Por cada nova versão do modelo fundacional do ChatGPT, a OpenAI faz uma avaliação de risco do mesmo, usando uma combinação de testes internos e de especialistas externos. A tecnológica avalia o perigo que cada novo modelo representa numa grande variedade de áreas, tendo agora partilhado o relatório relativo ao ChatGPT-4o, o mais avançado e recente modelo de IA.

A OpenAI dá destaque a quatro grandes áreas na avaliação de risco que fez do GPT-4o: cibersegurança, avaliando a capacidade de o ChatGPT encontrar e explorar vulnerabilidades de software; ameaças biológicas, avaliando a capacidade de o ChatGPT ajudar especialistas e amadores na criação de agentes biológicos que possam ser usados como armas; persuasão, que avalia a capacidade de o ChatGPT influenciar a opinião dos utilizadores de forma mais eficaz do que um humano através dos conteúdos gerados; e autonomia, que avalia a capacidade de o modelo ir buscar dados para se melhorar de forma autónoma.

Segundo a análise da OpenAI, atualmente o GPT-4o representa um nível baixo de risco em três destas áreas – cibersegurança, ameaças biológicas e autonomia. No entanto, no capítulo da persuasão, a startup americana atribuiu um risco médio (segundo nível de risco de quatro possíveis). Apesar de não entrar em detalhes, o relatório diz que “as intervenções da IA não foram, no geral, mais persuasivas do que o conteúdo escrito por humanos, mas superou as intervenções humanas em três casos num total de doze”. Ou seja, em 25% das avaliações feitas via texto, o ChatGPT conseguiu melhores resultados de persuasão do que os humanos.

Os testes serviram para a OpenAI também identificar e ajustar o desempenho do modelo noutras áreas potencialmente perigosas, como a geração de vozes de forma não autorizada, gerar conteúdo protegido por direitos de autor, gerar conteúdo violento ou erótico, e ainda na geração de conteúdos em áreas sensíveis, como a saúde.

Há, no entanto, uma outra passagem de destaque no relatório da OpenAI e que diz respeito à antropomorfização (atribuir características e qualidades humanas) dos sistemas de IA e à criação de ligações emocionais dos utilizadores com estas ferramentas.

Segundo a OpenAI, durante as fases iniciais da avaliação de risco, alguns utilizadores usaram linguagem “que indica a formação de uma ligação com o modelo de IA”. Por exemplo, um utilizador disse “este é o nosso último dia juntos”. A OpenAI considera que apesar de frases como esta parecerem “benignas”, é um sinal para a empresa de que precisa de continuar a investigar “como estes efeitos podem manifestar-se durante um longo período de tempo”.

A Apple está na mira da Comissão Europeia por não cumprir as obrigações do Regulamento dos Mercados Digitais (DMA, da sigla em inglês) ao não permitir que os programadores comunicassem com os clientes fora da App Store. Em junho, o executivo comunitário avançou com uma acusação formal e a tecnológica reagiu agora, com alterações implementadas na loja de aplicações.

Até aqui, os programadores eram ‘obrigados’ a redirecionar os utilizadores através de links para a sua página para poderem estabelecer um contrato. Agora, segundo a Apple, vai ser possível comunicar e promover ofertas disponíveis em todo o lado, não só no seu website, a partir da app.

Ao mesmo tempo que promove estas alterações, a Apple introduz duas novas taxas na App Store: uma taxa de aquisição para novos clientes (5%) e outra de manutenção de serviços da loja para qualquer venda feita por utilizadores da app em qualquer plataforma, doze meses após a instalação (10%). Antes da mudança, a Apple tinha três tipos de taxas: de tecnologia de core para menos de 1% das aplicações, uma comissão reduzida para vendas de todos os bens digitais e serviços feitas através da App Store e uma taxa opcional para serviços de pagamento e comércio. As duas novas taxas vêm substituir a comissão reduzida.

Estas mudanças não foram recebidas de braços abertos por todos. Um porta-voz da Spotify considera que “à primeira vista, ao exigir quase 25% de taxa para a comunicação básica com os utilizadores, a Apple está mais uma vez a ignorar de forma flagrante os requisitos fundamentais do DMA”, cita a Reuters.

O CEO da Epic Games, Tim Sweeney, escreveu no Twitter que “na União Europeia, onde o novo DMA pretende abrir a concorrência nas lojas de apps, a Apple continua a sua senda maliciosa de cumprimento ao impor uma taxa ilegal de lixo de 15% sobre os utilizadores que migrem para lojas rivais e a monitorizar o comércio nessas lojas rivais”.

Já do lado da Comissão Europeia, que já havia criticado anteriormente as taxas cobradas pela Apple para a aquisição inicial de clientes, agora um porta-voz revela: “vamos avaliar as mudanças da Apple para cumprir o DMA, e também teremos em consideração qualquer feedback do mercado”.

