Na audição da CPI à mãe das duas crianças, na sexta-feira passada, só uma pergunta, do deputado do Livre, fez todo o sentido naquelas 4 horas deprimentes, chocantes e sem propósito: “Como estão as crianças?”
Alguém, ali, naquela tarde, se lembrou do que verdadeiramente estava em causa? Alguém mostrou orgulho por um SNS que respondeu como devia? Alguém falou das quase 40 crianças que já receberam esse medicamento? Alguém louvou a coragem dos médicos e do Infarmed que fizeram o que lhes competia?
Não sei se Nuno Rebelo de Sousa ajudou, mas se o fez, merece ser louvado, e não enxovalhado. Não sei se o ex-secretário de Estado da Saúde, Lacerda Sales, pediu urgência no tratamento, mas se o fez, merece ser reconhecido e cumprimentado. Não sei se alguém mais mostrou interesse no caso, mas quem o fez merece ser enaltecido.
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Hoje sabem-se quatro dados indiscutíveis: as gémeas não passaram à frente de nenhuma outra criança, não existia nem existe uma lista de espera, a médica e o Infarmed não tiveram nenhuma dúvida em receitar e disponibilizar o medicamento, e a mãe fez tudo o que podia e devia para salvar as suas filhas. Como qualquer outro pai ou mãe. E fez bem!
Só mais uma nota: percebe-se a estratégia política do Chega, mas ninguém entendeu a do PSD, CDS, IL e PS nesta audição da Comissão de Inquérito. Dois deputados destacaram-se naquela tarde: Alfredo Maia do PCP e Paulo Muacho do Livre. Disseram o que tinham a dizer, perguntaram o que queriam ouvir e não caíram na vaidade do palco mediático. Esta CPI perdeu o objetivo, a finalidade e o alvo.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.
O Presidente da República afirmou este domingo que não seguiu a audição no Parlamento da mãe das gémeas luso-brasileiras que foram tratadas no Hospital de Santa Maria com uma medicação inovadora. Daniela Martins foi ouvida sexta-feira na Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga eventual favorecimento no acesso ao medicamento Zolgensma, para a atrofia muscular espinhal. Em causa, está a possível influência de responsáveis políticos, entre os quais Marcelo Rebelo de Sousa, numa decisão que teria de ser exclusivamente clínica.
“Não ouvi”, declarou hoje o Presidente aos jornalistas, sublinhando que, depois de se ter informado sobre o que foi dito, não tem nada mais a acrescentar ao que já disse anteriormente sobre o caso, que envolve o seu filho Nuno Rebelo de Sousa. “Não comento as atividades do Parlamento”, justificou, ressalvando apenas que “os cidadãos são todos iguais perante a Lei e a Constituição”.
Recorde-se que a mãe das gémeas assegurou aos deputados portugueses que nunca conheceu o Presidente da República nem sequer o filho Nuno, que reside no Brasil e que teve várias iniciativas e realizou diversos contactos no sentido de acelerar o processo, quer através da Presidência da República quer através do Ministério da Saúde, tendo reunido com o ex-secretário de Estado Lacerda Sales.
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À margem da Assembleia da República, o caso, denunciado em novembro passado pela TVI, está a ser investigado pelo Ministério Público, que além de Lacerda Sales constituiu como arguidos Luís Pinheiro, ex-diretor clínico do Santa Maria, e Nuno Rebelo de Sousa. Segundo uma auditoria da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde, pelo menos a marcação da primeira consulta foi marcada de forma ilegal.
Depois de anos de frustrações, a tentar em vão convencer o juri do concurso, Wild Thang foi coroado como “o cão mais feio do mundo”. Nascido em Los Angeles, nos Estados Unidos da América, o pequinês de oito anos já tinha participado várias vezes na competição, acumulando três segundos lugares, mas à 34ª edição deste concurso anual, realizado na Feira Sonoma-Marin em Petaluma, na Califórnia, bateu toda a concorrência, graças ao seu aspeto.
A viver com a sua família adotiva no estado norte-americano de Oregon, o cão pequinês, uma raça muito antiga com origens na China, apresentou outros trunfos além da sua beleza natural, nomeadamente uma pata que o faz cambalear e uma língua “atrevida” que está sempre de fora, porque os seus dentes não se desenvolveram de maneira adequada. Ambos os problemas se devem a uma cinomose canina, doença grave, provocada por um vírus, que contraiu logo nos primeiros meses de vida.
A distinção de “cão mais feio do mundo” valeu a Ann Lewis, sua tutora, um prémio monetário de quase cinco mil euros. A organização justifica a competição como uma forma de valorizar a adoração e a adoção de todo o tipo de animais, independentemente dos seus traços e feitios.
