramos receita em transações com cartões, em subscrições, em depósitos de tesouro dos 45 milhões de clientes que temos, especialmente numa altura de altas taxas de juro. Isto dá-nos muitas receitas, mas também temos custos muito reduzidos, a razão pela qual oferecemos preços competitivos é porque não temos demasiados custos em termos de ter entidades físicas ou infraestuturas tecnológicas datadas que precisam de ser mantidas. Somos muito ágeis em termos de funcionários, em termos de presença física e em termos de infraestrutura digital, e isso permite-nos ser a oferta mais económica para os nossos clientes, mas ser lucrativo ao mesmo tempo.