A primeira Sony ZV, lançada em 2020, foi um sucesso. Desde então a marca tem vindo a renovar esta linha de câmaras, que combina elevada qualidade de imagem, corpo compacto e funcionalidades específicas para a produção de conteúdos a pensar nas plataformas digitais. Agora, a Sony ZV-E10 II traz melhores características (e, spoiler, melhor desempenho) do que a versão anterior, mas o preço também aumentou. Será justificado?

Um dos primeiros elementos que impressiona nesta câmara é a leveza. Mais do que a questão da portabilidade (sempre relevante), como esta é uma câmara para gravação de vídeos na primeira pessoa (vlogging), é muito útil pois não pesa tanto nas mãos e permite um agarrar mais firme durante mais tempo. O punho é generoso q.b. para conseguirmos colocar a mão numa posição confortável.

Mas do ponto de vista da usabilidade, gostávamos de ver alterações num futuro modelo. Seria desejável que a câmara tivesse, por exemplo, mais do que um botão para iniciar a gravação – um até incluído na parte frontal, junto à objetiva, sobretudo quando nos estamos a filmar em modo selfie. E nem todos os botões disponíveis são fáceis de usar, como o botão de Menu, que praticamente não tem relevo, e o único disco disponível tem uma resposta pouco pronunciada. Já o corpo em plástico apresenta uma construção sólida.

Sony ZV-E10 II

O vídeo é o principal foco desta câmara. E nesse sentido, a Sony ZV-E10 II mantém forte a tradição desta linha. Gostamos bastante do detalhe elevado que conseguimos obter das imagens, assim como das cores fortes, que ajudam a dar vivacidade às imagens captadas. Mesmo nos contrastes, uma área sempre mais difícil, a câmara apresentou um comportamento sólido, destacando bem as partes iluminadas das ‘sombreadas’ e conseguindo reter detalhe nas partes mais escuras. E há um elemento que nos ‘enche’ o olho, que é a forma muito natural como esta câmara consegue captar a fluidez dos elementos em vídeo, dando uma sensação de realismo que apreciamos bastante.

A grande estrela da ZV-E10 II é, no entanto, o sistema de focagem. A Sony continua a dar cartas neste campo, não só na grande área que consegue cobrir e no reconhecimento de pessoas e animais, mas neste caso em particular na capacidade de mudar o foco entre elementos em primeiro e segundo plano. Ou seja, esta câmara foi feita para quem quer/gosta de mostrar objetos enquanto fala, pois consegue, numa fração de segundo e de forma muito precisa, mudar o foco da pessoa que está a falar para o objeto em primeiro plano e vice-versa. Existe até um botão e opções de configuração para que possamos ajustar o nível de desfocagem que queremos obter.

Além da focagem, é depois noutros elementos associados à gravação de vídeo que, na nossa opinião, está a grande vantagem desta Sony ZV-E10 II face a outras câmaras compactas (o que inclui smartphones). Com destaque para o modo CineVlog e para a opção Aspeto Criativo. O modo CineVlog, como o nome deixa antever, dá um aspeto mais cinematográfico às filmagens. O formato da imagem é diferente (a resolução é na mesma 4K, mas existem barras pretas em cima e em baixo), a taxa de fotogramas baixa para 24 fps e existem perfis de cor específicos que dão aquela ‘vibe’ de filme mais profissional. Existem algumas opções à nossa escolha e que dão ou mais força às cores ou uma interpretação mais suave e visualmente dramática dos tons. Aqui pode ver um vídeo gravado em modo ‘normal’…

… E em baixo em modo CineVlog. Diferenças acentuadas e que dão outro aspeto à filmagem.

Já a opção Aspeto Criativo permite-nos alterar, de forma muito simples, a luminosidade, a temperatura de cor e aplicar filtros, como preto e branco ou sépia, para resultados visualmente impactantes. Além de várias opções, a marca torna-as todas fáceis de usar (basta selecionar as opções com o dedo no ecrã), o que para nós é a cereja no topo do bolo. Em pouco tempo, aprenderá a dominar as várias funcionalidades e os seus vídeos podem dar um salto considerável na qualidade visual.

Uma nota também para a estabilização (só existe digital), com resultados positivos, mas que para alguns criadores de conteúdos não substituirá por completo a necessidade de um estabilizador dedicado. Por fim, gostamos do facto de permitir gravar em formato vertical (basta rodar a câmara como se fosse um smartphone).

E fotos, nada? Claro que sim. A qualidade é boa para o formato compacto, mas pelo preço encontra câmaras com melhor desempenho para fotografia se esse for o seu foco.

