Nascido em plena pandemia, sob a direção artística de José Pinho, que tinha o sonho de torná-lo um “festival de referência da língua portuguesa”, como sublinhou em entrevista ao JL [ed. 1346], em maio de 2022, o Festival Lisboa 5L chega à sua 5ª edição pronto a reinventar-se.

Em 2025, aquele que é o único festival literário nacional organizado por uma rede de bibliotecas, a Rede de Bibliotecas de Lisboa, propõe-se “pensar a Língua a partir da ideia de inovação”. Para isso, desafiou três curadores, Carlos Vaz Marques, Catarina Magro e Jorge Amorim, a desenharem uma programação que refletisse o tema Inovação: Utopia / Distopia.

“Inovação sugere o entusiasmo da “utopia”, mas carrega também em si a ameaça da “distopia”. Entre estes dois pólos, a literatura permite-nos explorar sonhos e receios, anseios e angústias”, explica Carlos Vaz Marques relativamente ao programa que, segundo Edite Guimarães, Chefe de Divisão da Rede de Bibliotecas de Lisboa, quer-se “caminho de reflexão, de capacitação, de combate à desinformação e a outras formas de censura, nestes dias que, sendo reais, muitas vezes nos parecem ficção”.

Inovação sugere o entusiasmo da “utopia”, mas carrega também em si a ameaça da “distopia”. Entre estes dois pólos, a literatura permite-nos explorar sonhos e receios, anseios e angústias

carlos vaz marques

De olhos postos no futuro, a grande festa da língua portuguesa arranca a 5 de maio, Dia Mundial da Língua Portuguesa, na Biblioteca Palácio Galveias, com um programa educativo que leva as mediadoras da Rede de Bibliotecas de Lisboa às escolas da cidade para propor leituras e atividades em torno de livros escritos por autores portugueses. Nos restantes três dias (9, 10 e 11), porém, segue para um novo palco: o Beato Innovation District.

O programa destinado a este espaço, “de pensamento livre e esclarecido que olha o português do futuro como o produto saudável de um sistema dinâmico em constante mudança”, nas palavras de Catarina Magro, conta com vários concertos, conversas, espetáculos, exposições, oficinas e palestras, todos de entrada livre e gratuita.

[É um programa] de pensamento livre e esclarecido que olha o português do futuro como o produto saudável de um sistema dinâmico em constante mudança

catarina magro

Haverá tempo para discutir “acerca do que só ao humano é possível”, promete Carlos Vaz Marques, debater “os novos desafios linguísticos colocados pela revolução tecnológica e cultural em curso”, assegura Catarina Magro, e ainda, revela Jorge Amorim, refletir sobre “como podemos preservar a originalidade, o conhecimento e o pensamento crítico”, numa era em que as máquinas começaram a gerar textos e a Inteligência Artificial está na palma da mão de quem quer que tenha um telemóvel.

[vamos refletir] como podemos preservar a originalidade, o conhecimento e o pensamento crítico

Jorge amorim

Palestras, conversas e debates

Centro da programação pensada para o Beato Innovation District são as palestras, conversas e debates, que juntam linguistas, especialistas em filosofia da linguagem, cientistas da computação e criativos.

No dia 9, na Sala das Massas, Tracie D. Hall conduz a palestra “Desinformação, censura de livros e o fim da democracia” (17h), e Patrícia Anzini, Beatriz Santana e Inês Anta de Barros abordam o tema “Inteligência artificial na escrita e educação — pontes para o futuro”, numa conversa moderada por Jorge Amorim (18h).

A 10, na Sala da Amassaria, Rui Torres, responsável pelo Arquivo Digital da Literatura Experimental Portuguesa, fala sobre “5Ls alternativos para entender as práticas literárias experimentais” (12h), Robert Berwick conversa (por videoconferência) com Pilar Barbosa sobre “Língua e mistério: as origens da faculdade da linguagem” (16h), e Carlos Fiolhais, Luís Filipe Silva e Rui Cardoso Martins questionam-se se “A ficção científica já deixou de ser ficção?”, num debate moderado por Luís Ricardo Duarte (17h30).

