E, aos 75 anos, Pedro Almodóvar fez o seu primeiro filme norte-americano… Talvez este seja o maior motivo de espanto. Ao longo da sua profícua carreira, não terão certamente faltado oportunidades para escalar as colinas de Hollywood.

Mas Almodóvar foi mantendo a sua identidade, tornando o seu nome em adjetivo para caracterizar um cinema que reflete a natureza humana, mas também uma certa espanholidade. Tal não o impediu de receber elevado reconhecimento internacional e vários prémios, incluindo Oscars. Ironicamente, Almodóvar fez um filme em língua inglesa numa altura em que Hollywood absorve com mais facilidade a latinidade e até culturas mais distantes.

Este passo de Almodóvar terá que ver, certamente, com a experiência que teve anteriormente com Tilda Swinton na curta A Voz Humana, a partir de Cocteau. Descreva-se como um enamoramento do realizador pela atriz.

O Quarto ao Lado ganhou o Leão de Ouro em Veneza e deve entrar na corrida aos Oscars em 2025

Mas não será apenas isso. Tal como aconteceu com Like Someone in Love (2012), o filme japonês de Abbas Kiarostami, Almodóvar não se limita a escrever um guião em que as personagens falam inglês em vez de castelhano.

O Quarto ao Lado é um verdadeiro filme norte-americano, pensado em língua inglesa e com as suas referências culturais. Trocam-se as cores vivas e audazes de Picasso pela imensa nostalgia colorida de Hopper; a movida e o folclore espanhol pela profundidade existencialista e poética de James Joyce. Tudo isto sem deixar de ser Almodóvar.

Em O Quarto ao Lado, o realizador espanhol construiu um clássico anglo-saxónico. Optou por uma estrutura simples, desconstruída, entregando a quase totalidade do filme a duas atrizes (o papel de Turturro é mínimo): Tilda Swinton e Julianne Moore, duas grandes atrizes a interpretar grandes papéis.

O filme abre espaço para o debate sobre a eutanásia e a legalização da morte assistida, que tem sido tema recorrente nas democracias ocidentais. Contudo, este é um tema subsidiário. Do que O Quarto ao Lado nos fala é do mais universal dos temas da arte: a morte e a forma como lidamos com ela.

O Quarto ao Lado > De Pedro Almodóvar, com Tilda Swinton, Julianne Moore, John Turturro > 107 min

Era um fenómeno difícil de prever e uma surpreendente reviravolta na indústria musical no século XXI. Durante anos, desde a chegada massiva do CD, no final da década de 80, os velhos discos de vinil passaram a ser vistos como antiguidades prontas a entrar nesse grande baú da História reservado a invenções que ficam ultrapassadas, tecnologicamente obsoletas. Muitos melómanos apressaram-se a substituir as suas coleções de álbuns de vinil pelas mesmas gravações em pequenos discos digitais, popularizados como CD. Mas nunca deixou de haver especialistas em audiofilia a garantir – em intermináveis discussões… – que a qualidade do som obtida a partir das ranhuras analógicas do vinil era potencialmente muito superior (com os dispositivos certos) aos resultados da tecnologia digital.

Entretanto, o século XXI trouxe outra revolução, totalmente decisiva no modo como se passou a consumir (e, mesmo, a valorizar) música: a desmaterialização. Se durante anos a ideia de oferecer um disco como presente de Natal ou aniversário parecia sempre ótima, tudo mudou quando as canções se transformaram em ficheiros, comprimidas no formato MP3, prontas a circular entre computadores ou telemóveis e a chegar aos ouvintes em qualquer momento, em qualquer lugar… Como embrulhar um ficheiro MP3?!

Lentamente, os discos de vinil foram regressando. Primeiro em lojas especializadas, com uma grande secção de “usados”, que faziam as delícias dos mais nostálgicos; depois, nos últimos anos, chegando às grandes lojas e ocupando cada vez mais espaço, com muitas novas edições nesse formato. Em 2022, nos EUA, pela primeira vez desde 1987, as vendas de discos de vinil ultrapassaram as de CD. Em Portugal, essa inversão aconteceu logo em 2021 (quando os vinis representaram 58,5% das vendas de álbuns físicos).

Numa indústria hoje dominada pelo streaming, esse movimento é mundial: de 2022 para 2023, houve um aumento de 15% na comercialização global de discos de vinil. A conquista de um público mais jovem, que não se recorda dos tempos em que os vinis eram claramente dominantes, ajudou a impor esta tendência. A experiência estética, com as capas maiores dos álbuns a potenciarem mais o design gráfico e todos os rituais no momento de pôr um disco a tocar – com a mudança obrigatória de lado a meio da audição… – foi decisiva para este regresso triunfal e inesperado.

Novidades

Ohio Players The Black Keys

O estilo de rock cru e que vai direto ao assunto da guitarra de Dan Auerbach e da bateria de Patrick Carney combina bem com a era de ouro do vinil. É certo que os The Black Keys consumiram muita música girando a 33 ou 45 rotações por minuto antes de decidirem avançar para um primeiro disco, o que aconteceu já há 22 anos, com The Big Come Up (então só editado em CD). Os álbuns Brothers (2010) e El Camino (2011) abriram-lhes a porta do sucesso global. Neste 12.º álbum de estúdio mantêm-se fiéis à matriz de blues e rock que está na sua origem e contam com convidados como Beck e Noel Gallagher.

