Num comunicado assinado pelo próprio CEO Sundar Pichai, a Google informa que a equipa que está a desenvolver as soluções de Inteligência Artificial Gemini vai passar a integrar a estrutura da DeepMind. Nas palavas do executivo, a nova organização pretende “melhorar os ciclos de feedback, permitir o lançamento mais rápido dos novos modelos na app Gemini”.

Os modelos Gemini já são desenvolvidos pela DeepMind, com a equipa que cria e mantém a app, virada para o consumidor final, a estar distinta. Agora, com a mudança, ambas as equipas vão estar sob o CEO Demis Hassabis. O grupo que desenvolve a aplicação continua sob a liderança de Sissie Hsiao, noticia a Reuters.

Outras alterações na estrutura da Google passam pela transição de Prabhakar Raghavan para chief technologist, mais próximo de Sundar Pichai e pela chegada de Nick Fox para liderar a equipa de Knowledge and Information.

O fracasso da missão Starliner da Boeing, que acabou por deixar astronautas sem forma de regressar à Terra, leva a NASA a reforçar a aposta na SpaceX. A agência espacial confirmou que a missão Crew-10, marcada para a partir de fevereiro de 2025, e a missão Crew-11, marcada para a partir de julho de 2025, vão ser feitas com a cápsula Crew Dragon da empresa de Elon Musk.

Antes, a expetativa era que a Boeing, com a Starliner, pudesse ser o meio de transporte escolhido. Agora, o fracasso da missão inicial, faz com que a empresa esteja posta de parte para já. “O timing e a configuração do próximo voo Starliner vai ser determinado quando tivermos um melhor conhecimento sobre o caminho da Boeing para a certificação de sistemas”, confirma o comunicado da NASA. Para conseguir a certificação, a empresa terá mostrar o plano com as lições aprendidas com o Crew Flight Test, receber aprovações para a certificação final de produtos e garantir que está pronta operacionalmente. A NASA não descarta, para já, um voo a realizar ainda em 2025, embora não se saiba se esse será tripulado.

Na origem deste impasse está o falhanço no voo lançado em junho, em que dois astronautas da NASA já não conseguiram regressar e tiveram de ficar na Estação Espacial Internacional durante muito mais tempo do que inicialmente previsto. Durante a viagem para a Estação Espacial, cinco dos propulsores da Boeing falharam e registaram-se ainda cinco fugas de hélio. Butch Wilmore e Sunni Williams, os dois astronautas, vão acabar por regressar numa cápsula Dragon da SpaceX em fevereiro de 2025 e o módulo Starliner irá regressar sem pessoas a bordo. A missão que deveria demorar oito dias vai acabar por demorar oito meses ou mais.

A NASA atribuiu, em 2014, os concursos para voos espaciais à Boeing e à SpaceX. A empresa de Elon Musk acabou por ultrapassar o gigante que, na altura, tinha um peso muito maior na indústria aeroespacial. 

Em breve, surgirá uma nova realidade em que um único passo em falso na segurança informática de uma empresa não só custará muito dinheiro, como também poderá custar o emprego dos líderes empresariais. Desde dezembro de 2022, tornou-se claro que mais de 160.000 organizações europeias precisam de reforçar a sua segurança informática e de informação para proteger as infraestruturas essenciais. Com data de implementação a 17 de outubro de 2024, as implicações são mais abrangentes do que nunca.

Embora a Diretiva NIS2 vá, sem dúvida, aumentar a atenção dada à cibersegurança, o estudo da Frontier Economics “Implications of New Cyber Security Measures in Portugal” demonstra que também pode trazer aspetos negativos para as empresas. O estudo, encomendado pela Huawei, estima que a implementação da diretiva NIS2 em Portugal traga “um aumento dos custos para as empresas de 529 milhões de euros” e “preços mais elevados para os setores diretamente afetados, mas também preços mais elevados noutros setores”.

Já noutro relatório, da Agência da União Europeia para a Cibersegurança (ENISA, na sigla em inglês), a projeção é de que o projeto de lei custará (em média) às empresas portuguesas cerca de 800 mil euros. Estes números sublinham os custos financeiros, mas é o impacto pessoal que realmente distingue a NIS2 das diretivas anteriores, como o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (GDPR, na sigla em inglês).

Para além disso, como é um projeto de lei que carece de orientações e instruções claras para ajudar as empresas e os gestores a compreender se estão abrangidos pela NIS2 e como cumprir os requisitos, a falta de clareza aumenta o risco de as empresas não estarem devidamente preparadas quando a lei for aplicada e pode expor as empresas portuguesas a sanções graves.

Sanções mais severas e responsabilidade pessoal

O GDPR já introduziu sanções severas para as violações de dados, mas o NIS2 vai mais longe ao tornar os líderes empresariais pessoalmente responsáveis pela segurança das infraestruturas críticas. Nestes casos, de acordo com o projeto de lei, “as coimas aplicáveis às pessoas singulares (…) terão em conta o nível geral de rendimentos e a situação financeira da pessoa”. Além disso, o projeto de lei estabelece que, em função da gravidade da infração, as coimas serão limitadas a um máximo de, pelo menos, 7 milhões de euros ou 1,4% do volume de negócios anual global da empresa no exercício financeiro anterior, consoante o que for mais elevado. Para as pequenas e médias empresas, uma coima deste tipo pode ser devastadora e a direção pode também correr o risco de ser processada ou de lhe serem retiradas responsabilidades de gestão.

