Um painel de jurados do The New York Times, da Christie’s e da Getty Images foram ‘enganados’ enquanto deliberavam os vencedores da categoria de Inteligência Artificial do concurso de fotografia 1839 Awards. O terceiro classificado da categoria de imagens geradas por Inteligência Artificial teve de ser desqualificado, quando se soube que se tratava de uma imagem real e captada por um fotógrafo humano.

Enquanto para as categorias não-Inteligência Artificial as regras ditavam que a organização “reservava o direito de pedir prova de que as imagens não foram geradas por Inteligência Artificial e prova de detenção dos ficheiros originais”, para as imagens geradas por IA o rigor não foi o mesmo. Assim, o fotógrafo Miles Astray conseguiu submeter a sua fotografia chamada ‘F L A M I N G O N E’ e arrebatar o terceiro prémio. O fotógrafo venceu ainda na escolha do público depois de, alegadamente, ter feito uma campanha nas suas redes sociais, noticia o ArsTechnica.

A fotografia em causa mostra o que parece ser um flamingo sem cabeça e Astray explica que a pretensão era “provar que o conteúdo feito por humanos não perdeu relevância e que a Mãe Natureza e os intérpretes humanos ainda conseguem bater as máquinas, e que a criatividade e emoção são mais do que uma sequência de dígitos”.

A organização afirmou, após que a desqualificação, que a fotografia de Astray “não cumpria os requisitos para a categoria de imagens geradas por IA. Percebemos qual foi a intenção, mas não queremos evitar que outros artistas não tenham a sua oportunidade de vencer na categoria de IA. Esperamos que isto traga consciencialização (e uma mensagem de esperança) aos fotógrafos preocupados com a IA”.

Astray reconhece que a desqualificação foi justa e salienta que a vitória foi para ele próprio “e para outros criativos”.

“É bom que fique claro que o PSD/Madeira e eu próprio estamos preparados para qualquer cenário, sem medo, incluindo as eleições antecipadas, se for necessário que isso aconteça”, disse o presidente do Governo da Madeira, na Assembleia Legislativa, no Funchal.

O Programa do XV Governo Regional começou a ser discutido esta terça-feira e o debate prolonga-se até quinta-feira, quando o documento apresentado pelo executivo, que tomou posse há duas semanas, na sequência das eleições antecipadas de 26 de maio, será votado sob a forma de moção de confiança.

Na abertura do debate, Miguel Albuquerque admitiu um cenário de novas eleições “se o bloqueio à ação governativa persistir, em prejuízo dos interesses essenciais da região” – PS, JPP e Chega, que anunciaram o voto contra, têm 24 deputados num universo de 47.

Uma rejeição do Programa do Governo terá como consequência a queda do governo, que continuará, ainda assim, em gestão já que, apesar de ter tomado posse em 6 de junho, só entraria em efetividade de funções após a aprovação do documento. Nesse cenário, o representante da República para a região, Ireneu Barreto, voltará a ouvir os partidos com representação parlamentar e tentará encontrar uma solução de governo que seja viável.

O social-democrata sublinhou que o PSD/Madeira “não aceitará, nem pode aceitar qualquer solução de governo para a Madeira que não assente no princípio sagrado da legitimidade do voto democrático e popular, incluindo o chefe do executivo”. Os madeirenses, insistiu, não aceitam “nenhuma solução cozinhada nos bastidores que não passe por uma eleição democrática do presidente” do Governo Regional.

Nas eleições de maio, o mês passado, o PSD elegeu 19 deputados, ficando a cinco mandatos de conseguir a maioria absoluta. O PS elegeu 11 parlamentares, o JPP nove, o Chega quatro e o CDS-PP dois, enquanto a IL e o PAN alcançaram um deputado cada. Já depois do sufrágio, o PSD firmou um acordo parlamentar com os democratas-cristãos, ficando ainda assim aquém da maioria absoluta – os dois partidos somam 21 assentos e são precisos 24.

Não há dúvida de que viajar é uma experiência inesquecível, embora também possa revelar-se inesperada para a pele, sobretudo quando se visitam zonas climáticas diferentes do que estamos habituados – para além de os voos serem bastante longos, existem outros fatores externos que influenciam e interferem com a sua constituição. 

Felizmente, através dos produtos de cuidados da pele adequados, é possível manter a pele saudável e radiante ao longo de toda a viagem. 

Apresentamos-lhe um guia de essenciais de viagem para a pele, para que esta esteja sempre no seu melhor, seja qual for o destino. 

Passo a passo de cuidados da pele 

1. Limpeza 

Um bom produto de limpeza (como desmaquilhante, gel, loção, etc.) é a base de qualquer rotina de cuidados da pele; como tal, sempre que viajar, deverá escolher algo de simultaneamente delicado e eficaz na remoção de sujidade, excesso de gordura e maquilhagem. 

Opte por um produto que se adeque ao seu tipo de pele: se for oleosa, com tendência a criar acne, um sérum anti-imperfeições, um gel ou uma espuma de limpeza serão as mais adequadas; por outro lado, se tiver uma pele seca ou sensível, talvez seja preferível utilizar uma fórmula cremosa e hidratante

Lembre-se de que uma pele limpa é uma pele saudável

2. Hidratação 

Manter a pele hidratada é fundamental, sobretudo enquanto viaja, uma vez que o ar seco dos aviões e a mudança súbita das circunstâncias climáticas poderão causar desitradação. 

Assim, leve consigo um hidratante de absorção rápida; procure por produtos cuja composição inclua ácido hialurónico e glicerina, considerando que são excelentes para manter níveis normais de hidratação. 

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3. Proteção solar 

Um dos passos mais importantes relativos ao cuidado da pele, independentemente do seu percurso, é a proteção solar

O efeito dos raios ultravioleta (UV) é prejudicial à pele, podendo provocar um envelhecimento precoce, queimaduras e o aumento do risco de cancro; por isso, leve sempre consigo um protetor solar de tamanho de viagem resistente à água (com um fator de proteção mínimo de 30) e não se esqueça de aplicá-lo de duas em duas horas, sobretudo se estiver a planear passar a maior parte do tempo no exterior. 


Tratamentos direcionados 

Viajar pode contribuir para surtos inesperados ou irritações da pele, e é aqui que entram os tratamentos direcionados – um sérum anti-imperfeições é obrigatório para o tratamento da acne e demais problemas de pele. 

Os produtos cuja composição contenha ácido salicílico, niacinamida ou óleo de árvore do chá ajudam a conter potenciais surtos, portanto, certifique-se de que inclui no seu kit de viagem um sérum anti-imperfeições para cuidar de quaisquer emergências dermatológicas que possam surgir. 

1. Emulsão hidratante 

Uma emulsão hidratante é crucial para voos de longa duração ou climas secos – trata-se de uma forma rápida e simples de regenerar e hidratar a sua pele enquanto se desloca. 

