Filipe Fialho e Inácio Ludgero foram os enviados especiais da VISÃO a Timor-Leste há 25 anos, quando o povo foi às urnas para referendar a sua liberdade. Seria o início de um processo menos pacífico do que se gostaria, mas que culminaria com proclamação da independência daquele país em 2002. Releia a reportagem que a VISÃO publicou na época sobre um dia histórico.

As ESG Talks continuam o seu périplo pelo País e, depois de Faro e de Évora, chegam agora a Leiria onde vão debater as estratégias ESG dos setores do Plástico, Moldes e Cerâmica. No dia 19 de setembro junte-se a esta iniciativa que tem o Novo Banco como promotor e que conta com as revistas VISÃO e EXAME como parceiros, e com o apoio da PwC. A partir das 14h30, no Instituto Politécnico de Leiria, subirão ao palco vários painéis de especialistas que, com a ajuda dos jornalistas da EXAME e da VISÃO, vão ajudar a refletir sobre algumas das atividades mais importantes para a economia daquela região. Conheça todo o programa abaixo.

A nova versão do sistema operativo da QNAP para NAS (Network Attached Storage) traz, segundo o comunicado da marca, um conjunto de funcionalidades inovadoras e melhorias significativas, que prometem elevar a fasquia em termos de segurança, desempenho e facilidade de utilização.

Um dos destaques do QTS 5.2 é a introdução do novo Centro de Segurança, uma ferramenta que monitoriza ativamente os ficheiros, detetando comportamentos suspeitos e implementando medidas de proteção em tempo real. Esta funcionalidade reforça a defesa contra ameaças de ransomware, ataques cibernéticos e até mesmo erros humanos, garantindo a integridade dos seus dados.

Desempenho ‘turbinado’ e encriptação avançada

O QTS 5.2 promete, ainda, melhorias significativas no desempenho, graças à tecnologia de aceleração Kernel Mode SMB Daemon, que otimiza a transmissão SMB, especialmente em arquiteturas de armazenamento totalmente flash. Adicionalmente, o suporte para unidades de auto-encriptação (SED) com a especificação TCG-Ruby garante uma camada extra de proteção para os dados, alinhando-se com as necessidades de segurança das modernas e facilitando a conformidade com regulamentos como o Regulamento Geral da Proteção de Dados.

A nova versão do QTS simplifica a gestão do NAS com funcionalidades como o backup e restauro flexíveis das definições do sistema, permitindo selecionar itens específicos para restaurar. A lista de apps instaladas facilita a migração para novos dispositivos, e o arranque e encerramento do NAS estão agora até 30% mais rápidos. O login no domínio AD também foi simplificado, bastando introduzir o nome de utilizador do domínio.

O QTS 5.2 também inclui o utilitário NetBak Replicator para backup completo do sistema, discos, pastas e ficheiros em PCs e servidores Windows.

Para a QNAP, o QTS 5.2 demonstra o compromisso contínuo da marca em fornecer soluções de armazenamento NAS fiáveis, seguras e fáceis de utilizar. As novas funcionalidades e melhorias implementadas nesta versão respondem às necessidades atuais dos utilizadores, oferecendo uma experiência aprimorada e protegendo os dados contra as ameaças crescentes do mundo digital.

A Exame Informática já está a testar o sistema QTS 5.2 num dos mais recentes NAS da QNAP, análise que será publicada nos próximos dias.

Palavras-chave:

Xanana de Gusmão, líder histórico da resistência timorense e da guerrilha, nas montanhas; José Ramos Horta, representante da resistência nos aerópagos internacionais (Prémio Nobel da Paz, com Ximenes Belo, em 1996); D. Ximenes Belo, bispo de Díli, Prémio Nobel da Paz com Ramos Horta.; D. Basílio do Nascimento, bispo de Baucau; Ana Gomes, representante na secção de interesses e, depois, embaixadora em Jacarta; António Guterres, primeiro-ministro de Portugal; Jaime Gama, ministro dos Negócios Estrangeiros; Jorge Sampaio, Presidente da República Portuguesa, e Bill Clinton, presidente dos EUA: estas são as nove figuras principais do processo que levou à independência de Timor-Leste (ou Timor Lorosae) em 2002, que se sucedeu ao referendo de 1999, com 78,5% dos timorenses a votarem pró-independência.