Live From the Royal Albert Hall Dua Lipa

Álbuns duplos com o registo de concertos memoráveis foram sempre um formato clássico quando os discos de vinil dominavam o mercado musical (um dos maiores êxitos de sempre dentro do género foi o disco The Concert in Central Park, da dupla Simon & Garfunkel, lançado em 1982). De alguma forma, a cantora anglo-albanesa Dua Lipa tenta recuperar aqui esse imaginário apresentando num disco duplo o registo da memorável noite de 17 de outubro deste ano em que tocou na mais prestigiada sala de Londres, acompanhada por uma orquestra de 53 músicos (The Heritage Orchestra), um coro de 14 vozes e a sua banda habitual, com sete elementos. O seu mais recente álbum, Radical Optimism, lançado em maio deste ano, esteve na base do concerto, que, claro, também revisitou êxitos anteriores.

The Collective (Deluxe Edition) Kim Gordon

É certo que este disco, lançado em março, vai aparecer em muitas listas dos melhores do ano. Aos 71 anos, a fundadora dos Sonic Youth apresentou um álbum cheio de energia, com elementos de eletrónica e batidas hipnóticas a colorirem as guitarras em distorção que associamos à sua sonoridade, e bem conectado com o nosso tempo de caos mais ou menos controlado e pós-verdades… Recentemente, Kim Gordon passou por Lisboa para apresentar, num esgotadíssimo Capitólio, estas canções. Para o final do ano, apelando ao espírito dos colecionadores, estava guardada esta edição especial, em vinil prateado, que inclui um single de sete polegadas com os temas Bangin’ on the Freeway e ECRP. Lançamento a 13 de dezembro

Mahashmashana Father John Misty

Josh Tillman, ex-Fleet Foxes, volta ao seu alter ego Father John Misty, como um romântico arrebatado que tanto parece uma personagem satírica e excessiva como um genuíno herdeiro das melhores canções sentimentais da história da pop (os fantasmas de Scott Walker e do ladies’ man Leonard Cohen pairam por aqui). Quando se insiste na mesma piada muitas vezes seguidas, o risco de falhar aumenta, mas Josh/Father John Misty assume-se como um genuíno artista que leva a farsa tão a sério que dele poderia dizer-se, citando Pessoa, que “chega a fingir que é dor a dor que deveras sente”. O disco tem colecionado críticas muito positivas desde foi lançado, no passado dia 22.

Joker BSO Vários

O filme em que Todd Phillips voltou a filmar Joaquin Phoenix no papel de Joker dividiu opiniões dos dois lados do Atlântico em 2024. Com uma estrutura muito próxima de um filme musical, e com uma estrela pop como Lady Gaga como coprotagonista, é natural que deste Joker, Folie à Deux tenha saído uma banda sonora marcante. Tudo começa com a voz inconfundível de Nick Cave em What the World Needs Now Is Love e segue com as interpretações de Phoenix e Lady Gaga de canções clássicas (como uma versão em inglês de Ne Me Quitte Pas, de Jacques Brel) e outras originais (Folie à Deux é uma composição da própria Lady Gaga, assinada com o seu nome verdadeiro: Stefani Germanotta).

From Zero Linkin Park

Regresso inesperado de uma banda que, depois da morte do vocalista Chester Bennington, em 2017, nunca mais será exatamente a mesma que, a partir da Califórnia, foi conquistando muitos fãs em todo o mundo desde o início do século XXI. Emily Armstrong é a nova vocalista e, depois da saída do membro fundador Rob Bourdon, também o novo baterista, Colin Brittain, tem ganhado protagonismo. As canções continuam orelhudas e gritadas ao microfone, falando, sobretudo, para uma geração que foi crescendo nos primeiros anos deste século. Mas há sempre uma boa dose de risco nestes comebacks de bandas muito populares com novos protagonistas, que podem não conquistar os fãs mais indefetíveis das glórias passadas – se for oferecer este disco, é mais seguro pedir um talão de troca…

Amelia Laurie Anderson

O sucessor de Landfall (de 2018) é, de alguma forma, aquilo a que se chama um disco conceptual, com um tema que percorre todas as suas 22 faixas. Laurie Anderson, artista multidisciplinar nascida em Chicago em 1977, dedica-se aqui a evocar Amelia Earhart, nascida em 1897, pioneira da aviação nos EUA que desapareceu sobre o Oceano Pacífico quando, em 1937, tentava ser a primeira mulher a concluir uma volta aérea ao planeta. Anderson inspirou-se em diários e telegramas da aventureira para este álbum, por vezes fantasmagórico e muito cinematográfico, no qual conta com participações de músicos como Anohni e Marc Ribot.