Procure por emulsões cujos ingredientes compreendam aloé vera, água de rosas ou camomila; algumas pulverizações são suficientes para revitalizar a pele instantaneamente e torná-la radiante. 

2. Bálsamo labial 

Não se esqueça dos lábios! A sua exposição a diferentes climas poderá fazer com que os mesmos sequem rapidamente e, por conseguinte, fiquem gretados. 

Um bálsamo labial nutritivo com fator de proteção solar é essencial para manter os lábios suaves e protegidos, razão pela qual deverá optar por um produto com manteiga de carité, óleo de coco ou cera de abelha

3. Creme de contorno de olhos 

A pele em torno dos olhos é bastante delicada e é habitualmente a primeira a exibir sinais de cansaço e stresse. 

Um creme para o contorno de olhos tem a capacidade de reduzir inchaços, olheiras e pés de galinha; como tal, escolha um produto de tamanho de viagem, direcionado a preocupações específicas como hidratação, antienvelhecimento ou brilho

A aplicação de um creme de contorno de olhos de dia e de noite fará com que esta zona tenha um aspeto revitalizado. 


Produtos multifuncionais 

De forma a poupar espaço na sua mala, considere levar consigo produtos multifuncionais de cuidados da pele

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Os BB creams e os cremes anti-manchas de pigmentação com fator de proteção solar garantem, em simultâneo, hidratação e proteção contra o efeito dos raios UV . 

Além disso, um produto de limpeza que sirva também de desmaquilhante pode simplificar a rotina sem comprometer a eficácia. 

Máscaras de limpeza 

Se desejar um mimo extra durante as viagens, não se esqueça de levar algumas máscaras de limpeza – arrumam-se em qualquer espacinho da mala e ainda consegue hidratação e nutrição intensivas para a pele. 

Ao fim de um longo dia de aventura, nada como relaxar com uma máscara de limpeza para dar à pele um toque adicional de tratamento, amor e cuidado.

Opte por máscaras com ingredientes como ácido hialurónico, vitamina C ou colagénio para tirar o máximo partido das mesmas. 

Dicas complementares 

1. Mantenha-se hidratada: beba muita água para que a pele se mantenha hidratada de dentro para fora. 

2. Pratique uma dieta saudável: faça uma alimentação equilibrada com base em fruta, vegetais e gorduras saudáveis para complementar a saúde da pele;

3. Descanse: certifique-se de que dorme o suficiente de modo a permitir que a pele rejuvenesça e se regenere.


Pronta para embarcar?

Ao seguir os passos deste guia de cuidados da pele, verá que a sua pele permanece saudável, radiante e protegida, independentemente de onde se encontrar. 

Viajar é um dos poucos prazeres da vida em que podemos dar-nos ao luxo de relaxar e esquecer a pressão associada à rotina diária; como tal, deixe as preocupações para trás e viva aventuras inesquecíveis com um sorriso e um brilho natural no rosto! 

Palavras-chave:

Em concertos, o pianista de jazz João Paulo Esteves da Silva tem por hábito introduzir, entre improvisos, canções, modas, temas retirados do infindável cancioneiro da música popular.

Por admirar essa sua peculiaridade, o produtor António Miguel Guimarães, da AMG Music, desafiou-o a lançar um disco só com essas melodias que, de alguma forma, rimasse com o  álbum do galego Enrique Villas, Once Cancions e Unha Danza, lançado em simultâneo. Assim nasce este Farnel, com o subtítulo 15 canções portuguesas.

Um farnel feito das mais preciosas iguarias musicais, com um reportório pouco óbvio, onde não estão os temas mais comuns do cancioneiro popular. Será mais uma sopa de beldroegas do que um cozido à portuguesa, mais um xarém do que uma bifana de Vendas Novas.

Um raro álbum de piano a solo, que João Paulo conta apresentar ao vivo num formato abrangente, que inclua improvisos, para que não pareça obra de um concertista, ofício para a qual até fez os estudos, mas a que chegou à conclusão que não estava talhado. 

Sobre este disco, o músico explica, no breve texto: “Tenho andado há vários anos com estas músicas no farnel”. E pelo caminho agradece também à bisavó Júlia de Jesus “cantora de lengalengas, moça do Minho, autora de boa parte da banda sonora da infância”.

Ainda me lembro da primeira composição que fiz aos sete ou oito anos. O meu avô, improvisador, é que ligou alguma coisa e deu-me uns conselhos

João Paulo Esteves da Silva – Músico

E, por falar de banda sonora da infância, diga-se que esta só pode ter sido rica. Natural de Lisboa, João Paulo vem de uma família de músicos. A mãe poderia ter sido pianista de carreira, diz, mas depois de casar com o pai, desinvestiu no ofício.

Os avós, do lado materno, eram ambos pianistas, a avó clássica, o avô mais próximo da música improvisada. Nesse meio deste ambiente, aconteceu o mais natural. “Aos quatro, cinco anos dei por mim a saber tocar piano. Brincava com os meninos que vinham ter aulas com a minha avó e participava nas audições”.

No entanto, confessa: “A ideia que eu tenho é que não era a minha brincadeira preferida na altura. Havia um certo peso trágico e era dada mais importância ao piano em si do que à música propriamente dita”. E recorda: “Ainda me lembro da primeira composição que fiz aos sete ou oito anos. E o meu avô, improvisador, é que ligou alguma coisa e deu-me uns conselhos”.

A música, segundo conta, só descobriu anos mais tarde, quando a família se mudou para Luanda, para acompanhar o serviço militar do pai durante a Guerra Colonial. “O grande choque da música foi com canções, mas à viola”, revela. Terá sido por aí que fez a sua primeira gravação em ‘fita’, em que tocava viola enquanto o seu pai recitava Manuel Alegre. “Espero que nunca ninguém encontre esse registo, que deve estar algures perdido num caixote”.

Lembro-me do cartaz do Carnaval de Fernão Ferro, dizia ‘Abrilhantado pelo conjunto Flumen de Lisboa’. Ganhávamos um cachet miserável, mas sempre deu para comprar um amplificador para o baixo

JOÃO PAULO ESTEVES DA SILVA – MÚSICO

Portanto, foi à guitarra que este pianista de gema verdadeiramente se apaixonou pela música. Isto muito devido ao facto de que a casa de Luanda não tinha piano e a guitarra é um instrumento portátil e de grande potencial social. “Tratou-se de aprender a música pelo lado de dentro”, explica.

Foi nessa altura que começou a formar conjuntos de rock, com amigos. E que música tocavam? “Tinha a noção de que para imitar as bandas de rock sinfónicos que admirava, como os Pink Floyd ou os Yes, era preciso ter material caro. Mas havia outros grupos, mais simples, que era possível imitar, como os Traffic ou Santana.”

