Desde quando é que a lei é igual para todos? No caso da União Europeia, nunca houve grandes dúvidas na resposta. França e Alemanha, os dois países fundadores e donos das duas maiores economias do Velho Continente, sempre ajustaram as normas aos seus interesses, nem que fosse com delicados números de equilibrismo para salvaguardar o  (mínimo) bem estar e a dignidade dos estados-membros mais pequenos. 
Só que o famoso eixo Paris-Berlim, o inquestionável motor do projeto europeu, dá agora mostras de uma inquietante fragilidade, travestida de uma despudorada arrogância que resulta da delicada situação financeira e política em que os respectivos governos se encontram. Não é a livre circulação de pessoas e bens um dos direitos fundamentais consagrados nos tratados da UE? O Espaço Schengen não é uma das pedras angulares da cidadania no clube comunitário, constituindo a maior área sem controlos fronteiriços do planeta?  
Assim sendo, como é possível que a Alemanha tenha discreta e impunemente colocado, a 16 de setembro, dezenas de milhar de polícias a verificar passaportes e a vigiar as zonas raianas com os nove países que a circundam? Não se tratou de um simples capricho do chanceler Olaf Schölz e muito menos de um mero assomo de nacionalpopulismo do líder social-democrata que bate recordes de impopularidade e pretende manter esta medida em vigor até 15 de março de 2025. Depois do ataque reinvindicado pelos terroristas do Estado Islâmico e protagonizado por um sírio, a 26 de agosto, em Solingen, que fez três mortos e oito feridos, o Executivo federal adotou medidas radicais e de emergência: expulsou 28 afegãos, reduziu as prestações sociais às famílias de refugiados, prometeu reduzir as entradas clandestinas de estrangeiros (um quarto dos pedidos de asilo na UE concentram-se em território germânico), acelerou os procedimentos administrativos para a legalização ou expulsão de imigrantes (máximo de cinco semanas) e a ministra do Interior, Nancy Faeser, afiançou que “nenhum estado do mundo pode acolher pessoas de forma ilimitada”

Este artigo é exclusivo para assinantes. Clique aqui para continuar a ler”

Palavras-chave:

O novo filme de Miguel Gomes, Grand Tour, chega nesta quinta-feira, 19, às salas de cinema portuguesas transportando já uma aura especial. Foi com ele que o cineasta ganhou o prémio de melhor realização no mais prestigiado festival de cinema do mundo, Cannes. Recentemente, soube-se que foi o escolhido como candidato português a uma nomeação para o Oscar, na categoria de melhor filme internacional e os seus direitos de exibição já foram vendidos para mais de 60 países.

Dizer que Grand Tour conta a história de Edward (Gonçalo Waddington), funcionário do império britânico na Ásia, em 1918, que decide escapar, de forma impulsiva e sem destino, ao casamento iminente com Molly (Crista Alfaiate), acabada de chegar àquelas paragens orientais, pode sintetizar a narrativa do filme, mas diz muito pouco sobre ele. Esta coprodução internacional resultou de filmagens em vários países asiáticos e também em estúdio (em Roma e Lisboa): “Dois polos opostos no registo para cinema”, sublinha o realizador. O resultado final mostra como Miguel Gomes é hoje um cineasta singular e absolutamente livre.

O filme tem cenas filmadas em estúdio, à antiga, e outras registadas numa viagem por vários países asiáticos, misturadas… Foi tudo muito planeado ou a montagem final é fruto de uma grande liberdade criativa?

O trabalho de estúdio foi mesmo old school, passava muito pela construção de cenários; hoje, filma-se muito nos estúdios já a pensar no digital. Aqui, a ideia era mesmo entrar numa espécie de mundo paralelo do cinema, onde é preciso inventar tudo, a começar pela luz. No fundo, estamos entre quatro paredes. E, sim, a ideia era juntar, neste filme, dois polos opostos no registo para cinema: a captação do real e a construção de um mundo artificial.

De início, durante a rodagem nesses dois polos, já era muito clara a ideia dos modos e tempos em que as imagens iam entrar no resultado final?

Havia a decisão de que teríamos que começar por filmar o real. E iríamos reagir a ele… No fundo, estávamos a colecionar uma série de momentos que filmámos pela Ásia fora: paisagens, rituais, ações… Chegados a Lisboa começámos a montar e, então sim, a escrever o argumento do filme, reagindo a sequências que já tínhamos filmado no Myanmar ou na Tailândia. O desafio era, também, cruzar dois tempos, o do mundo contemporâneo e o dos atores em estúdio, numa história passada numa certa época, em 1918, sem perder os personagens de vista. A narração em off ajuda a essa continuidade. Por outro lado, também queria respeitar a descontinuidade natural que existe ao fazermos este tipo de escolha. Agrada-me a ideia de que as pessoas estão a ver não um filme mas dois filmes ao mesmo tempo. Quis inventar um tempo de cinema único, a partir de mundos e tempos históricos diferentes.

