Segundo as previsões do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), os aguaceiros podem já regressar a partir desta tarde no interior das regiões Centro e Sul, podendo ser por vezes fortes e acompanhados de trovoada. Seis distritos do interior centro e sul vão ficar sob aviso amarelo por causa da chuva forte a partir do meio-dia – Castelo Branco, Santarém, Portalegre, Évora, Beja e Faro.

A chuva deverá estender-se a todo o território continental já a partir de terça-feira. O IPMA prevê precipitação, por vezes forte e acompanhada de trovoada a partir da tarde, a progredir de sul para norte. Só os distritos de Viana do Castelo, Braga e Porto não vão estar sob aviso amarelo devido à precipitação.

Para quarta-feira, a previsão é de céu em geral muito nublado, com períodos de chuva ou aguaceiros, que poderão ser acompanhados de trovoada.

Já as temperaturas começam a descer gradualmente na terça-feira.

A Apple quer ser a próxima rival da Meta no segmento dos óculos inteligentes. Recorde-se que a empresa de Mark Zuckerberg lançou os bem recebidos Meta Ray-Ban, que têm vindo a receber progressivamente melhorias e novos desenvolvimentos, e, recentemente, revelou os seus primeiros óculos de realidade aumentada, chamados Orion.

Na mais recente edição da newsletter Power On, Mark Gurman da Bloomberg, avança que a equipa responsável pelo desenvolvimento do headset Vision Pro está numa ‘corrida’ para desenvolver produtos que sejam mais apelativos para os consumidores.

Ao que tudo indica, a equipa estará a desenvolver, pelo menos, quatro novos produtos, incluindo uma versão mais ‘económica’ do Vision Pro, que poderá ser lançada no próximo ano, e uma segunda geração do headset, prevista para 2026. Até 2027, a empresa da maçã está a considerar lançar óculos inteligentes com capacidades que estejam ao nível dos Meta Ray-Ban, assim como outras soluções no segmento dos wearables.

De acordo com Mark Gurman, o objetivo passa por encontrar uma forma de tirar mais partido dos milhares de milhões de dólares gastos no sistema de inteligência visual do headset Vision Pro, uma tecnologia que permite analisar o ambiente em torno no utilizador e, a partir daí, extraír dados úteis. No entanto, para a Apple, o maior problema é conseguir colocar rapidamente novas tecnologias no mercado.

Como avança o website Digital Trends, o segmento dos wearables de realidade mista está num ponto de viragem, com o headset Meta Quest 3S a trazer novidades e a custar muito menos que os Apple Vision Pro, com a Microsoft a encerrar projetos como o HoloLens e com o surgimento de empresas com a Xreal, a Rokid ou a RayNeo que estão a tentar criar óculos inteligentes com designs mais apelativos para o público.

Não há melhor forma de conhecer um lugar do que calcorreá-lo a pé. Nada iguala a proximidade à terra, o contacto direto com as pessoas, as sensações e ainda o gasto de calorias. Agora, imagine-se que, em dois dias, há uma oferta de 55 percursos para esmiuçar todo a cultura e natureza do Alentejo – é assim que se caracteriza o festival de caminhadas.

Há que ir ao site do festival para atestar a diversidade de percursos guiados, em todos os municípios alentejanos (atenção que os passeios têm lotação de 40 pessoas e alguns já estão esgotados), nos dias 19 e 20 deste mês. Em média, as caminhadas rondam os 12 a 14 quilómetros e prevê-se que tenham uma duração entre as duas e as três horas, pois a ideia é contemplar e não fazer uma corrida.

É por lá, no mesmo site, que também se pode organizar o resto do dia, aproveitando a tarde para descobrir os melhores locais para ficar, os restaurantes mais típicos e outros passeios a dar.

“A motivação principal é caminhar, mas depois há muito mais para conhecer”, assegura Pedro Beato, vice-presidente da Entidade Regional do Turismo do Alentejo e Ribatejo, depois de uma refeição na Casa do Alentejo, em Lisboa, em que se provaram muitos dos deliciosos pratos que não hão de faltar no território. Não se pense que naquela região tudo é planície (isso é o que se avista a partir da janela do carro) – os passeios terão alguma altitude, passarão por aldeias, vinhas, albufeiras e até praias fluviais.

Alentejo Walking Festival > 19-20 out, sáb-dom > alentejowalkingfestival.pt

Até ao século XVIII, o litoral foi um local temido pela população, por ser associado a perigos e mistérios. Os que se aventuravam no mar eram vistos como heróis ou loucos. No entanto, a partir do final do século XVIII, deu-se o início da procura por estas áreas para fins terapêuticos, impulsionada pela família real e, posteriormente, pela aristocracia e pela burguesia. Só nos pós-25 de Abril, é que o usufruto destes locais se democratizou, abrangendo todos os estratos sociais.

O aumento da procura levou a um desenvolvimento desordenado nas áreas costeiras, que expôs a população a novos riscos. Atualmente, 45% da costa baixa arenosa de Portugal é afetada pela erosão.

A falta de sedimentos, retidos nas barragens, é um dos principais fatores que contribuem para este problema. O Rio Douro, por exemplo, transporta apenas 20% dos sedimentos que transportaria em condições naturais. A redução de sedimento na foz dos rios – e sem grandes cheias que os expulsem para a zona costeira – os areais começam a minguar.

Esposende, Espinho, Furadouro, Vagueira, Costa da Caparica, Alvor, Quarteira e Faro já não são uma novidade para nós em matéria de riscos costeiros, e não há dúvidas de que constituem um problema atual e complexo. Não há como negar que a subida do nível do mar, a erosão costeira, a derrocada de arribas e os galgamentos oceânicos são um problema real de Norte a Sul do país.

Quando pensamos nas próximas gerações, facilmente percebemos que viver com esta problemática será ainda mais desafiador. Segundo o 6º Relatório do IPCC, a subida do nível do mar continuará durante séculos, mesmo que o aquecimento global seja limitado a 2 °C. Em Portugal Continental, estima-se que este aumento seja na ordem dos 80 cm até ao final deste século, o que aumentará a vulnerabilidade das zonas costeiras, já sobrecarregadas pela pressão humana.

Para mitigar estes riscos, é essencial atuar sobre a vulnerabilidade natural ou sobre a ocupação humana. Embora não possamos controlar a “força da natureza”, podemos e devemos reduzir decisões que amplificam os riscos.

Em Portugal, o Plano de Ação Litoral XXI prevê intervenções na zona costeira, destinando 356 milhões de euros para a alimentação artificial de praias em risco. Em 2025, os custos destas intervenções na Costa da Caparica rondarão os 11 milhões de euros. Na Figueira da Foz, para o troço entre Cova Gala e Lavos, serão despendidos cerca de 27,7 milhões de euros. Nunca se tinha investido tanto em Portugal em alimentação artificial de praias.

Estas intervenções são essenciais para restaurar o equilíbrio natural nas zonas costeiras e a melhor aposta por serem as mais sustentáveis, com menos impactes ambientais e melhores resultados. No entanto, as ondas nunca pararão de transportar areia ao longo da costa, retirando daqui, repondo ali. Logo, teremos sempre de repetir as alimentações artificiais quando o seu fim de vida se aproximar.

Poderá chegar o dia em que deixaremos de poder viver em algumas das localidades costeiras que, por agora, ainda possuem níveis de risco aceitáveis. No entanto, é necessário antever as situações que podem vir a ser agravadas.

O presente atribui-nos o desafio de resolver um dos problemas estruturais que herdámos de desordenamento do litoral e o dever de o abordar com uma visão estratégica de longo termo, investindo no (re)ordenamento sustentável do território.

Além de sermos capazes de conceber e implementar com eficácia uma estratégia de gestão costeira, temos de sensibilizar mais uma população que ainda continua a ter comportamentos de risco. Ter uma sociedade consciente e envolvida na mitigação dos riscos costeiros é parte do caminho necessário para que não tenhamos de pagar o preço da nossa inação ou das más decisões.

Há já muito tempo que não havia tantas pessoas a parar à nossa beira por causa de um monitor. Mostrem às pessoas um monitor de grandes dimensões e ficarão impressionadas. Mostrem-lhes um monitor grande e curvo, e ficam de boca aberta. Depois dos nossos testes, podemos garantir que as reações ao Agon Pro AG456UCZD não são exageradas.