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O vencedor na categoria decidida por votação online foi este pug de 14 anos, com mobilidade reduzida. Chama-se Rome e também ele é um belo exemplar canino, segundo classificado na categoria principal.
Foto: JOSH EDELSON / AFP via Getty Images
Gostos não se discutem. Cada um tem as suas praias preferidas e o ChatGPT também as tem, neste caso baseadas em informação que capta na Internet e nada mais do que isso. Agora que podemos afirmar que já estamos em pleno verão, perguntámos ao robô conversacional da OpenAI quais são as dez melhores praias de Portugal. A resposta está na fotogaleria que lhe apresentamos no topo da página, acompanhada da breve justificação do ChatGPT para cada escolha.
Sem surpresa, o Algarve predomina no top-10, mas as opções, estas sim, são sempre discutíveis. As falésias parecem suscitar um interesse especial, assim como as águas cristalinas, mas sobre a temperatura do mar nem uma palavra. A Grande Lisboa também marca presença na lista, com um trio de representantes talvez ainda mais questionável.
Menos polémicas serão as considerações gerais, nas quais o robô considera que a costa portuguesa tem “algumas das praias mais espetaculares praias da Europa”, com diversos tipos de paisagem. “Quer esteja à procura de aventura, de descansar ou de cenários belos, as praias de Portugal têm algo para oferecer”, sugere esta ferramenta que recorre a Inteligência Artificial para encontrar respostas na World Wide Web.
O alerta veio do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, na sigla inglesa): a propagação de surtos de doenças transmitidas por mosquitos está a aumentar significativamente na Europa. Estes insetos são os únicos vetores do vírus de dengue (a mais importante infeção viral da atualidade) e do chikungunya, ou seja, funcionam como veículos de transmissão do agente causador da doença – já o zika também se dissemina por via sexual e vertical, isto é, entre uma mãe infetada e o feto.
Em 2023, foram registados 130 casos de dengue adquiridos localmente, em território europeu, enquanto que em 2022 foram 71 – como base de comparação, o ECDC refere que, entre 2010 e 2021, assinalaram apenas 73. Os casos importados também aumentaram, de 1 572 em 2022 para 4 900 em 2023. As perspetivas para 2024 não são mais favoráveis, já que nos primeiros meses “vários países comunicaram aumentos substanciais no número de casos importados de dengue”.
Em Portugal, esta tendência ascendente também se verifica. Segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS), em 2024 foram confirmados 61 casos de dengue (até ao passado dia 9), sem óbitos associados. “Todos os casos confirmados são importados de zonas endémicas para a dengue, sendo a maioria (50) com origem provável de infeção no Brasil”, acrescenta a entidade. Em 2022, tinha havido apenas 14 casos confirmados e, no ano passado, aumentaram para 40.
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Em 2023, registaram-se surtos de dengue na França (8 focos), Itália (4) e em Espanha (2), provocados por um mosquito invasor, o Aedes Albopictus, com populações autossustentáveis em 13 países europeus, inclusive o nosso. “Se olharmos para o que aconteceu no resto da Europa, é inevitável que venhamos a ter em Portugal casos locais de contágio de dengue”, aponta Maria João Alves, investigadora no Departamento de Doenças Infeciosas do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) e coordenadora da Rede Nacional de Vigilância de Vetores (REVIVE). “Para já, temos de ficar muito atentos: tem de haver uma resposta na vigilância dos mosquitos para sabermos os que temos, onde e com que abundância; e a autoridade de saúde tem de detetar atempadamente os casos de importação de doenças, para saber onde há possibilidade de transmissão”, sublinha.
O problema das alterações climáticas
As razões para este agravamento estão identificadas. “A Europa já está a constatar como as alterações climáticas estão a criar condições mais favoráveis para que mosquitos invasores se espalhem em áreas anteriormente não afetadas e infetem mais pessoas com doenças como a dengue”, afirmou a diretora do ECDC, Andrea Ammon, num comunicado. “O crescimento das viagens internacionais a partir de países endémicos da dengue também aumentará o risco de casos importados e, inevitavelmente, também o risco de surtos locais”, acrescentou.
O facto de se aproximar o verão, mais propício à proliferação destes insetos, e a realização dos Jogos Olímpicos de Paris, com uma grande concentração de pessoas vindas de todo o mundo, levanta preocupações dos especialistas sobre um risco significativo de transmissão no nosso continente.