Nessa viagem pela Ásia partiam, então, de uma espécie de gozo um bocado selvagem de filmar livremente, de fazer cinema sem obedecer a um guião…

É o que nós chamamos “caçar borboletas”.

No comité central.

Sim. E qual é o critério aí? Coisas que nos deem prazer filmar. Podem ser divertidas, bonitas, comoventes… O mundo é incrível. O “comité central”, e já o apresento assim desde o Tabu [de 2012], é um grupo de pessoas composto pelos argumentistas [além de Miguel, Mariana Ricardo, Telmo Churro e Maureen Fazendeiro]. Há sempre momentos em que aquilo que vamos filmar não corresponde ao argumento que tínhamos escrito. Muitas vezes, isso acontece por falta de dinheiro para filmarmos o que queríamos… Nessas alturas, não paramos para reescrever, mas reformulamos o filme.

Uma espécie de fuga em frente…

Acho que é uma maneira muito prática de fazer cinema. Filmo uma cena num dia, e no dia seguinte acho que aquilo faz mais sentido de outra maneira… É bom não estar sozinho a pensar nestas coisas e ter um comité central.

A viagem do comité central pela Ásia foi feita de seguida ou com regressos a Portugal pelo meio?

Foi feita já há quatro anos, durante cinco semanas, no início do ano da pandemia, 2020. Na parte final fomos de Myanmar para o Japão e estávamos em Osaka, prontos para apanhar um ferry para a China, precisamente para perto de Wuhan… Estávamos no início da pandemia, em fevereiro, e foi tudo suspenso. Regressámos a Lisboa, esperando voltar ali rapidamente, o que não aconteceu… Só em 2022 filmámos a parte da China, mas não nos deram autorização para entrar, porque tinham a política de Covid zero. Perdi a paciência e decidi avançar à distância, contando com o produtor chinês e tendo uma equipa 100% chinesa. Fiquei numa casa ao pé do Areeiro, com o assistente de realização, uma das argumentistas e a Filipa [Reis], da produção. Tínhamos uma série de monitores, com a imagem da câmara na China, outro ligado ao telefone do assistente de realização chinês… E por causa da diferença horária trabalhávamos ali, remotamente, entre a meia-noite e as oito da manhã. Surpreendentemente, o método acabou por funcionar… Foi a rodagem mais surrealista da minha vida.

[Excerto da entrevista a Miguel Gomes publicada na VISÃO Se7e desta semana]

Em Grand Tour convivem imagens contemporâneas registadas em vários países asiáticos com a artificialidade dos estúdios, onde Miguel Gomes evocou, e experimentou, outros tempos da história do cinema 

Palavras-chave:

Podia dizer-se que enche a sala com o seu tamanho – com 1,92 metros, é difícil passar despercebido –, mas é a descontração e o sorriso de Cristiano van Zeller que tornam os espaços acolhedores. Marcámos encontro com o responsável da Van Zellers & Co no restaurante Rocco, em Lisboa, e foi à mesa que nos perdemos numa conversa sobre a sua vida dedicada à terra, as memórias e alguma futurologia em redor de Portugal, dos vinhos nacionais e da região do Douro. Porque Cristiano é um homem de família – algo que sempre afirmou publicamente –, aproveitou a deslocação a Lisboa para se encontrar com a filha, Francisca, e com o irmão mais novo, Pedro, que nos acompanharam numa refeição recheada de histórias. E de vinhos produzidos pela família – o mais antigo data de 1888 e mais não dizemos. O serviço de pairing, conduzido com mestria por David Rosa, conseguiu pôr-nos a beber o mesmo branco entre a entrada (tártaro de novilho) e o prato principal (massa com trufas e cogumelos) – a diferença de temperatura operou magia no vinho –, e seguimos com uma referência tinta para o lombo com foie gras. Ainda tentámos escapar à sobremesa, mas os olhos de Cristiano brilhavam tanto quando pediu o tiramisu – acompanhado com vinhos do Porto da Van Zellers & Co de 1860, 1870 e 1888 – que tivemos de nos render.

Cristiano van Zeller, que entretanto aceitou o desafio de ser fotografado na icónica garrafeira do restaurante, tem no portefólio passagens pela Quinta do Noval, Vallado, Quinta do Crasto, Quinta Vale D. Maria e, claro, é um dos rostos do Douro Boys – o movimento que desde os anos 1990 junta produtores com o objetivo de mostrar o potencial do vinho da região. Desde 2021, dedica-se em exclusivo à empresa da família, a Van Zellers & Co. A companhia conheceu uma nova vida depois de, em 2007, Cristiano a ter recebido de um primo como presente de Natal.

