Num mundo dos nómadas digitais, os ultraportáteis tornaram-se padrão. Mas o que fazer quando estes profissionais ‘em movimento’ precisam de ecrãs com áreas generosas? Esta proposta inovadora da Asus é uma boa resposta para quem precisa de mobilidade e, simultaneamente, de um ecrã com muito espaço de trabalho. A junção de dois ecrãs finos e leves numa arquitetura em concha, semelhante à dos portáteis, resulta num sistema funcional e muito fácil de transportar.

Há duas portas USB C Display Port e uma porta Mini-HDMI para a transmissão da imagem. Além de dois botões, há uma género de roda/stick para ajudar a fazer explorar os menus

Pequeno quando fechado, grande quando aberto

O Asus ZenScreen Duo MQ149CD destaca-se pelos dois ecrãs OLED de 14 polegadas integrados num design compacto e versátil. Fechado, parece um ultraportátil com espessura reduzida e com uma pegada pouco maior que uma folha A4. O chassis de alumínio escovado garante resistência e transmite uma sensação de qualidade. Todas as conexões e botões de controlo estão do lado direito. A conectividade é versátil, graças a três portas USB-C: uma para alimentação, uma USB-C com DisplayPort (DP) e uma segunda USB-C DP e suporte para MST (Multi-Stream Transport). A maioria dos portáteis modernos pode controlar o ecrã com um único cabo USB-C, enquanto outros podem usar o mini-HDMI – situação em que é necessária alimentação em separado. De referir que os três cabos são fornecidos, bem como um carregador de energia. O suporte integrado no chassis permite posicionar os ecrãs na horizontal ou na vertical, enquanto a rosca para tripé na parte inferior oferece ainda mais opções de montagem.

O modo tenda é uma das várias possibilidades

Um ecrã para o PC e outro para a Switch

Os dois ecrãs OLED de 14 polegadas com resolução WUXGA (1920×1200 pixels), proporcionam uma grande área de trabalho, que pode ser aproveitada usando diferentes modos: independente, dividido, espelhado e estendido. Isto significa que, considerando o ecrã do portátil, ficamos com um total de três ecrãs. Além disto, há diferentes possibilidades em termos de arquitetura. Os dois painéis podem ficar em ‘tenda’, em modo espelho (a mesma imagem em ambos os ecrãs), para, por exemplo, partilhar uma apresentação; na vertical em modo independente estendido, o que é muito popular entre programadores e prático para editar documentos longos; na horizontal, um formato mais adequado para quem trabalha em criação de conteúdos. No modo independente, cada ecrã pode ter a sua própria fonte de vídeo, permitindo que um utilizador trabalhe num portátil enquanto outro jogue numa consola, por exemplo.

Qualidade OLED

Os painéis OLED oferecem negros perfeitos, cores vibrantes e um contraste a tender para o infinito, proporcionando uma experiência visual imersiva para multimédia e entretenimento. Com um brilho de até 500 nits em HDR e uma gama de cores DCI-P3, o Zenscreen Duo MQ149CD garante uma precisão de cores elevada para edição de fotos e vídeos. Não é, no entanto, uma boa solução para gamers, já que a taxa de atualização está limitada a 60 Hz – pouco para jogos de ação.

Falha de energia

Apesar da funcionalidade e qualidade global, também encontramos algumas limitativas. Os painéis são muito refletivos, o que gera fadiga visual; o monitor não carrega o portátil através da ligação USB-C (não funciona como fonte externa), não há hub USB para ligação de outros periféricos; e a interface de configuração reage lentamente. Durante os testes, tivemos um problema quando estávamos a utilizar o monitor com um único cabo USB C (para dados e alimentação elétrica) configurado com o nível de brilho próximo do máximo e abrimos duas janelas totalmente brancas: o consumo de energia ultrapassou o máximo suportado pela ligação e ficámos sem imagem. A solução foi desligar e voltar a ligar o monitor. No entanto, este problema só acontece com uma conjugação de fatores rara e pode ser facilmente resolvido utilizando o adaptador de energia.

Veredicto

O Asus Zenscreen Duo MQ149CD é um monitor portátil inovador que oferece uma experiência de utilização única, combinando dois ecrãs OLED de alta qualidade num design compacto e versátil. A sua flexibilidade, qualidade de imagem e conectividade fazem deste periférico uma ferramenta para profissionais criativos, estudantes e qualquer pessoa que procure maximizar a sua produtividade em movimento. O preço alto é compensado pela elevada qualidade de construção, funcionalidade e qualidade de imagem. O valor da oferta é reforçado pela oferta do bom estojo de transporte, dos cabos (dois USB C e um HDMI para mini-HDMI).

Tome Nota
Asus ZenScreen Duo OLED MQ149CD – €609,90
www.asus.com

Qual. Imagem Muito bom
Funcionalidade Excelente
Consumo Muito bom
Conectividade Satisfatório

Características 2x ecrãs OLED 1920×1200 (16:10, 60 Hz) ○ brilho até 500 nits ○ 2x USB-C DP, USB-C energia, Mini-HDMI ○ 1,07 kg, 318x211x13 mm

Desempenho: 4,5
Características: 4,5
Qualidade/preço: 3,5

Global: 4,2

 

Palavras-chave:

Foi com um título repleto de simbolismo, Carta de Alforria, que Plutonio regressou aos discos em nome próprio, no final do ano passado, para mais um capítulo da história iniciada em 2013 com Histórias da Minha Life. Desde então, seguiram-se Preto & Vermelho (2016) e Sacrifício: Sangue, Lágrimas & Suor (2019), que confirmaram o rapper de ascendência moçambicana, natural do Bairro da Cruz Vermelha, em Cascais, como uma das atuais figuras de proa do hip-hop nacional.

O nome Carta de Alforria remete para o documento através do qual se concedia a liberdade aos escravos e, segundo o próprio, funciona assim como uma espécie de metáfora para o atual período da vida de Plutonio, que agora se sente “mais livre dos muitos obstáculos e sacrifícios tantas vezes presentes no passado e finalmente autónomo para se dedicar em exclusivo à arte.”

Logo no dia de lançamento, Carta de Alforria tornou-se o álbum de um artista português mais ouvido de sempre. em apenas um dia. a nível global; no álbum de um artista português mais ouvido de sempre, em apenas um dia, em Portugal; e o tema Interestelar foi o single de um artista português mais ouvido de sempre, num único dia, em Portugal. Poucos se podem gabar de ter chegado onde João Ricardo Azevedo Colaço, mais conhecido como Plutonio, chegou, tornando-se, por direito próprio, uma das vozes mais fortes do atual rap português.

Agora, é tempo de seguir em frente, rumo a um novo e cada vez mais brilhante futuro, que tem nesta estreia em nome próprio, na maior sala de espetáculos do País, a Meo Arena, um dos momentos mais altos, não só para Plutonio como para o próprio hip-hop nacional.

E se já antes se havia afirmado como um artista livre, nunca enredado em falsas fronteiras estilísticas e musicais, agora eleva essa fasquia ainda mais alto, moldando os três géneros que lhe são mais caros, hip-hop, trap e R’n’B, para os transformar num estilo cada vez mais reconhecível como o seu.