Além disso, é responsabilidade da direção informar as partes interessadas, os fornecedores, os clientes e as autoridades nacionais o mais rapidamente possível em caso de ciberataque. Por conseguinte, os gestores não devem apenas subcontratar as tarefas, mas também frequentar ações de formação em cibersegurança para poderem participar no processo de avaliação e implementação de potenciais riscos e medidas.

Preparação e aplicação da NIS2

A NIS2 contém 10 requisitos mínimos que devem ser implementados até março de 2025, tanto a nível organizacional como técnico.

Para implementar a NIS2 com êxito, os profissionais de segurança de TI e os líderes empresariais têm de colaborar ativamente. Por esse motivo, os líderes devem considerar os quatro passos seguintes antes da implementação:

  • Conhecimento: Os gestores devem ter conhecimentos básicos de cibersegurança para poderem comunicar eficazmente com o seu pessoal de segurança informática e dar-lhes instruções bem fundamentadas e convincentes.
  • Pessoas: É importante criar um departamento de segurança de TI flexível que compreenda as exigências acrescidas da NIS2. Por essa razão, é boa ideia ter um responsável pela proteção de dados (DPO), para além de um responsável pela segurança da informação (CISO), onde as tarefas possam ser distribuídas de forma sensata.
  • Auditoria: É necessário efetuar uma revisão e análise exaustiva e crítica de cada área em relação à situação de risco e à NIS2. Isto inclui auditorias regulares e o controlo dos sistemas.
  • Incidentes: Por último, mas não menos importante, devem ser estabelecidos procedimentos claros para lidar com qualquer ataque informático, incluindo a rápida comunicação aos parceiros, fornecedores, clientes e autoridades nacionais competentes.

Compromisso de longo prazo

A implementação do NIS2 exige uma colaboração estreita entre a direção e o pessoal de TI. Trata-se de um processo a longo prazo que exige um compromisso e formação contínuos. A partir de 2028, as organizações devem documentar anualmente a sua infraestrutura de TI em conformidade com a NIS2 e garantir que as suas medidas de segurança são atualizadas de acordo com os níveis e normas tecnológicos atuais.

Com os requisitos da Diretiva NIS2 e os futuros regulamentos da Lei Europeia da Ciberesiliência a tornarem mais rigorosos os requisitos para os produtos digitais na UE, é evidente que os líderes empresariais não podem continuar a ignorar as suas responsabilidades. Devem participar ativamente na implementação de medidas de segurança sólidas e assegurar a monitorização e atualização contínuas dos seus sistemas informáticos.

Se tomarem medidas pro-ativas agora, as organizações podem não só evitar multas e sanções significativas, mas também proteger os seus dados, reputação e operações comerciais de potenciais ciberameaças. Ao fazê-lo, as organizações podem ser mais fortes face a desafios futuros e criar um ambiente digital seguro para todas as partes interessadas da empresa.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Tenho à minha frente o raio-x do crânio de uma criança pequena. Vê-se nitidamente uma bala. Apontada para baixo em direção à nuca. Sinto uma náusea. Acabei de deixar os meus filhos na escola e, enquanto bebo um café, vejo as imagens partilhadas com o The New York Times por uma médica, chamada Mimi Syed, que trabalhou em Gaza entre 8 de agosto e 5 de setembro. É fisicamente doloroso ler os relatos compilados para o jornal por um outro médico, Feroze Sidhwa, sobre o que se passa nos hospitais da Palestina. Mas não posso desviar os olhos. Não podemos desviar os olhos.

Feroze Sidhwa já foi voluntário na Ucrânia e no Haiti. Mas nada o preparou para o que viu em Gaza. Durante quase todos os dias em que esteve na Palestina, viu entrarem pelas urgências crianças pequenas alvejadas na cabeça ou no peito. “Na altura, assumi que isto devia ser obra de um soldado particularmente sádico a lutar nas redondezas. Mas, depois de regressar a casa [nos Estados Unidos], conheci um médico que tinha trabalhado noutro hospital em Gaza dois meses antes de mim”. Nesse encontro, Sidhwa partilhou o seu choque perante a quantidade de crianças que vira baleadas na cabeça. “Sim, eu vi o mesmo. Todos os dias que lá estive”, respondeu o outro médico.

A resposta e a forma como a Palestina se tornou um buraco negro para a informação, graças às restrições cada vez maiores ao trabalho dos jornalistas naquela zona, fez com que Feroze Sidhwa fosse à procura de outros médicos que, como ele, tivessem estado a trabalhar na região e estivessem dispostos a partilhar o que viram. Falou com 65, dos quais 57 aceitaram contar as suas histórias, identificando-se, enquanto oito pediram anonimato “ou por ainda terem familiares em Gaza ou na Cisjordânia ou por temerem sofrer retaliações nos seus locais de trabalho”.