Xanana, na frente interna e, depois de capturado, a partir do cativeiro, em Jacarta, foi, durante anos, o farol que manteve acesa a chama da resistência ao invasor indonésio. Um David a combater Golias, fazendo da palavra e da persuasão internacional – a sua voz foi, na ONU e nas chancelarias, Ramos Horta – uma força que derrubou o exército do maior país islâmico do Mundo. Por falar nisso, a identidade distintiva timorense era representada pelo seu catolicismo, com a liderança de D. Ximenes Belo – uma estrela pop internacioonal – e de D. Basílio, o sacrificado interno, mais discreto e mais próximo do povo simples. Jaime Gama, chefe da diplomacia portuguesa, mantinha longos braços de ferro com o seu homólogo indonésio, Ali Alatas, um diplomata muito hábil e de trato possível, que acabou por ter o fair play necessário para reconhecer a derrota e, até, de uma certa forma, tornar-se “íntimo” de Gama.

Ana Gomes, no terreno, foi a dama de ferro que nunca vacilou. Lutar, na boca do lobo, pela libertação de Xanana e pela liberdade de Timor foi a missão da sua vida, que a fez tornar-se conhecida, e popular, entre todos os portugueses. A António Guterres, que foi o pivô principal nesta vitória da diplomacia portuguesa e do povo de Timor, coube convencer a superpotência global que mais do que a real politik, o que estava em cima da mesa eram os princípios morais. Nas suas memórias, Bill Clinton tem alguns parágrafos elogiosos ao então “jovem primeiro-ministro português”, com quem simpatizou à primeira, quando o conheceu, em Washington. Mas o poderoso aliado indonésio do ditador Jusuf Habibie, que sucedera, no ano anterior, a Suharto, dominava uma zona estratégica de captital importância para os interesses norte-americanos e não deveria ser confrontado pelo Ocidente. Isso mesmo pensava, também a diplomacia da União Europeia cujos líderes séniores (sobretudo, os britânicos), numa cimeira com os países da ASEAN, fizeram tudo para pressionar o estreante e recém eleito primeiro-ministro português para não fazer ondas com a Indonésia. Numa reunião informal, porém, antes das sessões oficiais, Guterres levantou-se e desafiou o seu interlocutor asiático (com quem, recorde-se, Portugal mantinha o grave diferendo sobre Timor e as relações diplomáticas cortadas, desde 1975…), para a abertura de delegações de interesses nos respetivos países. O repto foi aceite, para espanto de todos. Começava ali a desenvolver-se o que seria um desiderato.

Guterres pressiona Clinton

Com os bons auspícios da ONU – e das grandes potências, a começar pelos EUA – as duas diplomacias concordaram em marcar um referendo, para resolver a questão: os timorenses queriam mesmo, ou não, a independência? A consulta foi marcada para 30 de agosto de 1999, mas os indonésios terão concordado com reserva mental: reivindicaram a responsabilidade pela segurança, durante o período, no território, recusando a entrada de forças da ONU. Contavam com a habitual repressão (ou a ameaça dela, pela simples presença dos soldados) para dissuadir a participação dos timorenses, mas não tiveram outro remédio senão aceitar a presença de observadores internacionais, o que tolhia movimentos hostis mais explícitos. Para surpresa de todos, os timorenses perderam o medo e compareceram aos milhares nas filas eleitorais, numa participação na casa dos 90 por cento. Os esbirros de Habibie levaram as mãos à cabeça: era evidente que tinham perdido.