A mais consistente das bandas que criou chamava-se Flumen (nome dado pelo pai, que significa rio em latim). Havia órgão, baixo, guitarra, bateria e ocasionalmente  percursão. Tocavam em festas.”Lembro-me do cartaz do Carnaval de Fernão Ferro, dizia ‘Abrilhantado pelo conjunto Flumen de Lisboa”. Ganhávamos um cachet miserável, mas sempre deu para comprar um amplificador para o baixo”

Tocar piano e pensar francês

A música tomou parte da sua adolescência de forma absorvente e inequívoca. Mas, rapidamente percebeu que levava um avanço enorme do piano em relação à guitarra, pelo que decidiu investir a fundo no instrumento, matriculando-se no conservatório e tirando esse curso. Tal não impediu que se inscrevesse também Economia: “Interessa-me muito a teoria económica, mas estou completamente a leste da gestão concreta dos tostões”.

A Economia ficou pelo caminho, conclui apenas o primeiro ano, pois a música ocupava-lhe todo o tempo.  Aliás, já nessa altura, além de estudar clássica, teve as primeiras experiências com cantores. A primeira pessoa que o fez entrar num estúdio profissional foi o Carlos Alberto Moniz e a Maria do Amparo. “Fiquei fascinado com tudo aquilo, a forma como soava a gravação do piano, muito melhor do que o som que conseguia nas gravações em cassete que fazia lá em casa”.

Mais significativa foi a sua participação nos discos de Sérgio Godinho, primeiro em Canto da Boca, como instrumentista, depois em Coincidências, de que foi  co-diretor artístico. Isto além de participar em álbuns de Fausto e José Mário Branco, além de atuar em diversos grupos de jazz.

Todo este processo foi interrompido quando ganhou uma bolsa da Secretaria de Estado da Cultura e foi estudar piano clássico para Paris. Terá sido um aluno brilhante, comprovando-se com as distinções Médaille d’ Or, Prix Jacques Dupont, Prix d’ Excellence e Prix de Perfectionemen.

O jazz é o sítio onde a música mais criativa do século XX foi e continua a ser feita. Mas nunca perdi a relação com a música clássica. A sua presença é bem notória, mesmo quando escrevo canções

JOÃO PAULO ESTEVES DA SILVA – MÚSICO

Mas, concluídos, os estudos, mantinha-se uma perturbante inquietação. Aliás, a própria professora, Lucette Descaves, concluía assim a avaliação do seu percursos “Pode tornar-se um grande concertista, se quiser”. Acontece que ele não queria. “Eu ouvia uma música que aprecia e desaparecia. Até que descobri a postura para lá chegar. A partir daí terminaram os problemas existenciais e começaram os problemas profissionais”.

O jazz acabou por ser o grande caldeirão em que a sua música se encaixa e com o qual o público o identifica. João Paulo, no entanto, explica: “O jazz é o sítio onde a música mais criativa do século XX foi e continua a ser feita. Mas nunca perdi a relação com a música clássica. A sua presença é bem notória, mesmo quando escrevo canções”.

Foi em Paris que João Paulo conheceu a sua atual esposa. Adeline,  também ela música e, com a qual foi ver para a região da Normandia. Permaneceu em França durante oito anos. “Comecei a afrancesar-me ao ponto de quase perder o português e, quando isso estava a acontecer, tive uma reação de pânico e voltei a cultivar o português. Madei vir de Portugal os Camilos e os Eças, porque para França só tinha levado Pessoa”

Também foi nessa altura que descobriu a sua música. Tocava com músicos franceses, em diferentes locais da Normandia e, ocasionalmente, em Paris, mas sabia que queria fazer algo diferente. E sabia também que a música que queria fazia teria de contar com músicos portugueses. “Nunca encontrei um baterista francês com o qual me conseguisse entrosar”.

A (re)descobrta de Portugal

Tudo isto coincidiu com o regresso a Portugal em que o verdadeiro pretexto foi novamente gravar um disco para um cantor. Desta vez fez os arranjos e a direção musical de Eu que me comovo por tudo e por nada, um dos mais notáveis álbuns de Vitorino, com letras de António Lobo Antunes. 

Depois também voltou a dirigir discos e concertos de Sérgio Godinho, mas também de Filipa Pais, para quem escreveu três temas. Mas sobretudo no regresso a Portugal estava subjacente a ideia de fazer a sua música.

Foi nesse contexto que formou o quarteto com José Salgueiro. Jorge Reis e Mário Franco, com o qual gravou vários discos.  Serra sem Fim, o primeiro, gravado no final de 1993 e lançado em 95, já revelava todo esse interesse pelas raízes da música portuguesa.

Sobre o fim do quarteto explica: “Tínhamos um idílio musical, mas os idílios não duram para sempre. E quando o grupo se estava a tornar um grupo normal, parámos e fiquei com muitos temas por gravar”,. Alguns deles foram gravados  mais à frente na MA recordings, com Peter Epstein, nos discos O Exílio, Almas e Esquina.

Entretanto, passou a tocar com vários músicos e a fazer arranjos e orquestrações. Uma das pessoas co quem passou a tocar regularmente foi com o contrabaixista Carlos Bica. E foi Bica quem o incentivou a gravar o  primeiro disco a solo, aceitando o convite da editora francesa L’Empreinte Digitale. Roda foi gravado bym estúdio em Hannover. “Acho interessante gravar a solo, mas faço-o apenas quando me pedem, quando surge uma proposta”.

Também na MA recordings, João Paulo teve uma colaboração estreita com o guitarrista Ricardo Rocha e a fadista Maria Ana Bobone, em Luz Destino. Seguindo a ideia de Ricardo, lançaram um disco de fado barroco. “Mas o disco aponta para outros caminhos. A última faixa é uma improvisação de fado e guitarra.“

João Paulo Esteves da Silva  – Divide a sua vida entre a paixão pela música e pela literatura

Ao longo dos anos, a relação com cantores tem sido mais esporádica. Deixou de ser diretor musical por uma questão de “energia”, aprecia mais a espontaneidade dos arranjos do que tudo muito previsto. Faz coisas com cantores em regime de colaboração livre ao piano: “toco como toco, o arranjo é a música”. Assim  fez com o Ricardo Ribeiro, no álbum Bela Senão Sem. 

A composição coincide com o arranjo.  “Um músico como o Ricardo Ribeiro, que percebe a música por dentro, é um grande improvisador. Há muitas coisas que saem do fado e são muitas boas. Mas mesmo um verdadeiro cantor de fado não faz as mesmas voltas nos mesmos sítios.”

De resto fala-nos da arte de escrever canções, tarefa a quese tem habituado. “Uma canção tem que ser uma coisa completa em si mesma. O que faço quando componho uma canção e cantá-la. Às vezes coloco a letra ou dou a letra a alguém, também me pedem para fazer letras. Raramente começo pela letra.