O que se segue são páginas e páginas de histórias que me deixaram atordoada. Falam de crianças que pedem para morrer, meninos a quem são feitas amputações sem analgésicos e não vertem uma lágrima, médicos que numa única noite recebem seis crianças com idades entre os cinco e os 12 anos cada uma delas com uma bala na cabeça ou uma bebé de 18 meses também com o crânio desfeito por um tiro.

“Vi muitas crianças. Na minha experiência o ferimento era quase sempre na cabeça”, diz o Dr. Ndal Farah. “Um dia, quando estava nas urgências, vi uma criança de três anos e outra de cinco, cada uma com um tiro na cabeça. Quando perguntei o que se tinha passado, o pai e o irmão disseram que tinham ouvido dizer que Israel estava a retirar de Khan Younis e resolveram voltar para ver se tinha sobrado alguma coisa da sua casa. Havia, contaram, um sniper à espera, que baleou as duas crianças”, relata o Dr. Khawaja Ikram.

O pessoal médico que esteve em Gaza fala de fome extrema, de mães incapazes de amamentar os filhos por estarem desidratadas e subnutridas que imploram por leite de fórmula que não existe, de operações feitas com material reutilizado sem qualquer esterilização, de médicos e enfermeiros que não têm sequer como lavar as mãos. Há um buraco que se me abre no peito enquanto leio estes relatos.

Vem-me à cabeça o título do livro sobre colonialismo do sueco Sven Lindqvist, que é ao mesmo tempo um grito de desumanidade e um resumo de um projeto político. “Exterminem todas as bestas”. É uma frase que Lindqvist vai buscar ao romance de Joseph Conrad O Coração das Trevas, escrito em 1899, numa altura em que a colonização era apresentada como um programa de progresso e civilização.

O grau de extermínio e crueldade de que são capazes colonizadores e nazis só é suportável depois de se desumanizarem as suas vítimas. E isso é verdade em qualquer época histórica. Só depois de olharmos para os outros como “bestas” os podemos aniquilar, convencidos até de que o fazemos por um bem maior. E esse é um mecanismo que conhecemos bem e que podemos compreender.

O que é absolutamente incompreensível para mim é a forma como as democracias liberais ocidentais estão a fingir que não veem o que se passa na Palestina. Não é que não ignorem também os horrores do Saara Ocidental, do Sudão ou de outros pontos do globo. Mas Gaza é, apesar de tudo, um horror que desfila perante os nossos olhos indiferentes todos os dias. E escolhemos ignorar.

“Não é de informação que carecemos. O que nos falta é a coragem para compreender o que sabemos e tirar conclusões”, escreveu Sven Lindqvist, que morreu em 2019.

Uma das conclusões que mais me inquieta é a sentença de morte que estamos a escrever à democracia. A política convive com um certo grau de hipocrisia a que em jargão diplomático se chama realpolitik, mas o sistema em que vivemos não sobreviverá à escalada da desumanização, à destruição da mais básica decência, à aniquilação de direitos que consagrámos na lei depois dos horrores do Holocausto nazi.

E, se durante muito anos, convivemos com massacres e horrores fora do mundo ocidental, o globo encolheu hoje a tal ponto que é impossível que essa barbárie não nos contamine a todos. Nós somos os bárbaros. Sempre fomos. Mas seremos também as bestas. Hoje, são os filhos de Gaza com as cabeças desfeitas por balas. Amanhã serão os nossos. Estamos a abrir o caminho para isso.

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Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Por onde começar? Há tantos pontos de destaque nesta máquina de jogos da Asus que difícil é escolher qual o mais relevante. Talvez, no final, seja a combinação de todos eles que tornam o ROG Zephyrus G16 num dos melhores portáteis de gaming da atualidade.

À grande e à taiwanesa

Afinal, já sabemos por onde começar. Pelo trackpad. Sim, leu bem, pelo trackpad. Primeiro porque é diferente começar por este elemento, segundo porque ele merece mesmo ser destacado. É garantidamente um dos maiores que já usámos num portátil. Temos uma área muitíssimo generosa para movermos os dedos de um lado para o outro e isto é valioso para os utilizadores que gostam de usar os gestos que o Windows suporta (por exemplo, deslizar com três dedos para minimizar todas as aplicações abertas). É também supersuave e tem uma boa resposta aos nossos toques. Além do mérito próprio, o trackpad do ROG Zephyrus G16 é a analogia perfeita para todo o portátil – aqui tudo é feito em grande e com uma atenção ao pormenor muito boa.

ROG Zephyrus G16

É também caso disso o ecrã. Nos últimos anos, os portáteis de gaming têm crescido em tamanho, pelo simples facto de os jogos (e não só) terem um maior impacto quanto maiores estiverem em frente aos nossos olhos. Já tínhamos testado a versão de 14 polegadas e agora temos a de 16 polegadas, com uma área útil muito boa para jogar em movimento. A Asus capricha, ao dar-nos um ecrã OLED de elevada qualidade: na resolução e nitidez, nos níveis de contraste acentuados, nas cores de muito boa saturação. Aqui, os conteúdos ganham outra ‘vida’, como os cenários visualmente dramáticos de Hellblade II ou as planícies destacadas de Ghost of Tsushima. Mas este portátil está talhado para outra tipologia de jogos – os mais frenéticos e competitivos, como Valorant, já que a taxa de atualização máxima atinge os 240 Hz. Além da vantagem competitiva que dá na fluidez dos jogos, acaba por garantir uma experiência muito rápida, em termos de interação visual, noutros elementos, como redes sociais, sites de notícias e outros serviços online que os utilizadores estão habituados.