Plutonio > Meo Arena > Pq. das Nações, Lisboa > 28 fev e 3 mar, sex e seg 20h30 > €20 a €29

Segundo a mitologia grega, Parthenope é uma sereia submergida nas águas de Nápoles, que ao longo dos séculos enfeita a região com o seu espírito. Paolo Sorrentino, realizador napolitano de espírito inquieto, faz da sua Parthenope, acima de tudo, um ideal irresistível e insuperável de beldade. E o seu filme começa por ser isso mesmo: um ensaio sobre a beleza.

Porque, imagine-se, a beleza desta Parthenope é de tal forma irresistível que todos caem a seus pés, incluindo o irmão. O que tem toda a lógica, pois sendo sua beleza divina, só pode equiparar-se a algo que se pareça com um espelho. Afinal, como reza outro mito, o preço a pagar pela beleza extrema é, eventualmente, a impossibilidade de amar. Sorrentino segura bem o filme nessa primeira parte, em que parece querer levar o conceito de beleza suprema e irresistível a um limite – e, desse ponto de vista, o filme resulta, pois a figura e a interpretação de Celeste Dalla Porta, atriz em revelação absoluta, são mais do que convincentes.

Só que Sorrentino quer mais do que isso. Desenha uma personagem com todo o poder sedutor, mas que nem por isso toma partido da sua beleza de forma manipulatória. Além disso, é de uma inteligência enorme – ou não se tratasse de uma semideusa…

Como é habitual nalguns dos seus filmes, Sorrentino enfatiza a ação com grandes excessos e, por vezes, parece quase perder o controle – excessos menos controlados do que os do grego Yorgos Lanthimos (realizador de Pobres Criaturas). Neste caso, o filme ganharia se simplesmente levasse até ao fim a ideia de estudo sobre a condição feminina de uma mulher extremamente bela. Mas pelo caminho perde-se em episódios paralelos – alguns até de mau gosto, como a deriva noturna pelas ruelas de Nápoles pela mão de um mafioso. Do grande ensaio sobre a beleza que o filme parece propor, fica um espectro de memórias da juventude de uma personagem tão forte quanto intrigante, que chegou a ter o mundo a seus pés.

Parthenope > De Paolo Sorrentino, com Celeste Dalla Porta, Dario Aita, Antonino Annina e Margherita Aresti > 137 min

A música já se faz ouvir por aí, quer saia dos pandeiros, de outros instrumentos de percussão, de sopro ou de cordas. Depois dos ensaios, os blocos de Carnaval vão desfilar pelas ruas de Lisboa, trazendo o calor dos ritmos brasileiros. Haja alegria, que os programas variados não vão deixar ninguém indiferente e muito menos em casa.

Eis a agenda dos cortejos e festas até de madrugada para segunda e terça de Carnaval.

→ 3 mar, seg

Blocu

Bloco de Carnaval queer e eletrónico. Concentração Campo de Santa Clara > 16h

Rebola, Columbina!

A energia contagiante da Columbina Clandestina toma conta da Musa de Marvila. R. do Vale Formoso, 9 > 18h-5h

→ 4 mar, ter

Carnaval entre portas

Desfile entre Benfica e a Amadora, com o Bloco Bué Tolo (mistura ritmos que vão de sambas-enredo a clássicos do rock‘n’roll em versão carnavalesca) e a Banda Axé Babá, formada por músicos da Bahia. Concentração Parque da Granja > 14h

Batuca Boa: Baile de Carnaval

O Baile de Carnaval do bar Samambaia é na Padaria do Povo, em Campo de Ourique, com Fábio Allman, Banda Berimbau e a escola de ritmos brasileiros Batuca Boa. Padaria do Povo > R. Luís Derouet, 20A > 19h-23h > €15

Ao velho e eterno dilema entre manteiga e canhões, o general Frederik Vansina, chefe das Forças Armadas da Bélgica, deu na passada semana uma resposta que dispensa grandes interpretações: “Não estamos em tempo de guerra, mas é difícil afirmar que ainda estamos em tempo de paz. Estamos entre os dois.” Numa entrevista ao diário Le Soir, o prestigiado piloto-aviador alertou os seus compatriotas a “tomarem consciência” para os perigos que se adivinham e deu-lhes ainda alguns conselhos práticos, como o armazenamento de víveres, de água, de medicamentos, de dinheiro vivo, para o que der e vier.

Este militar, que não é conhecido por ser pessimista ou alarmista, evita conjeturar sobre cenários distópicos e ainda menos que o Kremlin provoque um apocalipse nuclear ou lance paraquedistas e tropas especiais sobre Bruxelas, à semelhança do que ocorreu há 1 100 dias em Kiev. No entanto, não descarta que haja cada vez mais ciberataques e fenómenos bélicos híbridos contra o seu país, que acolhe as principais instituições da União Europeia (UE) e serve também, desde 1967, de quartel-general da NATO (Londres e Paris foram anteriormente a sede política e administrativa da Aliança Atlântica).

Kiev Dezenas de governantes europeus deslocaram-se à capital ucraniana no terceiro aniversário da invasão russa Foto: Ukrainian Presidential Office Handout

Frederik Vansina está longe de ser o único comandante militar ou dirigente político a manifestar publicamente as suas apreensões sobre o atual momento que a Europa atravessa. Na última edição do Sunday Times, o secretário (entenda-se ministro) da Defesa do Reino Unido, John Healey, assina uma coluna de opinião em que destaca a necessidade de impedir a capitulação da Ucrânia perante a Rússia de Vladimir Putin: “As decisões que vierem a ser tomadas nas próximas semanas vão definir não apenas o futuro deste conflito, mas também a arquitetura de segurança global durante uma geração. (…) Nós sabemos que os ucranianos não temem a agressão russa. A única coisa que eles temem é a fadiga do Ocidente.” Para bom entendedor, ao governante britânico bastou-lhe aludir à reaproximação entre Washington e Moscovo, devido às simpatias e às atuais negociatas entre os presidentes dos EUA e da Rússia, que podem conduzir a um “cessar-fogo indigno” para o regime de Volodymyr Zelensky e criar “as condições para novos conflitos” no Velho Continente.