Os dias e as semanas que se seguiram foram de puro terror. Milícias pró-indonésias, fortemente armadas, com a complacência e, por vezes, apoio ativo, do exército indonésio, percorram cidades e vilarejos do território a matar indiscriminadamente e a incendiar casas, bairros e aldeias inteiras. As igrejas eram o único refúgio onde hesitavam em atacar mas, no final, nem os templos foram respeitados. Os jornalistas internacionais, quase todos, tiveram de abandonar o território, ali permanecendo um punhado deles, por sua conta e risco.

Portugal pressionava o único poder que podia parar com aquilo, ou seja, Washington. A administração Clinton hesitava: poderiam os EUA correr o risco de alienar um parceiro estratégico, tão poderoso, no sudeste asiático, por causa de um pqueno território perdido no mapa? Ou só para agradar a um aliado europeu garantido? Guterres não desarmava e ameaçava rever a participação portuguesa em missões da NATO, nomeadamente, retirando as nossas tropas no Kosovo. Não pela importância das missões do exército português, que a NATO podia facilmente substituir, mas pela atitude simbólica: o fiel aliado ibérico estava zangado e estava mesmo a falar a sério.

Sampaio dá uma ajuda

O Presidente Jorge Sampaio entrava em ação. Em consonância total com a estratégia de agressividade diplomática, e exercendo as suas prerrogativas no domínio da política externa, Sampaio convoca o embaixador dos EUA em Lisboa, Gerald McGowan, às cinco da manhã do dia 6 de setembro de 1999, para o Palácio de Belém. Já quando da entrega do Prémio no Nobel da Paz a D. Ximenes Belo e José Ramos Horta, em Oslo, Sampaio propusera ao pivô da CNN Jonathan Mann a sua participação num debate de mais de uma hora sobre a situação de Timor-Leste. Enfrentando em direto o embaixador da Indonésia junto das Nações Unidas, Nugroho Wisnumurtio, que intervinha a partir de Nova Iorque, o Presidente português foi motivo de orgulho de todos os seus concidadãos, esmagando, num Inglês perfeito, e com sólida argumentação diplomática, jurídica e humanitária, um a um, todos os argumentos da Indonésia. Nessa intervenção, Sampaio terá feito mais por Timor do que décadas de diplomacia. O público presente em Oslo, que assistia ao debate ao vivo e em direto, aplaudia o dirigente português. E o próprio Sampaio confessaria ao seu biógrafo, o jornalista José Pedro Castanheira, ter sido esse “um dos momentos mais altos” da sua vida política.

O papel dos portugueses

Mas o golpe de misericórdia nas ambições indonésias não foi desferido nem por Xanana, nem por Guterres, nem por Sampaio: o papel principal estava reservado ao povo português. Na sequência de frenéticos telefonemas para o amigo Clinton, Guterres terminou uma chamada crucial para a Casa Branca com uma inspiração do momento: “Senhor presidente, ligue a CNN e veja o que se está a passar em Lisboa!” Um gigantesco cordão humano, que cobria a capital e outras cidades portuguesas, com a população vestida de branco, provava a Clinton que a causa não era uma birra do Governo português, na sua “medição de testosterona” com os indonésios: isto era diferente. Isto era uma nação inteira, histórica e genericamente pró-americana, que se unia em volta do seu Governo e reclamava o respeito pelos direitos humanos e pela lei internacional. Intuitivo e rápido, Bill Clinton percebeu que tinha mais a perder se nada fizesse. No quadro do final da Guerra Fria, não se punha, sequer, a hipótese de que Timor-Leste caísse na órbita de um qualquer hipotético rival geoestratégico. E, assim como assim, desde a remoção de Suharto, um duro, os americanos já começado a patrocinar uma mudança de regime na Indonésia. Naquela manhã de 9 de setembro, o homem mais poderoso do mundo foi muito claro, interrompendo a agenda para ler, em direto, uma carta enviada ao seu homólogo indonésio: “A Indonésia deve aceitar a ajuda internacional em Timor-Leste”. Era la pièce de resitence: horas depois, tropas australianas sob bandeira da ONU intervinham em Timor, substituindo o exército indonésio nas operações de segurança. Três anos depois, a independência formal.