Contudo, foi pela letra que começou O Sítio, um dos seus mais conhecidos temas, gravado por Ricardo Ribeiro e Cristina Branco. “Apareceu assim no intervalo da tradução de Os Dias Felizes, de Samuel Beckett”

O ofício de tradutor, de resto, marca cada vez mais presença no seu quotidiano e está estreitamente ligado à sua paixão pelas língua. João Paulo traduz do francês, espanhol, inglês, italiano, alemão, hebraico… Mas também de línguas que não conhece, como o sueco, que estudou obsessivamente com o propósito de traduzir August Strindberg.

Poesia com todas as letras

De forma visível ou latente, a escrita e as letras sempre marcaram presença. Até determinada altura, a relação com a escrita confundia-se, de início, com a relação com o próprio pai que, apesar de ser licenciado em Direito e bancário de profissão, era um filósofo com obra publicada.

A escrita apareceu assim de forma tão natural como a música. “Durante a adolescência escrevia num estilo surrealista. Sempre gostei muito do aspeto artesanal da língua, dos jogos de linguagem. Com 15, 16 anos o que gostava era daquelas brincadeiras, de escrever sem A. Tudo isso me interessava mais do que escrever sobre grandes sentimentos. Na adolescência não escrevi os poemas da adolescência, isso só me aconteceu mais tarde.”

A determinada altura a música tornou-se tão absorvente que a escrita ficou inevitavelmente para trás, Para França levou só Fernando Pessoa. E parecia-lhe que Pessoa bastava. “Ali já estava tudo escrito e não havia mais nada que se pudesse acrescentar”.

Contudo, subitamente surgiu-lhe uma apetência voraz para a escrita e para a leitura, como se algo se tivesse ali acumulado durante todos aqueles anos. Durante um período, que coincidiu com o nascimento do primeiro filho, escreveu em ritmo diário, de forma quase incontrolável. 

A partir dos 30 anos a escrita e as leituras passaram, a ser tão importantes como a música. “Sou um marrão, estudo línguas, passo dia a ler e a estudar, de vez em quando cai um poema… e nos intervalos toco piano. Como o meu ganha-pão é o piano, muitas vezes sou obrigado a trabalhar no piano de forma estrita, nos projetos, em determinadas peças. As coisas entremeiam-se.  Nunca senti grande vontade publicar, mas sim de partilhar com pessoas de que preciso do eco.”

Sou um marrão, estudo línguas, passo dia a ler e a estudar, de vez em quando cai um poema… e nos intervalos toco piano

JOÃO PAULO ESTEVES DA SILVA – MÚSICO

Até que por volta de 2000 ,escreveu todo um livro nas margens de um livro do poeta madeirense Vieira de Freitas e quis publicar, Enviou-o ao Antonio Franco Alexandre, em busca de uma “bênção”: “Ele disse-me  que tinha gostado, deu-me alguns conselhos que não segui, e disse-me que tínhamos muitos defeitos em comum”. Um deles será o interesse obsessivo por línguas estranhas, incluindo o hebraico, que João Paulo lê e traduz. 

Na sua bibliografia encontramos três livros: Notas à Margem, Amores Perfeitos e Prelúdios. O quarto, No Outro Mundo está agora para sair, pela Averno. É feito quase todo ele de poemas escritos durante a pandemia. A discografia essa é, naturalmente, muito mais longa. E continua a crescer.

Lançou, no ano passado, o álbum River, com Samuel Rohrer e Mário Franco. E gostaria de voltar a gravar e a tocar com eles. Já tocou de resto com os maiores nomes do jazz nacional e também alguns estrangeiros. Atualmente o que mais gosta, confessa, é tocar de improviso, sobretudo com grandes músicos.

Já tocou com muitos, mas gostava de “multiplicar encontros” com outros improvisadores. Para já, carrega às costas este rico farnel cheio de música, poesia e elixires que confraternizam ou reconfortam a alma.

Aleph

Ainda me lembro de empurrar esferas,
num trabalho invisível, noite e dia. 
Donde a força me vinha, não sabia,
os céus rodavam como rodas meras.

Eu espetava astros nas faneras,
ia explodindo estrelas pela via
láctea fora, enfim, uma alegria. 
Eram outros mundos, eram outras eras.

Agora, querem que abandone a luta
quando o toureiro leva uma cornada
e a arena é um lugar filho da puta.

Que hei-de mugir, então, se ninguém escuta?
Melhor ficar nesta prisão dourada,
talvez me abram se eu não disser nada.

02/03/2024 

O jantar informal que juntou ontem à noite em Bruxelas os líderes da União Europeia para discutir quem deve assumir os cargos das três principais instituições da comunidade para os próximos cinco anos não só acabou por ser inconclusivo, como trouxe uma nova reviravolta para a possibilidade de António Costa assumir a presidência do Conselho Europeu.  

Já passava da meia-noite (hora de Bruxelas) quando o atual presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, apareceu junto dos jornalistas que estavam a cobrir o evento para anunciar que as “negociações estavam bem encaminhadas” e prometeu que haverá um acordo “ainda em junho” que será anunciado no decorrer da cimeira europeia que se realiza nos próximos dias 27 e 28.  

Enquanto o nome de Ursula van der Leyen parece ser mais consensual para continuar na liderança da Comissão Europeia por um segundo mandato, contando com o apoio do Grupo Popular Europeu (PPE), já o de António Costa, para assumir a presidência do Conselho Europeu ainda gera muita incerteza.

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A Withings Body Scan é, garantidamente, uma das balanças mais tecnológicas jamais feita. Dá ao utilizador mais de 15 informações diferentes sobre o corpo, incluindo uma análise detalhada sobre a massa muscular de pernas, braços e tronco, e uma estimativa da idade do coração. E através da aplicação da Withings, pode ser mais fácil atingir objetivos para perder ou ganhar peso.

Esta não é a primeira balança inteligente que testámos, mas é garantidamente a mais avançada. Mas antes de entrarmos em detalhes sobre a parte tecnológica, vale a pena fazer menção à qualidade de construção muito boa desta Withings. O vidro temperado, espelhado, e o elétrodo em forma de listas dão à Body Scan um aspeto premium e uma boa sensação de robustez.

Withings Body Scan

É uma balança pesada, mas como tipicamente não são muito mexidas, isto não será uma questão. Já o tamanho pode ser uma questão, pois é maior do que as balanças tradicionais, ainda que possa ser guardada debaixo de algum móvel de casa de banho, pois tem uma espessura reduzida q.b.. Já a configuração é relativamente simples – basta descarregar a aplicação da Withings e seguir os passos, que em menos de três minutos está pronta a funcionar.