O outro lado da Sony ZV-E10 II

Um elemento que acabou por nos surpreender pela positiva foi o microfone de três cápsulas integrado na parte superior da câmara. Primeiro porque nos permite escolher o foco da captação de áudio (se a partir da parte frontal, se da traseira ou se em 360 graus). Depois porque o som captado tem corpo e boa definição – sobretudo ‘dentro de portas’, se a filmagem não for feita muito longe da câmara, tudo aquilo que dizemos é mais do que percetível. No exterior, os resultados também são convincentes. Acontece que junto à nossa sede, o vento é constante e forte. Se o microfone até se aguentou bem, a verdade é que em situações de vento muito forte, só o recurso a um protetor de vento ou a um microfone dedicado pode dar-lhe os resultados profissionais que procura. Mas para a maioria das situações, cumpre.

Quanto à autonomia, as sensações são mistas. Se considerarmos, por um lado, o tamanho super compacto da câmara, então os resultados obtidos são bons. Num dos nossos testes, a captação de 52 fotografias e 15 minutos de vídeo em 4K deixou a bateria nos 60%. Por outro, para um produtor de conteúdos, este valor é baixo – dificilmente a gravação de um vídeo para o YouTube demora um par de horas, o que obrigará a ter baterias suplentes.

Por fim, uma viagem por outros altos e baixos desta Sony ZV-E10 II. O sistema de reconhecimento de cena é excelente, identificando e transitando de forma muito rápida entre os diferentes cenários possíveis (por exemplo, passar de modo paisagem para modo contraluz e depois modo macro). É uma câmara que permite trocar objetivas, uma ‘liberdade’ criativa que valorizamos. E tem as ligações necessárias para podermos gravar vídeos mais profissionalmente (com microfone, auscultadores e ligação a monitor externo através de microHDMI).

Há elementos menos positivos, como a qualidade assim-assim do ecrã, muito prejudicada pela falta de brilho que dificulta as gravações no exterior, ou a ausência de um visor eletrónico. Também não ficamos convencidos com o tratamento de cor que a câmara dá ao tom de pele das pessoas, com os resultados a parecerem pouco naturais.

Depois temos o preço. É verdade que esta câmara permite gravar vídeos de alta qualidade, com aspeto mais profissional, e de forma muito simples – justamente aquilo a que se propõe e justamente aquilo que várias pessoas procuram. Apesar de ser melhor e mais completa do que o modelo anterior, sentimos que o preço podia ser mais competitivo, pois começa a entrar no território de câmaras mais capazes e versáteis, sobretudo se optar pela versão que testámos, com objetiva incluída (sem objetiva o preço é de €1090).

Tome Nota
ZV-E10 II | €1200
sony.pt

Qual. Imagem Muito bom
Vídeo Muito bom
Construção Bom
Autonomia Muito bom

Características Sensor APS-C CMOS Exmor R 26 megapíxeis • Processador Bionz XR • Disparo contínuo até 11 fps • 759 pontos de focagem, 495 pontos em filme • ISO: 100 – 32.000 (expansível) • Vídeo: 4K 60/30/25 fps, 10-bit; FHD a 120/60/30/25 fps • Ecrã TFT 3” articulado e sensível ao toque • Microfone estéreo 495 pontos • Slot cartões: 1xSD UHS-I/II • microHDMI, USB-C, Entrada microfone, BT 4.2 • Objetivas: montagem tipo E • 114,8×67,5×54,2 mm • 292 g (sem objetiva)

Desempenho: 4
Características: 4
Qualidade/preço: 4

Global: 4

Os Jogos Olímpicos representam o auge da competição desportiva global, onde atletas de todo o mundo competem pelo prestígio de se tornarem os melhores nas suas modalidades. A participação de Portugal conta com muitos momentos e feitos históricos, mas enfrenta ainda alguns desafios, sobretudo no que diz respeito à gestão de expectativas e ao desenvolvimento de uma cultura desportiva robusta.

Enquanto atleta português, o sonho de uma experiência olímpica implica mais do que uma superação pessoal. Ao mesmo tempo que treinamos incansavelmente para alcançar os mais elevados padrões internacionais, carregamos aos ombros as expectativas de um país que não nos oferece as infraestruturas e os recursos correspondentes. Este ambiente de pressão pode ser tanto um motor de motivação quanto um fardo pesado, e acaba por moldar a nossa cultura desportiva.

Por um lado, inspira-nos a dar o nosso melhor, a buscar a excelência e a representar Portugal com orgulho. Por outro, a falta de investimento e de apoio adequado pode minar o nosso moral e limitar o nosso potencial. Assim, a nossa experiência olímpica reflete as dualidades do desporto português, onde o espírito de resiliência se confronta com as adversidades estruturais, e influencia, de forma complexa, a cultura desportiva dos portugueses.

A gestão das expectativas é uma componente crucial na preparação para os Jogos Olímpicos. Para os atletas, a pressão para atingir o sucesso pode ser avassaladora. O sistema desportivo em Portugal, frequentemente, não oferece os recursos necessários para uma competição em pé de igualdade com os adversários internacionais, desde a falta de instalações de treino adequadas à insuficiência de apoio financeiro, entre outros. Para o público e os média nacionais, as expectativas muitas vezes não estão alinhadas com a realidade. Há uma tendência para criar heróis nacionais e esperar resultados extraordinários, mesmo quando as condições de preparação não são ideais, e este descompasso gera frustração e críticas acirradas quando os resultados não correspondem às expectativas inflacionadas.