O edifício da Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna, na rua de São Mamede, em Lisboa, foi assaltado durante a madrugada desta quarta-feira. Houve gabinetes remexidos e material informático furtado, incluindo oito computadores, um deles da secretária-geral adjunta e outro do responsável pela Informática. Mas quais podem ser as consequências deste inusitado assalto?

Risco para a segurança nacional

O Ministério da Administração Interna (MAI) emitiu um comunicado no qual esclarece que alguns dos computadores levados eram aparelhos de substituição, pelo que se depreende que não teriam (em princípio) informação relevante lá guardada. Contudo, o caso pode não ser tão simples se se pensar que o computador da secretária-geral adjunta está entre os que foram levados.

Uma fonte ligada às questões de segurança explica à VISÃO que em causa pode estar “informação sobre instalações policiais e os seus conteúdos”, incluindo dados sobre onde as forças de segurança guardam explosivos, armamento, droga e outros materiais apreendidos, mas também dados sensíveis sobre “concursos públicos, projetos europeus e informação sobre investigação e desenvolvimento em forças de segurança”.

A mesma fonte explica que há mecanismos que permitem bloquear à distância informação sensível que conste de aparelhos roubados. No entanto, o tempo que demorou até a segurança do MAI perceber que o edifício tinha sido assaltado e o atraso na comunicação da PSP com outros elementos de segurança pode ter contribuído para que dados sensíveis contidos nos computadores possam ter ido parar às mãos erradas.

Falhas na comunicação com o SIS e a PJ

A VISÃO sabe que, na quinta-feira ao final da tarde, a informação sobre o assalto ainda não tinha sido formalmente comunicada nem à Polícia Judiciária nem ao  Sistema de Informações e Segurança (SIS) pela PSP. O CEGER (Centro de Gestão da Rede Informática do Governo) também não terá sido imediatamente acionado.

O facto de a PJ não ter sido imediatamente alertada para esta situação é ainda mais crítico uma vez que, ao que a VISÃO apurou, três semanas antes do furto tinha havido buscas no edifício da Secretaria-Geral do MAI, tendo sido apreendido na altura material informático.

Erros na segurança do edifício

O agente da PSP que estava ao serviço durante a madrugada de quarta-feira não se terá apercebido logo do assalto que aconteceu. Os assaltantes terão entrado, através de andaimes colocados numa obra num prédio ao lado da Secretaria-Geral do MAI, por volta das 5h da manhã, mas só perto das 10h é que a segurança se apercebeu dos sinais de assalto nos gabinetes.

O facto de a colocação de andaimes não ter levado a uma reavaliação do esquema de segurança do edifício é problemático e pode fazer a questionar a atuação do secretário-geral do MAI e do oficial de segurança da PSP no MAI.

A proximidade dos andaimes, diz à VISÃO uma fonte do setor, devia ter levado a “uma avaliação de segurança do edifício” por parte da Divisão de Segurança da PSP.

Mais: não há registos que possam ajudar à investigação, porque as câmaras de videovigilância do edifício não estavam a funcionar.

Problemas de comunicação

Contactado pela VISÃO, o gabinete da ministra Margarida Blasco não deu qualquer esclarecimento, remetendo toda a informação para o comunicado que dá conta do assalto.

De resto, a mesma fonte explicou que a ministra está a recusar pedidos de entrevista a todos os órgãos que o solicitaram. No entanto, há nos bastidores quem critique o facto de o comunicado ter sido emitido pelo gabinete de Blasco e não pelo do secretário-geral. Um pormenor que podia ser importante para centrar aí as responsabilidades políticas.

Consequências políticas?

A ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, é hoje um dos elos mais fracos do elenco governativo.

Foi desautorizada pelo ministro da Defesa, Nuno Melo, quando depois de o ter defendido numa posição sobre o serviço militar obrigatório para jovens delinquentes, garantindo tratar-se de declarações feitas em nome do Governo, Melo recuou e sublinhou não haver uma posição do Executivo sobre o tema.