EXTORSÃO E CHANTAGEM

Uma tese que é partilhada pela generalidade dos líderes da UE e da NATO, nomeadamente os que se deslocaram na passada segunda-feira à capital ucraniana, para assinalar o terceiro aniversário da invasão russa, como foi o caso de António Costa, presidente do Conselho Europeu: “Todos nós queremos que esta guerra acabe. Que acabem a destruição e o sofrimento. (…) Putin quer dividir-nos. (…) A UE está disposta a fazer tudo o que for necessário para garantir a sua segurança e continuar a apoiar a Ucrânia. É por isso que convoquei um Conselho Europeu especial, a 6 de março.” O ex-primeiro-ministro português, que anunciou com a presidente da Comissão (Ursula von der Leyen) um pacote adicional de ajuda a Kiev no valor de 3 500 milhões de euros, não se conforma com o facto de Donald Trump estar a dialogar incondicionalmente com o Kremlin, com a Ucrânia e a UE a servirem de menu, em vez de estarem à mesa das negociações. A lógica mercantilista – há quem prefira o adjetivo transacional – do inquilino da Casa Branca leva-o a dizer que a paz pode ser alcançada “nas próximas semanas” e que Zelensky só tem de comparecer em Washington D.C. para assinar os papéis com as condições que já lhe foram ditadas: apresentar a demissão do cargo e convocar eleições nas quais fica proibido de se recandidatar; reconhecer as perdas territoriais para a Rússia (cerca de 20% da área total do país); oferecer aos EUA metade das receitas das riquezas minerais ucranianas (como recompensa pelo apoio desde 2022); abdicar da entrada na NATO; e ainda, salvo outras surpresas de última hora, o envio de soldados europeus para solo ucraniano, numa missão de manutenção de paz. Em jeito de pressão adicional, Trump já fez saber que a rede de satélites Starlink, essencial no esforço de guerra ucraniano e propriedade do seu amigo Elon Musk, pode ser desligada a qualquer momento. A isto poderia chamar-se extorsão e chantagem.

Como escreveria Tucídides, o historiador que nos relatou a guerra do Peloponeso, há 25 séculos, entre Esparta e Atenas, “os fortes fazem o que podem e os fracos suportam o que devem”. Francis Fukuyama, o politólogo americano que escreveu há três décadas O Fim da História e o Último Homem, acusa Donald Trump de ter cometido algo que classificou como “traição”, relativamente ao conflito na Ucrânia. Na plataforma digital Persuasion, apresenta um argumento simples: “Encontramo-nos a meio de um combate global entre as democracias liberais e os governos autoritários; e, nesta luta, os EUA mudaram de lado e juntaram-se ao campo autoritário.”

O tempo encarregou-se de lhe dar razão porque o seu artigo, publicado a 20 de fevereiro, antecedeu um momento histórico na Assembleia Geral da ONU. Na mesma data em que se cumpria o terceiro aniversário da invasão, na sede da organização em Manhattan, a Ucrânia apresentou uma resolução de três páginas a condenar a agressão russa e a solicitar uma paz justa e duradoura. Resultado: 93 votos a favor (quase todo o Ocidente, com exceção de Israel, Hungria e Eslováquia) e 18 contra, com os EUA a colocarem-se ao lado da Rússia, da Bielorrússia, do Irão, da Coreia do Norte e de outros regimes autocráticos. Era a prova de que Francis Fukuyama e Laurence Nardon, investigadora do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI), precisavam: os Estados Unidos de Donald Trump são hoje adversários estratégicos e ideológicos da Europa e defendem o regresso das esferas de influência e do “imperialismo colonial”. Stephen M. Walt, professor em Harvard, é ainda mais radical: “Sim, a América é agora a inimiga da Europa”, título de um seu artigo na Foreign Policy.

SOCIOPATIAS NAZIS

Este pesadelo geopolítico, resultante do divórcio transatlântico, há muito que era esperado, caso Donald Trump vencesse as eleições de novembro e regressasse à Casa Branca. Há exatamente um ano, quando o candidato republicano se preparava para vencer as primárias e tomar de assalto o Partido Republicano, ameaçou “não proteger” nenhum aliado da NATO que gastasse pouco em defesa e deixar os russos fazerem “o que lhes desse na gana”.

Emmanuel Macron, o Presidente francês, defendeu então que a UE deveria enviar tropas para a Ucrânia e reforçar a sua capacidade de dissuasão frente à Rússia. A maioria dos governos dos 27 entendeu que uma tal iniciativa era prematura e exagerada. O governante mais popular da Alemanha, o social-democrata Boris Pistorius, que poderá esta primavera ser reconduzido como ministro da Defesa, admitiu na mesma altura que o seu país e qualquer outro Estado-membro da Aliança Atlântica corriam o risco de ser atacados pela Rússia, após o tabloide Bild revelar que os serviços secretos germânicos tinham reunido informações sobre essa eventualidade. Kaja Kallas, a então primeira-ministra da Estónia e atual chefe da diplomacia comunitária, também falou na hipótese de as tropas da NATO terem de enfrentar as suas homólogas russas no prazo de “três a cinco anos”.

Em Bruxelas, adotou-se a tática da praxe. Fazer contas e despejar dinheiro – 500 mil milhões, nos planos da Comissão até 2034 – para cima do problema, sem grandes efeitos concretos. Paradoxalmente, apesar dos sobressaltos populistas e das conversas sobre “autonomia estratégica”, “defesa coletiva” e “dividendos da paz” nas últimas oito décadas, ninguém parece ter levado muito a sério a possibilidade de o 47º Presidente dos EUA cumprir as suas promessas de acabar com as “guerras perpétuas” – à sua maneira. Em “24 horas” ou a sabotar o papel da UE e da Aliança Atlântica, tal como previam alguns relatórios do America First Policy Institute, o ultraconservador centro de reflexão (think tank) de que fizeram parte vários elementos da atual Administração, incluindo o general (reformado) Keith Kellogg, o enviado especial dos EUA para as questões da Ucrânia e da Rússia.

Desafio Londres e Paris admitem mobilizar uma força paneuropeia de 30 mil efetivos para a Ucrânia Foto: Martin Divisek/ LUSA

Desde 2022, em diferentes ocasiões, Volodymyr Zelensky falou na importância de a UE criar Forças Armadas conjuntas. Em rigor, não se trata de uma ideia recente. Em 1954, os membros fundadores da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (França, Alemanha, Itália, Países Baixos, Bélgica e Luxemburgo) criaram a Comunidade Europeia de Defesa, projeto que viria a fracassar por vontade do governo de Paris. Atualmente, Emmanuel Macron é um dos principais promotores da colaboração e da integração militar dos 27, junto de outros Estados europeus, em particular o Reino Unido (pelo seu arsenal nuclear) e todos os que já integram a NATO. Na prática, já poucos se opõem de forma clara a esse objetivo e ao velho adágio latino “si vis pacem, para bellum” (se queres paz, prepara-te para a guerra). Descontando Hungria e Eslováquia, pelos respetivos laços com o Kremlin, os países europeus sabem que têm de fazer algo e depressa porque, como escreveu Lenine, “há décadas em que nada acontece e há semanas em que décadas acontecem”.

Friedrich Merz, o futuro chanceler da Alemanha, o país da UE que mais (e pior) gasta com segurança e defesa, deu um claro sinal nesse sentido ao falar de “independência dos EUA” , mal se conheceram os resultados das legislativas antecipadas do passado domingo. No dia seguinte, 24, Emmanuel Macron visitou a Casa Branca e percebeu que bajular Trump já não basta. Veremos quais os efeitos da ida a Washington de Keir Starmer, o primeiro-ministro britânico, que não deverá perder a oportunidade de recordar as proezas alcançadas por Churchill e Roosevelt, ou Tony Blair e George W. Bush. Sucede que a “relação especial” entre os EUA e o Reino Unido tem vindo a definhar. J. D. Vance, o vice-presidente dos EUA que veio agora à conferência de Munique dar um sermão aos europeus em matéria de democracia e liberdade de expressão, descreveu, no verão de 2024, o velho aliado de Londres como o “primeiro país islâmico com armas nucleares”. Para a troca e sem preocupações protocolares, David Lammy, o chefe da diplomacia britânica, acusou Donald Trump de ser “um misógino, um sociopata com simpatias neonazis”. 