Se olharmos para o que aconteceu no resto da Europa, é inevitável que venhamos a ter em Portugal casos locais de contágio de dengue
Maria João Alves, investigadora
“A avaliação de risco neste tipo de doença é complexa, há um acumular de circunstâncias e um elevado grau de dados imprevisíveis, como a meteorologia, que tem influência no aumento do número de vetores”, explica Carla Sousa, do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT). Sabe-se que os mosquitos exóticos que se introduziram em solo europeu têm uma elevada capacidade de colonizar novos territórios e representam um perigo para a saúde pública, dada a sua competência vetorial para transmitir os vírus de chikungunya, dengue e zika.
A nível mundial, as perspetivas não são animadoras. Se, em 2023, houve 6,5 milhões casos de dengue em 80 países, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), só nos primeiros quatros meses de 2024 foram reportados 7,6 milhões, sobretudo na América do Sul. Só o Brasil está a aproximar-se, este mês, dos seis milhões de casos de dengue confirmados e das quatro mil mortes (em 2023, tinham sido mais de 1,6 milhões casos e 1 179 mortes), naquela que é a pior pandemia da sua história.
Vigilância apertada
Já em abril, a REVIVE tinha apresentado o relatório anual referente a 2023, onde descrevia a monitorização dos mosquitos feitas ao longo do ano pela sua equipa, caraterizava as suas espécies e dava a conhecer a sua distribuição e abundância. É a partir destes dados que, depois, a DGS implementa medidas de controlo, em colaboração com o poder local.
Só no ano passado, a REVIVE identificou 40 565 mosquitos (5 102 adultos e 35 463 imaturos), em colheitas feitas em 231 concelhos de Portugal, assim como em aeroportos, portos e aeródromos – pontos de entrada de vigilância obrigatória. Confirmada ficou a presença das duas espécies invasoras: o Aedes aegypti na Madeira, com um clima temperado que favorece a dispersão deste inseto exótico, considerado o vetor mais eficiente na transmissão do vírus, pelas suas caraterísticas biológicas e comportamento; e o Aedes albopictus no Norte, no Algarve, no Alentejo e na região de Lisboa.
A presença em diferentes regiões da segunda espécie aponta “para uma situação de estabelecimento e dispersão geográfica, representando uma situação de risco acrescido para a Saúde Pública que vai exigir um esforço de monitorização constante, bem como medidas de controlo eficazes com vista à erradicação das populações detetadas e que impeçam a dispersão deste mosquito”, refere o relatório. Ressalve-se, contudo, que nenhum dos mosquitos estava infetado com o vírus.
No nosso país, não se culpem as alterações climáticas – embora, claro, levem ao aumento da população –, porque “sempre houve adequabilidade climática”, diz Carla Sousa, para a propagação destas espécies invasoras. Mesmo o Aedes aegypti, menos resistente ao frio, apesar de não ter sido identificado em Portugal Continental nos últimos anos, esteve presente no Sul até à década de 50 do século XX, onde foi erradicado, presume-se, na campanha de luta contra a malária.
Aquilo que nos deixa mais vulneráveis é que a percentagem de assintomáticos pode ser muito elevada, tanto no dengue como noutros vírus
Carla Sousa, entomologista
Na Madeira, o Aedes aegypti foi identificado pela primeira vez em 2005. Apesar das medidas de combate, conseguiu instalar-se na ilha. “O mosquito adulto é resistente a quase todos os inseticidas que existem, e podemos aplicar no espaço europeu, onde podemos atuar é nas larvas, para as quais temos biocidas com pouco impacto ambiental, e fazer aquilo que a OMS identifica como principal medida de controlo: a eliminação dos criadouros”, indica Carla Sousa.
Em 2012, houve o primeiro surto de dengue no arquipélago, o primeiro na Europa desde 1927, quando a densidade populacional do inseto era maior, graças à combinação de calor e humidade. “Conseguimos explicar quase 70% dos casos importados, olhando só para as viagens aéreas e, nessa altura, havia voos diretos do Brasil e a da Venezuela para a Madeira – agora já não, o que faz com que o risco diminua, só pelo facto de as pessoas infetadas demorarem mais tempo a chegar [o período de transmissibilidade é relativamente pequeno]”, acrescenta a entomologista.
Em três meses, registaram-se 2 164 casos de dengue, todos benignos. “Essas pessoas têm agora anticorpos para esse serótipo (existem quatro), mas deverá haver muitas mais, porque mais de 60% das pessoas infetadas são assintomáticas”, indica Maria João Alves. Mas, “se forem infetadas com outro tipo de dengue, podem ter sintomatologia mais grave, daí a necessidade de vigilância”, contrapõe.