Comecemos pelo início: quatro décadas depois, como mantém a saúde em forma e o ânimo pelo que faz? 
Não sei. Nunca pensei nisso. Nunca fumei, sempre fiz desporto – até há dois meses continuava a jogar râguebi [risos] – e sempre bebi pouco. Isso deve ajudar.

Gosta mais de comer ou de beber? 
De comer. E não bebo sem comer. E só bebo vinho – não bebo destilados, a não ser a aguardente vínica que está no vinho do Porto. Mas, geralmente, só bebo socialmente. Gosto muito de provar vinho, mas não sou um grande consumidor. Posso passar dois meses sem beber vinho. E como tenho de provar praticamente todos os dias…

Atualmente, dois dos seus filhos, a Francisca e o João, trabalham consigo. Era algo por que esperava?
Não. Só se eles quisessem, mas nunca fiz questão nenhuma. Se a nossa história no vinho acabasse comigo, acabava.

É complexo trabalhar com eles? Como se faz a gestão dessa relação?
Não é complexo. Eu sinto uma mistura de várias coisas: um gozo imenso, realização, uma responsabilidade muito grande e um descanso. Tento separar um bocadinho essas coisas todas do facto de ser pai deles. Não é fácil conciliar, mas tento.

Francisca van Zeller:
E compartimentamos: de dia trabalhamos juntos, e depois à noite conversamos como família, sobre como correu o trabalho [risos]

A sua família está envolvida no negócio do vinho há cerca de quatro séculos. Mas não foi óbvio para si que ia trabalhar na área…
Nunca pensei em vinho. O Douro era o sítio das férias, não era mais do que isso. Sempre gostei de pensar em engenharia, era mesmo o que eu queria seguir. Estudei engenharia em Espanha e depois, quando voltei para Portugal devido à morte do meu pai, em 1979, continuei a estudar aqui. Nunca terminei o curso – faltou-me um semestre. Mas era o que eu gostava.

E depois, com pouco mais de 20 anos, estava à frente da Quinta do Noval…
Comecei por trabalhar em part-time na Quinta do Noval, em 1981. A propriedade era da família, e tínhamos uma participação que representava um rendimento importante – a minha mãe trabalhava, mas isso não chegava. E achámos que devíamos estar presentes. Entre 1982 e 1983, há várias divergências na família, entre os meus tios e, depois da morte repentina da minha avó, eu acabei por ficar à frente da Quinta. Não tive outra hipótese que não learn on the job [aprender fazendo]. Tinha 24 anos, num setor em que eram só velhos.

Fala-se muito das alterações profundas que o setor sofreu ao longo dos últimos anos. Como olha para ele hoje, comparando com o que conheceu no início dos anos 1980?
Quando eu fiquei à frente do Noval havia um grupo de apenas 21 empresas de vinho do Porto. Acho que a diversidade que existe hoje é um ativo e não um passivo. A riqueza do mundo do vinho é essa diversidade e a capacidade de inventar coisas novas. É o que transforma o negócio num mundo excitante, entusiasmante, de concorrência perfeita no seu máximo esplendor. Temos de estar permanentemente atentos às mudanças e às tendências.

Um homem do Douro Aos 6 anos, já carregava cestos de uva, e até há dois meses jogava râguebi regularmente com os amigos, desporto que praticou desde a juventude. Acima, com os Douro Boys, movimento criado nos anos 1990. Ao lado, num encontro com o então Príncipe Carlos, e ainda um retrato de família com a esposa, Joana, e os três filhos: Francisca, Cristiano e João.

Falando de tendências, elas mudam cada vez mais depressa… como se faz esse acompanhamento?
A mudança de tendências, hoje em dia, é muito acelerada e isso obriga a estar permanentemente atento e a ir gerindo na medida das possibilidades. Não há outra forma. Porque o vinho tem um tempo próprio. Eu hoje tenho de estar a pensar a 5 ou a 6 anos. Algumas tendências nem o chegam a ser, porque podem mudar muito rápido, mas a natureza é o que é…

Há alguma que consiga identificar e à qual esteja a tentar responder?
Há uma tendência global de redução de consumo – e também uma alteração desse consumo, o que está a penalizar sobretudo algumas regiões.

Como o vinho do Porto?
Sim, no vinho do Porto sente-se bastante isso. Terá que ver com questões geracionais, também. Mas acredito que há uma linha de perenidade daquilo que são os vinhos de referência e qualidade. Isto significa que os volumes podem aumentar ou diminuir, mas que há nichos de mercado que se mantêm ao longo da vida e da História. É o que acontece, aliás, com os produtos de luxo em geral.