ReEncanto – Live at Union Chapel Mayra Andrade

Basta a voz de Mayra Andrade, com canções de várias épocas da sua carreira, e o violão de Djodje Almeida para fazer deste disco/concerto um momento especial, em estado de graça, no percurso da cantora cabo-verdiana nascida há 39 anos em Havana, Cuba. “Não se consegue fazer um concerto só de voz e violão se não estiver a acontecer ali algo de muito verdadeiro e especial”, dizia Mayra à VISÃO em outubro. “A ideia do ReEncanto foi-se revelando e foi ganhando uma espécie de aura. Apesar de vivermos numa era que valoriza muito o entretenimento, sinto que às vezes as pessoas estão cansadas e querem o verdadeiro, o mais simples, o cru, sem filtros, algo que permita sentir uma comunhão com quem está ao lado e com o artista.” Neste disco duplo está o registo de um desses momentos de comunhão, na Union Chapel, em Londres, em novembro de 2023.

Rome The National

Desde a sua estreia em palcos portugueses, que aconteceu em 2005 em Paredes de Coura, com um aclamado regresso em 2007 à Aula Magna, em Lisboa, os norte-americanos The National passaram a ser mais uma banda com uma relação muito especial com Portugal – onde já tocaram mais de 20 vezes. Podemos considerar Matt Berninger e os dois pares de irmãos, Dessner e Davendorf, velhos amigos. Quem quiser revisitar, em disco, as sensações intensas de um concerto dos The National tem neste registo gravado no Auditorium Parco della Musica Ennio Morricone, em Roma, em junho passado, uma excelente proposta, com canções de várias fases duma carreira iniciada em 1999. Lançamento a 13 de dezembro

Tropical Glaciar Lena d’Água

Em 2019, no álbum Desalmadamente, reencontrámos a voz de Lena d’Água, tal como nos lembrávamos dela, num punhado de excelentes canções saídas da pena prolífica de Pedro da Silva Martins. Tropical Glaciar é um regresso dessa equipa vencedora, com a fórmula afinada por uma relação de trabalho e de amizade que se foi consolidando nos últimos anos. “O Pedro conhece-me muito bem e já sabia que havia alguns assuntos que eu pretendia abordar”, disse a cantora à VISÃO. Um desses assuntos passa pela ecologia e a defesa do ambiente. Os singles de avanço mostraram duas dimensões desta nova Lena d’Água de sempre: festiva, bailarina e mordaz em Pop Toma e mais reflexiva, doce e melancólica em O Que Fomos e o Que Somos. Ao todo, são dez as novas canções escritas por Pedro da Silva Martins para a inconfundível voz de Lena d’Água.

Carminho at Electrical Audio Carminho

Disco improvável e irrepetível que sai por estes dias em vinil (no formato EP), depois de já estar disponível nas plataformas digitais. Resultou da visita, em 2023, da fadista Carminho ao estúdio do mítico produtor Steve Albini, referência nas sonoridades do rock mais alternativo desde os anos 90, que morreria em maio deste ano, com 61 anos. Foi no dia 10 de outubro de 2023 que Carminho e os seus músicos trabalharam com Albini no seu estúdio em Chicago. Ele nunca tinha gravado uma guitarra portuguesa, ela nunca antes tinha registado a sua voz em gravadores de fita magnética. O disco conta com quatro faixas gravadas nesse dia: Os Argonautas, Deixei a Minha Casa – Alexandrino da Ponte, Gota de Água e Não Olhes para os Meus Olhos – Fado da Espera. O tema Os Argonautas é um dueto com Caetano Veloso, que não esteve presente no Electrical Audio e teve a sua voz acrescentada depois. Para o futuro, este disco fica como uma pequena pérola, recordando o momento fugaz em que Carminho gravou fado tradicional com o produtor do último disco dos Nirvana, In Utero.

Songs of a Lost World The Cure

Para um verdadeiro fã dos The Cure, que acompanhe a banda inglesa desde os anos 80 (ou mesmo 70, pois tudo começou em 1976…), faz todo o sentido que o entusiasmo na descoberta de novas canções na voz de Robert Smith se faça abrindo uma grande capa quadrada e tirando, lentamente, um disco de vinil lá de dentro – isso ou uma cassete gravada… Havia algum risco neste regresso, 16 anos depois do último álbum de originais (o esquecível 4:13 Dream, de 2008). Com quase 50 anos de carreira, nunca foram banda de inventar novos caminhos e arriscar guinadas estilísticas. Quem gosta muito não consegue evitar a grande expectativa a cada disco novo, mas sabe sempre ao que vai. Neste Songs of a Lost World não se foge a essa regra. Não é preciso Robert Smith fazer-se ouvir (o que só acontece aos três minutos e 22 segundos da primeira faixa, Alone, quando ouvimos a sua inconfundível voz dizer: “This is the end of every song that we sing…”) para entrarmos no universo de sempre dos The Cure. Se for uma despedida (e é o que parece) é uma excelente forma de dizer adeus.

Nobody Loves You More Kim Deal

Aos 63 anos, Kim Deal lança o seu primeiro disco em nome próprio. É fácil ouvir neste Nobody Loves You More ecos das The Breeders (a banda que formou em 1989) e, de olhos fechados, também podemos ser transportados para o universo dos Pixies, onde Kim foi a carismática baixista, e ocasionalmente vocalista, ao lado de Black Francis. É um clássico álbum de canções (onze, no total, escritas ao longo de mais de uma década, depois da sua decisão, em 2013, de abandonar os Pixies), com algumas surpresas ao virar da esquina, sobretudo nas orquestrações clássicas, com cordas e sopros, no tema que dá título ao álbum. Como acontece com a outra Kim referencial no rock mais alternativo das últimas décadas (Kim Gordon, ex-Sonic Youth), que este ano apresentou um álbum em nome próprio (também presente nestas páginas), não há aqui nenhuma cedência à nostalgia, ousando-se desbravar novos caminhos, em saborosas aventuras de músicas com os pés bem assentes na terra, que tiveram tempo de apurar a sua identidade artística.

Reedições

Paris 1919 John Cale

Em 1973, cinco anos depois de ter saído dos Velvet Underground, John Cale lançou este Paris 1919 (com o título a fazer referência à Conferência da Paz que aconteceu em Paris nesse ano), que, com o passar dos anos, foi ganhando o estatuto de disco de culto. Com arranjos elegantes, este álbum anunciou um John Cale diferente, sofisticado e culto escritor de canções pop. Faz todo o sentido reencontrar esta obra-prima num disco de vinil, integrado num plano de cuidadas reedições dos seus primeiros álbuns a solo.

Rua da Emenda (LP Colorido) António Zambujo

Muito se passou na carreira de António Zambujo desde a edição deste Rua da Emenda, em 2014, que incluía uma das canções mais populares no seu percurso, depois de se distanciar do fado dos primeiros discos: Pica do 7. Este vinil amarelo pretende celebrar os dez anos da edição desse álbum que Zambujo viu como “um fim de ciclo” e que acabaria por chegar a disco de ouro – e só o facto de existir, apelando aos fãs que têm mais espírito de colecionadores de objetos fora do comum, mostra como o vinil se afirmou mesmo uma tendência nos últimos anos.

Discovery: Interstella 5555 Edition Daft Punk

Um daqueles casos em que uma reedição faz valer todo o potencial do formato vinil em termos de design e de ofertas apelativas. Aqui, regressamos ao segundo álbum dos franceses Daft Punk, que marcaram a cena da música eletrónica de dança no início do século, com temas com One More Time e Harder, Better, Faster, Stronger. Esta edição limitada recupera o grafismo da versão japonesa de Discovery, com ilustrações de Leiji Matsumoto, e inclui ainda autocolantes e a reprodução de um cartão “Daft Club” que, em 2001, era uma forma inovadora de, a partir de um suporte físico (o CD, que incluía esse cartão), levar o público para o site da banda, com acesso a versões alternativas e até a músicas que não estavam no disco. A nostalgia chegou ao universo dos Daft Punk. Lançamento a 13 de dezembro

On the Beach Neil Young

Reedição que celebra os 50 anos deste disco de Neil Young, um dos mais prolíficos autores de canções made in USA (apesar do seu nascimento em Toronto, no Canadá) nas últimas décadas, com uma sonoridade que associamos muito mais ao som quente, e por vezes com aqueles ruídos que o tornam único (há quem fale de “som de batatas a fritar”), do vinil do que à frieza perfeita do mundo digital. Numa discografia muito extensa, On the Beach, de 1974, ocupa um lugar especial, com Young a refletir com alguma melancolia sobre a ressaca dos loucos anos 60 e da fama. Esta reedição só está disponível num disco de vinil branco, em total contraste com o negro que associamos a estes objetos.

Viagens Pedro Abrunhosa & Os Bandemónio

O disco que este ano celebrou três décadas de vida foi escolhido, por um painel de 170 votantes de alguma forma ligados à música, por ocasião do 40º aniversário da revista Blitz, como o melhor álbum editado nos últimos 40 anos em Portugal. Em 1994, representou uma revolução na vida do músico do Porto, até então mais ligado ao jazz. Com êxitos como Não Posso Mais, Socorro, Tudo o que Te Dou e Lua, impôs uma sonoridade mais ligada à música soul e funk, a atirar-se ao hip-hop, que não era habitual nos tops portugueses de então. Uma edição comemorativa deste clássico, em vinil, chegou há pouco tempo às lojas, mas ainda haverá mais surpresas na senda do seu 30º aniversário: o músico anunciou uma nova versão de Viagens, com músicos convidados (entre eles, Jorge Palma, Sara Correia, Carolina Deslandes e Diogo Piçarra) a interpretarem à sua maneira as dez canções do disco.

Recomeçar Tim Bernardes

Foi lançado em 2017, mas neste regresso às lojas de discos surge já com a patine de um clássico. O disco de estreia a solo do brasileiro Tim Bernardes foi descoberto por muitos à boleia de Mil Coisas Invisíveis, lançado em 2022. Talvez pela melancolia que percorre todas as suas canções, dessa “coisa colorida pela saudade” de que falou em entrevista à VISÃO, a sua relação com o público português tem sido intensa (ainda este mês de novembro foi aqui que se despediu em palco da sua banda O Terno, que anunciou uma pausa por tempo indeterminado). Mas não foi só Portugal que se deixou seduzir pelo novo menino bonito da MPB, com ares de John Lennon, como prova a elogiosa citação, saída da revista New Yorker, que se pode ler nesta reedição em vinil. Um recomeço para Recomeçar.

1964 US Albums in Mono The Beatles

Não há Natal sem uma qualquer novidade saída do aparentemente inesgotável baú dos fab four (assim como, salvaguardadas as devidas distâncias, não há Natal sem um best of dos Abba ou dos Queen por perto…). Este ano, os beatlemaníacos vão salivar com esta caixa que revisita as edições norte-americanas dos discos dos Beatles – numa época em que, muitas vezes, a arrumação das canções em álbuns de 33 rpm variava de mercado para mercado, o que faz com que algumas edições raras exclusivas para países mais pequenos se tornem hoje preciosidades para os colecionadores. Aqui reúnem-se os discos tal como surgiram para o mercado norte-americano depois da febre por Lennon, McCartney, Harrison e Ringo ter atravessado o oceano. Por incrível que hoje nos possa parecer, entre fevereiro de 1964 e março de 1965 foram editados nos EUA sete “álbuns” dos Beatles (um deles duplo). Dentro desta caixa estão esses oito LP: Meet The Beatles!, The Beatles’ Second Album, A Hard Day’s Night, The Beatles Story (duplo), Something New, Beatles ’65 e The Early Beatles.

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1. Era Vocal Ensemble & Orquestra 1755 e projeto Sete Lágrimas

O programa Festas de Natal da EGEAC (empresa municipal que gere os equipamentos culturais de Lisboa) leva a música às igrejas, em dois concertos com entrada gratuita. Já nesta sexta, 6, na Igreja de Nossa Senhora das Mercês, a Era Vocal Ensemble & Orquestra 1755 interpreta composições dos diferentes músicos da família Bach, ao longo de sete gerações. O programa é composto por peças para coro, solistas e orquestra, sob a batuta do maestro João Barros. Já no dia 13, também uma sexta-feira, o projeto Sete Lágrimas revisita a viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães e Elcano, recriando sons tradicionais de cinco continentes na Igreja de São João de Deus. Os concertos têm início às 21h. Igreja de Nossa Senhora das Mercês > 6 dez, sex 21h > Igreja de São João de Deus > 13 dez, sex 21h > grátis, levantamento prévio de bilhete no local, no dia do espetáculo, a partir das 20h (máximo dois bilhetes por pessoa)

2. Um Natal Austríaco em Lisboa pelo Coro dos Amigos do Conservatório Nacional (4 concertos)

Foto: Marcos Borga

Também em igrejas de Lisboa, o Coro dos Amigos do Conservatório Nacional (CACN) e o Ensemble Efémero juntam-se em quatro concertos de entrada livre, sob o mote Um Natal Austríaco em Lisboa. Serão interpretadas duas composições de Haydn e Mozart, sob a direção de Luís Lopes Cardoso, maestro do CACN. O programa repete-se em quatro locais: neste sábado e domingo, dias 7 e 8, na Igreja Nossa Senhora da Conceição e no Mosteiro dos Jerónimos; e no fim de semana de 14 e 15 na Igreja de Santo Condestável e na Basílica da Estrela, respetivamente.

Missa brevis Sancti Ioannis de Deo, a quinta e última missa brevis de Haydn, foi composta para coro a quatro vozes e para um pequeno conjunto instrumental, constituído por dois violinos e violoncelo, com acompanhamento de órgão e para soprano solo. Tem a particularidade de ser dedicada a um santo português, S. João de Deus. De Mozart, escolheu-se as Vésperas solenes do Confessor, uma obra que pede mais instrumentos e solistas vocais, aqui garantido pelo quarteto SATB. Igreja Nossa Senhora da Conceição e no Mosteiro dos Jerónimos > 7-8 dez, sáb 17h, dom 21h30 > Igreja de Santo Condestável e Basílica da Estrela > 14-15 dez, sáb 21h30, dom 17h > grátis

3. Natal da Índia pela Companhia de Ópera de Setúbal e Coro Setúbal Voz

Foto: DR

As duas formações de Setúbal apresentam-se no Museu do Oriente para interpretar músicas tradicionais de Goa, caso do tema Vamos a Belém (composto em Portugal no século XVIII e levado para o Oriente), assim como outros temas tradicionais do Natal português. Museu do Oriente > Doca de Alcântara Norte, Av. Brasília > 21 dez, sáb 18h > €10

4. Cores de Natal pelo Coro do Teatro Nacional de São Carlos e Orquestra Sinfónica Portuguesa

Música e arte entrelaçam-se neste concerto no Teatro Tivoli: enquanto se ouvem composições alusivas à quadra festiva, obras da pintura portuguesa são projetadas numa tela. Em palco, o Coro do Teatro Nacional de São Carlos e a Orquestra Sinfónica Portuguesa interpretam obras de Vivaldi, Bach, Mozart e John Rutter, entre outros compositores. O concerto encerra com uma das mais populares obras do cancioneiro natalício: We wish you a Merry Christmas. Teatro Tivoli BBVA > Av. Liberdade, 182 > 14-15 dez, sáb 19h, dom 17h > €15-€37,50

5. Bach e Händel pela Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro de São Carlos

Em março de 1685, registavam-se dois nomes que viriam a marcar a música barroca alemã: Johann Sebastian Bach e Georg Friedrich Händel nasceram no mesmo mês do mesmo ano, a menos de 200 quilómetros de distância. Neste Concerto de Natal, no Centro Cultural de Belém, vão ouvir-se algumas das suas obras emblemáticas. Do programa, destaque para o repertório operático de Händel para solista contratenor, com o italiano Filippo Mineccia a interpretar cinco árias do oratório O Messias. O maestro Giampaolo Vessella conduz o Coro do Teatro de São Carlos e a Orquestra Sinfónica Portuguesa acompanha. Centro Cultural de Belém > Pç. do Império > 22 dez, dom 17h > €7-€35

6. Concerto de Natal Alumni pela Orquestra Académica e o Coro de Câmara da Universidade de Lisboa

Poucas salas têm o charme da Aula Magna da Universidade de Lisboa. Será aqui que a Associação de Antigos Alunos da Universidade de Lisboa – Alumni ULisboa apresentará o concerto de Natal “Do Sonho à Liberdade”. Além da Orquestra Académica e do Coro de Câmara da UL, participam os bailarinos da Faculdade de Motricidade Humana e o Coro da Escola Artística do Instituto Gregoriano de Lisboa. Aula Magna > Edifício da Reitoria, Alameda da Universidade, 14 dez, sáb 21h > grátis, mediante levantamento de convite nas Lojas da ULisboa da Reitoria e do Caleidoscópio, até dia 13 dez

7. Oratória de Natal de Bach, pelo Coro e Orquestra Gulbenkian

Coro Gulbenkian. Foto: DR

O concerto de Natal é sempre um dos momentos mais apetecíveis da temporada de música da Fundação Calouste Gulbenkian, com os bilhetes a esgotarem-se muito antes da data. Este ano, a nova maestra titular do Coro Gulbenkian, Martina Batič, dirige quatro cantatas de Oratória de Natal, uma das mais majestosas criações de Johann Sebastian Bach, escrita em 1734 e 1735. Fundação Calouste Gulbenkian > Av. de Berna, 45A > 19 dez, qui 20h, 20-21 dez, sex-sáb 19h > €26-€58

8. Vilancicos de Natal pelo Coro da Escola Artística do Instituto Gregoriano de Lisboa

O vilancico é uma composição poética que se cantava em coro em festividades religiosas, e assim se associaram ao Natal. No Museu Nacional de Arte Antiga, no dia 15, este concerto pelo Coro da Escola Artística do Instituto Gregoriano de Lisboa integra uma programação maior que inclui, neste dia, Visitas Orientadas à coleção do Museu em torno de histórias de nascimento e celebração (15h) e ainda a atividade Tradições de Natal, pelas 16h45. Museu Nacional de Arte Antiga > R. das Janelas Verdes > Natal em Arte Antiga > 15 dez, dom 15h-18h > grátis

9. Concerto de Natal pelo Coro das Nações

Este grupo amador conta atualmente com cerca de trinta coralistas, residentes e trabalhadores no Parque das Nações, que ensaiam semanalmente no Instituto Português da Juventude, sob a orientação do maestro Frederico Projecto. Este ano, o Coro das Nações fará duas apresentações do habitual Concerto de Natal: a primeira a 20 de dezembro, na Igreja de Stº António de Moscavide, e no dia 22, na Igreja Nossa Sra. dos Navegantes. O alinhamento contempla um repertório vasto, que conjuga o clássico com o romântico e étnico, festejando o Natal com melodias. Igreja de Stº António de Moscavide > 20 dez, sex 21h > Igreja Nossa Sra. dos Navegantes > 22 dez, dom 18h30

10. Natal – Músicas do Mundo pelo Coro Staccato

Este é um programa para toda a família, proposto pelo Museu do Tesouro Real. Visitar a casa das joias, moedas, ordens honoríficas e pratas de aparato que pertenceram aos últimos reis e rainhas de Portugal e assistir a um concerto. O Coro Staccato apresenta um reportório muito variado, composto por músicas de Natal de todo o mundo. Museu do Tesouro Real > Cç. da Ajuda > 15 dez, dom 16h > bilhete museu €10, €7 (7-24 anos e mais de 65 anos), familía (2 adultos + 2 crianças) €32, concerto gratuito

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Não se sabe se as relações de vizinhança eram amigáveis. Isso ficará para investigações futuras. Contudo, as pegadas de duas espécies diferentes de hominíneos (antecessoras do Homo sapiens) encontradas nas margens do lago Turkana, no Norte do Quénia, demonstram algo inédito: o Homo erectus e o Paranthropus boisei foram contemporâneos e caminharam pelos mesmos trilhos há 1,5 milhões de anos, com poucas horas de diferença.

Os vestígios fósseis foram encontrados um pouco por acaso, em 2021, por uma equipa de cientistas liderada por Louise Leakey, paleontóloga de terceira geração – neta de Louis e Mary Leakey, e filha de Richard Leakey, proeminentes paleoantropólogos, responsáveis por importantes descobertas arqueológicas no continente africano.

Quando faziam escavações à volta das pegadas de uma enorme cegonha pré-histórica, apareceram dois conjuntos de pegadas paralelas daqueles hominíneos (termo mais recente que descreve uma subdivisão da categoria maior conhecida como hominídeos), congeladas no tempo, a apenas um metro de distância uma da outra.

Foto: Kevin Hatala Chatham University

As análises subsequentes dos sedimentos permitiram datá-los com precisão e destrinçar estes trilhos humanos, através de scanners tridimensionais, conseguindo-se distinguir as espécies pelos diferentes padrões de anatomia e de locomoção. Ambas tinham posturas eretas, eram bastante ágeis, mas o bipedismo (capacidade de andar sobre duas pernas) tinha características distintas – as pegadas preservaram detalhes sobre os indivíduos, incluindo a altura dos arcos dos pés, o formato dos dedos e seus padrões de caminhada.

Sabe-se que o Homo erectus tinha uma dieta omnívora e um comportamento bastante semelhante ao Homo sapiens, com grande capacidade de locomoção, que os levou para outros continentes. Já o Paranthropus boisei, menos corpulento e com um cérebro mais pequeno, tinha um caminhar não tão ereto e usava as suas enormes mandíbulas e molares para mastigar vegetais duros e fibrosos (é conhecido como o Homem Quebra-Nozes). A maior mobilidade do dedo grande do pé permitia-lhe, precisamente, trepar melhor às árvores.

“Isso prova, sem sombra de dúvidas, que não apenas um, mas dois hominídeos diferentes estavam andando na mesma superfície, literalmente com poucas horas de diferença um do outro”, afirma Craig Feibel, um dos autores do estudo publicado na revista Science, a 28 de novembro último, e professor na Universidade de Rutgers, em New Jersey. “A ideia de que eles viveram contemporaneamente pode não ser uma surpresa. Mas esta é a primeira vez que é demonstrado. Isso é enorme.”

Feibel recorreu aos seus conhecimentos em estratigrafia e datação para demonstrar a antiguidade geológica destes achados em 1,5 milhões de anos. Não se sabe se os hominíneos estiveram naquele local frente a frente, mas as pegadas cravadas em sedimentos moles comprovam que seguiram o mesmo caminho contínuo, num intervalo de tempo muito pequeno. Provavelmente, ambos andavam pela bacia do Turkana em busca de comida.

O que dizem as pegadas

Estudos anteriores, baseados principalmente em registos fósseis, já sugeriam que diferentes espécies de hominídeos viveram lado a lado – o Homo erectus e o Paranthropus boisei foram as mais comuns do período Pleistoceno (entre há cerca de 1,8 milhões de anos e 11 500 anos). Mas os fósseis geralmente estavam espalhados por grandes áreas e suas datas estimadas abrangiam milhares de anos.

Este sítio arqueológico no Quénia vinha sendo explorado desde a década de 80 do século XX. Ao contrário dos fósseis esqueléticos, que podem ser deslocados, as inamovíveis pegadas fósseis podem fornecer detalhes fascinantes sobre a evolução da anatomia e locomoção humanas, além de dar mais pistas sobre comportamentos e ambientes humanos de épocas remotas.

Provou-se, sem sombra de dúvidas, que dois hominídeos diferentes andaram na mesma superfície, literalmente com poucas horas de diferença um do outro

Craig Feibel, coautor do estudo

“Pegadas fósseis são empolgantes porque fornecem instantâneos vívidos que trazem nossos parentes fósseis à vida”, disse Kevin Hatala, um dos coautores do estudo, que investiga pegadas de hominídeos desde 2012. “Com esses tipos de dados, podemos ver como indivíduos vivos, há milhões de anos, se moviam nos seus ambientes e potencialmente interagiam uns com os outros, ou mesmo com outros animais. Isso é algo que não podemos realmente obter de ossos ou ferramentas de pedra.”

“Na antropologia biológica, estamos sempre interessados ​​em encontrar novas maneiras de extrair comportamento do registo fóssil, e este é um ótimo exemplo”, disse Rebecca Ferrell, diretora de programa da National Science Foundation, que ajudou a financiar esta parte da investigação, nomeadamente o uso de tecnologias de imagem 3D de ponta que permitem aprofundar a análise destes vestígios.

Como sustenta o estudo, “agora é bem aceite que a evolução dos hominídeos é uma história de muitas linhagens existentes contemporaneamente”.

Os cientistas esperam que esta descoberta forneça mais pistas sobre a evolução humana e como as espécies cooperaram, interagiram (cultural e reprodutivamente) e competiram entre si. Como as dietas eram distintas, provavelmente a convivência era pacífica. 

Entre fezes e vómitos fossilizados

Bromalitos explicam como os dinossauros alcançaram o domínio na Terra

Durante muito tempo, o estudo sobre os dinossauros concentrou-se nos achados arqueológicos dos seus esqueletos. Mais recentemente, uma equipa de investigadores resolveu focar-se em fósseis outrora negligenciados, conhecidos como bromalitos: restos do sistema digestivo, ou seja, fezes e vómitos de dinossauro, denominados cientificamente de coprólitos e regurgitalitos. O trabalho “sujo” foi liderado por Martin Qvarnström, paleontólogo da Universidade de Uppsala, na Suécia, que recolheu 500 destes vestígios ao longo de 25 anos, em cerca de 10 locais, na Bacia Polonesa, no Sul da Polónia.