Exemplo de como é feita a pesagem e medição dos indicadores do corpo

A Withings Body Scan usa o mesmo sistema de outras balanças do género (bioimpedância, que faz passar um subtil sinal elétrico pelo corpo para medir diferentes níveis de resistência), mas vai mais longe na quantidade de indicadores que mede e disponibiliza. Para isso esta balança tem um eletrodo generoso na base, mas dá ainda mais elétrodos, colocados numa pega de cabo retrátil (que pode ser presa à parede, o acessório para isso é fornecido de origem). É esta combinação que permite fazer uma medição mais detalhada de diferentes zonas do corpo, já que faz o sinal elétrico passar também pela parte superior do corpo (nas balanças sem pega, o sinal só passa na zona das pernas). A medição está longe de ser rápida – demora quase dois minutos –, mas vale pela variedade dos resultados obtidos.

Comecemos pelas medições mais comuns: esta balança dá-nos valores para o nosso peso, o índice de massa corporal (IMC), a percentagem de massa gorda no corpo, a percentagem de massa muscular, massa de água, a percentagem de densidade óssea e o nível de gordura visceral. A marca promete uma margem de erro de apenas 50 gramas no peso (o que é pouco no peso de um adulto, por exemplo). Para atestar a eficácia das pesagens, fizemos um teste de variação de peso: pesamo-nos primeiro só nós e depois com objetos (um garrafão de detergente de 4L e depois com dois halteres de 2,5 kg cada) e podemos dizer que os valores apresentados bateram certo com os pesos que fomos acrescentando.

Assinalado a verde, a variação de peso provocada pelo garrafão de detergente que seguramos (4L mais o peso da embalagem); a laranja, a variação de peso causada pelos halteres (2,5 kg cada)

Quanto às restantes medições, há sempre a questão da eficácia. É que a bioimpedância elétrica é influenciada pelo estado do corpo (quanta água bebemos, o que já comemos, quantidade de exercício feito recentemente, etc). Esta dúvida é válida para esta balança e para todas as outras ‘smart scales’, em boa verdade – pelo que o melhor é ver os valores como estimativas aproximadas em vez de valores ‘clínicos’. No entanto, a Withings Body Scan tem a vantagem de disponibilizar mais elétrodos, o que em teoria significa uma maior eficácia dos valores mostrados. E tem uma certificação médica na União Europeia. Para que consiga os melhores resultados, aconselhamos que faça as pesagens e medições todos os dias exatamente nas mesmas condições (p.ex., depois de acordar e da primeira ida matinal à casa de banho, mas antes de fazer a ingestão de líquidos ou comida).

No nosso caso, os valores que registámos pareceram-nos estar em linha não só com aquela que é a nossa perceção do corpo, mas com o de outras balanças inteligentes que usámos. No entanto, é importante lembrar que no reino das balanças inteligentes, a eficácia sendo importante (até por razões motivacionais), parece-nos que a consistência dos resultados e as tendências são-no ainda mais, pois mostram uma evolução ou regressão – e é aqui que a Body Scan puxa dos galões.

Withings Body Scan: Espreitar dentro do corpo

As informações das medições são-nos mostradas em tempo real no ecrã a cores, de boa luminosidade e alto contraste, que existe na parte superior da balança. Aliás, são-nos apresentadas informações que até nos parecem ‘excessivas’, como é o caso da previsão do tempo para o dia e da qualidade do ar (ainda que façam sentido na lógica da rotina matinal; e na app também podemos definir o que é ou não mostrado).

E é de facto na aplicação que tudo se torna mais ‘profissional’. Na app Withings temos acesso a gráficos e indicadores de evolução que são bastante explícitos (até existem setas que mostram se estamos a evoluir ou não no sentido do objetivo que traçamos) para os vários indicadores medidos.

Depois, na chamada “análise segmentar”, temos uma análise mais aprofundada e granular – conseguimos ver uma representação do corpo que indica a gordura corporal e massa muscular para pernas e braços (incluindo lado esquerdo e direito), e tronco, com uma comparação dos nossos valores com outros utilizadores do mesmo género, idade e altura. Ideal, por exemplo, para quem procura resultados mais específicos (por exemplo, reduzir a massa gorda nas pernas ou aumentar a massa muscular nos braços).

Se a composição por segmentos é um extra muito bem-vindo, é na área da saúde cardíaca que, na nossa opinião, estão os indicadores que tornam esta balança mais diferenciadora do que outros modelos. Usando a bioimpedância, a Withings Body Scan dá-nos uma classificação para a nossa saúde nervosa (avalia as glândulas sudoríparas na planta dos pés através da estimulação dos nervos, com uma análise eletrodérmica), dá-nos uma pontuação que é uma estimativa da nossa idade cardiovascular (quão ‘velho’ está o nosso coração e artérias), algo que é feito através da medição de resposta a ondas de pulso para medir a rigidez das artérias, e pelo caminho ainda faz um eletrocardiograma (ECG).

Mas há mais. A balança calcula a nossa taxa metabólica basal (ritmo ao qual queimamos calorias sem estarmos em exercício) e faz uma estimativa da nossa idade metabólica. Quem paga um preço de luxo quer, garantidamente, funcionalidades exclusivas e estas, para uma balança, juntamente com tudo o que já referimos, colocam de facto a Withings Body Scan num patamar superior. E tem outras funções que não exploramos, mas que poderão interessar a pessoas específicas – há um modo de pesagem para grávidas e recém-nascidos, e outro para atletas profissionais, que por terem ritmos cardíacos e níveis de massa gorda mais baixos necessitam de um algoritmo de cálculo diferente.

Apesar do muito que nos dá, vale a pena ter em consideração os pontos seguintes antes de avançar para a compra da balança. Em mais do que uma ocasião, nem todas as medições, sobretudo as de composição corporal, foram feitas corretamente à primeira tentativa (o que significa perder quase cinco minutos na balança logo pela manhã, o que pode ser enervante). É importante manter os eletrodos limpos e ter a postura correta na hora das medições, para evitar erros. A Body Scan também não tem, ao contrário de outros modelos (como a Garmin S2), a possibilidade de calibração com base em exames médicos (como a densitometria óssea), o que seria um extra bem-vindo, pois reforçaria a eficácia das medições desta balança. Por último, existem alguns erros na aplicação, como o facto de não mostrar os dados para a densidade óssea (mas que aparece na balança) e outras questões de interface, com letras sobrepostas ou pouco legíveis.

Por outro lado, há outros aspetos que valorizamos, como o facto de reconhecer automaticamente até oito utilizadores pelo peso ou de ter uma autonomia para vários meses de utilização e poder ser carregado através de uma ligação USB-C. E, claro, é impressionante a quantidade de dados que conseguimos obter com uma única medição diária e que, se usada de forma constante, pode dar-nos importantes indicadores sobre a nossa saúde e estado físico. É como fazer uma espécie de raio-x ao interior do corpo, mas no conforto da casa, todos os dias.