LAMBER BOTAS

Neste momento, Londres, Paris e Berlim, entre outras capitais, concertam posições para reduzir em tempo recorde a dependência militar dos EUA e, entre outras medidas, já admitem o envio de um contingente militar europeu, de 30 mil soldados, para a Ucrânia. É difícil que a missão corra bem. Dois prestigiados institutos de relações internacionais, o Bruegel, em Bruxelas, e o IfW, em Kiel (Alemanha), consideram que seria necessário mobilizar 300 mil homens para conter as tropas russas. Pior. Os países europeus não têm condições logísticas para cumprir essa tarefa, devido à falta de homens (todos se debatem com baixos níveis de recrutamento), de equipamentos (de drones a aviões-cisterna), a que se soma a tradicional incompatibilidade – ou interoperacionalidade – nos sistemas de armas. Nada como falar de casos concretos. Os britânicos, que chegaram a ter mais de 400 mil soldados durante a Guerra Fria, contam hoje, proporcionalmente à sua população, com as Forças Armadas mais pequenas desde o período napoleónico. Os franceses não têm aeronaves ou helicópteros que lhes permitam transportar efetivos em larga escala e durante períodos longos. Os militares alemães tornaram-se motivo de troça dos seus pares europeus devido ao carácter obsoleto de algumas unidades do Exército e da Força Aérea. Os italianos alegam que são necessários 800 mil milhões até ao final da década para compensar o fim do guarda-chuva bélico dos EUA.  

Daí que o IfW considere, num estudo assinado por Ethan Ilzetzki, que a Europa pode e deve endividar-se para garantir a sua Defesa, porque o investimento neste setor pode também permitir-lhe um crescimento do PIB na ordem de 1,5%: “O dinheiro destinado a fins militares pode coexistir com aquele com que se financia o Estado-providência, sem que haja canibalização recíproca.” Kishore Mahbubani, o prestigiado professor da Universidade de Singapura, escreveu que “tempos de desespero exigem medidas desesperadas”. E a sua proposta, feita na Foreign Policy, é desconcertante: “Primeiro, os europeus deviam anunciar a sua vontade de abandonar a NATO. (…) Se continuarem na Aliança Atlântica depois das provocações de Trump, dão ao mundo a impressão de que estão a lamber as botas a quem os pontapeia na cara.”

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O Exército israelita reconheceu esta quinta-feira o “fracasso total” para impedir os ataques do Hamas de 7 outubro de 2023, que mataram cerca de 1.200 pessoas no sul de Israel, revelam os resultados de uma investigação militar agora divulgados.

O relatório conclui que o Hamas conseguiu realizar naquela data o ataque mais mortífero da história de Israel, porque o Exército avaliou mal as intenções do grupo islamita palestiniano e subestimou as suas capacidades.

A investigação militar interna israelita descreve que os ataques ocorreram em três vagas sucessivas e que mais de cinco mil pessoas atravessaram a fronteira da Faixa de Gaza para o sul de Israel naquele dia.

“A primeira vaga […] incluiu mais de mil terroristas da Nukhba [unidade de elite do Hamas] que se infiltraram sob a cobertura de fogo pesado”, referiu um resumo da investigação fornecido pelo Exército.

A segunda vaga incluiu dois mil combatentes e a terceira foi caracterizada pela chegada de outras centenas, bem como de vários milhares de civis.

“No total, aproximadamente cinco mil terroristas infiltraram-se em território israelita durante os ataques”, referiu a investigação interna.

O Exército “não podia imaginar” um cenário como o de 7 de outubro, comentou um dos seus oficiais à agência France-Presse (AFP) a propósito das conclusões hoje reveladas.

O mesmo oficial disse que os combatentes palestinianos liderados pelo Hamas apanharam Israel de surpresa, não só pela escala e alcance dos ataques, mas também pela sua brutalidade.

“Muitos civis morreram nesse dia a perguntar-se no seu coração ou em voz alta onde estava o Exército israelita”, acrescentou.

Vamos começar este texto com um parêntesis. Sabemos que não é usual, nem graficamente apelativo, mas tem de ser: (Supperclub – usamos a palavra inglesa porque são precisas várias em português para descrever o conceito – é uma espécie de restaurante, em casas particulares. Trata-se de uma experiência intimista e mais acolhedora do que as que estamos habituados em locais públicos.)

Dois dias antes de entrarmos neste Boato, recebemos uma mensagem por WhatsApp com a sua localização e com meia dúzia de conselhos vínicos para que o pairing entre o que se vai beber e comer resulte melhor – primeiro os brancos, que os tintos guardam-se para a segunda parte do menu de degustação que será servido pelo chefe Miguel Ângelo. As bebidas são da responsabilidade de cada comensal, mas a ideia é partilhá-las com o resto da mesa. Tal e qual como fazemos quando vamos jantar a casa de amigos. A ideia da partilha, aliás, é transversal a toda a experiência.

Quando chegamos a esta casa, nos Olivais, em Lisboa, já lá estão os outros curiosos que arriscaram a sentarem-se com desconhecidos, para um jantar de sexta-feira à noite. Rita Pinto, 31 anos, é a namorada do chefe e também vive neste T1 acolhedor, encarregando-se de tudo o que tenha a ver com a comunicação deste projeto. E também serve à mesa, claro.

Nenhum deles nos dá pistas sobre o que vamos comer, mantendo um propositado mistério. Deixemo-nos ir que o menu tem 10 pratos (€50) – isso sabemos de antemão – será baseado nas experiências que o chefe teve nas suas viagens gastronómicas, adiantam-nos perante as perguntas insistentes. A coisa promete e não vai desiludir – sim, somos spoilers, mas sem entrar em pormenores.

Depois de um brinde quebra-gelo logo à entrada, e de observarmos os últimos retoques do chefe na sua cozinha, passamos para a mesa, arrumada à justa na pequena sala de jantar. À justa, mas está lá tudo: a toalha branca, impecavelmente passada, os guardanapos, os copos elegantes, as cerâmicas artesanais a ornamentar o centro e a loiça bonita, que se adapta a cada prato. A luz é ténue e há uma grinalda que contorna a janela que tem a persiana para baixo para não incomodar os vizinhos. Algumas polaroids de outros boatos estão à mão de se olhar, para que se ateste como foram sorridentes os convívios anteriores.

Caso não haja empatia imediata entre quem aqui se senta, encontramos umas cartinhas de jogar, com afirmações e perguntas que podem rolar entre todos. Rita explica, enquanto traz o pão e a manteiga da kitchenette (a única coisa que não sai das mãos do chefe), que criaram esta espécie de jogo depois de uma vez terem entrado na sala e encontrado um silêncio incomodativo entre as pessoas. Assim, já não há desculpas… Nada disto se aplica, claro, se as pessoas já se conhecerem entre si. Nesta noite, por exemplo, havia uns repetentes e até familiares dos responsáveis pelo Boato. Foi fácil soltar a conversa, apesar das diferenças entre todos (até de idade).