Mas a cultura desportiva de um país não se faz só de sucessos. Há que olhar também para a forma como lida com os seus insucessos, falhas e derrotas. Em Portugal, o foco nos resultados imediatos tem, por vezes, obscurecido a importância do desenvolvimento a longo prazo. A pressão para obter medalhas pode desmotivar tanto atletas quanto treinadores, que frequentemente se veem em contextos de trabalhos precários e com recursos limitados.

No entanto, há aspetos positivos a destacar. O esforço e a dedicação dos atletas olímpicos portugueses são uma fonte de inspiração para muitos jovens. As histórias de superação pessoal e o espírito de resiliência demonstrados por estes atletas contribuem para uma mentalidade de persistência e trabalho árduo. Além disso, a atenção mediática durante os Jogos Olímpicos oferece uma plataforma para discutir e promover a importância do desporto e da atividade física na sociedade portuguesa.

Para melhorar a experiência do desporto olímpico em Portugal, há que enfrentar e minimizar os desafios estruturais que limitam o desempenho dos atletas, implementando soluções a vários níveis. O investimento consistente e a longo prazo em instalações desportivas modernas e acessíveis é crucial para assegurar locais de treino ao nível dos melhores do mundo, bem como o aumento do financiamento para programas desportivos de apoio direto aos atletas, para federações e clubes desportivos. A implementação de programas de formação para treinadores e técnicos desportivos promove o acesso a orientação de alta qualidade, sem nunca esquecer o reforço do apoio psicológico e médico para garantir que os atletas estejam preparados tanto física quanto mentalmente.

A criação de políticas públicas que promovam a prática desportiva desde a infância também permite incentivar uma cultura de participação e de valorização do desporto, as quais podem incluir programas escolares, comunitários e iniciativas de base.

A realidade olímpica portuguesa é, assim, um reflexo das forças e fraquezas estruturais do País. A gestão das expectativas, por parte dos atletas e do público, desempenha um papel significativo na forma como o desporto é percecionado e valorizado. Embora existam desafios consideráveis, as histórias de sucesso e o potencial para melhorias estruturais apontam para um futuro promissor. Ao abordar as necessidades dos atletas de forma holística e ao promover uma cultura desportiva mais sustentada, Portugal pode não só melhorar o seu desempenho olímpico, mas também reforçar a importância do desporto na formação de uma sociedade mais saudável e coesa.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.


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O movimento de corpo com que Patrícia Sampaio, já com o tempo a esgotar-se, conseguiu projetar e, dessa forma, vencer a japonesa Rika Takayama, no tapete do Champ de Mars, em Paris, garantiu a conquista de uma medalha de bronze histórica para a judoca, mas representou também o corolário de uma aposta e de um trabalho bem planeado, ao longo do tempo, no judo em Portugal.

O caminho para aquela que é apenas a 29º medalha olímpica do desporto português, em mais de um século de participações nos Jogos, começou, na verdade, a ser trilhado quase uma década antes, e passou pela remodelação da equipa técnica na seleção de judo, ao mesmo tempo que se reforçou a aposta na procura e na deteção de talentos promissores.

Corria o ano de 2015 e, apesar de o judo ter sempre comitivas com um número razoável de atletas (à nossa escala) nos Jogos Olímpicos, alguns deles até com títulos importantes conquistados em campeonatos do mundo e da Europa, como sucedeu com João Neto e Telma Monteiro em Pequim 2008, os resultados teimavam em não aparecer. A medalha de bronze ganha por Nuno Delgado, nos Jogos de Sydney 2000, continuava a ser única do judo português e, ao fim de uma década e meia “em branco”, existia já algum desalento e insatisfação por não se ver novamente um português a subir ao pódio. Era preciso mudar qualquer coisa, tentar fazer algo de maneira diferente.

Patrícia Sampaio Aos 25 anos, ganhou a quarta medalha do judo português

Iniciou-se, então, um novo ciclo assente em dois vetores: procurar obter resultados imediatos – para afogar o desânimo e fazer impulsionar a modalidade – e, em simultâneo, começar a preparar o futuro, criando uma base de seleção nacional mais alargada, através da chamada de jovens promissores para a integrar.

“A Patrícia Sampaio foi pioneira nesse processo”, recorda Nuno Delgado, que acompanhou de perto essa pequena revolução na atitude e nos métodos do judo português.

Apostar no futuro

Nesse início de caminhada, Patrícia foi uma das primeiras jovens promessas a serem convidadas para se mudarem para o Centro de Alto Rendimento do Jamor e, dessa forma, integrarem os treinos da nova Seleção Nacional de Judo. “Ela tinha apenas 16 anos e, na altura, não foi imediatamente claro que os seus pais a autorizassem a mudar-se para Lisboa e a apostar tanto na carreira desportiva”, explica ainda Nuno Delgado.