Foi posta em causa quando, nas vésperas do final da negociação com os sindicatos das forças de segurança sobre aumentos de suplementos remuneratórios, Luís Montenegro veio a público dizer que não havia “nem mais um cêntimo” para dar a polícias de guardas prisionais.

E não apareceu ao lado do ministro dos Negócios Estrangeiros, quando Paulo Rangel substituía Luís Montenegro ausente de Portugal em férias, no dia do sismo que levou Governo e Presidência a fazer comunicações ao país.

Nos bastidores do Governo, diz-se que a relação entre Margarida Blasco e Paulo Rangel é tensa e que já levou a várias conversas desagradáveis entre ambos, incluindo durante a escolha dos secretários de Estado.

Várias fontes dizem à VISÃO que a ministra, que é juíza conselheira jubilada e voltou ao ativo para entrar no Governo, se sente desgastada e já admitiu em privado a possibilidade de se demitir.

Se ficar, Blasco pode optar por demitir o secretário-geral do MAI, na sequência das falhas deste processo. Mas, para já, do MAI a única informação que vem é a de que “o caso está sob investigação”.

A 30 de agosto de 1999, 78,5% dos timorenses que votaram no referendo escolheram a independência do país e consequentemente o fim da ocupação da Indonésia, que invadiu Timor-Leste em 7 de dezembro de 1975. Os dias que se seguiram foram considerados os primeiros passos para a liberdade.

Recorde algumas das imagens captadas pelo fotojornalista Inácio Ludgero que, então ao serviço da VISÃO, eternizou um dos momentos mais marcantes da História do século XX. Vinte e cinco anos depois, revisitamos as imagens que marcam o início de uma nova era.

Com o resultado deste referendo, a Indonésia abandonaria Timor-Leste, com as milícias pró-indonésias a deixarem um rasto de horror e violência nos dias subsequentes. A autoridade de transição das Nações Unidas assumiu então o controlo da situação, gerindo o país até à restauração da independência de Timor, em 20 de maio de 2002.

A banda Oasis foi homenageada com um mural em Whitefield, perto de Heaton Park, uma das paragens dos artistas na sua digressão marcada para o próximo ano, “Oasis Live ’25 Tour”. O Graffiti é da autoria de Snow Graffiti Scott e recria uma recente fotografia dos irmãos, divulgada esta semana para anunciar o seu regresso.

Nesta terça-feira, dia 27 de agosto, Noel e Liam Gallagher anunciaram o regresso do grupo musical Oasis através de uma digressão mundial em 2025. O grupo de “britpop”, conhecida pelos grandes êxitos “Wonderwall”,”Live Forever” e “Don’t Look Back in Anger”, tinha-se separado há quase 15 anos, em 2009, alegadamente, devido a uma rivalidade entre os irmãos.

A resposta do público foi tão grande que a banda decidiu alargar o número de espetáculos com datas extra nas cidades de Manchester, Londres e Edimburgo. De acordo com o site da banda, “estão em curso preparativos para levar o ‘Oasis Live ’25’ a outros continentes no final do próximo ano”. O grupo já passou por Portugal, com atuações em 2000 – na Praça Sony, em Lisboa – em 2005 – no festival Sudoeste – e em 2009, no então conhecido Pavilhão Atlântico.

Através das redes sociais, o artista Snow Graffiti Scott, partilhou o processo de construção do mural.

Este não é, contudo, o único mural de homenagem aos artistas. Também em Manchester, perto da famosa loja de discos Sifters Record, foi pintada uma fotografia antiga dos músicos pelo artista Pic.One.Art.