A cavala à Bulhão Pato inaugura o desfile que se prolongará noite dentro – o Boato não tem hora para acabar. O chefe vem à sala e explica como chegou até a esta versão da receita típica portuguesa (há de fazê-lo em todos os momentos) e até parece fácil. Diz que fez uma marinada com sal e açúcar e temperou o peixe com alho e limão. “Bom apetite! Até já”, eis a assinatura de Miguel Ângelo.

A cavala substitui a sardinha, peixe que desagrada ao chefe, nesta interpretação livre dos santos populares. Foto: DR

Seguem-se uns croquetes de camarão, ao estilo espanhol, com base de bechamel, que se comem com as mãos, mas deixam marcas. Depois, em cima de um azulejo bem português, há de vir uma das mais icónicas receitas deste Boato que se espalha desde outubro passado: o pastel de nata que, apesar da massa clássica que o rodeia, e do aparente creme de ovo (na verdade é molho holandês), está recheado de coxa de pato confitada. Ainda mal pousou na mesa e este snack já está em pose para o Instagram. A versão de Miguel do italianíssimo maritozzo, um brioche com chantilly, é salgada e está recheada, imagine-se, de escabeche de mexilhão. Na verdade, come-se quase de um trago só.

Não é suposto revelar-se todo o menu, pois a surpresa faz parte desta mise-en-scene que vai muito para lá da comida, mas não resistimos a dar mais uma ou duas pinceladas gastronómicas nesta prosa. Na verdade, por muito que se descrevam os pratos, nada substitui o palato e as sensações que ele nos dá depois de provarmos as combinações pouco prováveis deste chefe. Pode lá imaginar quão bom foi comer o prato outonal, em que impera uma bolacha de farinha de cogumelos acamada num delicioso creme de castanhas, tal como atesta a foto em baixo?

Além de saborosos e com técnica apurada, os pratos de Miguel Ângelo são lindos de morrer. Foto: DR

O resto da passagem de modelos há de incluir um simples esparguete com manteiga fumada e pó de cebola (poderia lá faltar uma bela pasta, quando Itália está subjacente enquanto influência?), um robalo cozinhado a baixa temperatura (Miguel ainda não tem fornecedores fixos para este menu, vai procurando-os consoante aquilo de que precisa) e uma perninha de codorniz com cebola caramelizada.

Este trio vem precisamente antes de duas sobremesas surpreendentes. Uma leva-nos até à Índia, através de um gelado de lima e coentros com merengue de cardamomo verde – a explicação parece complexa, mas o resultado é de uma frescura na medida certa, sem nos inundar de açúcar. A outra trata-se de um quente e frio especial e talvez um pouco pesado para esta altura da refeição. Falamos de um brioche para molhar num creme de cappuccino, “uma lembrança dos meus pequenos-almoços em Turim”, remata Miguel. Depois disto, ficamos de pernas para o ar. Valha-nos seguir-se um programa que mete dança para desmoer este festim de surpresas e de nova gastronomia que não se limita a alimentar-nos, mas também nos conta histórias e cria memórias irrepetíveis.

No final, há um jogo sobre o qual não posso alongar-me sob pena de estragar a surpresa. Não é obrigado entrar nele, claro, mas saibam que, depois desta brincadeira, nunca sai daqui ninguém mal disposto. Aliás, note-se, já houve encontros destes que acabaram num grupo de WhatsApp.

Quem é o chefe que nos serve?

Foto: DR

Miguel Ângelo, 33 anos, estudou na Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa. Passou, ainda em modo estágio, pelo restaurante Il Gallo D’oro, na Madeira, com duas Estrelas Michelin, e pelo Eleven, com uma. Cansou-se do mundo estrelado nacional e aventurou-se por outras cozinhas da Europa. Esteve em Berlim, a convite do amigo Daniel Sangareau, foi a seguir para Barcelona, onde trabalhou no Nino Viejo, Hoja Santa e Mont Bar, e depois para Turim, em que chefiou equipas no Al Garamond e no Eragoffi. Quando regressa a Lisboa, Miguel decide ficar de fora das grandes cozinhas e concentrar-se no seu aconchegante Boato. Além das refeições que concebe em sua casa, e que no futuro podem ser a quatro mãos, também atende a pedidos para servir o catering noutras paragens. E, boa notícia para os mais gulosos, vende para fora a sobremesa de brioche para molhar num creme de cappuccino. 

Boato > Todas as sextas 20h > Reservas pelo Instagram: https://boato.simplybook.it/v2/ ou info.boatosupper@gmail.com > 50€ sem bebidas > 10 lugares

Avaliar o contributo do Terminal de Cruzeiros para a economia da cidade de Lisboa foi o objetivo do estudo solicitado à Nova School of Business and Economics (Nova SBE) pela Administração do Porto de Lisboa (APL). O presidente da autoridade portuária, Carlos Correia, rejeita que tenha sido uma resposta às queixas dos lisboetas e às críticas do autarca Carlos Moedas, que em setembro do ano passado reprovou a inserção do terminal na zona histórica de Lisboa e considerou que o turismo de cruzeiros “não ajuda nada a cidade, nem interessa à cidade”. Certo é que, contra os argumentos, a APL tem agora factos. As conclusões do estudo da Nova SBE indicam que os mais de 758 mil turistas que em 2023 embarcaram ou desembarcaram no maior porto de cruzeiros do País contribuíram com 794 milhões de euros para o PIB nacional (0,3% do total) e criaram, direta e indiretamente, cerca de 20 mil postos de trabalho. O gasto médio de cada passageiro (€159) ainda não atingiu um valor muito elevado, mas duplicou nos últimos dois anos, em grande parte devido à atração de cruzeiristas provenientes dos Estados Unidos da América e do Canadá. Mas como a relação do Porto de Lisboa com a cidade não se esgota na indústria de cruzeiros, a conversa com o presidente da APL incidiu também na requalificação das zonas ribeirinhas e na abertura ao público das gares de Alcântara e da Rocha do Conde de Óbidos para finalmente poderem ser apreciados os 14 painéis de Almada Negreiros ali existentes.

Foto: Luís Barra

O estudo sobre o impacto económico da indústria de cruzeiros foi uma resposta ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que disse que a atividade não interessa à cidade, e também aos lisboetas que residem perto do terminal, localizado no centro histórico, que se queixam do afluxo de turistas, do ruído e das emissões poluentes?
Não foi uma resposta ao presidente da câmara nem a ninguém. O estudo foi iniciado em 2023, os resultados coincidiram com essas declarações, que não comento, mas surgiu essencialmente da necessidade de perceber o impacto da indústria de cruzeiros na criação de emprego e na dinamização económica da cidade e da região. A localização do Terminal de Cruzeiros de Lisboa [em Santa Apolónia] foi decidida em 2012 e resultou de uma parceria estabelecida entre a APL e a câmara municipal, na altura presidida por António Costa. O grande mérito deste terminal é precisamente a sua localização na zona histórica da cidade. A inserção e a construção do edifício, da autoria do arquiteto Carrilho da Graça, é uma mais-valia para aquela zona, e não gerou qualquer reação negativa dos habitantes.