É por isso que colocou os vinhos da Van Zellers & Co num patamar mais elevado?
Sim. É aí que queremos estar. E creio que o setor já percebeu que a tendência está a ocorrer, mais ainda demora. A questão do posicionamento já estará inculcada na maior parte das empresas, mas para vender vinhos do Porto mais caros é necessário que sejam os que têm mais idade. E não se pode vender só esses. É preciso não deixar de vender também os vinhos mais novos e mais baratos.

Até porque isso ajuda a conquistar novos consumidores, não?
Sim. E é um processo.

Nunca, como este ano, se falou tanto da crise no setor vitivinícola, ainda que ela não seja de agora. O que falhou?
O que falhou? Controlo na utilização dos vinhos que entram no País. Não devia ser possível misturar vinhos importados e vinhos de regiões demarcadas. Sou a favor do fecho das regiões demarcadas aos vinhos importados. Não acho que faça sentido utilizar 15% de uva em vinhos regionais. Não é possível haver marcas que comercializam vinhos certificados [os que aparecem como pertencendo a uma região demarcada] e que também comercializam “vinhos da UE”. E que tudo isso seja feito nas mesmas instalações. É um desprestígio para as regiões. Inserindo esse tipo de controlo, o prestígio ficava protegido. Agora, é claro que não sabemos como o consumidor reage à diferença de preços entre um vinho de uma região demarcada que custa, vá, €4, e um vinho de €1,5. Isso não sabemos.

Acha que o consumidor precisa de ser mais “educado” nessas questões?
Acho que o consumidor procura qualidade ao melhor preço possível. E claro que há também os produtos aspiracionais – os tais de nicho – com o preço correspondente. Não sei se o público em geral precisa de ser mais educado. Acho que tem de querer ser educado. E nós, produtores, temos de comunicar de forma extensa e interessante. Porque nós somos, todos, além de produtores de vinho, contadores de histórias. Temos de conseguir criar interesse através das histórias que contamos. O vinho tem a vantagem da convivialidade. E nós, em Portugal, temos isso muito presente. Torná-lo um elemento de partilha do pão – é essa a educação que temos de transmitir. Um dos problemas que nós, produtores de vinho, temos é a mania de que somos estrelas. Acho que os produtores de vinho têm o ego do tamanho de um camião. Se calhar, eu incluído.

Falam demasiado uns para os outros? Há quem considere que o setor comunica de uma forma hermética. Concorda?
Os brasileiros chamam a essas pessoas os enochatos. As pessoas que dizem coisas sobre o vinho que não vão fazer sentido às pessoas – os aromas a isto e àquilo. Isso é um teatro. As pessoas querem pegar num vinho, cheirá-lo, prová-lo e gostar dele. É isto que interessa. No final de uma refeição, ninguém se vai lembrar de tudo o que se disse sobre o vinho. Vão lembrar-se se foi um bom momento, e se gostaram do vinho que foi servido.

Com os Douro Boys fez um trabalho significativo no que se refere a tornar os vinhos nacionais, concretamente os do Douro, mais conhecidos no mundo. Mas ainda há muito caminho para andar. Somos maus marketeers?
Somos. Um bom exemplo disso é o que anda a fazer a ViniPortugal, que se dispersa por todos os mercados ao invés de se concentrar nos que interessam. Temos de ir aos mercados emissores de imagem, que nos vinhos são dois: Estados Unidos da América e Reino Unido. Para que é que andamos a dispersar a tentar os outros todos? É agarrar no dinheiro que há para investir e concentrar esforços. Vale a pena apostar na Alemanha, que é dos mercados mais barateiros que existe? Se calhar não…

Alguma vez pensou em abandonar o mundo dos vinhos?
Várias vezes. Mas houve uma em que pensei seriamente nisso, em 1993. E até 1996 pensei sempre nisso. Mas sou um caso perdido. Isto ainda me dá adrenalina. É um negócio com tempo livre e tempo livre com um hobby e um hobby dentro do negócio… tudo se mistura [risos].

A propósito, tem hobbies para além do negócio?
Agora, que deixei de jogar râguebi, só um: caça.

A história da sua família em Portugal remonta ao século XVII. Sente o peso da História?
Não sinto o peso da História porque não a sinto como um peso. Ela não é modificável. Temos de aproveitar o que ela nos ensina de bom. Olhar para ela e aprender com os erros e as virtudes. Tenho a vantagem de ter a capacidade de contar uma história que tem uns alicerces muito profundos.