Ricardo Alves tinha sete anos quando os pais fundaram a Riberalves. Na infância, viu de perto como eles lidavam com as contrariedades e também com as conquistas nos negócios, primeiramente na Garrafeira do Oeste e, depois, naquela que se viria a transformar numa das referências da indústria alimentar nacional. Entrou para a empresa aos 24 anos, numa fase em que João e Manuela Alves fechavam a compra das instalações na Moita, que permitiu aumentar a escala da Riberalves e lançar as bases para um crescimento sustentado ao longo dos últimos anos. Agora, aos 46 anos, o mais velho de dois irmãos está ao leme do navio-almirante do grupo, após um plano de sucessão feito de forma pensada e atempada. O objetivo é manter o legado construído pelos pais – continuando a envolvê-los no dia a dia da Riberalves –, consolidar mercados e nunca deixar de ser criativo para lançar novos produtos e reinventar as maneiras de levar o bacalhau ao prato de mais consumidores, dentro e fora de portas.

Em conversa com a EXAME, Ricardo Alves revelou como o grupo preparou a sucessão e o compromisso para manter a Riberalves no seio da família. Estes planos nem sempre são fáceis, como muitos casos empresariais e algumas séries televisivas bem demonstraram. Mas o gestor garante que na empresa familiar – que tem também atividade na área do enoturismo, vinho e imobiliário – o processo foi calmo e suave: “Os meus pais têm 80% das ações de grupo e eu e o meu irmão temos 10% cada. O meu pai está com 73 anos e a minha mãe com 67 e continuam ativos, o que é ótimo, mas há três anos chegou-se à conclusão de que era a altura de organizar a sucessão.” Para delinear o plano, a Riberalves recorreu a apoio externo. Foi contratada uma sociedade de advogados e ouviram-se as opiniões e experiências de responsáveis de outros grupos familiares. Uma das conclusões, e que Ricardo Alves deixa como conselho para outras empresas com cariz semelhante, é que “o fundador que queira assegurar um processo de transição que o faça em vida, criando um protocolo familiar com regras claras e óbvias, para que toda a gente esteja alinhada”.

O meu pai está com 73 anos e a minha mãe com 67 e continuam ativos, o que é ótimo, mas há três anos chegou-se à conclusão de que era a altura de organizar a sucessão

ricardo alves

Na Riberalves, o processo de aconselhamento externo, de receber contributos de fora e de dentro da família e de definir um plano concreto durou cerca de seis meses. Isso culminou com um protocolo familiar e um plano de sucessão para a segunda geração. “Foi algo fácil e simples, porque estávamos bastante alinhados”, revela Ricardo Alves. Explica que foram criadas regras concretas e definida uma organização societária. O gestor ficou responsável pela parte mais core do grupo, administrando todos os negócios relacionados com o bacalhau, enquanto o irmão, Bernardo, passou a gerir a parte dos vinhos e de imobiliário.

Além disso, delinearam-se também regras de controlo das tomadas de decisão e criou-se um novo Conselho de Administração. O patriarca da família, João Alves, é o chairman e há reuniões a cada três semanas. O resto do board é composto por Manuela Alves, Ricardo, Bernardo e dois elementos externos à família, independentes que ajudam a dar uma visão mais de fora sobre a empresa e como superar os desafios para o negócio. “Recomendo a todas as empresas de cariz familiar que se rodeiem de pessoas muito boas, porque é fundamental ouvir um não e opiniões contrárias”, diz o administrador da Riberalves.

Mares revoltos

O plano de sucessão foi concebido e concretizado de forma suave. Mas o mesmo não se pode dizer sobre a envolvente geopolítica e económica que obrigou a empresa a navegar em águas mais turbulentas no último ano. A guerra lançada pela Rússia à Ucrânia, o aumento dos custos de produção e a subida das taxas de juro têm sido obstáculos a exigir cautela na navegação da empresa. Ainda assim, e apesar do aumento dos preços da matéria-prima, a Riberalves conseguiu manter o crescimento das vendas. Cresceram quase 7%, no ano passado, para €199 milhões, um valor recorde e que constitui um crescimento sólido face aos €150 milhões registados há cinco anos. “Tivemos um crescimento interessante no bacalhau ultracongelado e o objetivo para este ano é crescer, mas já vendemos cerca de 15 mil toneladas de bacalhau demolhado, e crescer dois dígitos não é fácil.”