O pior foi mesmo quando os magotes de turistas dos navios começaram a chegar?
Tenho ouvido duas críticas em relação à atividade dos cruzeiros. Uma é sobre o pouco impacto na atividade económica da região. Nas estadas curtas, o gasto médio por passageiro é de €39, mas quando falamos do passageiro turnaround [que inicia ou termina em Lisboa as viagens de cruzeiro], o gasto médio sobe para €573. São gastos feitos no alojamento, na restauração, em pacotes turísticos. Cada cruzeiro que vem a Lisboa gera uma receita de 2,29 milhões de euros. Direta e indiretamente, estamos a falar de mais de 20 mil postos de trabalho criados pela atividade. Acho que o estudo evidencia o forte impacto na região, não só a nível económico, mas também na criação de emprego. A segunda crítica que oiço é sobre o excesso de turistas na cidade, que os cruzeiros contribuem para agravar ainda mais. Mas é preciso perceber, e o estudo demonstra-o, que o pico da atividade dos cruzeiros ocorre, por um lado, nos meses de abril e maio, e por outro, em setembro, outubro e novembro, ou seja, fora do verão e dos períodos de maior pressão, aproveitando a capacidade turística já instalada. Além do mais, o turismo de cruzeiros tem outra vantagem: é previsível. Conseguimos saber, com dois anos de antecedência, quantos navios vêm, em que horários, e podemos planear as chegadas.

B.I.

NOME
Carlos Alberto do Maio Correia

VIDA
Nasceu em 1968. É licenciado em Engenharia Civil, no ramo de Planeamento Territorial e Transportes, pelo Instituto Superior Técnico. Fez todo o percurso profissional no setor da mobilidade e transportes

CARREIRA
Acumula a presidência da Administração do Porto de Lisboa com a dos Portos de Setúbal e Sesimbra desde outubro de 2022. Fazia parte do anterior conselho de administração desde 2016. Entre 2011 e 2013, presidiu ao Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres e, entre 2009 e 2010, dirigiu a Autoridade Metropolitana de Transportes de Lisboa

Ficou surpreendido com as conclusões do estudo ou a APL já tinha noção do real impacto económico da atividade, nomeadamente ao nível do emprego?
Ficámos meio surpreendidos. Tínhamos noção de que havia um impacto forte da atividade dos cruzeiros, mas os números do estudo surpreenderam-nos pela positiva. Temos apostado no crescimento do turnaround, que em 2022 valia €367 por passageiro e agora vale €573 por passageiro. Este aumento, muito significativo, resulta de dois fatores. Um tem a ver com a inflação dos preços, o outro resulta de uma mudança na origem dos passageiros. Começámos a receber mais passageiros dos Estados Unidos da América e do Canadá, com uma capacidade económica superior à dos cruzeiristas tradicionais da Europa. Estes dois fatores potenciaram o aumento muito significativo da receita por passageiro turnaround.

Como vê a evolução da indústria de cruzeiros nos próximos dois anos? Vai continuar a aumentar ou vai estabilizar e consolidar-se?
Deverá haver uma estabilização. Em 2024, o número de navios cresceu 3,7%, mas em 2025 antevemos uma estabilização no número de passageiros, assim como nos anos seguintes, apesar de 19 novos navios irem fazer escala pela primeira vez no Porto de Lisboa. São estreias, embora parte deles seja de substituição.

Significa que esses navios vão regressar?
Vão passar a incluir Lisboa nas suas rotas. Estamos a alargar o mercado a novos navios e a novas companhias que virão a Lisboa pela primeira vez. Desde a pandemia, os navios transportam menos passageiros por razões de saúde pública e, por isso, receber mais cruzeiros não significa mais passageiros. Outro aspeto muito importante, não tão evidenciado no estudo, é que os cruzeiristas, mesmo estando de passagem, manifestam a intenção de voltar a Lisboa em turismo. Os cruzeiros funcionam como um cartão de visita para que as pessoas conheçam a cidade e, a seguir, venham visitá-la com mais tempo.

Hoje, a APL defenderia a construção do Terminal de Cruzeiros no centro histórico, apesar das críticas sobre o afluxo de turistas e sobre o impacto ambiental?
A localização no centro histórico é uma mais-valia para a atividade dos cruzeiros em Lisboa. Não é por acaso que o Terminal de Cruzeiros, pela nona vez consecutiva, voltou a ser galardoado este ano como o melhor terminal de cruzeiros da Europa. A localização do edifício, a facilidade com que os passageiros desembarcam no centro e podem visitar a cidade a pé, tem muito impacto. Relativamente às questões ambientais, desenvolvemos durante um ano um estudo de monitorização da qualidade do ar e da água na zona envolvente do terminal, que vai continuar a ser feito através da instalação de cinco estações fixas de medição das emissões. Todos os resultados do estudo estão abaixo dos limites europeus para as emissões de gases com efeito de estufa, e na sua maioria abaixo dos limites [mais restritivos] da Organização Mundial da Saúde. Estamos a fazer tudo para melhorar a sustentabilidade do terminal. O maior contributo virá de um projeto de eletrificação.

Não há muito tempo, uma ONG considerou o Terminal de Cruzeiros de Lisboa como o quinto pior da Europa em termos de emissões poluentes. Como é que explica esse resultado?
Não sei como foi feito o estudo dessa ONG, mas tenho dúvidas sobre os resultados. Os maiores níveis de emissões registam-se nas manobras de atracagem e de partida dos navios, mas a indústria tem investido na melhoria das condições ambientais das embarcações. Hoje, utilizam combustíveis com baixo teor de enxofre [o dióxido de enxofre é um dos principais responsáveis pelas emissões] e dispõem de filtros que fazem retenção de partículas quando os motores estão ligados. São regras internacionais determinadas a nível global.

O que é que já foi feito na área da eletrificação e o que falta fazer para que os navios possam desligar os motores durante o tempo que permanecem no terminal?
Para manterem os equipamentos ligados, os navios recorrem a geradores que utilizam combustíveis fósseis. Com a instalação do sistema Onshore Power Supply (OPS), que permite a eletrificação do cais, o navio pode ligar-se à rede e passar a ser abastecido por energia elétrica, o que vai permitir a redução do ruído e a redução das vibrações transmitidas ao cais, melhorando ainda mais a questão ambiental do terminal de cruzeiros.

Em que fase está o projeto de eletrificação do terminal?
O objetivo é instalar até 2029 o sistema OPS no Porto de Lisboa. A obra iniciar-se-à no próximo ano. Como não temos, na zona do terminal, potência de rede suficiente para abastecer os navios, temos de ir buscar rede em alta tensão onde ela existe, a uma subestação da E-Redes situada a cerca de quatro quilómetros, no Alto de São João. Na zona do Terminal de Cruzeiros, vai ser construída, pelo Porto de Lisboa, uma subestação elétrica para o abastecimento em média tensão do Terminal de Cruzeiros, e em baixa tensão dos cinco terminais de contentores existentes na zona oriental. Este projeto não se limita aos cruzeiros. Engloba também a carga porque, a partir de 2030, os navios com mais de cinco mil toneladas serão obrigados a ligar-se à rede elétrica quando estiverem atracados no porto. Uma vez que estamos a negociar os prolongamentos das concessões dos terminais de contentores, o investimento caberá aos concessionários.