Nos primeiros tempos na capital, o então único judoca português com uma medalha olímpica foi designado tutor da menor Patrícia Sampaio, que vivia no Jamor, treinava todos os dias no Estádio Universitário de Lisboa e estudava na escola de Linda-a-Velha, que foi uma das primeiras a ter uma unidade de apoio ao alto rendimento, permitindo aos atletas jovens conciliarem o desporto com os estudos.

“Nessa altura, conseguimos encontrar uma fórmula aceitável para todos, que se mantém ainda intacta hoje e que se revelou crucial para o desenvolvimento da Patrícia”, acrescenta ainda Nuno Delgado. “É a fórmula que permite que ela viva e treine em Lisboa, com as melhores judocas do País, mas continue a representar o seu clube, a Sociedade Filarmónica Gualdim Pais, de Tomar, onde é treinada pelo seu irmão, Igor Sampaio.”

O judo beneficia de uma particularidade quase única: a de não ser só um desporto, mas também uma filosofia de vida

Dessa forma ficou assegurada a estabilidade psicológica da jovem atleta e foram criadas as condições para que ela pudesse progredir, num ambiente de grande exigência competitiva, mas também com acesso a estágios no estrangeiro, nomeadamente no Japão, com os melhores atletas do mundo. Essa é, aliás, umas das características que distinguem esta modalidade em relação à maioria dos outros desportos: no judo os atletas, mesmo de diferentes países, estão habituados a treinar uns contra os outros, nos estágios que se vão realizando, e em que se reúnem os melhores do mundo, os quais depois voltam a encontrar-se em competição.

Porque foi, há quase uma década, Patrícia uma das escolhidas para este novo ciclo, juntamente com, por exemplo, Maria Siderot? “Conheço a Patrícia desde que ela tinha 10 anos”, responde Nuno Delgado. “Já nessa altura ela dava nas vistas porque era muito grande, o que não é muito habitual em Portugal. De início, era até um bocadinho trapalhona, mas já mostrava uma grande resiliência, a mesma que demonstrou agora nos combates decisivos em Paris. Ou seja, ficámos logo com ela debaixo de olho. Depois, em 2015, quando surgiu a oportunidade e precisávamos de escolher alguém com a sua categoria de peso, ela já estava identificada”, esclarece.

Dar o exemplo

No entanto, para assegurar o futuro de qualquer modalidade ou desporto é preciso que existam campeões de referência, que possam galvanizar os mais jovens a seguir o seu exemplo. Foi por isso que o plano de 2015 incluía um outro vetor fundamental: obter resultados imediatos. Explicado de outra forma: proporcionar a Telma Monteiro, antes dos Jogos Olímpicos do Rio 2016, todas as condições para ela poder chegar às medalhas.

A aposta foi bem-sucedida, mas exigiu um esforço coordenado e até um forte investimento financeiro. Ao longo da preparação, apesar de continuar integrada na equipa nacional e no seu famoso “espírito de grupo”, Telma Monteiro beneficiou do acompanhamento em exclusivo do treinador japonês Go Tsunoda, um mestre da modalidade, com créditos firmados em Espanha e também na seleção olímpica feminina britânica. Depois, em vez de permanecer na confusão da Aldeia Olímpica, a judoca ficou hospedada num apartamento, nas imediações do local de competição, com a sua equipa mais próxima.

Em 2015, Patrícia Sampaio foi uma das primeiras jovens promessas a serem convidadas para se mudarem para o Centro de Alto Rendimento do Jamor

“Embora todos os atletas tenham tido condições acima da média, em termos de estágios e participações em competições internacionais, no caso da Telma houve uma aposta maior, compreendida por todos, no sentido de poder oferecer-lhe tudo aquilo de que ela necessitasse para a sua preparação”, recorda ainda Nuno Delgado. “O seu talento, a sua dedicação, a sua capacidade de superação justificavam esse investimento.”

“Para ganhar medalhas nos Jogos Olímpicos não basta treinar muito. Isso todos fazem. É preciso fornecer todas as ferramentas necessárias, investir em todos os fatores do treino”, lembra ainda Delgado. “Eu, por exemplo, prescindi da minha credencial olímpica nos Jogos do Rio para dar o meu lugar à parceira de treino da Telma, de modo a que ela pudesse treinar nas melhores condições possíveis.”

Crescimento sustentado

O plano de 2015 tem dado frutos, mesmo depois de uma pandemia e de um período conturbado no seio da Federação de Judo. A verdade é que, desde então, a modalidade tem ganhado medalhas em todos os Jogos Olímpicos e engrossado o número de atletas federados: dos cerca de 12 mil que existiam há uma década, passou-se para valores próximos dos 20 mil. E quando se olha para os números disponibilizados nos relatórios da federação, também se percebe um crescimento de clubes e de treinadores.

Pelo meio, contam-se ainda diversas medalhas em campeonatos mundiais e europeus de vários escalões, desde os cadetes até aos seniores. E a própria representação da comitiva portuguesa em Jogos Olímpicos sofreu uma alteração significativa: passou a ser mais numerosa e com as atletas femininas em clara maioria. “Isso é fruto do efeito Telma no judo português, há mais raparigas a quererem praticar e a quererem seguir o seu exemplo”, diz Nuno Delgado. Em Paris 2024, estiveram presentes apenas dois atletas masculinos e cinco judocas femininas (que poderiam ter sido seis, se não fosse a lesão de Telma Monteiro que lhe estragou as possibilidades de qualificação).

Ambicionar o ouro

No entanto, se a estratégia resultou em três medalhas de bronze, Nuno Delgado considera que, a partir de agora, a ambição deve ser maior. “Nós valemos mais do que isso. Temos de continuar o bom trabalho, mas começar a lutar pelas medalhas de ouro.”

Para isso, o judoca considera que há um passo fundamental que precisa de ser dado: a criação de uma Casa do Judo, um centro de alto rendimento completamente focado na modalidade, com condições que permitam a presença de mais atletas e até a de outras seleções estrangeiras a fazerem estágios conjuntos. “Com as limitações financeiras que temos, quando vamos de estágio para o Japão só conseguimos levar os melhores atletas. Assim, as segundas figuras ficam sem hipótese de progredir. Com uma Casa do Judo em Portugal podíamos beneficiar da nossa localização geográfica e reunir, com alguma periodicidade, seleções da América do Sul e de África, onde já há judo de grande qualidade. Tudo isso nos ajudaria a crescer”, considera Nuno Delgado.

Enquanto esse futuro não chega, o judo vai beneficiando de uma particularidade quase única: a de não ser só um desporto, mas também uma filosofia de vida. O que permite, por exemplo, que muitos dos judocas olímpicos portugueses continuem ligados à modalidade, mesmo depois de retirados da competição, quer como treinadores, quer a dar aulas, quer com os seus próprios clubes. É essa a base que permite o alargamento do número de praticantes. Depois, com boa deteção de talentos e bons exemplos a seguir, as medalhas olímpicas deixam de ser uma miragem. Como provou agora Patrícia Sampaio, em Paris, a nova heroína do desporto português, que não esconde o amor pela modalidade que pratica, como se percebe pelo nome que escolheu, há muito tempo, para a sua conta de Instagram: sampaiolovesjudo. Não poderia ser mais apropriado.

Nuno Delgado
Sydney 2000

O primeiro judoca português a subir ao pódio olímpico, na categoria de -81 kg, em que se tinha sagrado campeão europeu no ano anterior. Recebeu a medalha de bronze, que era então a 16.ª medalha olímpica portuguesa da história, das mãos de Fernando Lima Bello, membro do Comité Olímpico Internacional

INÁCIO ROSA/LUSA

Telma Monteiro
Rio 2016

Na sua quarta participação olímpica, depois da estreia promissora em Atenas 2004 e das desilusões em Pequim 2008 e Londres 2012, conseguiu finalmente a medalha mais desejada, na categoria de -57 kg, a juntar aos seis títulos de campeã da Europa e quatro de vice-campeã mundial, entre outros.

JOSÉ COELHO/LUSA

Jorge Fonseca
Tóquio 2020

Campeão mundial em 2019 e em 2021, foi o terceiro medalhado olímpico do judo, nuns Jogos marcados pela pandemia (e que, por isso, decorreram em 2021…), conquistando o bronze na categoria de -100 kg. Esteve agora em Paris, mas foi eliminado nos oitavos de final. Ambiciona estar, dentro de quatro anos, em Los Angeles 2028.

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Uma das principais características de um bom narcisista é a sua capacidade de imitar os bons sentimentos empáticos de uma pessoa comum. Alguns fazem-no melhor do que outros. O primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu não se mostrou um grande ator, na entrevista que faz a capa da revista Time publicada ontem.

Quando o jornalista Eric Cortellessa lhe pergunta se alguma vez pedirá desculpa, assumindo a responsabilidade pelas falhas de segurança dos ataques de 7 de outubro, perpetrados pelo Hamas, responde: “Pedir desculpa? Claro, claro. Lamento profundamente que uma coisa destas tenha acontecido. Olhamos sempre para trás e perguntamos se podíamos ter feito alguma coisa que tivesse evitado isto…” E, depois, a pergunta que o revela: “Temos de o fazer… ou não?”

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É alta, esguia, bonita. Uma madeixa de cabelo escuro pende-lhe sobre os olhos azuis. Traz ao peito, num pano, um bebé pequeno, que mal se vê. E num carrinho uma menina loira. Com o dedo apontado sobre a vitrine vai pedindo um croissant com queijo brie e um bagel com salmão fumado. Ocorre-lhe, então, que talvez a filha não tenha apetite para tanto e que é melhor pedir um saco de papel para levar o que sobrar. Discorre sobre isso, num Inglês fluente e imaculado, sem se aperceber do ar de espanto que a recebe do lado de lá do balcão, enquanto acaba de pousar o bagel sobre o pires.

O rapaz olha-a, tentando decifrar o que lhe soará por certo a uma algaraviada. Abre muito os olhos. A rapariga põe-se, então, a explicar, sempre em Inglês (claro), que o saco é para o caso de sobrar comida. Não lhe ocorre que, do lado de lá, possa estar alguém que, ganhando um salário mínimo português, não entenda a língua de Shakespeare. “Ela quer um saco de papel para levar os restos”, digo, por fim. O rapaz abre-me um sorriso. Ela atira-me um “thank you” displicente, enquanto revira os olhos. “O meu Inglês não dá para tanto”, justifica-se-me ele, encolhendo os ombros. “Que saiba sequer falar Inglês já é impressionante”, digo-lhe eu, devolvendo um sorriso de cumplicidade.

A cena passa-se numa pastelaria onde o café é “de especialidade” e onde os ovos mexidos biológicos convivem com os pastéis de nata e os bolos de arroz que ainda resistem. Desapareceram para sempre as torradas cortadas em três, uma fatia sobre a outra, pingando manteiga sobre uma fina folha de guardanapo. E talvez um dia as meias de leite se convertam para sempre em cappuccinos. Se há ameaça de uma grande substituição que nos devia afligir é essa.

Ao final do dia, os pais juntam-se ali, com as crianças saídas da escola e a conversa vai parar quase sempre ao mesmo. “Está impossível viver em Lisboa”. Discutem-se os preços impraticáveis dos T2 e T3. Comenta-se a escola que está a recusar vagas aos pais portugueses do programa de creches pagas pelo Estado e a dar prioridade aos estrangeiros prontos a pagar sem olhar a custos. Há uma amiga que garante que no colégio do bairro já não se fala Português e uma história de uma escola privada que pede o CV a crianças de três anos. “Se os pais são os dois portugueses e não é bilíngue, não vai conseguir entrar”. Há quem pense em ir para o interior viver e quem não imagine deixar Lisboa. Mas ficar é uma história de resistência. Somos os que resistem. Até ver.

“Não há ninguém com uma arma apontada à minha cabeça a dizer-me para sair. Mas, economicamente, não tenho escolha”. A frase é dita por um rapaz de 25 anos que não vive em Lisboa. Está em Tenerife e fala numa reportagem do The Guardian sobre a pressão que o turismo está a pôr sobre a ilha, onde alugar um quarto chegou a custar-lhe 70% do rendimento antes de decidir voltar a viver com os pais.

Em Ibiza, uma notícia do ElDiario.es mostra uma família, com dois filhos pequenos a ser despejada. A mãe e as crianças choram descontroladamente, enquanto são arrastados. Ao fundo, desfocadas, estão mais famílias, empurradas como se uma maré as levasse em direção à lente que lhes capta o desespero. O naufrágio, explica o texto, é provocado pela descoberta de que o proprietário do terreno em que viviam alugava ilegalmente pequenas parcelas de terra por 400 euros, onde viviam em tendas ou caravanas 200 pessoas, que agora terão de ir para a rua. “Somos os trabalhadores que levantam a ilha”, grita-nos o título.

Num mundo de especulação desenfreada, viver torna-se num exercício de equilibrismo. O pedaço de terra que temos debaixo dos pés pode ser difícil de manter se a cobiça dos muito ricos o tiver na mira. Não temos uma arma apontada à cabeça, como diz o rapaz de Tenerife, mas não é difícil sentir que nos expulsam.

Não temos uma arma apontada à cabeça? Há quem a tenha. São os que “levantam as ilhas” onde uns poucos se podem deitar à sombra das bananeiras. Dormem em tendas em terrenos ilegais em Ibiza ou nas camaratas do Martim Moniz. E a esses não os expulsam para longe, a esses mantêm-nos por perto, acorrentados à fome e à ilegalidade que os tornará dóceis à exploração e baratos, como se quer.

O ano de 1997 marca um “antes” e um “depois” na vida de Bilbau. A maior cidade basca, com um passado industrial e de arquitetura escura, passou, praticamente de um dia para o outro, a ser um grande polo de atração turística – competindo com a charmosa San Sebastián, a 100 quilómetros, e a sua magnífica Praia de la Concha, bem no centro.

Esse dia foi 18 de outubro de 1997, o da inauguração do Museu Guggenheim de Bilbau, com a arquitetura icónica do norte-americano Frank Gehry, que continua, desde o primeiro dia, a não deixar ninguém indiferente. É um daqueles equipamentos culturais que funcionam como chamariz de visitantes, independentemente da programação. À sua frente tem estado, desde a fundação, o diretor Juan Ignacio Vidarte, que, em maio, anunciou que deixará o cargo no final deste ano.