Também a 10, na Sala das Massas, Cristina Flores, Joana Teixeira e Joaquim Segura debatem “O Português do futuro”, com moderação de Ana Costa (12h30), Amin Maalouf conversa com José Mário Silva (15h), António Feijó e Pedro Mexia debatem se “Ainda há vanguardas literárias?” (16h30), Antónia Coutinho e João Veloso, moderados por João Costa, falam de “Palavras com mau género” (18h), enquanto que Ricardo Araújo Pereira e Francisco José Viegas abordam o tema “Os novos luditas”, num debate moderado por Isabel Lucas (19h30).

Na Sala da Padaria Velha, João Paulo Silvestre e Isabel Macedo, moderados por Henrique Monteiro, questionam-se se “Na ortografia não se mexe?” (17h) e Valério Romão, Sandra Guerreiro Dias e Sal Nunkachov discutem se “A experimentar a poesia experimenta-nos”, com moderação de Manuel Portela (18h30).

No último dia de evento, 11, a Sala das Massas recebe a palestra de Alberto Manguel: “A ficção distópica a imaginar desastres” (12h), a conversa de Juan Villoro com José Alberto de Carvalho (15h), o debate entre Samuel Úria e Capicua, com moderação de Nuno Artur Silva, “O ofício da língua” (16h30), uma conversa entre Paul Lynch e Isabel Lucas (18h) e o debate entre Dulce Maria Cardoso e Lídia Jorge, com moderação de Ana Sousa Dias, “O que só aos humanos é possível” (19h30).

Na Sala da Amassaria, decorrerão a palestra “A língua portuguesa na era da IA”, com António Horta Branco (12h30), os debates “Novilínguas”, com Inês Duarte, Teresa Botelho e Teresa Marques, e moderação de Patrícia Fernandes (16h), “Reler Utopia de Thomas More”, com Rui Tavares e Miguel Morgado, e moderação de Bárbara Rei (17h30), e “A língua da máquina”, com Arlindo Oliveira e Robert Clowes, e moderação de Raquel Amaro (19h).

Esposições, concertos e espetáculos

Uma componente do Festival 5 L que sempre foi muito importante é a ligação do evento a outras artes. A edição de 2025 não é exceção. No espaço exterior do Beato Innovation District, estarão patentes, ao longo de todos os dias do festival, as exposições Desenha-me uma Máquina, que nasceu do desafio lançado a vinte ilustradores portugueses para representar uma máquina imaginária acompanhada do respetivo manual de instruções, e Todas as coisas são mesa para os pensamentos, a qual, a partir do acervo de máquinas de escrever do Banco Santander, apresenta obras de poesia visual de artistas como Mané Pacheco, Xavier Ovídio, Ed Ruscha, Fernando Aguiar, Dom Sylvester Houédard, Ana Hatherly ou Leonora de Barros, entre outros.

Estão previstas também diversas propostas na área da música. No dia 9, Drumming – Grupo de Percussão, Beatriz Batarda e António Jorge Gonçalves sobem ao palco com o espetáculo multimédia “São feitas de palavras as palavras” (21h), depois do qual arranca o DJ set (23h) preparado pela Associação Rimas ao Minuto.

A 10, Ana Sofia Paiva, Jorge Cunha Machado e Simon Franke apresentam “Unicórnios e Violetas” (21h), um concerto narrativo sobre a língua e o amor, seguido de “Cidade Nua” (22h), pela Lisbon Poetry Orchestra.

A 11, Cristina Paiva serve “Poesia à la Carte” (16h) numa performance com propostas poéticas para todos, e Ana Lua Caiano encerra, com a sua música, a presente edição do evento.

Lançamentos, apresentações e oficinas

A decorrer um mês antes do arranque da Feira do Livro de Lisboa, a 5ª edição do 5L incluirá também, no dia 10, o lançamento dos livros “Nós” (16h), com a presença do autor David Machado e do ilustrador João Fazenda, e “A Pequena Comunista que Nunca Sorria” (17h30), com a presença da autora Lola Lafon e do tradutor Luís Leitão.

Apresentam-se ainda “A Arte de Gostar de Ler” (9 às 16h), com o autor Carlos Nuno Granja e o escritor José Fanha, e “Salvar o Tempo” (10 às 11h), com os autores Ricardo Fonseca Mota e Rachel Caiano.

Por fim, estão previstas diversas oficinas, tanto para os profissionais do setor, como “Literatura infantojuvenil e sociedade”, como para o público em geral, como “Poemas mecânicos” e “Explorar o ChatGPT para a escrita do dia-a-dia”.

A primeira utiliza máquinas de escrever para desafiar os participantes a descobrir os “poemas mecânicos” escondidos em cada tecla e funcionalidade, enquanto que, na segunda, munidos do seu próprio computador, estes poderão experimentar IA na produção de texto e técnicas para melhorar as respostas.

Palavras-chave:

Revisitar a prática, o património e si mesmo, que é como quem diz refletir sobre “histórias pessoais e culturais – histórias de migração, trabalho, género e propósito”. São estas as linhas orientadoras da 9.ª edição do Festival DDD – Dias da Dança, a decorrer até 4 de maio, no Porto, em Matosinhos e Vila Nova de Gaia.

Hoje, 30 de abril, às 19h30, sobe ao palco do Teatro Rivoli, no Porto, C. C. (Crematística e Contraforça), uma peça de Vera Mantero e Cúmplices que explora as contra-forças da vida e um universo no limiar do sonho enquanto lugar onde se ensaia a nossa capacidade de mudança.

À mesma hora, na black-box da CRL – Central Elétrica, no Porto, apresenta-se também e nunca as minhas mãos estão vazias, nova criação de Cristian Duarte em companhia, que, num Brasil de constantes transformações, “propõe um olhar sobre como estar junto na diferença e reafirmar a vida diante das adversidades”, diz o coreógrafo paulista.

No Teatro Municipal de Matosinhos Constantino Nery, Sónia Baptista apresenta, às 21h30, KING SIZE, espetáculo que confronta os dispositivos de criação de performances drag contemporâneas com os códigos rígidos de representação de género na dança e no teatro tradicionais. Por fim, às 21h30, no Teatro Municipal do Porto – Campo Alegre, William Forsythe explora as raízes e as origens da dança folclórica, do hip-hop e do ballet através de Friends of Forsythe.

A 2 de maio, às 17h, no Parque das Águas, no Porto, Aboreus, da Ordem do O de Pedro Ramos, faz da árvore cosmos, casa, caminho, um portal para o sistema nervoso, um livro, uma biblioteca ou uma catedral. O mercado do Bulhão recebe a companhia Demolition Incorporada, de Marcelo Evelin, com a ópera Bananada: OPERANTÍPODA (parte I) (2 e 3, às 19h30), primeiro momento de Bananada, uma criação para 24 intérpretes. Ana Isabel Castro leva o seu Adoçar ao palco do Auditório Municipal de Gaia, dia 2, às 21h30, e dia 3, às 15h.

Adoçar, de Ana Isabel Castro, sobe ao palco do Auditório Municipal de Gaia, dia 2, às 21h30, e dia 3, às 15h FOTO: João Octávio Peixoto

A única regra da Festa que as Fylhas do Dragão dão, dia 3 de maio, no palco do Teatro Rivoli, às 22h30, é não parar de dançar. Já Marco Oliveira funde as danças urbanas com a riqueza da música tradicional portuguesa e os ritmos do breakbeat em P_Z_L_S, às 15h, no Parque da Pasteleira, no Porto.

Nos últimos dois dias, no Auditório de Serralves, às 17h, André Uerba, investiga estruturas, políticas e práticas de intimidade, em Æffective Choreography, enquanto Eisa Jocson e Venuri Perera sobem ao palco do Teatro Municipal do Porto – Campo Alegre com Magic Maids, uma luta contra as estruturas que desprezam as mulheres, dia 3, às 19h30, e 4, às 15h.

Nos mesmos dias às mesmas horas, no Teatro Municipal de Matosinhos Constantino Nery, Camilo Mejía analisa a relação intrincada entre o seu corpo e a salsa, no esptáculo VAIVÉN.

Mont Ventoux, do coletivo KOR’SIA, em cena no Teatro Rivoli, dia 3, às 21h30, e 4, às 19h30 FOTO: Maria Alperi

Vagabundus, uma performance de Ídio Chichava, no Teatro Municipal do Porto – Campo Alegre, dia 3, às 21h30 e 4, às 17h, junta 13 intérpretes que dançam e cantam músicas moçambicanas antigas e atuais, gospel e motivos barrocos. Com Mont Ventoux, o coletivo KOR’SIA revisita Ascesa al monte Ventoso, de Petrarca, no Teatro Rivoli, dia 3, às 21h30, e 4, às 19h30.

A 4 de maio, às 16h, Elisa Miravalles realizará a performance Encontros instáveis, especificamente criada para o espaço situado na Rua Sra. das Dores, no Porto, onde se encontra o complexo habitacional projetado por Álvaro Siza.

No ano em que comemora 25 anos de existência, o FIMFA Lx – Festival Internacional de Marionetas e Formas Animadas regressa à cidade de Lisboa com uma edição comemorativa que, de 8 de maio a 1 de junho, apresentará mais de 20 espetáculos de prestigiadas companhias e criadores internacionais e nacionais, em 10 espaços culturais da cidade.

O JL conversou com um dos diretores artísticos do festival, Luís Vieira, da companhia A Tarumba – Teatro de Marionetas, produtora do evento.

Por que razão, há 25 anos, sentiram a necessidade de criar o FIMFA?

Apesar de já sabermos que havia um público para o teatro de marionetas, porque tínhamos a nossa companhia e víamos pessoas interessadas, o festival surgiu numa das muitas viagens que fazíamos pelo estrangeiro, e continuamos a fazer, na qual vimos coisas extraordinárias. Já havia um festival no Porto e outro em Évora, bianual, mas como em Lisboa ainda não havia nada, decidimos arrancar com o projeto, precisamente para tentar mostrar a diversidade deste universo e complementar a falta de oferta que existia no país e na cidade.

Sentem que o FIMFA tem contribuído para que as pessoas percebam que as marionetas não são só para crianças?

Sem dúvida. Infelizmente, esse estigma continua a existir, mas uma das coisas que o festival conseguiu foi instalar-se na cabeça das pessoas, por assim dizer. Há quem tenha um pensamento crítico sobre as artes da marioneta que não tinha há 20 anos. Não é a grande maioria, porque o FIMFA é uma coisa que ainda muita gente não descobriu, mas, quando descobre, fica fascinada.

O que prepararam para a edição deste ano?

Quisemos ter um conjunto de novidades bastante variado. Temos projetos mais clássicos, coisas mais vanguardistas, coisas mais tradicionais, enfim, há de tudo um pouco.

Quais as propostas a não perder até por quem acha que não gosta de marionetas?

O espetáculo de abertura, uma adaptação da Casa de Bonecas, de Henrik Ibsen, que é a nova criação da encenadora Yngvild Aspeli e da companhia franco-norueguesa Plexus Polaire. A Yngvild põe atores e marionetas de tamanho humano em palco e cria um universo na fronteira entre o fantástico e a realidade. Muitas vezes não se sabe bem se são os atores ou as marionetas que estão em cena. Outro que não posso deixar de falar, uma co-produção com o Teatro Nacional, é a Sagração da Primavera, obra icónica do Stravinsky que foi re-imaginada pelo coletivo italiano Dewey Dell de uma forma muito particular, inspirados em insetos, a partir de um conjunto de maravilhosos figurinos e máscaras, com uma coreografia extraordinária e dois break-dancers formidáveis em palco.