Qual o investimento previsto?
São cerca de 18,4 milhões de euros até à subestação do terminal, a cargo do Porto de Lisboa. A APL tem um financiamento comunitário aprovado de cerca de 14,8 milhões de euros. O projeto total custará cerca de 36 milhões de euros.

É possível quantificar a redução das emissões poluentes prevista?
A redução será de cerca de 77%, uma vez que apenas inclui as cerca de oito a dez horas que os navios passam atracados em cais. Quando chegam e quando partem, fazem-no com os motores ligados, por isso a redução nunca será de 100%. A eletrificação diminui também muito o ruído, a poluição sonora. Se quisermos comparar, é como passar de um automóvel a combustão fóssil para um veículo elétrico.

A APL foi anfitriã da 19ª conferência mundial da Association Internationale Villes et Ports, que se realizou em Lisboa em novembro. Que conclusões saíram do encontro?
Esta associação estuda a relação entre portos e cidades e a importância que estas atribuem aos seus portos enquanto motores de desenvolvimento. Nos últimos anos, tem havido uma melhoria na relação entre o porto e a cidade de Lisboa. Enquanto administração portuária, temos a perceção de que quem faz a gestão do território são os municípios. Por isso, há que incorporar as lógicas e as pretensões dos municípios na nossa estratégia de desenvolvimento. É possível alcançar um equilíbrio entre a gestão do território e a atividade portuária sem se viver em tensão permanente. A conferência mostrou como é que outros países abordam essa questão e como é que integram a atividade portuária nas dinâmicas do seu território. No final, a APL assinou uma carta de compromisso com a AIVP para o desenvolvimento do Porto de Lisboa de acordo com as boas práticas da associação.

Que tipo de integração deve ter o porto de Lisboa com a cidade?
Temos vários projetos. Nos aniversários da APL, fazemos sempre algo de perene para a própria cidade. Executámos o mural do Vhils no Cais da Rocha do Conde de Óbidos [uma homenagem aos refugiados da II Guerra Mundial] e estamos a desenvolver o projeto Ocean Campus [na Doca de Pedrouços] com a Câmara Municipal de Lisboa e com a Fundação Champalimaud [e com uma sociedade de reabilitação entretanto anunciada pelo Governo] para promover a investigação associada à economia azul e às questões do mar. Temos também um projeto de requalificação da zona portuária de Alcântara. Em parceria com a Associação do Turismo de Lisboa, estamos a fazer um centro interpretativo dos painéis de Almada Negreiros na Gare Marítima de Alcântara e na Gare da Rocha do Conde de Óbidos. A recuperação [dos 14 painéis, símbolos do modernismo português] está a ser feita, e esperamos que possam ficar acessíveis ao público a partir do primeiro trimestre de 2025. Uma nova centralidade vai ser criada em toda esta zona portuária a partir da recuperação do passeio norte, conhecido como Doca do Espanhol, com áreas de atividades performativas, de lazer e espaços verdes. Outra intervenção da APL decorrerá na zona oriental da cidade, entre Santa Apolónia e o Poço do Bispo, onde estão os nossos cinco terminais de contentores. No âmbito do prolongamento das concessões, queremos fazer a integração dos terminais na zona envolvente, através da criação de espaços verdes.

Quais são os valores investidos?
São investimentos consideráveis. No passeio da Doca do Espanhol, estamos a falar de cerca de oito milhões de euros. Na parte oriental da cidade, o investimento será da ordem dos 15 milhões de euros, envolvendo também a recuperação de um edifício do arquiteto Troufa Real que vai ser transformado em zona de restauração. É nossa intenção incluir também no projeto a recuperação da Doca do Poço do Bispo, reproduzindo a ideia das barcaças atracadas no rio Sena que durante os Jogos Olímpicos de Paris foram adaptadas para receber piscinas, restaurantes, etc.

E qual o valor do investimento na recuperação dos painéis de Almada Negreiros?
Esse investimento resulta de uma candidatura ao World Monuments Fund (WMF), uma associação vocacionada para a recuperação do património histórico e cultural que atribuiu um financiamento de cerca de 700 mil euros. A APL vai investir cerca de quatro milhões de euros na recuperação das Gares Marítimas de Alcântara e da Rocha do Conde de Óbidos. A Associação de Turismo de Lisboa está a investir mais quatro milhões de euros na concessão do centro interpretativo e na abertura de um restaurante na Gare de Alcântara, decorado em estilo Art Déco, remetendo para a época da criação dos painéis, que também servirá de atração.

Com as alterações climáticas, e a subida do nível médio das águas do mar, como é que uma cidade portuária como Lisboa pode defender-se?
Todos os novos projetos incorporam essas preocupações. Todas as construções novas na zona ribeirinha de Lisboa terão uma cota de soleira de cinco metros, segundo uma proposta da Agência Portuguesa do Ambiente. Mais difícil é a intervenção sobre as estruturas já existentes, porque exigem investimentos muito vultuosos. Nos planos de emergência dos terminais, temos procurado ter algum cuidado com a localização dos equipamentos. Essa preocupação estende-se também à prevenção de tsunamis ou cheias, criando condições que facilitem o acesso das pessoas aos pisos superiores dos equipamentos.

Lisboa, capital dos cruzeiros

Um estudo da Nova SBE mede o impacto dos navios de cruzeiro que passam pelo porto da capital, o que mais passageiros recebe a nível nacional

Os longos períodos de paragem durante a pandemia afetaram o Turismo a nível global, mas, assim que os confinamentos terminaram, a vontade de viajar era imensa – houve mesmo quem lhe chamasse revenge travel (viagem de “vingança”, em tradução livre). Em pouco tempo, a atividade regressou aos valores pré-pandemia e bateu novos recordes. Um dos segmentos que maior crescimento registou foi a indústria de cruzeiros, que tem na cidade de Lisboa uma importância cada vez maior. Os números assim o indicam. Em 2023, a capital recebeu 347 dos 980 navios de cruzeiro que fizeram escala nos portos portugueses, e acolheu mais de 758 mil dos 1,7 milhões de passageiros que pisaram solo nacional.

Só na cidade de Lisboa, o turismo de cruzeiros duplicou, em apenas quatro anos, o seu peso no PIB nacional, subindo de 0,16% em 2019 para 0,3% do PIB em 2023, e gerando um contributo de 794 milhões de euros, ou seja, mais 458 milhões de euros face aos 336 milhões de euros registados em 2019. As conclusões são do estudo de Avaliação do Impacto Económico da Indústria de Cruzeiros em Lisboa 2023, realizado pela Nova School of Business and Economics (SBE) e assinado pelos economistas Pedro Brinca e João Bernardo Duarte.