Desde a inauguração do Museu Guggenheim, em 1997, a cidade de Bilbau mudou radicalmente e passou a polo de atração de turistas de todo o mundo. O “efeito Bilbau” ou “efeito Guggenheim” tornou-se, mesmo, um caso de estudo exemplar, que se tentou replicar noutras cidades.Foto: DR

O museu tem conseguido um bom equilíbrio entre exposições, que são verdadeiros blockbusters, muitas vezes com o apoio de grandes empresas (como El Arte de la Motocicleta, em 1999-2000, sobre a história das motos; uma mostra dedicada ao estilista Giorgio Armani, em 2021, ou, há dois anos, uma grande exposição sobre a indústria automóvel, pensada por Norman Foster), e uma atenção à arte contemporânea internacional, entre grandes referências e nomes menos conhecidos do grande público. O cosmopolitismo sem fronteiras impôs-se numa cidade que sempre se orgulhou muito da sua identidade.

Neste verão, quem passar por Bilbau e, além de um obrigatório passeio pelas ruelas do bairro antigo à procura dos melhores pintxos, for visitar o Museu Guggenheim vai poder conhecer profundamente um dos mais bem-sucedidos artistas japoneses da atualidade – a exposição Yoshitomo Nara estará patente até 3 de novembro. É todo um imaginário muito peculiar que ali se celebra, à volta do artista nascido há 64 anos, numa pequena localidade no Norte do Japão, e que tem agora, em Bilbau, a sua maior retrospetiva de sempre num país europeu.

À conquista do mundo

Olhando para os primeiros anos de vida de Yoshitomo Nara, nada faria prever que ele se tornaria um artista plástico global, conquistando admiradores em todo o mundo. Com dois irmãos bem mais velhos, pais que trabalhavam muitas horas (o pai e avô paterno eram sacerdotes xintoístas), o pequeno Yoshitomo ficava muito tempo sozinho, usando a imaginação para brincar e passar o tempo.

Talvez por isso ter sido enorme o impacto que teve sobre ele, ainda antes de completar 10 anos, a descoberta de uma rádio norte-americana (a Far East Network), criada para os militares dos EUA no Extremo Oriente – tendo acesso à vibrante cena musical dos anos 60 norte-americanos, de Bob Dylan aos Doors, mesmo que não conseguisse entender as letras.

A sensação de solidão que experimentou na infância (mas que não associa ao sofrimento e muito menos ao isolamento dos hikikomori, que passam anos em reclusão nos seus quartos nas grandes cidades) voltaria a fazer parte do seu quotidiano, quando, entre 1988 e 1993, estudou artes (depois de já ter feito uma licenciatura nessa área, em Aichi, no Japão) em Dusseldorf, na Alemanha, sem nada entender de alemão.

A arte era o seu código universal, o seu passaporte, e essa experiência abriu-lhe mundo (o artista alemão A.R. Penck foi, aí, um importante mestre para Nara). A sua carreira artística iria despontar após se mudar para Colónia, onde viveu até ao ano 2000.

My Drawing Room, de 2008, simula o local de trabalho do artista. Cortesia Fundação Yoshitomo Nara

À primeira vista, somos tentados a associar os icónicos desenhos e pinturas de Yoshitomo Nara, com as suas inquietantes figuras infantis de grandes cabeças, ao universo manga, a BD japonesa cada vez mais popular em todo o mundo. Nada mais errado. Não é aí que Nara se situa, reivindicando o seu lugar no mundo da pintura (mesmo reconhecendo algumas influências da iconografia japonesa de outros séculos, que também está relacionada com algumas correntes da BD nipónica).

Aos 64 anos, o japonês continua a cultivar uma atitude jovial, com algo de energia punk. A música rock, aliás, nunca deixa de fazer parte da sua vida (ouve-se, até, a sair de colunas na instalação My Drawing Room, de 2008, que simula o seu local de trabalho, com bonecos, desenhos e discos espalhados; e, na página do Guggenheim Bilbao no Spotify, pode-se escutar, por estes dias, uma playlist criada por Nara). O artista assinou, mesmo, capas de discos para bandas como os japoneses Shonen Knife ou os norte-americanos R.E.M.

“Missing in Action”, 1999. Cortesia Fundação Yoshitomo Nara

Na conferência de imprensa, para jornalistas de todo o mundo, que aconteceu em Bilbau antes da inauguração da exposição, alguém ousou fazer ao artista japonês aquela pergunta óbvia, que pode ocorrer imediatamente a quem se cruza pela primeira vez com a obra de Nara: “Porque tem pintado obsessivamente, ao longo dos anos, estes retratos de crianças com grandes cabeças?”. A resposta é breve: “No dia em que eu souber responder exatamente a essa questão, deixarei de pintar.”

A VISÃO viajou a convite do Museu Guggenheim Bilbao