A monitorização entomológica na ilha é apertada e há registos semanais dos vetores, a partir de armadilhas montadas no terreno, para controlar os aumentos da densidade populacional. Além disso, qualquer caso de dengue assinalado (a doença é de notificação obrigatória) leva a uma atuação mais musculada e imediata das autoridades de saúde – além do isolamento das pessoas infetadas, pode destacar-se uma equipa para desinfestar um perímetro à volta das suas casas, salvaguardando a existência de mosquitos igualmente infetados.
“Aquilo que nos deixa mais vulneráveis é que a percentagem de assintomáticos pode ser muito elevada, tanto no dengue como noutros vírus, e mesmo os sintomáticos apresentam frequentemente sintomas suaves, que muitas vezes passam por uma gripe, principalmente quando é uma primeira infeção. Isso faz com que muitos casos passem despercebidos”, alerta Carla Sousa.
Comunidade colaborante
No Continente, o primeiro registo do Aedes albopictus foi em 2017, numa empresa de recauchutagem de pneus (objetos em que é habitual estes insetos fazerem a postura dos seus ovos) do concelho de Penafiel, com comércio internacional. Conhecido vulgarmente como mosquito-tigre-asiático, não é tão eficaz na transmissão de vírus como o seu “irmão”, mas deve ser atentamente controlado, até pela sua atual dispersão geográfica no País.
Quando em setembro de 2023 foi detetado em Lisboa, a preocupação aumentou. “As áreas de grande densidade populacional estão muito mais propensas a surtos”, afirma Carla Sousa, igualmente responsável pelo Mosquito Web, projeto de ciência cidadã do IHMT que convida ao envolvimento da população em ações de vigilância de mosquitos invasores.
Ciência cidadã Carla Sousa é uma das responsáveis pelo Mosquito Web, projeto que apela à população para ajudar a encontrar espécies invasoras
Aquela deteção na capital foi feita, precisamente, através do Mosquito Web, que entre 2023 e 2024 recebeu 234 submissões – 39 eram de exemplares de Aedes albopictus encontrados nos distritos de Lisboa, Faro e Beja. Qualquer pessoa pode tirar uma fotografia destas espécies, morfologicamente muito caraterísticas, e enviá-las para os especialistas para identificação.
Carla Sousa insiste na importância da monitorização do vetor, e também da população humana, para reduzir o risco de surtos. “Quanto mais finos forem os nossos dados, mais incisivas podem ser as nossas medidas de prevenção. É como se estivéssemos a olhar para uma paisagem através de uma câmara desfocada: quanto mais ajustarmos a definição e a nossa capacidade de observarmos cada detalhe, melhor é a imagem, ou seja, mais eficientes serão as nossas medidas.”
Ao mesmo tempo, podem avançar medidas de controlo vetorial. Algumas, já estão em curso. No Algarve, por exemplo, o INSA realizou um projeto para controlar o mosquito-tigre-asiático, recorrendo a machos estéreis por irradiação. Posteriormente libertados em zonas-piloto, ao acasalarem com fêmeas selvagens não geraram descendência, levando progressivamente à supressão da população de insetos. “Só é eficaz em zonas muito pequenas”, indica Maria João Alves.
“Há outras técnicas, como a impermeabilização de criadouros, para impedir a propagação deste mosquito… mas ele tem ganho sempre. É por isso que está em todo o mundo”, lamenta. “Nunca vamos conseguir eliminá-lo. Temos é de tê-lo debaixo do olho.” Por isso, antes de esmagar o irritante mosquito que ronda à sua volta, tire-lhe uma fotografia. A Ciência agradece.
Como os podemos controlar
Toda a comunidade pode adotar medidas para eliminar os criadouros, zonas de águas paradas onde os ovos e as larvas de mosquitos crescem
• Colocar no lixo os objetos que sejam para descartar e assegurar que o contentor de lixo fica tapado
• Pneus fora de uso devem ser entregues numa estação de reciclagem ou de resíduos sólidos ou mantidos secos em lugar coberto
• Pratos com vasos de plantas podem ser retirados ou virados ao contrário
• Poços, tanques e outros depósitos de água doméstica recomenda-se que sejam tapados, para impedir a entrada de mosquitos
• Piscinas devem ser tratadas e limpas, ou tapadas/esvaziadas se não estiverem a ser usadas
• Caleiras e calhas é aconselhável que sejam mantidas limpas
• Em tanques ou lagos decorativos, a criação de peixes deve ser considerada, pois estes alimentam-se das larvas de mosquito
• Bebedouros de animais e taças de alimentação podem ser lavadas uma vez por semana