Se olharmos apenas para o PIB do Turismo nacional, o impacto dos navios de cruzeiro que partiram, chegaram ou fizeram escala de algumas horas em Lisboa cresceu de 1,84% para 2,16% nestes quatro anos. E o contributo para o município de Lisboa aumentou de 1,4% para 1,7%, no período analisado.

Numa análise mais fina, o estudo da Nova SBE indica que cada navio de cruzeiro que atracou no Porto de Lisboa contribuiu, em média, com 2,29 milhões de euros para o PIB, gerou 910 mil euros em receitas fiscais e criou 59 postos de trabalho, o que traduz um crescimento significativo face a 2019. Se considerarmos os efeitos totais ‒ direto, indireto e induzido ‒, a indústria de cruzeiros teve, no seu conjunto, um impacto na economia da cidade de 1 934 milhões de euros, rendeu ao Estado 317 milhões de euros em impostos (a maior fatia foi do IVA, com 147 milhões de euros) e criou 20 383 postos de trabalho. Estes valores comparam favoravelmente com os de 2019, segundo os quais o impacto económico foi de 840 milhões de euros, a receita fiscal de 133 milhões de euros e os empregos criados em número de 8 863.

Gasto médio de €159

Os passageiros dos cruzeiros de visita à capital gastaram, em média, 159 euros, um valor que é quase o dobro do montante de 82 euros apurado numa análise intercalar efetuada em 2022. Estes gastos são feitos principalmente nos segmentos do alojamento, agências de viagens, comércio a retalho, restauração e transportes.

No entanto, os autores do estudo isolaram “dois perfis de passageiros distintos”: os que chegam e partem nos navios em trânsito, permanecendo em Lisboa, em média, entre 8h e 10 horas, e os que iniciam ou terminam em Lisboa as suas viagens de cruzeiro (turnaround), fazendo estadas mais longas que incluem dormida.

Os dois perfis originam valores muito diferentes. Enquanto a despesa média dos passageiros em trânsito foi de 39 euros, excedendo apenas ligeiramente o valor de 37 euros apurado em 2022, já o gasto médio dos passageiros turnaround foi de 573 euros, um valor bastante superior aos 367 euros obtidos em 2022. É no transporte, compras a retalho e pacotes turísticos que os passageiros em trânsito gastam o dinheiro, mas, no caso dos passageiros turnaround, o alojamento absorve a maior parte da despesa, seguido pelos pacotes turísticos, restaurantes e cafés e compras no comércio a retalho.

Este aumento do gasto médio por passageiro resulta, por um lado, da inflação verificada nos preços durante o período em análise ‒ atingiu 10% entre maio de 2022 e maio de 2024 ‒ e, por outro, do acréscimo em 200 mil do número de passageiros turnaround e também da sua maior propensão para gastos mais elevados, principalmente por parte dos cruzeiristas vindos dos Estados Unidos da América e do Canadá (ver entrevista com presidente da APL).

No estudo, os economistas da Nova SBE encontraram um multiplicador de produção para a indústria de cruzeiros que consideram como sendo “elevado”. A estimativa “mais conservadora”, por incluir apenas os efeitos indiretos da atividade, indica que, entre fornecedores e passageiros, cada euro gasto pela indústria de cruzeiros em Lisboa “gera 1,65 euros na economia”. Se forem incluídos os efeitos induzidos, então cada euro gasto irá gerar “3,57 euros de atividade económica”.

Além do retorno para a economia, o Porto de Lisboa tem um compromisso com a sustentabilidade, estando a desenvolver projetos para reduzir as emissões poluentes dos navios de modo a “assegurar que Lisboa continue a ser um destino de excelência no setor do turismo de cruzeiros, equilibrando a proteção ambiental com o crescimento económico sustentável”.

Artigo publicado na Exame nº 487 de janeiro de 2025

Desde muito novos que estamos habituados a ouvir coisas como: “arruma o quarto, isto está uma desorganização que não se pode, se alguém vir isto é uma vergonha”, “arruma a tua secretária, é impossível encontrares alguma coisa aí nessa confusão”, “quarto arrumado, cabeça organizada.”

Ainda que de forma provavelmente inconsciente, sempre fomos educados no sentido de organizar o espaço da melhor forma, tanto por mera necessidade de arrumação, como pela imagem que uma casa ou uma secretária desorganizada passa para quem as vê.

É pena que, à medida que vamos crescendo, essa noção de espaço se limite mesmo à casa e ao local de trabalho e não à própria organização das nossas cidades. O caso de Lisboa é paradigmático.

Todo o cidadão que reside ou que, pelo menos, trabalha em Lisboa, depara-se, todos os dias com um ruído visual e olfativo que ultrapassa os limites da decência, bem como denota que os locais públicos estão em degradação do ponto de vista da utilização e vivência da experiência da cidade.

Tudo isto é comunicação. O espaço está em constante comunicação com os indivíduos que nele vivem e se movem.

Neste momento, Lisboa, com a falta de espaços públicos gratuitos que apresenta – é quase impossível, hoje, sair à rua e não gastar dinheiro -, os espaços verdes em deterioração apenas salvos por cidadãos bem intencionados que agem como guerrilheiros florestais, os passeios de dimensão mínima para os pedestres, os buracos de 50 em 50 metros, e até os cartazes de eleições políticas passadas (bem passadas…), está a dizer aos seus residentes e trabalhadores: “fujam, caso o lixo por todo o lado e o mau cheiro não vos seja suficiente para zarpar!”

Lisboa, sob a presidência de Moedas, passou a falar apenas para os turistas. A expulsão de pequenos negócios locais históricos e sua substituição por Ale-Hops, Tigers e Normals faraónicas dizem algo muito claro: Lisboa é agora um parque de diversões para o turismo. Em vez de apostar na cultura portuguesa, a presidência da Câmara opta por vender a cidade à plasticidade estrangeira.

Urge que se organize melhor o espaço da cidade de Lisboa para que a própria cidade comunique positivamente com os cidadãos. Lisboa está um caos e esse caos entranha-se no espírito das pessoas, no seu mood, e na sua disposição para investir a sua energia na cidade, para querer ficar e desenvolver trabalho aqui.

Lisboa está a arriscar-se a, seguindo este caminho provinciano de cedência total ao que é estrangeiro, deixar de ser uma cidade portuguesa culturalmente interessante pela sua particularidade para passar a ser uma Disneyland barata que se pode visitar em qualquer capital banal. Se é verdade que o turismo constitui uma fatia substancial nas receitas de todo o país – não exclusivamente Lisboa -, também é verdade que o que atrai os turistas para Lisboa não são as lojas a que podem ir em todos os países do mundo desenvolvido, mas sim o pequeno comércio, os restaurantes locais e a arte portuguesa.

Organizar melhor o espaço para comunicar mais eficazmente com aqueles que pela cidade se movimentam – uma ideia clara que, apesar de não ser tão simples assim, tem de ser concretizada.

É caso para dizer: “Câmara Municipal de Lisboa, é favor de arrumar melhor a sua cidade! Se alguém vir isto é uma vergonha!”

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