Curiosamente, o tamanho do portátil não tem impacto no teclado. A Asus optou por não expandir muito o tamanho e o espaço entre teclas, com este teclado a ocupar, sensivelmente, o mesmo tamanho que ocuparia num portátil de 14 polegadas. Gostávamos de ter visto, no entanto, uma fila de teclas dedicadas a funções rápidas ou macros para jogos (já que espaço não falta), mas gostamos desta opção minimalista e mais funcional que a Asus apresenta e que acaba por ser aproveitada para outro fim: o sistema de som do portátil sai a ganhar com o espaço extra que ocupa, dando-nos muito volume, muito detalhe, assim como uma maior sensação de imersão aos utilizadores no que a músicas, ambientes e efeitos sonoros diz respeito. É, garantidamente, um dos pontos muito positivos desta máquina.

Além do maior conforto visual, da qualidade sonora e de utilização, no global, que um portátil deste tamanho traz, a Asus consegue manter o peso abaixo da barreira psicológica dos dois quilogramas, o que nos parece um valor excelente considerando que este é um portátil dedicado para videojogos… e está muito bem apetrechado.

ROG Zephyrus G16: O melhor de dois mundos

Este portátil está equipado com aquele que é um dos processadores mais avançados da AMD do momento. Que vem conjugado com uma das placas gráficas de gama média, mas de nova geração, da Nvidia. O que combinado dá um desempenho muito bom para jogos. Conseguimos jogar Hellblade II (resolução 2,5K e no modo de desempenho) a uma média de 40 fotogramas por segundo (fps) e Ghost of Tsushima (resolução 2,5K e definições gráficas todas no máximo) a 60 fps de forma consistente. 

Preparado para a IA

Há ainda outro elemento que lhe pode interessar. O chip que alimenta este portátil da Asus já pertence à família de processadores com unidades de processamento neural (NPU), sendo a deste modelo capaz de entregar 50 TOPS de performance. Isto significa, acima de tudo, que este computador é capaz de executar localmente as diferentes funcionalidades de Inteligência Artificial que têm chegado ao sistema operativo Windows.

Relativamente aos jogos, de sublinhar que mesmo sob uma pressão de desempenho grande, o sistema de dissipação além de evitar que o portátil aqueça (mas cuidado com o que tem em frente às grelhas de saída de ar, pois rapidamente essa área fica quente), mantém o nível de ruído muito aceitável, um ponto importante sobretudo para os que apreciam jogar pela noite dentro.

O desempenho muito competente alarga-se a outras áreas. A utilização de ferramentas de produtividade, como serviços de videochamadas e processadores de texto, faz-se sem quaisquer problemas e com múltiplas tarefas a acontecerem em simultâneo. O entretenimento está mais do que assegurado, com o streaming de alta qualidade a poder ser feito sem que isso tenha um impacto significativo no desempenho do computador. E pode mesmo fazer edição de fotografia, vídeo e áudio com o ‘poder’ que este processador e placa gráfica asseguram.

ROG Zephyrus G16: Personalização, what else?

O terceiro grande pilar deste portátil – além do tamanho e da performance – é sem dúvida a personalização. Apesar de esteticamente ser uma espécie de Macbook Pro para jogos, com um aspeto quadradão, minimalista e um perfil de chassis mais de portátil de produtividade do que de gaming, a verdade é que tem elementos suficientes para destacar esta máquina de todas as outras. A Asus volta a repetir a faixa metálica diagonal com elementos luminosos que já tínhamos visto e testado no modelo G14, o que dá, sem dúvida, um elã a este portátil e capta a atenção de quem passa por ele. Depois o teclado tem uma retroiluminação de intensidade forte e personalizável, através do software da Armoury Crate da Asus.

ROG Zephyrus G16

Dois últimos destaques para a conectividade e autonomia. Do ponto de vista das ligações multimédia, consideramos que existem em bom número e género (só a ausência de uma ligação direta para cabo de rede é que pode não fazer sentido para alguns jogadores), além de apreciarmos o facto de as portas multimédia estarem bem distribuídas pelas duas laterais do portátil. Quanto à autonomia, este portátil mostrou-se em linha com as nossas expectativas, dando cerca de quatro horas de utilização no modo equilibrado, mas espere apenas cerca de metade se a utilização destinada forem os jogos e com a performance no máximo (ah, e o carregador é um ‘calhamaço’).

A única grande crítica que temos é que o sistema Nvidia Advanced Optimus, que gere automaticamente qual a placa gráfica (discreta ou dedicada) a usar para alimentar o ecrã, o que ajuda em termos de consumo energético, acaba por atrapalhar bastante a nível visual, pois muitas vezes o ecrã sofre pequenos apagões enquanto o sistema muda a placa gráfica (algo que acabamos por desligar).