Vamos fazer um bocadinho de futurologia: qual seria o Douro ideal de Cristiano van Zeller em 2044?
Gostava que a região vendesse tudo o que produz, sem aumentar área produtiva. Porque, se conseguisse isso, conseguíamos revitalizar a região e aumentar o reconhecimento. E gostava que os vinhos portugueses fizessem parte do Olimpo dos vinhos mundiais em posicionamento e qualidade. 

E qual acredita que vai ser, realmente, o Douro de 2044?
Acho que vai haver um recentramento no vinho do Porto, que terá menor volume mas será de valor acrescentado. Acho que vai ser um Douro com menos área de vinha, e com maior desenvolvimento dos DOC Douro (vinhos tranquilos), que vai ajudar a equilibrar a região, porque os produtores de Porto não têm a quem vender as suas uvas. E muitas das vinhas de pequena dimensão vão desaparecer, porque não têm viabilidade económica, apesar de serem importantes para os pequenos produtores que as detêm. Só que não têm onde entregar as uvas.

Palavras-chave:

Um novo e misterioso vocábulo vai seduzir os lisboetas e demais visitantes do novo Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, há quatro anos envolto em obras de renovação e ampliação: engawa. A palavra enigmática designa o tradicional conceito da arquitetura japonesa que o arquiteto Kengo Kuma, reconhecido por prodigiosas construções em madeira e bambu e projetos marcantes no panorama da arquitetura contemporânea (em que se incluem o Estádio Olímpico de Tóquio, a extensão do Museu Victoria & Albert, em Dundee, e, em território português, a reconversão do Matadouro Industrial de Campanhã), imprimiu na reinvenção do CAM.

Foto: Fernando Guerra

Engawa significa um lugar de passagem entre edifício e jardim, entre interior e exterior. Entre luz e sombra também, conceitos refletidos na impressionante estrutura arquitetónica que agora repousa nos terrenos do Parque de Santa Gertrudes, onde a Fundação Gulbenkian instalou o seu edifício-sede há mais de cinco décadas para albergar a imensa coleção do benemérito de origem arménia Calouste Gulbenkian (1869-1955), e a que o arquiteto britânico Leslie Martin acrescentou o CAM. E que, recordou o presidente da Gulbenkian, António Feijó, durante a visita de imprensa ao renovado CAM, alguma celeuma levantou à época pelo seu fechamento, já que os terrenos adjacentes não eram propriedade da Fundação… Hoje, a solução arquitetónica de Kengo Kuma resolveu essas velhas reservas: ao caminhar pela nova entrada principal do CAM, a partir da Rua Marquês da Fronteira, o visitante ganhou espaço e apreende o total impacto desta joia arquitetural.

O enorme telheiro desenha-se elegantemente no espaço, parecendo desafiar a gravidade. É uma pala com cem metros de comprimento, criando um corredor coberto que acompanha toda a fachada sul do edifício – e que, por segundos, transporta a imaginação para paragens distantes. Exibe as curvas sensuais da arquitetura tátil de Kengo Kuma – mas com referências à cultura portuguesa. A estrutura de madeira é revestida com 3274 azulejos brancos produzidos em Portugal, concebidos para induzir o arrefecimento do edifício – um fator de sustentabilidade que acompanha tudo no novo CAM. A engawa concorre para o efeito cénico do jardim, sublinha aos jornalistas o arquiteto Lourenço Rebelo de Andrade, colaborador do arquiteto japonês em vários projetos, citando-o: “A Natureza é a grande protagonista deste projeto.”

Foto: Fernando Guerra

O novo jardim é uma criação do arquiteto paisagista libanês Vladimir Djurovic: as linhas curvas da água fazem pensar nas pequenas poças aquáticas realizadas por Gonçalo Ribeiro Telles (1922-2020) no jardim labiríntico da Fundação. Mas, aqui, dominam as grandes árvores. “Isto foi tão bem feito que nem se notam as árvores novas…”, orgulha-se a arquiteta paisagista Paula Corte-Real. Há ciprestes, lódãos, olaias, um plátano gigante, pinheiros… “As aves estão a regressar a este lugar”, sublinha ainda. Chapins, toutinegras, também libelinhas ou abelhas, sinais de que a Natureza segue o seu curso, mesmo no centro da cidade.

O elogio da sombra

A obra de Kengo Kuma faz o elogio da sombra e dos jogos de luz. Sob este alpendre 3.0, tem-se uma visão abrigada dos caminhos jardinados, em que os cursos de água foram pensados para serem reciclados no lago. Mas a presença dos jardins foi igualmente reforçada dentro do novo CAM, com muitas das antigas paredes do edifício transformadas em janelas e elementos transparentes, a começar logo pelo átrio com 550 metros quadrados, localizado na antiga entrada. A irrupção da luz é um traço dominante, coadjuvado por madeiras e malha de aço, nos vários pisos.