Diz-se que a saúde não tem preço (e não!), mas o desta balança faz com que seja indicada apenas para quem valoriza bastante o estilo de vida saudável, procura medir um resultado muito específico no corpo ou quer acrescentar mais alguns dados à sua lista de monitorização de indicadores de saúde e bem-estar. É que a Withings Body Scan chega a custar o dobre de outras balanças de referência e até cinco vezes mais do que outras balanças inteligentes que, mesmo não disponibilizando tantas métricas, são mais do que suficientes para a maioria das necessidades da maioria das pessoas.

Mas se a Withings procurava o título de balança inteligente mais tecnológica e completa do mercado, na nossa opinião esse epíteto pode de facto ser atribuído à Body Scan e com muito mérito. Está apetrechada, sim, mas todos os indicadores são úteis na procura por uma vida mais saudável.

Tome Nota
Withings Body Scan €399,99
withings.com/pt/en

Monitorização Excelente
Autonomia Excelente
Aplicação Muito bom
Construção Excelente

Características Ecrã LCD 3,2″, 320×240 píxeis • Quatro sensores de peso (50 g de margem de erro) • Peso máximo: 200 kg • Pesagem segmentada: pernas, braços e tronco • Bioimpedância elétrica: massa gorda, massa de água, massa muscular, massa óssea, índice gordura visceral, taxa metabólica basal • Eletrocardiograma (ECG), análise eletrodérmica (EDA) e idade vascular • Até 8 perfis • Modo atleta, bebé e gravidez • Wi-Fi, Bluetooth, USB-C • 325x325x25,6 mm • 4,8 kg

Desempenho: 4,5
Características: 5
Qualidade/preço: 2

Global: 3,8

Os pianistas András Schiff, Pierre-Laurent Aimard, Pedro Burmester e Mário Laginha, o cravista Pierre Hantaï, o violoncelista Steven Isserlis e os ensembles Ludovice, Officium e Arte Mínima são alguns dos grandes intérpretes dos festivais de música que, ao longo de junho e julho, vão acontecer de norte a sul do país.

Além da presença inédita em Portugal de músicos e formações como o Concerto Copenhagen, haverá também estreia de novas obras de compositores portugueses, como António Pinho Vargas e Andreia Pinto Correia. O centenário do nascimento de Joly Braga Santos e o da morte de Franz Kafka também são lembrados.

Um programa capital em Sintra

A 58.ª Edição do Festival de Sintra soma 22 propostas,  entre concertos, caminhadas-concerto, concertos ao nascer do sol e à meia-noite, que se estendem por diferentes locais do concelho, durante dez dias, a partir de quinta-feira, dia 13. Com direção artística de Martim Sousa Tavares,  a programação conta com muito.

Por exemplo: o violoncelista Steven Isserlis, os pianistas András Schiff, Roman Lopatynskyi e Joana Gama, mais a música de João Godinho, os espíritos da afirmação do Romantismo pelo DSCH – Schostakovich Ensemble, as pontes construídas entre passado e presente pelo Manchester Collective, a estreia moderna de uma oratória de Gaetano Maria Schiassi pelo Ludovice Ensemble, expoentes da polifonia portuguesa dos séculos XVI-XVII, pelo Officium, a revisitação do universo de Sophia de Mello Breyner Andresen por Eurico Carrapatoso, e Franz Kafka, por Philip Glass, na leitura de A Colónia Penal.

A ópera sobre o conto do autor de A Metamorfose vem do ano 2000. Fala da pena de morte, porque há um mecanismo de execuções na colónia penal, e há também um condenado prestes a testá-lo. Mas, na verdade, o que o conto explora – e por extensão o libreto de Rudy Wurlitzer – são questões de humanismo, idealismo, transfiguração, na base da conversa que há de acompanhar a récita, sobre o mundo e a distopia de Kafka, com os historiadores Irene Flunser Pimentel e Rui Tavares, a escritora Joana Bértholo, o maestro Martim Sousa Tavares, que dirige a obra, e a moderação do jornalista Paulo Farinha.

A interpretação conta com o barítono André Henriques, o tenor Frederico Projeto, os atores João Gaspar, Tomás Vinhas e Paulo Quedas. A encenação é de Miguel Loureiro, a cenografia de Miguel Guedes e os figurinos de José António Tenente. 

O nome de Gaetano Maria Schiassi será hoje menos conhecido, mas foi um dos compositores-chave da corte dp rei João V. Nascido em Bolonha, em Lisboa viveu e por aqui compôs durante a década de 1730. Muita da sua obra terá sido destruída pelo Terramoto de 1755, facto que só sublinha a importância da estreia moderna da oratória “Maria Vergine al Calvário”, para orquestra, coro e três solistas.

A investigação permite dizer que foi a primeira oratória escrita em Portugal, dentro dos padrões do Barroco tardio italiano. A interpretação é do Ludovice Ensemble, de Fernando Miguel Jalôto, responsável pela recuperação da obra, que conta com a soprano Eduarda Melo, o contratenor Gabriel Diaz e o tenor Fernando Guimarães, um dos mais internacionais dos cantores portugueses da atualidade.

A estreia de Maria Vergine al Calvário acontece nos 20 anos do Ludovice Ensemble, agrupamento dedicado ao resgate do repertório dos séculos XVII e XVIII através de abordagens historicamente informadas.

O Officium Ensemble, de Pedro Teixeira, oferece outro dos momentos maiores do festival: um concerto inteiramente dedicado à polifonia da Escola de Évora, a começar pela “Missa pro defunctis”, de Manuel Cardoso, seguida de motetes de Duarte Lobo, Pedro de Cristo, Francisco Martins e Estêvão Lopes Morago, sob o lema “Ad Tenebræ”, “rumo às trevas”.

O pianista ucraniano Roman Lopatynskyi estreia-se em Portugal com o programa “Um piano pela paz”, que parte dos Cinco Prelúdios de Boris Lyatoshynskyi, escritos em 1943, em plena II Guerra Mundial, num gesto de resistência à invasão nazi, e segue por Frédéric Chopin (Noturno n.º 20 e Balada n.º 2) e pelos Estudos Sinfónicos, Op.13, de Robert Schumann. Roman Lopatynskyi, que nasceu em Kiev já depois da independência ucraniana, soma alguns dos mais importantes prémios da sua geração e mantém-se a viver no país em guerra.

A 58.ª Edição do Festival de Sintra soma 22 propostas,  entre concertos, caminhadas-concerto, concertos ao nascer do sol e à meia-noite, que se estendem por diferentes locais do concelho

O violoncelista Steven Isserlis e a pianista Connie Shih propõem “Ligações Reencontradas”, através das sonatas para violoncelo e piano Op. 5, n.º 1, e Op.102, n.º 2, de Beethoven – obras vindas do período inicial e da maturidade do Mestre de Bona -, com as Três peças para violoncelo e piano de Nadia Boulanger, a Sonata Op.117, de Gabriel Fauré, e os celebrados “Lieux retrouvés”, do contemporâneo Thomas Adès. São mais de 200 anos da história da música europeia em dois instrumentos.