Mais do que imagens bonitas

Sim, os ecrãs OLED têm um elevado nível de contraste e cores aveludadas. Mas têm outra vantagem importante nos jogos – o tempo de resposta. Como nestes painéis cada LED é, ao mesmo tempo, a sua própria fonte de luz, isso permite atingir tempos de resposta muito baixos entre aquilo que está a ser renderizado pelos processadores e aquilo que está a ser mostrado. Neste modelo, esse tempo de resposta é de apenas 0,2 segundos. A Asus vai mais longe e ainda garante compatibilidade com a tecnologia G-Sync, para que não existam ‘quebras’ de performance visuais enquanto jogamos.

Em resumo, o Asus ROG Zephyrus G16 é um portátil de jogo muito completo e praticamente sem falhas de execução. O que mais impressiona é a forma como a marca consegue encontrar este equilíbrio numa máquina que torna muito real a sustentável leveza dos jogos.

Tome Nota
Asus ROG Zephyrus G16 GA605 | €2999,99
asus.com/pt

Benchmarks PCMark 10 Extended: 10452 • Essenciais 10750 • Produtividade 10710 • Criação Conteúdo Digital 13774 • Jogos 20342 • 3DMark: CPU Profile 1 Thread/ Max Threads 1154/10295 • Time Spy 10640 • Time Spy Extreme 5119 • Wild Life 57591 • Wild Life Exreme 19698 • Fire Strike 23849 • Fire Strike Extreme 12184 • Fire Strike Ultra 6184 • Night Raid 59355 • Port Royal 6345 • Solar Bay 46573 • Steel Nomad Light 22937 • Steel Nomad 2294 • Speed Way 2588 • Cinebench R23: CPU Single 1982 • CPU Multi 22463 • Cinebench 2024: CPU Single 115 • CPU Multi 1176 • GPU 10854 • Geekbench 6 Single/Multi 2799/15417 • GPU 108368 • Final Fantasy XV (FHD, Standard) 13741 • Final Fantasy XV (4K, High) 4297 • Autonomia (PCMark 10 Modern Office, Modo desempenho) 2h45 • Autonomia (PCMark 10 Modern Office, Modo equilibrado) 4h31

Ecrã Excelente
Produtividade Excelente
Jogos Muito bom
Conetividade Excelente

Características Ecrã OLED 16”, 2560×1600 p, 240 Hz • Proc. AMD Ryzen AI 9 HX 370 (12 núcleos, 24 threads), GPU Nvidia GeForce RTX 4070 (8 GB GDDR6), NPU AMD XDNA (50 TOPS) • 2x 16 GB RAM LPDDR5X, 2 TB SSD (PCIE Gen 4) • Wi-Fi 7, BT 5.4 • 2xUSB-A (3.2), 1xUSB-C (4, DP), 1x USB-C (3.2, DP), 1xHDMI (2.1), áudio 3,5 mm, leitor cartões SD • Videoconferência: webcam 1080 p, 3x microfones, 4 altifalantes • Bateria: 90 Wh • 354x246x16,4 mm • 1,85 kg

Desempenho: 4,5
Características: 5
Qualidade/preço: 3

Global: 4,2

Já se escreveu que este é um Orçamento do Estado “minimalista”, “de continuidade”, e até que “poderia ter sido feito por um governo do PS”. Será que, quando as contas estão certas, a ideologia (já) não interessa? As diferenças entre esquerda e direita – neste caso, entre o PS e a coligação PSD/CDS no poder – esbatem-se desde que o equilíbrio entre receita e despesa permita um saldo orçamental positivo no final do ano? É o que parece indicar a cedência do Governo em duas das suas bandeiras eleitorais – a redução do IRC e o alargamento do IRS Jovem –, para tentar convencer o PS a deixar passar a proposta de OE para 2025 no Parlamento. Mas mesmo essas duas medidas não são tão diferenciadoras como poderiam parecer. Foi o executivo de António Costa que criou o IRS Jovem em 2020, para travar a emigração de jovens qualificados. No IRC, assistimos no passado a reduções na taxa do imposto tanto por parte de socialistas como de sociais-democratas. É nas funções sociais do Estado que poderemos encontrar as maiores diferenças, embora se fale menos delas. Num momento em que há divisões no PS sobre o que fazer em relação a esta proposta do Governo, antigos governantes de executivos socialistas, ouvidos pela VISÃO, analisam as semelhanças e as diferenças nas principais medidas do OE para 2025.

Contenção fiscal no IRS e no IRS Jovem

Sérgio Vasques, sócio da boutique fiscal Lobo Vasques e Associados, e ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, entre 2009 e 2011, considera que “as contas públicas equilibradas tornaram-se um património comum” dos partidos políticos. Admite que esse desígnio “limita” as políticas e que a proposta orçamental do atual Governo é “muito contida em matéria fiscal”. Em sua opinião, os orçamentos dos últimos governos do PS já eram “muito enxutos. Faziam-se acertos nas taxas, atualizações nos escalões e pouco mais”. Mesmo no IRS Jovem, “não há grandes diferenças” entre o que propõe o PSD/CDS e o que vem de trás. “É uma continuação”, acrescenta.