Foto: Fernando Guerra

A visão da mancha verde por entre a contemplação das obras de arte faz a diferença. À VISÃO, Benjamin Weil, atual diretor do CAM, sublinha que “a presença da Natureza é muito maior neste edifício, e isso é importante, porque fazemos parte da ordem natural”: “O Vladimir [Djurovic] diz que fez este jardim para humanos e não humanos, e é maravilhoso pensar isso.” Esta consciência de integração social e de preocupações sustentáveis estendeu-se à área expositiva que, recorda este responsável, teve um aumento substancial de 900 metros.

A primeira artista a receber carta-branca, num diálogo criativo com o espaço e a coleção do CAM, é Leonor Antunes (1972), representante de Portugal na Bienal de Veneza em 2019. Foto: Pedro Pina

As exposições inaugurais evidenciam questões sociais e de sustentabilidade – vejam-se as 80 obras patentes em Linha de Maré, refletindo sobre a relação dos seres humanos com a bioesfera, ou, sublinha o diretor do CAM, o gesto social e político da exposição de Leonor Antunes que “apela ao tato, à escuta, e não apenas à visão, recordando que o museu é também um lugar do corpo”. A vice-diretora Ana Botella sintetiza à VISÃO: “Temos muita vontade de apelar aos sentidos na experiência do visitante. Já não se trata da velha experiência de entrar num determinado espaço e está feito: queremos criar muitos e diferentes pontos de entrada para as obras e para o CAM”, explica.

A curadora acrescenta também que há mudanças no tom e na linguagem da instituição, na formação dos assistentes de sala, na forma como se quer construir uma comunicação mais rica com os públicos. O sentido de comunidade pode passar por livros, por concertos, pela experiência individual do público perante a obra, mas também pelos espaços de convívio. Não é de somenos importância a aposta em equipamentos que estimulam a fruição social e ecoam as antigas vivências do público habitual do CAM: o espaço conta com um restaurante intitulado A Mesa do CAM, sob a batuta do chefe André Magalhães, com um menu assente na sustentabilidade e na sazonalidade, e uma loja dedicada a criações de designers nacionais.

A coletiva Linha de Maré reúne 80 obras sobre a relação dos artistas com a biosfera. Foto: DR

“A arte é um agente de mudança societal”, recorda Weil. “O planeta está em chamas, há uma emergência climática. Tal como outras instituições museológicas mundiais, estamos a estudar soluções para diminuir a nossa pegada de carbono. Reduzimos as viagens transcontinentais e estudamos formas de poupança de energia e de recursos. Em Linha de Maré criámos uma exposição sem paredes e na exposição de Fernando Lemos vamos reciclar todas as estruturas de madeira e de papel usadas no dispositivo cenográfico… Este é um trabalho gradual, que tem de atender simultaneamente às exigências das obras e às necessidades do público.”

Foto: Fernando Guerra

Este gesto de implementação de novos comportamentos e lógicas estende-se também à relação com os artistas que o CAM deseja cultivar: acompanhar de perto, chamá-los aos processos de decisão, fazer encomendas que reflitam a relação dos artistas com a instituição. Criar comunidade, novamente. Benjamin Weil defende: “Pode ser utópico dizer isto, mas não há muitos agentes de mudança societal no mundo, agora: há muito medo, comportamentos reativos, desconforto, emergência climática… É importante ter um lugar onde não há desafios inultrapassáveis, onde há uma oferta generosa de algo diferente, um espaço-tempo onde não se é bombardeado com informação. O museu e a igreja são os únicos espaços no mundo onde não há publicidade – algo tão simples como isto. Ao caminhar numa exposição, posso concentrar-me numa única coisa e não em 47 ao mesmo tempo.” É só atravessar a engawa do CAM.

Kengo Kuma: “Fazer projetos em Portugal era um dos meus sonhos”

Aos 70 anos, o arquiteto japonês Kengo Kuma é um defensor do enriquecimento proporcionado pelo intercâmbio de culturas. A intervenção no CAM não foi a sua única experiência em Portugal. Breve entrevista via email

Foto: Lucília Monteiro

O que o fez querer trabalhar em Portugal?

Sempre encontrei semelhanças entre Portugal e o Japão, nomeadamente nas suas relações com o mar. Fazer projetos aí era um dos meus sonhos. Quanto à arquitetura portuguesa, Álvaro Siza tem desempenhado um papel vital após o movimento modernista. Já visitei muitas das suas obras e aprendo sempre muito.