O DSCH – Schostakovich Ensemble, de Filipe Pinto-Ribeiro, por seu lado, centra-se no Trio Op. 70, nº 1, “Os Espíritos”, de Beethoven, e no Quinteto em Lá Maior, “A Truta”, de Franz Schubert. 

O diálogo passado-presente marca igualmente a proposta do Manchester Collective, com o ‘contratenor revelação’ Hugh Cutting, através da cantata sacra “Widerstehe doch der Sünde” BWV 54 (“Resistir ao pecado”, em tradução livre), de Johann Sebastian Bach, e do seu “Et Exultavit”, do Magnificat BWV 243, com obras de Arvo Pärt (“My Heart’s in the Highlands” e “Vater Unser”), Dobrinka Trabakova (“Insight for String Trio”), Edmund Finnis, (Quarteto de Cordas “Brother”) e árias de Henry Purcell.

O conto A Noite de Natal, de Sophia de Mello Breyner Andresen, terá uma leitura encenada com música de Eurico Carrapatoso e ilustrações de Mariana, a Miserável. A pianista Joana Gama irá falar de tudo ou quase tudo, em “Pássaros e Cogumelos”, que concebeu, com música original de João Godinho e ilustrações e cenário de Francisco Eduardo. 

O Quarteto Modigliani faz a abertura do festival, com um programa dedicado a Itália, cruzando o jovem Mozart, e um dos seus quartetos compostos algures entre Veneza e Milão, com leituras de Puccini, Verdi e da “Serenata Italiana” de Hugo Wolff. O pianista András Schiff tem “carta branca” para encerrar o festival no próximo dia 23.

Celebrar a Liberdade em Espinho

O Festival Internacional de Música de Espinho (FIME) cumpre 50 anos na edição que tem início na próxima sexta-feira, dia 14, e decorre até 22 de julho.

A música erudita, que marcou a maioria dos seus programas, continua a abrir-se ao jazz, e combina assim nomes como os de  Paquito D’Rivera e Uri Caine, com Pedro Burmester e Mário Laginha, Pierre Hantaï e Pierre-Laurent Aimard. O jazz, aliás, faz a abertura, com o pianista cubano Omar Sosa e a Orquestra de Jazz de Espinho, e marca também o encerramento, com a voz de Dee Dee Bridgewater. Pelo meio há muito a desvendar.

Mário Laginha e Pedro Burmester “celebram a Liberdade” com arranjos de canções de José Afonso, José Mário Branco, Sérgio Godinho e Fausto, assinados por Laginha, Bernardo Sassetti e João Vasco, a que juntam a estreia de uma obra de Luís Tinoco.

No cartaz segue-se o violinista Daniel Rowland, que tem seguido uma carreira firme de solista e foi concertino da Orquestra Gulbenkian numa das etapas iniciais do seu percurso. Propõe obras de Vivaldi e Osvaldo Golijov e ainda as “Quatro Estações” de Vivaldi, revisitadas por Max Richter, com a Orquestra Clássica de Espinho (OCE), que dirige.

Mário Laginha e Pedro Burmester “celebram a Liberdade” com arranjos de canções de José Afonso, José Mário Branco, Sérgio Godinho e Fausto

Pierre Hantaï revisitará Johann Sebastian Bach em cravo, assim como Avi Avital e Omer Klein, que o fazem em bandolim e piano. Uri Caine aventurar-se-á pelo universo de Gustav Mahler com o FIME Ensemble, que noutro concerto, a pensar em públicos de todas as idades, irá oferecer “O Carnaval dos animais”, de Camille Saint-Saëns, o “Bolero” e “A minha mãe ganso”, de Maurice Ravel. 

O Coro Gulbenkian, sob a direção de Inês Tavares Lopes, também irá a Espinho interpretar Bach, Félix Mendelssohn-Bartholdy, Josef Gabriel Rheinberger, Max Reger e Knut Nystedt. E Beethoven faz igualmente parte do programa, com a celebração dos 200 anos da 9.ª Sinfonia pela OCE, o Coro Sinfónico Inês de Castro e o Coro Viana Vocale, dirigidos por Joana Carneiro.

O festival conta ainda com o pianista Pierre-Laurent Aimard e a soprano Anna Prohaska, num recital dedicado às muitas canções de câmara de Charles Ives, pioneiro do Modernismo nos Estados Unidos da América, e a outras canções de Claude Debussy e Igor Stravinsky, pilares do Modernismo europeu.

O FIME, organizado pela Academia de Música de Espinho, propõe ainda a descoberta de outros universos, com músicos e agrupamentos como o Sissoko Segal Parisien Peirani, que conjuga kora, violoncelo, saxofone e acordeão, a violinista e compositora japonesa Hiromi, e o saxofonista e clarinetista cubano Paquito D’Rivera, que regressa ao festival acompanhado por Pepe Rivero, em piano, e Sebastián Valverde, em vibrafone.

Joly Braga Santos no Festival Estoril Lisboa

O centenário do compositor Joly Braga Santos, um ciclo de órgão com João Vaz e Roberto Fresco, a atuação do ClandesTrio, vencedor do Prémio Jovens Músicos de música de câmara, em 2023, e a estreia da ópera “O Rei vai Nu” destacam-se no cartaz do programa de verão do 50.º Festival Estoril Lisboa, que tem início no próximo dia 21 de junho e encerra um mês mais tarde, a 20 de julho, depois de passar por várias localidades do eixo Lisboa-Cascais.

Na abertura, o Ensemble Darcos, sob a direção do maestro Nuno Côrte-Real, interpretará a 5.ª Sinfonia de Mahler. No encerramento, o Focus Sax Quartet vai tocar obras de Guillermo Lago, Marcelo Zarvos, David Maslanka, Bobby Ge e Philippe Geiss.

Pelo meio haverá outras propostas, incluindo concertos no âmbito da iniciativa “Festival nas Freguesias”, com jovens intérpretes como o Duo Kontrast, o guitarrista Francisco Alcobia e grupos de câmara da Escola Superior de Música.

A homenagem a Joly Braga Santos (1924-2022) realizar-se-á em julho, em articulação com o Festival Ao Largo do Teatro Nacional de São Carlos/ Organismo de Produção Artística. São dois concertos com a Orquestra Gulbenkian, dirigida por Pedro Amaral, cujo programa inclui a Abertura n.º 2 e o “Staccato Brilhante” do compositor português, o “Scherzo Fantastique” do seu mestre, Luís de Freitas Branco, e duas suites de “El sombrero de tres picos”, de Manuel de Falla. 

O centenário do compositor Joly Braga Santos, um ciclo de órgão com João Vaz e Roberto Fresco e a estreia da ópera “O Rei vai Nu” destacam-se no cartaz do programa de verão do 50.º Festival Estoril Lisboa

O ciclo de órgão conta com o espanhol Roberto Fresco, organista da Catedral de Santa Maria a Real, de Almudena, em Madrid, que vai fazer “Uma Homenagem a Haendel”, na Sé de Lisboa, através da leitura da sua obra por compositores mais recentes, de diferentes gerações, como Alexandre Guilmant, Clement Loret, Willian Thomas Best, Sigfrid Karg-Elert, Phil Lehenbauer e Carl Keister McKinley.

O organista João Vaz levará um programa para órgão, trompete natural e canto à igreja de S. Vicente de Fora, em Lisboa, com a soprano Eduarda Melo e o trompetista Bruno Fernandes, com obras de Haendel, Alessandro Melani, Giuseppe Antonio Paganelli, Gianbattista Viviani, Johann Sebastian Bach e Alessandro Scarlatti.

A ópera “O Rei Vai Nu”, de Marcos Lázaro, com libreto de Samuel Nobre, a partir do conto de Hans Christian Andersen, será estreada pelo Coro Projecto da Escola Artística do Instituto Gregoriano de Lisboa, sob a direção do compositor. E o ClandesTrio irá interpretar obras de Luís Tinoco, Béla Bartók e Giancarlo Menotti.

O festival, com direção artística de Piñeiro Nagy e assessoria de João Vaz, no ciclo de órgão, regressará de 16 de novembro a 14 de dezembro, com um “Programa de Outono” ainda a anunciar, com participação da Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras, da Orquestra Sinfónica Metropolitana, do agrupamento Ars Lusitana, da Capella de São Vicente, e de músicos como o pianista António Oliveira e os organistas André Ferreira e Thomas Ospital.

Concerto Copenhagen na Póvoa

A 46.ª edição do Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim, que vai decorrer de 11 a 27 de julho, soma várias estreias de músicos e agrupamentos em Portugal, como as do Protean Quartet e do Trio Joubran. O concerto de abertura reserva desde logo uma dessas estreias, com uma das melhores orquestras barrocas da atualidade, Concerto Copenhagen, do cravista e maestro Lars Ulrik Mortensen.

O programa é marcadamente internacional, reunindo músicos como os irmãos palestinianos Samir, Wissam, e Adnan, a orquestra húngara Anima Musicae, com o violinista Barbanás Kelemen e a violetista Katalin Kokas, o violoncelista germano-alemão Nicolas Altstaedt, o cravista franco-americano Justin Taylor e o trompetista israelita Sergei Nakariakov, que vai atuar com a Orquestra de Câmara Portuguesa,  dirigida por Pedro Carneiro.

O festival mantém a tradição de abrir com a conferência do musicólogo Rui Vieira Nery, e de ter o primeiro concerto no segundo dia. Realiza-se igualmente nova edição do Concurso Internacional de Composição da Póvoa de Varzim.

Este ano o concurso tem António Pinho Vargas como compositor convidado, o que significa a estreia de uma obra sua pelo Ensemble Contemporâneo, dirigido por Nuno Coelho, com o acordeonista João Barradas como solista.  

A Orquestra XXI, sob direção de Dinis Sousa, mantém igualmente a sua etapa na Póvoa, desta vez para um concerto com a violinista Alena Baeva. O programa da orquestra, este ano, inclui o “Noturno para cordas”, de Joly Braga Santos, o Concerto n.º 2 para violino de Dmitri Shostakovich, e a 6.ª Sinfonia, “Pastoral”, de Beethoven. O quarteto residente Verazin irá atuar com a soprano Sara Braga Simões e o pianista João Araújo. 

No último dia, no Parque da Cidade, haverá uma atuação conjunta do clarinetista António Saiote com o compositor e pianista António Victorino d’Almeida, seguida pela Banda Sinfónica Portuguesa, com o pianista Raul da Costa, diretor artístico do festival, e a fadista Katia Guerreiro. Os dois concertos assinalam os 50 anos da elevação da Póvoa de Varzim a cidade.

Na programação anunciada, que no início de junho, à data de fecho desta edição do JL, ainda não ia além dos nomes dos participantes, destaca-se ainda o quarteto do pianista Júlio Resende, com os Filhos da Revolução, programa sobre o seu último álbum, para o qual contou com Bruno Chaveiro, em guitarra portuguesa, André Rosinha, no contrabaixo, e Alexandre Frazão, em bateria.

Quando do lançamento do disco, no final de 2023, o pianista apresentou-o como “uma ode à paz, ao livre pensamento, à aniquilação da censura, uma celebração da liberdade nunca garantida, dos 50 anos da nossa Revolução dos Cravos e do fim das guerras coloniais”.

Valores de Abril nos Capuchos

Filhos da Revolução, de Júlio Resende, é também o próximo concerto do Festival de Música dos Capuchos, em Almada, marcado para a próxima sexta-feira. Iniciado a 29 de maio, com uma programação que se estende até 21 de junho, por diversos palcos do concelho, o festival tem os valores de Abril por referência, nesta quarta edição da nova fase, retomada em 2020.

Dirigido pelo pianista Filipe Pinto-Ribeiro, o Festival dos Capuchos mantém viva essa linha de democracia, liberdade e descoberta que presidiu a criação do festival em 1980, pelo médico José Adelino Tacanho, e que se manteve até à impossibilidade de prosseguir além de 2001, por falta de patrocínios e de apoios. 

Este ano o encerramento vai contar com a estreia do Quinteto com Piano “Retrato”, de Andreia Pinto Correia, pelo DSCH – Schostakovich Ensemble, obra inspirada em Natália Correia, enquadrada pelos trios de Beethoven e Schubert que os músicos também vão levar a Sintra.

O concerto culmina uma programação que atravessa 500 anos de música, da Renascimento à atualidade, e que tem vindo a abordar, através das suas escolhas de repertório, a liberdade de compor, muitas vezes durante regimes ditatoriais, do passado e do presente.

Até ao final, o Festival dos Capuchos contará ainda com a atuação da Orquestra de Câmara de Berlim Metamorphosen, com o violoncelista Wolfgang Emanuel Schmidt, como solista e regente. Sob o tema “Metamorfoses de Liberdade”, interpretará as serenatas de Edward Elgar e Pyotr Tchaikovsky, assim como o Concerto para violoncelo e orquestra N.º 1, de Joseph Haydn.

Antes apresentar-se-á o pianista ucraniano Roman Fediurko, vencedor do Concurso Internacional Horowitz 2023, que mostra como Chopin é “inspiração da Liberdade”,.

As agendas dos diferentes festivais e eventuais alterações à programação podem ser consultadas nos seus ‘sites’ e nas páginas das redes sociais.