A qualidade de imagem deste monitor é muito boa. Isto porque conjuga vários fatores que nos dão uma experiência visual de elevada qualidade. Temos, por um lado, uma resolução elevada, o que se traduz numa nitidez muito boa em diferentes conteúdos, seja texto, vídeo ou nos videojogos. A Agon (marca de monitores de gaming da AOC) capricha ao apostar num painel OLED, com acabamento antirreflexos, o que significa que temos bons níveis de contraste, tons escuros de elevada profundidade e cores intensas. Sobre a intensidade das cores, pode ser necessário ajustar o brilho ou o perfil de imagem para conseguir os melhores resultados, mas a capacidade para entregar imagens impactantes está lá.

Agon Pro AG456UCZD
Agon Pro AG456UCZD

E como o tamanho é muito generoso, pode até utilizar este Agon Pro AG456UCZD como um substituto ao televisor no quarto, ainda que o formato de imagem (21:9) não seja o mais amigável para séries e filmes. De sublinhar que o painel escolhido suporta uma taxa de atualização máxima de 240 Hz, o que nos dá uma elevadíssima fluidez visual, seja durante uma sessão de jogo, seja noutras tarefas do dia-a-dia que fazemos em frente ao computador.

Este é, primeiro e acima de tudo, um monitor feito para jogar. Daí o facto de não só o painel ser curvo, como ter uma curvatura muito pronunciada. A ideia é que o jogador se sinta envolvido, quase ‘sugado’, pelo ambiente de jogo. E podemos garantir que funciona muito bem e em diferentes tipologias de títulos. Experimentámos em Hellblade II, God of War, Call of Duty Modern Warfare II, F1 2023 e em todos eles sentimo-nos bem mais integrados no ambiente de jogo. Isto acontece porque grande parte da ação está concentrada no meio do ecrã, enquanto as laterais dão-nos mais cenário de jogo.

Agon Pro AG456UCZD
Agon Pro AG456UCZD

Há, no entanto, outros jogos nos quais um monitor assim não faz tanto sentido. Age of Mythology, p.ex., obriga-nos a ter de movimentar bastante o pescoço, devido ao tamanho do ecrã (a mesma razão pela qual consideramos que também não é ideal para trabalhar). E como este é um título de estratégia, com vista superior, não consegue o tal efeito de imersão. Isto para dizer que o investimento valerá tanto mais a pena (ou não) dependendo do estilo de jogos que costuma jogar.

Agon Pro AG456UCZD: Um senhor monitor

A qualidade de construção deste monitor é muito convincente. Temos uma base em V, feita em metal, e um suporte angular com um elemento para gestão de cabos e outro para pendurar os auscultadores. É justo dizer que apesar da firmeza do suporte, qualquer ajuste ou toque que o Agon Pro AG456UCZD (ou a mesa onde está posicionado) sofra, vai fazer com que o ecrã abane facilmente (devido ao tamanho do mesmo e à espessura reduzida do painel). De sublinhar também que o formato muito próprio deste monitor faz com que ocupe muito espaço na secretária, pelo que pessoas com secretárias mais pequenas poderão ter dificuldade em manter uma distância confortável para o monitor.

Já do lado positivo, apreciamos as margens reduzidas em torno do ecrã, que dá um aspeto minimalista a este Agon. E como não poderia deixar de ser, a marca inclui um sistema de iluminação RGB, na traseira, que pode ser personalizado, mas é acima de tudo estético, pois a luminosidade do mesmo não é suficiente para ajudar a dar ambiente ao quarto enquanto jogamos.

A conectividade do Agon Pro AG456UCZD é um ponto que nos gerou algum conflito interno. Por um lado, estão asseguradas diferentes tipologias de ligações, assim como um bom número de portas, incluindo uma que permite usar as ligações USB para ligar o rato e o teclado diretamente ao monitor. Mas lamentamos que, neste nível de preço, as entradas HDMI não tenham a tecnologia mais recente. E também somos da opinião que, devido ao tamanho, formato curvo e espaço que o monitor ocupa, não é propriamente fácil fazer os encaixes dos cabos. Já do lado positivo, as ligações USB foram posicionadas na lateral esquerda, o que facilita o acesso às mesmas para a ligação de periféricos. E por falar em cabos, a Agon, aqui bem, inclui na caixa vários cabos para garantir as principais ligações entre o monitor e o computador.

Já um claro ponto negativo é o sistema de som. Apesar de entregar um bom nível de volume, o áudio reproduzido é ‘oco’ e também não cria muita amplitude, o que na nossa opinião faz muito pouco sentido, considerando o valor de todo o conjunto.

O botão de controlo dos menus, localizado na parte traseira, é rapidamente acessível, mas está longe de ser a forma mais prática de controlar as diferentes opções do monitor. Para isso preferimos o bem mais prático comando que vem incluído na caixa. Além disso, o comando tem botões dedicados para elementos que nos parecem importantes dentro da experiência de jogo, como ativar perfis de imagem para estilos de jogos específicos (RTS, Corrida, FPS) ou ativar o apoio de mira no centro do ecrã. Temos ainda botões dedicados para o volume e a luminosidade, o que torna a experiência de utilização deste Agon muito, muito prática.

Já em termos de menus, gostamos do facto de estar dividido por ícones grandes, que tornam fácil aceder exatamente às opções de ajuste pretendidas, mas não gostamos tanto do facto de o monitor não ter capacidade para memorizar as nossas preferências (p.ex., se diminuirmos o brilho, ativarmos o modo HDR e depois voltarmos a desativar, o nível de brilho volta ao nível pré-definido de origem e não ao que tínhamos definido anteriormente).

Tome Nota
AOC Agon Pro AG456UCZD | €1199,99
aoc.com/pt

Cores Excelente
Brilho Muito bom
Menus Muito bom
Ergonomia Muito bom

Características Ecrã OLED 44,5″, 3440x1440p, 21:9, 240 Hz • Curvatura: 800R • Espaço de cor: DCI-P3 98,5%, sRGB 127,5% • Brilho máximo 1000 cd/m2 • Contraste: 150.000:1 • 0,03 ms tempo resposta • G-Sync, Adaptive Sync • Iluminação FX (RGB) • Inclinação: 3° a 13°; Rotação: ± 15°; Ajuste altura: até 100 mm • 1x USB-C (DP, 90 W), 4x USB-A (3.2), 1x USB-B (upstream), 1x DisplayPort (1.4), 2x HDMI (2.0), áudio 3,5 mm • Colunas: 2x 8 W • 992,2x609x359,2 • 13,35 kg

Desempenho: 4,5
Características: 5
Qualidade/preço: 2,5

Global: 4

Escrevo este texto numa madrugada de outubro, em pleno outono. Estou de manga à cava e calções e mesmo assim abro as janelas de casa, de par em par. Na rua, não corre uma aragem e parece que moro num país tropical, tal o nível de humidade. Se tivesse daquelas ventoinhas de teto, sentir-me-ia numa das cenas de Apocalipse Now

No entanto, durante o fim de semana, as minhas experiências oscilaram entre ter de lidar com um calor inesperado, sempre que o sol abriu, ficar feita num pinto, quando a chuva desabou, só de ir do carro à porta de casa, coisa que nem chega a 30 metros, ver trovões que iluminaram a noite escura e observar o desaparecimento da amplitude térmica.

Ao mesmo tempo que penso neste tempo, deito um olho aos noticiários da noite e vou lendo em rodapé que a tempestade Berenice já foi embora (ufa…), mas que a Leslie (passou de furacão a ciclone tropical e agora é uma depressão, que trará chuva, por vezes forte) está já a afetar o arquipélago dos Açores; que a agitação marítima na Madeira é preocupante e que, mais longe, nos Estados Unidos, o furação Milton, causou 21 mortos no Estado da Florida, território que ainda estava a recuperar do furacão Helene do final do mês passado. Lembrei-me, entretanto, que há dias, o deserto do Saara, em Marrocos, ficou inundado devido a cheias nunca vistas por aqueles lados. Em apenas dois dias de chuvas intensas, ultrapassaram-se as médias anuais.

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Na última semana, a Agência para a Modernização Administrativa (AMA) confirmou que foi alvo de um ataque informático que causou disrupções na sua rede, com o acesso às suas plataformas e serviços a estar “preventivamente indisponível”. Embora não tenha feito referência ao tipo de ataque sofrido, o Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS) deu conta de que foi notificado de um incidente de ransomware que comprometeu as infraestruturas geridas pela entidade e que teve um “impacto substancial” nos seus serviços. 

Um dia após o ataque, a AMA avançou, em comunicado partilhado nas suas redes sociais, que “em virtude dos trabalhos realizados para reduzir os impactos do ataque informático” alguns serviços já se encontravam operacionais, o que permitiu o “restabelecimento progressivo do atendimento nas Lojas de Cidadão, bem como o acesso a outras plataformas e serviços digitais”. 

Por outro lado, durante o fim de semana, o acesso a alguns serviços continuou condicionado. Como noticiado pelo jornal Público, a autenticação via Cartão de Cidadão, Chave Móvel Digital, número de utente ou número de telefone no Portal SNS 24 e respetiva aplicação esteve indisponível. Além disso, o envio de receitas médicas aos utentes através de SMS também foi afetado. 

À medida que o incidente continua acompanhado pelas autoridades competentes, existem dúvidas importantes, sobretudo para os cidadãos, organizações e entidades que recorrem aos serviços e plataformas geridas pela AMA. Que consequências pode ter este incidente e o que fazer para manter a segurança neste momento? 

Logo no seu último comunicado, a AMA deixava já um alerta: “ressalva-se que no caso de existirem eventuais contactos, através de qualquer canal, com pedidos de informações pessoais para recuperação de credenciais da Chave Móvel Digital, estes devem ser ignorados”. 

À Exame Informática, Bruno Castro, fundador e diretor executivo da Visionware, explica que “em termos práticos, e visto que somos todos ‘interlocutores’ com a AMA, a probabilidade de virmos todos a ser alvos de ações de phishing – mais ou menos evoluídas – é extremamente elevada”. 

Por esse motivo, “é fundamental que todos nós elevemos o nosso nível de alerta para possíveis tentativas de fraude via phishing ou outro método ainda mais evolutivo, até recorrendo a engenharia social”, realça. 

Nas palavras do responsável, é também necessário aguardar que a AMA forneça informação mais detalhada sobre o sucedido e sobre que tipo de dados estarão em causa para “percebermos quais as possibilidades de ações maliciosas sobre todos nós”. 

Em linha com Bruno Castro, David Russo, diretor executivo da Academia Nacional de Cibersegurança e CTO da CyberS3c.pt, afirma que “é importante aguardar por algum tipo de notificação e comunicação da própria AMA que esclareça que dados é que foram ao certo comprometidos”. 

“Neste momento estamos a trabalhar sobre o desconhecido, como é normal em muitos ciberataques. O que deve ser feito é ter especial atenção a todos os serviços em que tenha usado a Chave Móvel Digital ou o Cartão de Cidadão ou qualquer aplicação relacionada”, destaca, acrescentando que é necessário ter igual cuidado com telefonemas de números desconhecidos e suspeitos. 

Que consequências pode ter o ataque?  

Embora possam assumir diferentes contornos, os ataques de ransomware caracterizam-se pela encriptação da informação presente num sistema após a infeção do mesmo, o que impossibilita o seu uso. Tipicamente, os atacantes pressionam as vítimas para pagarem um resgate, prometendo a recuperação de acesso ao sistema infectado. 

Em muitos casos, além da encriptação de dados, os cibercriminosos exfiltram a informação que se encontra no sistema. “Tipicamente, é aqui onde o atacante tem a vantagem”, afirma David Russo. “A primeira consequência é mesmo a quebra da integridade e da confidencialidade da informação”. 

“Os ciberataques de ransomware são altamente mediáticos e tipicamente muito destrutivos em todos os aspetos”, detalha Bruno Castro. A par das interrupções nas operações e do roubo de dados de uma organização, outra consequência deste tipo de ataque é a “eventualidade de um comprometimento da integridade dos dados armazenados”, o que pode colocar em risco a informação pessoal e confidencial tanto de colaboradores como parceiros e clientes. 

“A situação torna-se particularmente grave no caso do roubo de dados, pois pode implicar também a sua divulgação ou comercialização na comunidade criminosa, que poderá utilizar essa informação para gerar outros vetores maliciosos ou ações de fraude no ecossistema da organização”, realça o responsável. A tudo isto, e “sem garantia da total recuperação”, somam-se ainda os custos associados à resposta a um incidente deste tipo, seja a nível financeiro, legal e mediático. 

De modo geral, “qualquer ciberataque com sucesso, seja numa entidade governamental, pública ou do sector privado, acabará sempre por ter consequências”, aponta Bruno Castro. Aqui o impacto nas operações pode variar quanto à gravidade, no entanto, “as consequências em termos mediáticos e reputacionais acabam por estar presentes, ainda que, de forma mais ou menos direta”. 

No que respeita aos incidentes que envolvem entidades governamentais, que “têm um compromisso acrescido de garantir a confiança e proteção da informação de todos os seus cidadãos”, estes casos, “pela sua dimensão e sensibilidade, podem criar falta de confiança e levantar questões emergentes sobre uma eventual insuficiência de investimento em cibersegurança e ciberdefesa a nível do Estado”, indica. “Cria naturalmente uma sensação de insegurança junto da sociedade no que respeita à capacidade e maturidade em cibersegurança do Estado Português”. 

Motivações políticas ‘no ar’?

Numa altura em que, em Portugal, as atenções se têm centrado na política, com foco na proposta de Orçamento de Estado para 2025, um incidente que envolve uma entidade como a AMA pode deixar ‘no ar’ questões sobre as verdadeiras motivações do ataque. No entanto, os especialistas consultados pela Exame Informática, afastam, para já, um cenário de ataque com motivações políticas. 

Bruno Castro explica que “normalmente, as motivações por detrás de um ciberataque, nomeadamente quando envolve a tipologia de ransomware, são essencialmente financeiras”. “Não nos podemos esquecer que o cibercrime está assente num modelo de negócio ultra maduro que tem como mote atacar organizações para gerar ‘dinheiro’ em benefício próprio”, afirma. 

É certo que um ciberataque a uma entidade governamental “tem o potencial de colocar em causa a confiança da sociedade civil no nível de maturidade e segurança das nossas instituições públicas”. Além disso, “a AMA pela sua exposição, volume de dados envolvidos e criticidade da sua atividade, preenche o perfil típico do cibercrime para ações de ransomware”. No entanto, o responsável defende que nesta fase, ainda é cedo para apontar uma explicação motivacional clara para o caso. 

Já David Russo aponta para a possibilidade de ter sucedido algo já visto em múltiplos incidentes anteriores de ransomware, o que descreve como um “ataque de arrastão”. Estes são casos em que os atacantes recorrem a software concebido para explorar vulnerabilidades numa rede. Ao encontrar uma máquina que corresponda à vulnerabilidade que os cibercriminosos pretendem afetar, este software desencadeia toda uma série de ações para a explorar e, por consequência, ativar o ransomware. 

“A maioria do ransomware é um ataque de arrastão, ou seja, houve a infelicidade de uma máquina ter uma vulnerabilidade e essa rede não estar resiliente o suficiente ou de aquela parte da rede ter sido comprometida”, indica o responsável.

Trabalhar a resiliência

O ransomware é uma ameaça conhecida para as organizações, mas a sua evolução implica uma constante necessidade de aumentar não só a resiliência e a segurança, mas também a resposta a incidentes, defende David Russo. Para tal, há todo um conjunto de mecanismos que têm de funcionar em harmonia. 

“As organizações têm de assegurar que fazem regularmente rotinas de inspecção”, que validam se têm ou não vulnerabilidades, se têm planos de correção e gestão de falhas de segurança, assim como planos bem definidos de  gestão de risco e de continuidade de negócio, sem esquecer se têm os seus backups em dia. “Há aqui outra situação que é muito importante nas organizações que é trabalhar com sistemas XDR (Extended Detection and Response)”, aponta também o responsável. 

“É impossível, de alguma forma, assentarmos toda a segurança de uma organização num só ponto. Isto tem de ser um trabalho conjunto entre as pessoas, processos e tecnologia”, realça. “Tem de existir um bom processo preparativo, um processo proativo e um processo de resposta. Isto é, nada mais, nada menos, do que um conjunto de etapas que têm de ser feitas e isto demora tempo e tem de ter o seu investimento”.