Utiliza dois conceitos japoneses em projetos em Portugal: komorebi, no antigo matadouro de Campanhã, no Porto, e engawa, no CAM, em Lisboa. Porquê?

A arquitetura precisa de acomodar a Natureza em rápida mudança em que vivemos atualmente. Komorebi, por exemplo, é uma expressão que se refere ao aproveitamento da luz solar filtrada pelas folhas das árvores. Engawa remete para a ligação entre a Natureza, o jardim, e o edifício, e vai mostrar um novo modelo de arquitetura para os museus do século XXI, que não são só locais para mostrarem obras de arte.

Foi o escolhido para projetar o Pavilhão de Portugal na Expo 2025 Osaka, decisão criticada por alguns arquitetos portugueses, porque pela primeira vez coube a um estrangeiro essa missão. Como lhes responde?

Não vemos a nossa prática limitada a um espaço físico, trabalhamos em todo o mundo e construímos ambientes na esperança de inspirar as pessoas. Atravessar fronteiras, trocar ideias e construir pontes culturais é uma grande parte da prática arquitetónica atual e do nosso ADN. Temos um grande respeito pelos arquitetos portugueses e somos continuamente inspirados pela qualidade do seu trabalho e pelo seu design. Japão e Portugal partilham uma rica história de intercâmbio cultural. Nos últimos anos, tive o privilégio de trabalhar em estreita colaboração com artesãos e designers portugueses, aprendendo com eles. Trazer parte desse conhecimento para o Japão é uma oportunidade maravilhosa. — Joana Loureiro

Para ouvir em podcast:

Buzzsprout

Spotify

Palavras-chave:

A edição de 2024 do maior evento nacional de veículos elétricos, o ENVE, vai decorrer no próximo fim de semana no Passeio Marítimo de Algés. Como em edições anteriores, a organização, a cargo da UVE (Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos), garante que vão existir várias atividades para toda a família, incluindo Go Karts 100 elétricos, bumper cars, Bungee e até uma pista para simular um rali de regularidade do Campeonato de Portugal de Novas Energias – Prio ao volante de um Citroën AMI.

Com mais de 90 expositores confirmados, os visitantes terão a oportunidade de ter contacto com novos automóveis elétricos, incluindo test drives a mais de 100 modelos. Bem como conhecer soluções relacionadas com a mobilidade elétrica, como carregadores e serviços de gestão energética.

Entre os expositores, há ainda espaço para veículos menos habituais, como o primeiro avião elétrico a operar em Portugal, o Pipistrel Velis Electro da IFA, e um camião de grande capacidade (tipo trator) da Galliker.

Como é habitual neste evento, estão também previstos vários momentos de partilha de experiências entre utilizadores e mesas de discussão sobre temas relacionadas com a mobilidade elétrica.

Um dos momentos altos será a presença de António Félix da Costa, que vai falar sobre a mobilidade elétrica aplicada à competição

O ENVE 2020 deverá ainda ficar marcado por algumas estreias de automóveis em Portugal, como é o caso do Kia EV3, do KGM Torres EVX e dos carros da Forthing.

A entrada no ENVE é gratuita e há um kit de oferta aos participantes que se deslocarem em veículo elétrico matriculado, desde que façam a inscrição online em https://enve.uve.pt/index.php.

A primeira coisa que salta à vista ao tirar o HUAWEI Watch GT 5 da caixa é o seu design elegante e moderno. O modelo de 46mm, a que tivemos acesso para teste, deixa-nos cheios de curiosidade ainda antes de o colocarmos no pulso.

O design octogonal do mostrador chama desde logo a atenção, acompanhado de uma coroa rotativa na parte superior esquerda e um botão de função na parte inferior. Além disso, este smartwatch inclui uma traseira com painel de carregamento sem fios e pulseiras robustas, oferecendo um encaixe firme e confortável. Testámos a versão em fluoroeslastómero, com bracelete azul em compósito entrançado, que se mostrou versátil para todas as situações do dia a dia.

HUAWEI Watch GT 5: para além de um smartwatch

Com o HUAWEI Watch GT 5, a Huawei leva o desempenho para outro nível. Equipado com um software atualizado, o dispositivo garante transições fluídas e rápidas entre os menus, oferecendo uma experiência muito mais suave em comparação com as gerações anteriores, com o sistema operativo pré-instalado a trazer melhorias substanciais em termos de usabilidade e fiabilidade.


O ecrã AMOLED proporciona uma excelente visibilidade, com cores vivas e um brilho que se mantém eficaz mesmo sob luz solar intensa.