A proposta de OE para 2025 prevê uma diminuição de 5,8% na receita do imposto sobre o rendimento de trabalhadores e pensionistas (de €17,6 mil milhões para €16,6 mil milhões), em consequência das alterações nas taxas do IRS aprovadas pelo Parlamento já este ano, e que se fizeram sentir a partir de setembro, com retroativos, e também do alargamento, previsto para o próximo ano, do IRS Jovem até aos 35 anos de idade. Esta medida, que deverá abranger 350 mil a 400 mil jovens em Portugal, terá um impacto orçamental estimado em €525 milhões de euros, ou seja, cerca de metade da redução esperada na receita do IRS.

Miranda Sarmento O pai do Orçamento “minimalista” e de “continuidade” conseguiu imprimir algumas marcas da direita Foto: Luís Barra

Descer impostos está inscrito no ADN dos partidos de direita, mas o PS não lhe tem sido indiferente. O IRS Jovem foi criado pelo governo de António Costa em 2020 e alargado, nos anos seguintes, a um universo cada vez maior de contribuintes durante os primeiros cinco anos de atividade no mercado de trabalho. No OE deste ano, estava previsto que beneficiasse 80 mil jovens, com um custo estimado de €200 milhões.

O último Orçamento preparado pelo ex-ministro das Finanças, Fernando Medina, apresentou como novidade a diminuição das taxas nos primeiros cinco escalões do IRS, com um impacto esperado na receita fiscal de €1 327 milhões (superior à quebra agora prevista para 2025). Em junho, a oposição parlamentar aprovou, por proposta do PS, uma nova redução das taxas do IRS, desta vez até ao sexto escalão de rendimentos, fazendo subir esse impacto para mais de €1 500 milhões em 2024. Para 2025, apenas está prevista uma atualização dos limites dos escalões do IRS em 4,6%, o dobro da inflação esperada, acomodando aumentos salariais de até esse valor.

IRC, marca da direita?

“A maior marca ideológica da direita é talvez no IRC”, nota o antigo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais de José Sócrates, admitindo, no entanto, que se a atual liderança do PS se posicionasse “mais ao centro”, poderia propor igualmente uma descida “em um ou dois pontos” na taxa desse imposto – mas, ainda assim, sem se aproximar da meta de 15% que consta do programa do Governo AD.

Na proposta orçamental entregue no Parlamento, a taxa do imposto aplicada aos lucros das empresas irá baixar dos atuais 21% para 20%, descendo apenas um ponto percentual e não dois, como chegou a estar previsto, sem que o Governo se comprometa com novas reduções anuais. As pequenas e médias empresas também beneficiarão de uma descida de um ponto, dos atuais 17% para 16%, na taxa aplicada aos primeiros €50 mil de matéria coletável. Além disso, o Executivo compromete-se com reduções anuais da tributação autónoma até atingir 20% em 2028, criação de incentivos fiscais para as empresas que aumentem os salários em mais de 4,7% e que ofereçam seguros de saúde aos trabalhadores e familiares, e ainda de incentivos à recapitalização das empresas com recurso a capitais próprios.

Durante o último governo PSD/CDS, chefiado por Passos Coelho, foi criada uma comissão para a reforma do IRC “orientada para a competitividade, o crescimento e o emprego”, sob a orientação do fiscalista António Lobo Xavier. A taxa do imposto acabou por descer de 25% para 23%, e posteriormente para os atuais 21%. Os socialistas mantiveram inalterado esse valor quando, em 2015, António Costa formou governo, mas criaram incentivos fiscais à inovação e ao investimento e diminuíram a carga fiscal sobre os lucros das pequenas e médias empresas.

Este Orçamento tinha de ir mais longe nas pensões, porque há condições para o fazer

Ana Mendes Godinho, deputada do PS

Manuel Caldeira Cabral, ex-ministro da Economia, entre 2015 e 2018, e membro do grupo de sábios que elaborou o plano económico com que os socialistas se apresentaram às eleições de 2015, sublinha que o PS não é contra uma descida do IRC. “Já o fez no passado, durante o governo de António Guterres, e voltou a fazê-lo com José Sócrates. António Costa, por sua vez, decretou uma descida seletiva para as empresas que investem e apostam na inovação, e o próprio líder atual do PS acaba de propor um crédito fiscal ao investimento. Este Governo está a defender uma redução mais acentuada do imposto, privilegiando todas as empresas, mesmo aquelas que registam grandes lucros em mercados rentistas e protegidos, e que vão passar a pagar menos impostos mesmo sem investirem”, afirma.

Para o economista, a “receita habitual” da direita, que consiste na redução generalizada de impostos para estimular o crescimento económico, “não está muito expressa neste orçamento. O Governo disse que o modelo anterior não era bom, defendeu uma redução de impostos e uma diminuição da despesa do Estado, mas o que propõe neste OE é um crescimento do peso da receita e da despesa corrente e total em % do PIB. E aumenta os impostos sobre a produção para poder descer os impostos sobre o rendimento”.