Também há espetáculos para famílias?

Sim, vão ser no LU.CA e no Museu de Lisboa, tanto no Palácio de Pimenta como no Teatro Romano. Vamos ter marionetas de fios, um conjunto de marionetistas circenses inspirados em Bosch, os tradicionais robertos e ainda experiências feitas entre artistas plásticos e cientistas, que nos trazem o teatro mais pequeno do mundo, porque trata-se da animação de micro-partículas.

Palavras-chave:

As 12 horas sem eletricidade, que resultaram no caos que conhecemos – e que muito ajudarão a rever e atualizar vários planos básicos de funcionamento vital das autoridades e do Estado, assim como o mínimo de cautela que cada pessoa deve ter – não são verdadeiramente a questão central desta embrulhada.

A que título – e isto nada tem a ver com o atual Governo – é que uma área estratégica de soberania nacional está totalmente entregue a outro país, ainda que vizinho e amigo? É apenas por ser mais barato? Isso é argumento ou explicação suficiente para se parar um país, especular sobre motivos e razões, e banalizar cenários apocalípticos?

Portugal tem as suas próprias fontes de energia elétrica, que não só deve continuar a utilizar, como, em nenhuma circunstância, pode colocar o país nas mãos de terceiros. A Espanha nunca faria isso com a França, ou com Portugal, e por aí fora. Comprar energia à rede espanhola faz todo o sentido, mas deve ser apenas o quanto baste para suprir as necessidades. O contrário é que não pode acontecer.

É isto que queremos? O ideal das melhores contas de um Estado é abdicar de prestar diretamente certos serviços, depositando a sua soberania em capital alheia. Poupava-se em tudo, sim, mas à custa de muitos sarilhos. Mas então seríamos um Estado «morto», uma Nação esbatida e áreas estratégicas denconhecidas. Portugal, se assim quiser, poderá sempre vender o país ao senhor Trump!

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Uma família de três pessoas com idades entre os 56 e os 81 anos foi encontrada morta em casa, esta terça-feira, numa localidade de Ourense, na Galiza (norte de Espanha), por alegada intoxicação com monóxido de carbono.

Segundo a autarquia local e a força policial Guarda Civil, está a ser investigada a possibilidade de a intoxicação ter sido provocada pela má combustão de um gerador de energia usado pela família durante o apagão. As mesmas fontes disseram a vários meios de comunicação social espanhóis que o homem mais velho da família usava um respirador e que o gerador foi usado para alimentar este aparelho.

Num bairro de Madrid, morreu na segunda-feira à noite uma mulher de 52 anos num incêndio na casa onde vivia.

Segundo a Polícia Nacional de Espanha, as primeiras investigações indicam que o fogo, declarado por volta das 22h00 locais (21h00 em Lisboa), foi provocado por uma vela, num momento em que a eletricidade estava ainda a ser reposta em algumas zonas de Madrid.

Outras 13 pessoas receberam assistência médica por intoxicação com fumo no mesmo incêndio no bairro de Carabanchel de Madrid e várias foram resgatadas do edifício em chamas pelos bombeiros, disseram as autoridades locais.

Numa localidade de Valência, morreu uma mulher de 46 anos que dependia de uma máquina de oxigénio para respirar, num caso em que parece haver mais dúvidas por parte das autoridades quanto a uma possível ligação com o apagão. Segundo as primeiras informações divulgadas pela polícia valenciana, a mulher morreu depois de, alegadamente, a máquina de que dependia ter ficado sem energia. No entanto, fontes dos serviços de saúde locais revelaram que se tratava de uma pessoa com várias patologias e que só precisava de usar a máquina de oxigénio durante algumas horas do dia. Segundo as mesmas fontes, os serviços médicos consideraram, no primeiro diagnóstico, que a mulher morreu por “causas naturais”.

A mulher foi encontrada morta hoje em casa pelos serviços de emergência, disse a Polícia Nacional à agência noticiosa espanhola EFE.

A Amazon anunciou esta terça-feira que não exibirá o impacto das tarifas impostas pelo Presidente dos Estados Unidos sobre os preços dos produtos vendidos no país, depois de a notícia nesse sentido ter exaltado os ânimos na Casa Branca.

Em resposta enviada à agência France Press, a multinacional de comércio eletrónico do magnata Jeff Bezos explicou que a a equipa responsável pelos produtos de baixo custo, Amazon Haul, tinha “considerado a ideia de publicar os custos de importação de certos produtos”, mas que a proposta “nunca foi aprovada” e que “não seria implementada”.

Estas declarações surgem após a Casa Branca ter atacado a Amazon, considerando estar perante “um ato hostil e político” da empresa, nas palavras da porta-voz da presidência, Karoline Leavitt, numa conferência de imprensa com o secretário do Tesouro, Scott Bessent.

Leavitt questionou a Amazon por não ter tomado a mesma decisão quando a anterior administração de Joe Biden “levou a inflação ao nível mais alto em 40 anos”.

A porta-voz disse ainda que a medida da Amazon “não surpreende” porque Bezos tem laços comerciais com o Governo chinês.

Os Estados Unidos impuseram direitos aduaneiros de 10% a todos os produtos que entram no país. Antes disso, Donald Trump já tinha aplicado taxas de 25% sobre o aço, o alumínio e os automóveis.

Posteriormente, o Presidente norte-americano concedeu uma trégua de 90 dias na guerra comercial à escala mundial, para permitir que os países afetados negociassem com os Estados Unidos, com exceção da China, que viu as tarifas sobre os produtos aumentarem para 145 por cento.

Durante a campanha eleitoral, Bezos impediu o The Washington Post, jornal de que é proprietário, de apoiar abertamente a candidata presidencial democrata Kamala Harris, quebrando uma tradição de décadas no jornal.

Bezos teve um lugar privilegiado na tomada de posse de Donald Trump, em janeiro passado, ao lado de outros grandes empresários da tecnologia, como Elon Musk e Mark Zuckerberg.

“Vou ligar o churrasco, porque tenho o privilégio de ter um”. E que privilégio, senhora que acaba de ser entrevistada no telejornal de um qualquer canal generalista.

O apagão obrigou-me a levantar da secretária e verificar o quadro elétrico, o burburinho do corredor do prédio fez-me abrir a porta de casa para encontrar a reunião de condóminos em concílio de emergência extraordinário, como se estivessem a discutir o que fazer ao anel.

A primeira pedra foi atirada à Junta, ao que, inevitavelmente, alguém acrescentou os queixumes sobre o degradante aspeto dos jardins. Logo de seguida, o 3º dto. anunciou que a filha, que estava a trabalhar em Madrid, também se encontrava sem luz. Pensei imediatamente no maravilhoso jogo do quarto escuro que iria ser jogado a nível ibérico. “Isto foram os russos. Já vi isto nos filmes”, chutou o 6º esq. acompanhado de sopros desesperados. Voltei para dentro, com a reconfirmação de que a gestão condómina nunca será uma vocação.

Na impossibilidade de trabalhar, ponho-me a ler. No livro “Almoço de negócios em Sintra”, de que desde já ofereço a mais veemente recomendação, o holandês Gerrit Komrij oferecia um retrato que só os estrangeiros, com a distância que lhes é própria, conseguem fazer do nosso país, cómico como ternurento, onde manifestava a tese que em Portugal ainda existiam casas “a sério” como nos desenhos pueris. Gostei da imagem que me embalou para uma sesta.

Acordo sem rede e pouca bateria e decidi ir dar uma volta de carro. Lisboa estava feita nesta grande casa “a sério”, onde as crianças brincam no jardim verde, as casas brancas têm cada uma a sua chaminé com fumo cinzento e o sol está amarelo e cor de laranja. Dirijo-me onde habitualmente me reúno com amigos, numa perpendicular à Avenida de Roma, no cruzamento da Frutalmeida, vazio. Decido, então, ir à janela de uma amiga que vive a uns meros 100 metros do café. “Maria! Maria!” – nada. Uma senhora com pronúncia brasileira veio à janela com um sorriso de orelha a orelha:“Vá-se embora, que ela não quer nada consigo!” Ri-me. Pego no carro, arranco e desço a Avenida de Roma. Com os semáforos apagados, reinava a cerimónia. Ninguém tinha pressa às 18h30, mas sei que durante o dia não foi bem assim. Àquela hora, as ruas estavam cheias de pessoas e vazias de carros. Era a bola de vólei numa mão e a guitarra na outra, era a cerveja de um lado e a mão da namorada do outro.

Sem rumo, sem destino, abro por completo as quatros janelas do carro para deixar que aquele éter da “hora dos mágicos cansaços” perfumasse o carro. Sempre em segunda, a um ritmo característico das coisas belas, continuo a descer a Avenida de Roma, engatando na Manuel Maia, onde o Técnico, imponente, observa a multidão que aproveitava o ar do tempo na Alameda. Os piqueniques multiplicavam-se e as toalhas coloriam a relva verde. Já na Almirante Reis, um transeunte de direitíssimas costas realizava os seus sonhos de menino e servia com toda pompa e circunstância de polícia sinaleiro. Os olhares cruzados entre condutores diziam tudo. “Passe lá, minha senhora”, pensava eu, acompanhando com um gesto de mão. Almirante Reis abaixo, viro na Portugália para casa de um amigo, onde estaciono o carro em segunda fila. Na porta do prédio, uma multidão reunia-se entre sons de rádio e cervejas partilhadas, arquejadas por bolas que sobrevoavam os céus.

Subo, bato à porta e encontro uns outros tantos. O barulho festivo que se seguiu era sinónimo da realização comum de que todos tínhamos tido a mesma ideia. Sem qualquer comunicação peregrinámos na mesma direção, com o sucesso de encontrar o pote de ouro na final do arco-íris. Já se pensava em jantar, pelo que se reuniram, então, os mantimentos disponíveis. O arroz juntou-se a uns ovos com uma tarte de frango que se estragaria inevitavelmente, e fez-se a multiplicação dos pães e dos peixes. Faltava a cerveja. Descemos então à rua para encontrar o estabelecimento do jovem paquistanês Noor, a quem prometemos que pagaríamos assim que os cartões funcionassem. Pouco ou nada o preocupou, talvez pela frequência com que utilizamos o estabelecimento para o mesmíssimo fim, mas certamente porque Noor percebeu perfeitamente o seu papel naqueles tempos de guerra. Abraçámos o homem, que guardou qualquer emoção para si.

Sob os arcos das portas, namorava-se e lia-se; à porta do 96, via-se um rapaz com não mais de 25 anos a escrever sobre fita-cola “Maukie, fomos para tua casa, anda lá ter! : )”. Subimos e enchemos os nossos copos de cerveja pelo grande Noor fornecidos.

Como estava bonita Lisboa naquele momento. A promessa de uma noite estrelada começava a entusiasmar os ânimos. Como seria bom que aquilo que estávamos a viver se prolongasse, a nós que vivíamos no privilégio de não ter assim tão grandes responsabilidades. Como seria bom que aquele povo, poucas vezes como naquele momento, e muitas outras vezes como Sísifo, parasse de subir a colina, respirasse fundo, e absorvesse o pôr-de-sol numa dança sem fim entre Portugal mediterrânico e o Portugal atlântico; como seria bom que Sísifo largasse de uma vez a pedra que o condena à condição de escravo e fosse poeta como naquelas horas tantos foram.