Seja na receção de notificações, gestão de chamadas ou compatibilidade com outros dispositivos Android ou iOS, a série HUAWEI Watch GT 5 oferece uma resposta rápida e sem falhas. Durante os testes, a navegação no sistema foi intuitiva, e a resposta ao toque demonstrou ser excelente.

Além da variante de 46mm, a série HUAWEI Watch GT 5 está disponívelno tamanho de 41mm. Ao contrário dos antecessores, a linha de wearables também acompanha um modelo Pro com capacidades dinâmicas, que também tivemos oportunidade de testar.

O HUAWEI Watch GT 5 Pro eleva a experiência de utilização de um smartwatch a um novo patamar, oferecendo recursos avançados para os utilizadores mais exigentes. Neste modelo premium, é impossível ficar indiferente ao design robusto e elegante, com uma caixa octogonal de titânio, à prova de quase tudo. Falamos de um material altamente resistente, de qualidade aeroespacial; do revestimento da caixa em cerâmica de nanocristais e do display AMOLED de alta resolução, protegido por vidro de safira. Sofisticação, resistência e durabilidade estão garantidos, para quem gosta de ultrapassar os seus limites.


Monitorização da saúde, bem-estar e atividade física

Pessoalmente, e porque a prática desportiva faz parte do nosso dia-a-dia, achámos interessante que o HUAWEI Watch GT 5 Pro garanta resistência à água para mergulhos livres até 40 metros de profundidade. A experiência desportiva subiu mesmo de nível nesta versão premium, com os novos modos avançados. Se como nós é fã de trail, por exemplo, vai gostar de saber que a navegação é totalmente nova, poderá importar trilhos, visualizar todos os mapas a cores e ter uma vista panorâmica dos pontos de controlo.

Com os seus mais de 100 modos de treino, incluindo corrida criativa, natação ou ciclismo, o HUAWEI Watch GT 5 e a sua versão Pro tornam-se excelentes companheiros para atletas – ou potenciais atletas, como nós… – já que conseguem registar dados cada vez mais precisos nas diferentes atividades físicas.

Ficámos fãs da análise extensiva das nossas corridas!

A ‘culpa’ é da tecnologia TruSense, que é um dos grandes desta série. Apesar de já não ser novidade, este avançado sistema de sensores de saúde e bem-estar foi agora melhorado, permitindo extrair dados ainda mais precisos e em tempo real. Além disso, o HUAWEI Watch GT 5 e o HUAWEI Watch GT 5 Pro conseguem identificar até 60 indicadores diferentes de saúde e bem-estar, incluindo níveis de stress emocional, oferecendo uma visão abrangente do bem-estar do utilizador.


Conteúdos exclusivo para quem privilegia o bem-estar

Se é fá de desporto e procura o bem-estar a todos os níveis, as novidades não ficam por aqui. A marca acaba de lançar o HUAWEI Health+, um novo serviço de subscrição da Huawei, que vem dar resposta simultânea às necessidades de exercício físico, sono, dieta e emoções dos utilizadores.

Disponível na aplicação HUAWEI Health, o serviço dá acesso a um conjunto de treinos exclusivos em diversas modalidades – como corrida, caminhada, fitness, pilates, ioga e golfe, criados por atletas e outros profissionais de renome ligados ao desporto e ao bem-estar. Exemplos? O campeão olímpico de atletismo Mo Farah, a influenciadora alemã Pamela Reif ou o ícone do ioga Master Kamal.

O serviço disponibiliza ainda exercícios de meditação e respiração, orientações para controlo de peso e mais de 150 músicas relaxantes para ajudar a dormir melhor e a aliviar o stress. A aplicação é compatível com iOS e Android.


Autonomia e carregamento

Uma das maiores vantagens destes smartwatch é a sua autonomia, que cresceu, com a versão Pro de 46mm a aguentar até 9 dias (mais um que o HUAWEI Watch GT 4) numa utilização típica, característica que continua a colocar a linha GT à frente da concorrência. O HUAWEI Watch GT 5 Pro suporta carregamento sem fios em 60 minutos, tornando o processo de carregamento ainda mais rápido e prático.

Feitas as “contas”, se procura um smartwatch que combine design moderno, funcionalidades robustas de saúde e fitness, e um desempenho global sólido, a nova série HUAWEI Watch GT 5 vai surpreender. A nova tecnologia TruSense, aliada à excelente autonomia e ao design refinado, fazem deste dispositivo um companheiro indispensável para quem valoriza tanto a saúde como a conectividade no dia-a-dia.

Oferta especial para os leitores Exame Informática

Aproveite o cupão de desconto no valor de 49,00€ na compra de uma segunda bracelete para qualquer um dos modelos do HUAWEI Watch GT 5, com o código AINFORMGT5 (válido até 31/10/2024).

Palavras-chave: