Nascido em plena pandemia, sob a direção artística de José Pinho, que tinha o sonho de torná-lo um “festival de referência da língua portuguesa”, como sublinhou em entrevista ao JL [ed. 1346], em maio de 2022, o Festival Lisboa 5L chega à sua 5ª edição pronto a reinventar-se.
Em 2025, aquele que é o único festival literário nacional organizado por uma rede de bibliotecas, a Rede de Bibliotecas de Lisboa, propõe-se “pensar a Língua a partir da ideia de inovação”. Para isso, desafiou três curadores, Carlos Vaz Marques, Catarina Magro e Jorge Amorim, a desenharem uma programação que refletisse o tema Inovação: Utopia / Distopia.
“Inovação sugere o entusiasmo da “utopia”, mas carrega também em si a ameaça da “distopia”. Entre estes dois pólos, a literatura permite-nos explorar sonhos e receios, anseios e angústias”, explica Carlos Vaz Marques relativamente ao programa que, segundo Edite Guimarães, Chefe de Divisão da Rede de Bibliotecas de Lisboa, quer-se “caminho de reflexão, de capacitação, de combate à desinformação e a outras formas de censura, nestes dias que, sendo reais, muitas vezes nos parecem ficção”.
Inovação sugere o entusiasmo da “utopia”, mas carrega também em si a ameaça da “distopia”. Entre estes dois pólos, a literatura permite-nos explorar sonhos e receios, anseios e angústias
carlos vaz marques
De olhos postos no futuro, a grande festa da língua portuguesa arranca a 5 de maio, Dia Mundial da Língua Portuguesa, na Biblioteca Palácio Galveias, com um programa educativo que leva as mediadoras da Rede de Bibliotecas de Lisboa às escolas da cidade para propor leituras e atividades em torno de livros escritos por autores portugueses. Nos restantes três dias (9, 10 e 11), porém, segue para um novo palco: o Beato Innovation District.
O programa destinado a este espaço, “de pensamento livre e esclarecido que olha o português do futuro como o produto saudável de um sistema dinâmico em constante mudança”, nas palavras de Catarina Magro, conta com vários concertos, conversas, espetáculos, exposições, oficinas e palestras, todos de entrada livre e gratuita.
[É um programa] de pensamento livre e esclarecido que olha o português do futuro como o produto saudável de um sistema dinâmico em constante mudança
catarina magro
Haverá tempo para discutir “acerca do que só ao humano é possível”, promete Carlos Vaz Marques, debater “os novos desafios linguísticos colocados pela revolução tecnológica e cultural em curso”, assegura Catarina Magro, e ainda, revela Jorge Amorim, refletir sobre “como podemos preservar a originalidade, o conhecimento e o pensamento crítico”, numa era em que as máquinas começaram a gerar textos e a Inteligência Artificial está na palma da mão de quem quer que tenha um telemóvel.
[vamos refletir] como podemos preservar a originalidade, o conhecimento e o pensamento crítico
Jorge amorim
Palestras, conversas e debates
Centro da programação pensada para o Beato Innovation District são as palestras, conversas e debates, que juntam linguistas, especialistas em filosofia da linguagem, cientistas da computação e criativos.
No dia 9, na Sala das Massas, Tracie D. Hall conduz a palestra “Desinformação, censura de livros e o fim da democracia” (17h), e Patrícia Anzini, Beatriz Santana e Inês Anta de Barros abordam o tema “Inteligência artificial na escrita e educação — pontes para o futuro”, numa conversa moderada por Jorge Amorim (18h).
A 10, na Sala da Amassaria, Rui Torres, responsável pelo Arquivo Digital da Literatura Experimental Portuguesa, fala sobre “5Ls alternativos para entender as práticas literárias experimentais” (12h), Robert Berwick conversa (por videoconferência) com Pilar Barbosa sobre “Língua e mistério: as origens da faculdade da linguagem” (16h), e Carlos Fiolhais, Luís Filipe Silva e Rui Cardoso Martins questionam-se se “A ficção científica já deixou de ser ficção?”, num debate moderado por Luís Ricardo Duarte (17h30).
Também a 10, na Sala das Massas, Cristina Flores, Joana Teixeira e Joaquim Segura debatem “O Português do futuro”, com moderação de Ana Costa (12h30), Amin Maalouf conversa com José Mário Silva (15h), António Feijó e Pedro Mexia debatem se “Ainda há vanguardas literárias?” (16h30), Antónia Coutinho e João Veloso, moderados por João Costa, falam de “Palavras com mau género” (18h), enquanto que Ricardo Araújo Pereira e Francisco José Viegas abordam o tema “Os novos luditas”, num debate moderado por Isabel Lucas (19h30).
Na Sala da Padaria Velha, João Paulo Silvestre e Isabel Macedo, moderados por Henrique Monteiro, questionam-se se “Na ortografia não se mexe?” (17h) e Valério Romão, Sandra Guerreiro Dias e Sal Nunkachov discutem se “A experimentar a poesia experimenta-nos”, com moderação de Manuel Portela (18h30).
No último dia de evento, 11, a Sala das Massas recebe a palestra de Alberto Manguel: “A ficção distópica a imaginar desastres” (12h), a conversa de Juan Villoro com José Alberto de Carvalho (15h), o debate entre Samuel Úria e Capicua, com moderação de Nuno Artur Silva, “O ofício da língua” (16h30), uma conversa entre Paul Lynch e Isabel Lucas (18h) e o debate entre Dulce Maria Cardoso e Lídia Jorge, com moderação de Ana Sousa Dias, “O que só aos humanos é possível” (19h30).
Na Sala da Amassaria, decorrerão a palestra “A língua portuguesa na era da IA”, com António Horta Branco (12h30), os debates “Novilínguas”, com Inês Duarte, Teresa Botelho e Teresa Marques, e moderação de Patrícia Fernandes (16h), “Reler Utopia de Thomas More”, com Rui Tavares e Miguel Morgado, e moderação de Bárbara Rei (17h30), e “A língua da máquina”, com Arlindo Oliveira e Robert Clowes, e moderação de Raquel Amaro (19h).
Esposições, concertos e espetáculos
Uma componente do Festival 5 L que sempre foi muito importante é a ligação do evento a outras artes. A edição de 2025 não é exceção. No espaço exterior do Beato Innovation District, estarão patentes, ao longo de todos os dias do festival, as exposições Desenha-me uma Máquina, que nasceu do desafio lançado a vinte ilustradores portugueses para representar uma máquina imaginária acompanhada do respetivo manual de instruções, e Todas as coisas são mesa para os pensamentos, a qual, a partir do acervo de máquinas de escrever do Banco Santander, apresenta obras de poesia visual de artistas como Mané Pacheco, Xavier Ovídio, Ed Ruscha, Fernando Aguiar, Dom Sylvester Houédard, Ana Hatherly ou Leonora de Barros, entre outros.
Estão previstas também diversas propostas na área da música. No dia 9, Drumming – Grupo de Percussão, Beatriz Batarda e António Jorge Gonçalves sobem ao palco com o espetáculo multimédia “São feitas de palavras as palavras” (21h), depois do qual arranca o DJ set (23h) preparado pela Associação Rimas ao Minuto.
A 10, Ana Sofia Paiva, Jorge Cunha Machado e Simon Franke apresentam “Unicórnios e Violetas” (21h), um concerto narrativo sobre a língua e o amor, seguido de “Cidade Nua” (22h), pela Lisbon Poetry Orchestra.
A 11, Cristina Paiva serve “Poesia à la Carte” (16h) numa performance com propostas poéticas para todos, e Ana Lua Caiano encerra, com a sua música, a presente edição do evento.
Lançamentos, apresentações e oficinas
A decorrer um mês antes do arranque da Feira do Livro de Lisboa, a 5ª edição do 5L incluirá também, no dia 10, o lançamento dos livros “Nós” (16h), com a presença do autor David Machado e do ilustrador João Fazenda, e “A Pequena Comunista que Nunca Sorria” (17h30), com a presença da autora Lola Lafon e do tradutor Luís Leitão.
Apresentam-se ainda “A Arte de Gostar de Ler” (9 às 16h), com o autor Carlos Nuno Granja e o escritor José Fanha, e “Salvar o Tempo” (10 às 11h), com os autores Ricardo Fonseca Mota e Rachel Caiano.
Por fim, estão previstas diversas oficinas, tanto para os profissionais do setor, como “Literatura infantojuvenil e sociedade”, como para o público em geral, como “Poemas mecânicos” e “Explorar o ChatGPT para a escrita do dia-a-dia”.
A primeira utiliza máquinas de escrever para desafiar os participantes a descobrir os “poemas mecânicos” escondidos em cada tecla e funcionalidade, enquanto que, na segunda, munidos do seu próprio computador, estes poderão experimentar IA na produção de texto e técnicas para melhorar as respostas.