Tivemos um crescimento interessante no bacalhau ultracongelado e o objetivo para este ano é crescer, mas já vendemos cerca de 15 mil toneladas de bacalhau demolhado, e crescer dois dígitos não é fácil

ricardo alves

Apesar deste crescimento, os ventos contrários do contexto geopolítico e económico deverão levar a que o resultado líquido seja inferior aos €9 milhões obtidos em 2022. “Não conseguimos passar o aumento do custo da matéria-prima para o consumidor e os fatores de produção, como a energia e o custo do dinheiro, estão a impactar bastante”, refere Ricardo Alves. O administrador da empresa sublinha ainda as dificuldades causadas pelo que considera ser uma situação de concorrência desleal. Os países com maior quota de pesca de bacalhau são a Noruega, a Rússia e a Islândia. Como resposta à guerra lançada por Putin contra a Ucrânia, a UE colocou um imposto de 12% sobre a importação de peixe russo. “Não discordo. O que discordo é que, se esse mesmo peixe for transformado fora da UE – neste caso na Noruega, que é um concorrente nosso – e vier para Portugal, paga 0% de imposto. É incompreensível e uma concorrência completamente desleal, trazendo-nos dificuldades em termos de gestão de mercado, porque 12% é muito dinheiro. Podíamos ser mais rigorosos nisso”, salienta o responsável da Riberalves.

Também o aumento rápido das taxas de juro trouxe desafios. “O nosso negócio tem características específicas, já que grande parte da pesca do bacalhau ocorre nos primeiros três a quatro meses do ano. É nessa altura que a Riberalves compra cerca de 80% do bacalhau do ano”, explica Ricardo Alves. O ciclo do dinheiro na empresa exige uma gestão cuidada e também o recurso a financiamento. “Temos um cash cycle desde que compramos a matéria-prima até que a processamos e a vendemos, de seis meses em média”, explica Ricardo Alves. Assim, indica, “é fundamental trabalhar com a banca, já que durante os primeiros quatro meses do ano construímos stocks de cerca de €120 a €130 milhões”. Com os juros a escalarem 4,5 pontos percentuais, entre julho de 2022 e setembro de 2023, o custo dos financiamentos aumentou, o que levou a um exercício menos rentável.

Outra das consequências do contexto geopolítico tenso foi o aumento da fatura com a energia, que representa 14% no total de custos das empresas. Mas a Riberalves pôs em marcha um plano para atenuar esse impacto, acelerando uma transformação que estava já a ser pensada. A crise energética “acelerou bastante o processo”, reconhece Ricardo Alves. O responsável da Riberalves revela que foram investidos cerca de €3 milhões em painéis fotovoltaicos e na otimização do processo produtivo, nomeadamente na parte da ultracongelação. “Isso vai permitir uma redução do consumo energético em cerca de 30% a 35% no final deste ano”, prevê.

A reinvenção do bacalhau

Mesmo trabalhando com um produto bastante tradicional, a empresa tem conseguido inovar para continuar a expandir-se. O grande exemplo disso foi quando João António Alves decidiu, em 2000, apostar no bacalhau ultracongelado, demolhado e pronto a cozinhar. “Foi aí que se deu o primeiro passo para garantir que o consumo do bacalhau se manterá nas próximas gerações”, destaca Ricardo Alves. Considera que “se não fosse esta evolução, o consumo de bacalhau seria muito inferior ao que é hoje, já que comprá-lo seco, demolhá-lo e esperar três dias para fazer uma refeição é muito pouco apelativo”. A decisão feita há mais de duas décadas foi a chave para o crescimento sustentado da empresa e também para alavancar a rentabilidade. “O bacalhau seco é uma commodity e estas tendem a ter margens muito baixas, não havendo marca nem fator diferenciador. Com o bacalhau demolhado ultracongelado temos de trabalhar e investir na nossa marca. É um negócio mais rentável do que o bacalhau seco, mas também tem as suas dificuldades. Requer muito mais investimento, mais know-how, mais mão de obra e mais tecnologia”, destaca Ricardo Alves. Na Riberalves, 70% do volume de vendas são de bacalhau demolhado ultracongelado. A Riberalves teve, em média, 531 funcionários em 2023, mais 58 do que há cinco anos.

O bacalhau seco é uma commodity e estas tendem a ter margens muito baixas, não havendo marca nem fator diferenciador. Com o bacalhau demolhado ultracongelado temos de trabalhar e investir na nossa marca. É um negócio mais rentável do que o bacalhau seco, mas também tem as suas dificuldades. Requer muito mais investimento, mais know-how, mais mão de obra e mais tecnologia

ricardo alves

Lançar a rede ao bacalhau pronto a cozinhar possibilitou também à empresa internacionalizar-se, vendendo para mais de 20 mercados e totalizando €58 milhões de exportações no ano passado, o equivalente a 29% das vendas totais. Ainda assim, “Portugal será sempre o líder e o maior consumidor de bacalhau”, refere Ricardo Alves. Ou não fosse o nosso país o campeão no consumo deste peixe rico em proteínas, absorvendo 35% de todo o bacalhau pescado na Noruega. Mas isso não impede que a Riberalves se queira continuar a afirmar noutros mercados. A aposta, explica o administrador da empresa, passa por países que tenham comunidades portuguesas ou tradição em produtos salgados com características semelhantes, como o Brasil, as Caraíbas, o México e o Centro da Europa.

A aposta no bacalhau demolhado ultracongelado permitiu à empresa de Torres Vedras ganhar escala e Ricardo Alves quer manter o ADN inovador e de adaptabilidade ao mercado. Foram feitos lançamentos na área das refeições prontas, mas o objetivo é oferecer um produto com características que ajudem a captar mais clientes. “Vamos apostar forte no bacalhau sem espinha”, aponta o administrador da empresa. Esse passo já foi iniciado, mas a ideia é intensificá-lo. “Em nenhuma parte do mundo – tirando Portugal, Brasil e mais alguns países – se consome peixe com espinha. É algo muito residual”, detalha. O desafio passa por “juntamente com os parceiros na origem, tanto na Noruega como na Islândia, encontrar um produto que se adeque tanto em qualidade como em preço ao mercado português”. Além disso, salienta, “se queremos crescer lá fora, é fundamental termos bacalhau que se adeque a esse problema, porque para quem não tem tanto a cultura do peixe e não está habituado – como nos EUA, Reino Unido, Alemanha e outros países do Centro da Europa – é impossível encontrar uma espinha”.

Nas últimas duas décadas, a tecnologia evoluiu bastante e a Riberalves soube utilizá-la para passar de um processo praticamente manual para uma linha industrial eficiente, com grande capacidade de processamento e de adaptação às necessidades de clientes ou mesmo de outras marcas. O objetivo de Ricardo Alves para os próximos dez anos é “ter uma empresa integrada o mais próximo possível desde a matéria-prima até ao consumidor final, um caminho que já está a ser feito”.

A Riberalves entrou na sua segunda geração e, apesar de o próximo capítulo de liderança na empresa ainda estar distante, Ricardo Alves nota que, embora não esteja escrita a sucessão após a segunda geração, é fundamental criá-la. O gestor tem três filhos e o irmão Bernardo dois, mas o responsável pelo negócio do bacalhau afirma que não há pressões para os direcionar para uma carreira na empresa. “As próximas pessoas não terão de ser necessariamente da família”, indica o responsável da Riberalves, revelando que na recente reorganização da empresa chegou a ser posta a hipótese de contratar alguém de fora para assumir as rédeas do negócio, algo que acabaria por não avançar: “Sentimo-nos confortáveis com a solução de eu ficar à frente do negócio do bacalhau e o Bernardo mais a gerir a parte do vinho e do real estate”. No entanto, há um objetivo que foi cumprido com o recente plano e que Ricardo quer assegurar no futuro: “Queremos manter a empresa portuguesa e no seio da família”.