Um barulho brusco precipitou-nos todos para a varanda: estariam a acontecer confrontos de uma qualquer multidão? As luzes ligaram-se e o barulho apoteótico ao qual, inevitavelmente, nos juntámos, celebrava o fim do apagão. Ouvia-se alegria e “Portugal! Portugal!” Abraçámo-nos e comentámos quão bom tinha sido.

Poderia dizer que se tinha feito luz, finalmente, mas a verdadeira luz vivia-se há já umas horas.

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+ A última tasca

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

O debate televisivo entre o primeiro-ministro, Luís Montenegro, e o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, vai acontecer amanhã, às 20h30, na Nova SBE, em Carcavelos, depois do adiamento imposto pelo apagão geral de segunda-feira.

Segundo fonte do gabinete do líder do executivo à Lusa, o debate foi adiado por consenso entre os dois e com o acordo das televisões.

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O frente-a-frente será transmitido em simultâneo pelos três canais generalistas, a RTP, a SIC e a TVI.

Ontem, por breves horas, Portugal parou – ou melhor, os ecrãs pararam.

E, no silêncio que se seguiu, algo mágico aconteceu. As conversas à mesa prolongaram-se sem pressa. O jantar não foi interrompido por notificações. Vimos crianças a brincar na rua como se fosse verão dos anos 90, com gargalhadas que ecoavam de forma genuína. Ouvimos vizinhos a conversar à janela, como quem ainda tem tempo para ouvir. Histórias de jantares à luz das velas, onde a presença era mais do que suficiente.

Há quanto tempo não estávamos tão concentrados em quem está ali, à nossa frente? Sem o ruído digital, sem a ansiedade da rotina.

Do ponto de vista psicológico, isto tem nome: atenção plena relacional. Quando não há estímulos digitais a fragmentar a nossa presença, o cérebro diminui os níveis de alerta e de stress. A oxitocina, a hormona associada ao vínculo e à confiança, tende a aumentar em contextos de conexão genuína. O que sentimos ontem não foi apenas sorte. Foi a biologia a lembrar-nos que é assim que nos regulamos. Com toque, com voz, com afeto. Com tempo.

Curiosamente, quando a internet voltou… voltou também o ruído. Muitas pessoas sentiram uma pontada de ansiedade. As notificações caíram como chuva. Os dedos voltaram a deslizar quase sem querer. A cabeça, que parecia mais leve, ficou de novo cheia.

Não é que a tecnologia seja o problema. O problema é quando ela ocupa o lugar de tudo o resto.

Se o tempo é nosso, ao invés de correr atrás do próximo momento, porque não começamos a viver mais o agora, sem tanta pressa?

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Em declarações ao País, ao início da tarde de hoje, Luís Montenegro anunciou que o atual Executivo vai criar uma Comissão Técnica independente para avaliar as infraestruturas críticas do país e vai pedir a Bruxelas uma auditoria europeia para apurar a origem do apagão que afetou Portugal e Espanha esta segunda-feira. “Não vamos poupar esforços nos esclarecimentos perante um problema sério que não teve origem em Portugal”, disse o primeiro-ministro, a partir de São Bento, em Lisboa, a meio da segunda reunião extraordinária do Conselho de Ministros, que continua reunida para “promover o mais rápido restabelecimento de todos os serviços públicos”

Montenegro assegurou ainda que Portugal “está ligado com normalidade” após a situação “inesperada” que afetou a Península Ibérica e sublinhou a capacidade de superação do país, que conseguiu reiniciar autonomamente o sistema de energia. “Quero dar nota que o nosso país teve uma resposta altamente positiva e forte face a uma circunstância que foi grave, inédita e inesperada”, disse, agradecendo a todos os profissionais que continuaram a trabalhar no dia de ontem e aos portugueses.