Recordando que “a direita era muito crítica da esquerda quando sucedia algo semelhante”, Caldeira Cabral constata, porém, que, à exceção do IRC e do reforço da despesa com a Defesa, a proposta orçamental para 2025 “não é muito marcadamente ideológica. O peso do Estado não se altera; o discurso é que sim”, disse ainda.

Fratura nas pensõese nos salários

“Este é mesmo um Orçamento ideológico, procurando esconder nos detalhes a sua verdadeira natureza”, afirma, pelo contrário, Ana Mendes Godinho, ex-ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social nos dois governos do PS (2019-2024). Vamos então aos detalhes.

Para a atual deputada socialista, a proposta de OE para 2025 representa um “ataque ideológico” ao sistema público de Segurança Social, abrindo caminho à fragilização do sistema e à privatização das pensões. Como? Ao criar um teto para as transferências da receita do IRC para o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social, uma prática iniciada em 2018, estará a limitar o crescimento “desta almofada extraordinária das pensões que conseguimos reforçar nos últimos anos” – e que, como o Público noticiou, vale 41 mil milhões de euros e já cobre dois anos de despesa do Estado com pensões de reforma. Além disso, “abre a porta a isenções de TSU para fundos complementares privados de reforma”.

Isentar de IRS e de TSU os prémios salariais (uma espécie de 15º mês, a que nem todos têm acesso) e as despesas de representação até 30 mil euros é outra diferença entre esquerda e direita que, para a antiga governante, “agrava desigualdades entre trabalhadores”, ainda mais quando este Orçamento “congela os aumentos salariais em 4,7%, uma vez que as empresas pagarão o restante através de prémios salariais e despesas de representação (que não contam para reforma, subsídio de desemprego, parentalidade, etc.)”. “Não nos esqueçamos de que os salários declarados à Segurança Social em 2024 registam até ao momento um aumento de 6%, um ritmo que com este Orçamento claramente desacelerará” e, em sua opinião, poderá mesmo pôr em causa “a sustentabilidade futura do sistema”.

Ana Mendes Godinho critica também o Governo por “deixar as pessoas em suspense” à espera de um bónus extraordinário das pensões no próximo ano, a atribuir apenas “se houver margem” orçamental. ⁠”Este Orçamento tinha de ir mais longe nas pensões, porque há condições para o fazer”, acredita.

“É mesmo um Orçamento cheio de ideologia, em que só me espanta a reação da Iniciativa Liberal…”, diz ainda, com ironia, a deputada do PS.

Palavras-chave:

Não sou dona da minha vida. Ninguém o é. De que sou eu dona, então?

Dona Dulce. Muita gente me trata assim. Dona. A maioria das mulheres não gosta de ser tratada por Dona. É como se os outros as marcassem com a perda da juventude ou lhes vestissem uma bata e as enfiassem na cozinha. Não me incomoda essa maneira de me tratarem. Por vezes reconheço a hesitação desajeitada, entre a cerimónia do Senhora Dona e o despudor de usarem apenas o meu nome.

Com os homens é simples, Senhor Isto, Senhor Aquilo. E mais facilmente se deixa cair o Senhor do que o Dona. Dona de quê?

Estou disposta a concordar que, em grande parte, aquilo de que somos donos – ou de que nos sentimos donos – é responsável por quase todos os males da humanidade. Gosto da ideia de pertencer. Só que pertencer não é bem o mesmo que possuir. Dona de quê, então?

*

Ultimamente, as notícias do mundo têm-me perturbado. Mundo distante e mundo próximo. O ódio banaliza-se e – sabemo-lo há muito – serve de desculpa para tudo. Mas como aceitar que haja, no horror, vestígios de afeto?

Também por isto me sinto paralisada. Como quem vai a meio de uma reza e, de repente, perde a fé. Que estou eu para aqui a dizer? Paralisada. Despedaçada.

*

Soube da existência de ela e de ele há poucas semanas.

Não eram ricos nem pobres. Pareciam felizes. Escolheram uma pequena povoação do Sul de França para viverem a reforma. Três filhos, sete netos, estavam casados há quase 50 anos. Os amigos consideravam-nos um casal perfeito.

Não os conheço. Nem a ela nem a ele. Por razões diferentes. Diametralmente opostas, diria.

Um coro de mulheres segreda-me,

A noite vem e eu adormeço.

Dispo-me do corpo.

(Ou é o corpo que se despe de mim?)

Entrego-me nos braços de Morfeu.

São belos os corpos adormecidos, os lábios entreabertos, o arquear lento do peito.

Mesmo que pesadelos os sobressaltem, logo se pacificam.

Nas longas asas de Morfeu.

Segura.

De manhã, estendido sobre a cama, o meu corpo é o robe estremunhado que eu visto e me deixa nua.

Assim devia ser.

A pequena povoação do Sul de França chama-se Mazan. Procuro-a na internet. Tem pouco mais de seis mil habitantes. O Google e o TripAdvisor sugerem-me as 10 melhores coisas para fazer por lá. A visita ao castelo é a que recolhe mais gostos dos utilizadores, seguida das provas de vinhos em adegas locais. Alguns sites referem as vindimas e os torneios de paintball. Não parece existir muito para ver em Mazan, pelo que os roteiros turísticos aconselham Avignon. Espreito a vista de satélite no Google Maps. Escolho a opção street view e serpenteio pelas ruas de Mazan, semelhantes a outras por onde já andei na Provença, longas persianas de madeira, hera a trepar por muros e paredes, buganvílias, a promessa do calor encantatório dos livros da Duras.

Um telefone toca a meio da noite.

É quando morrem os que amamos.

Um som estridente.

Como é que não acordo?

O corpo morto?

Nenhum telefone, afinal.

Água a correr nos canos.

Gente acordada, pela casa.

Pé ante pé.

Como é que não acordo?

Morto ou anestesiado.

Tão diferente de um corpo adormecido.

Em muitas noites – dezenas, muitas dezenas de noites –, ele colocava a câmara num tripé e punha-a a gravar, apontada à mulher, deitada nua sobre a cama. Fazia-o depois de a ter anestesiado com comprimidos esmagados na comida. Em cada noite convidava um homem diferente. Alguns regressavam noutras noites.

Ela, a mulher, chama-se Gisèle. Não sei o que escrever sobre a Gisèle. Como escrever.

Despedaçada.

É uma mulher pequena, magra, cabelo curto e liso, franja. Não sei não escrever sobre a Gisèle, sobre o que aconteceu ao corpo da Gisèle e à Gisèle. Nem tudo o que nos acontece, acontece no nosso corpo, mas não há nada que aconteça no nosso corpo que não nos aconteça também. Mesmo que os dois acontecimentos não sejam síncronos.

Não, não era sexo. Nem sexo nem nada que seja nomeado por qualquer outra palavra, mesmo que grosseira, que transfigure o sexo. Violação. Crime. À pasta onde guardava os vídeos, ele chamou ABUSO.

Ele passava muito tempo ao computador.

Criou uma sala de chat a que deu o nome Sem o seu conhecimento.

Seu, delas, das mulheres dos homens que frequentavam a sala.

Ele contava a esses homens que punha a mulher inconsciente com drogas que lhe dava sem ela saber.

Depois fazia com o corpo dela o que lhe apetecesse.

Passou a convidar os homens para irem lá a casa violar a mulher.

Um homem chegava.

Estacionava longe.

Não podia ter fumado.

Não podia usar perfumes.

Tinha de se despir na cozinha.

A torneira aberta, enquanto se despia.

O homem aquecia as mãos na água quente.

Ia para o quarto.

A mulher nua sobre a cama.

O aquecedor ligado.

A câmara a gravar.

O homem violava a mulher.

Ele assistia a tudo.

Quando o homem acabava, ele desligava a câmara.

Ele e o homem iam para a cozinha.

O homem vestia-se.

Sentavam-se na mesa onde ele e a mulher costumavam tomar o pequeno-

-almoço.

Ficavam a ver vídeos da mulher a ser violada.

Até que o homem se ia embora.

Então ele voltava ao quarto.

Limpava a mulher.

Não deixava quaisquer vestígios.

Ligava o computador.

Guardava o novo vídeo na pasta ABUSO.

Terá havido manhãs em que ele acordou a Gisèle com um beijo? Terá havido manhãs em que ela o acordou com um beijo? Como se nada tivesse acontecido. Como se nada fosse voltar a acontecer.

Bem sei que os outros abusam muitas vezes do nosso tempo, exploram o nosso trabalho, manipulam as nossas vontades, entortam o que sentimos. Mesmo os que amamos. Mesmo os que nos amam. Também isso precisa de ser tratado. Mas comecemos pelo mais simples, pelo que não deveria merecer dúvida:

Que eu nada mais tenha – a minha casa, amigos, a caneta preta do meu pai, os meus amores (a propriedade é um mito; incerto e volátil, o imaterial) –, mas enquanto aqui estiver nele fechada, ESTE CORPO É MEU, SOU DONA DO MEU CORPO, SÓ EU DELE DISPONHO.

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O homem mais rico do mundo já escolheu quem é que quer colocar no lugar mais poderoso do mundo. E decidiu ocupar-se pessoalmente dessa tarefa: Elon Musk não só já doou, nos últimos meses, mais de 75 milhões de dólares para a campanha de Donald Trump, como iniciou presencialmente, na última madrugada, uma série de eventos públicos, a solo, para tentar cativar eleitores para o candidato republicano. 
Num país com 345 milhões de habitantes e com cerca de 170 milhões de eleitores registados em 50 estados, a eleição do Presidente não está, como noutras eleições por esse mundo fora, dependente do voto popular. Na América, um candidato pode ser eleito para a Casa Branca mesmo que tenha obtido menos votos que o seu adversário – como sucedeu, aliás, com Trump, em 2016. O importante é, isso sim, alcançar a maioria dos votos no Colégio Eleitoral. O que, no caso atual, tendo em conta a profunda polarização do país, a vitória de Trump ou de Kamala está dependente do resultado que obtiverem em meia dúzia de estados, onde o resultado é hoje, à luz das sondagens, ainda imprevisível. 
A Pensilvânia, onde Trump sofreu, em julho, o atentado que virou a campanha eleitoral, é agora o atual campo de batalha de Elon Musk.

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