Levantava-se a questão de como é que estes gigantes pré-históricos se tornaram tão dominantes. Quando surgiram, há 230 milhões de anos, tiveram de conviver com outras espécies de répteis igualmente ameaçadoras, mas há 30 milhões de anos já reinavam o mundo pré-histórico.

A equipa conseguiu construir uma linha do tempo com bromalitos, do final do Triássico ao início do período Jurássico, e descobriu que estes aumentaram em tamanho e variedade. Isto sugere o surgimento de animais maiores, que se adaptaram às mudanças climáticas e alteraram a sua dieta alimentar – nomeadamente, quando uma maior atividade vulcânica proporcionou uma gama mais diversa de plantas. A conclusão dos cientistas: “Coma vegetais e viva mais tempo.”

Palavras-chave:

Este ano recebemos 38 446 candidaturas, mais 3 784 do que na edição passada!

Os livros que vão constar nos boletins de voto foram escolhidos pelos próprios alunos, do 1.º ao 12.º ano: foram eles quem, até meio de novembro, propuseram o livro de que mais gostam como candidato a estas eleições.

Por ciclo, o número de candidaturas distribuiu-se da seguinte maneira:

  • 1º ciclo – 13 539
  • 2º ciclo – 11 685
  • 3º ciclo – 10 368
  • secundário – 2 854

Cada aluno podia propor o seu livro preferido às eleições – fosse ele um romance, um conto, um livro de poesia ou de banda desenhada.

Terminado o período de apresentação de candidaturas para ‘Miúdos a Votos’, uma equipa da Pordata começou a trabalhar os resultados para identificar os livros mais vezes propostos.

Alguém que quer ser presidente da República tem de conseguir reunir pelo menos 7 500 pessoas que o apoiem para se tornar candidato. Um partido político também precisa de pelo menos o mesmo número de apoiantes para ser formado.

Nos ‘Miúdos a Votos’, acontece o mesmo: para participar nas eleições, um livro-candidato tem de conseguir um número mínimo de apoiantes. Foi isto que a Pordata contabilizou e os resultados finalmente chegaram. Eis então os livros que, por ciclo, vão a eleições no dia 12 de março!

O Benfica vai defrontar Bayern Munique, Boca Juniors e Auckland City, enquanto o FC Porto terá pela frente Palmeiras, Al Ahly e Inter Miami na fase de grupos do Mundial de Clubes FIFA 2025, que pela primeira vez se realiza num formato alargado de 32 clubes, entre 15 de junho e 13 de julho, nos Estados Unidos da América.

A nova prova sob a tutela do organismo máximo do futebol mundial passará a disputar-se de quatro em quatro anos, no final das épocas desportivas das principais ligas europeias.

Os 32 clubes qualificam-se para o Mundial FIFA por via das respetivas confederações, alguns através da conquista das principais competições continentais nas quatro épocas anteriores e outros através dos rankings de cada confederação. Benfica e FC Porto, por exemplo, apuraram-se graças à sua posição no ranking da UEFA, a confederação com direito a mais vagas, num total de 12. A segunda mais representada é a CONMEBOL, da América do Sul, com seis clubes, seguida da AFC (Ásia), da CAF (África) e da Concacaf (América Central e do Norte e Caribe), todas com quatro. Por fim, a Oceânia e o país organizador ocupam as duas vagas que restam.

Além de Bruno Lage e Vítor Bruno, Portugal conta com outros quatro treinadores nos clubes que vão estar presentes, casos de Abel Ferreira, do Palmeiras, de Artur Jorge, do Botafogo, de Jorge Jesus, do Al Hilal, e de Leonardo Jardim, do Al Ain.

Nesta primeira edição, os 63 jogos vão ser distribuídos por 12 estádios, a maioria no Leste dos EUA. Dos oito grupos de quatro clubes, seguem para os oitavos de final os dois primeiros classificados, com os 16 apurados a iniciarem o formato normal de eliminatórias (com prolongamento e penáltis como sistemas de desempate) e os restantes 16 a terminarem a sua participação. A final está agendada para o MetLife Stadium, em Nova Jérsia.

Eis o resultado do sorteio da fase de grupos:

Grupo A

Palmeiras (Brasil) – vencedor Copa Libertadores da América 2021

FC Porto (Portugal) – via ranking da UEFA

Al Ahly (Egito) – vencedor Liga dos Campeões da CAF 2020/21 e 2022/23

Inter Miami (Estados Unidos) – país organizador

Grupo B

Paris Saint-Germain (França) – via ranking da UEFA

Atlético de Madrid (Espanha) – via ranking da UEFA

Botafogo (Brasil) – vencedor Copa Libertadores 2024

Seattle Sounders (EUA) – vencedor Liga dos Campeões da Concacaf 2022

Grupo C

Bayern de Munique (Alemanha) – via ranking da UEFA

Benfica (Portugal) – via ranking da UEFA

Boca Juniors (Argentina) – via ranking da CONMEBOL

Auckland City (Nova Zelândia) – via ranking da OFC

Grupo D

Flamengo (Brasil) – vencedor Copa Libertadores da América 2022

Chelsea (Inglaterra) – vencedor Liga dos Campeões da UEFA 2020/21

Club León (México) – vencedor Liga dos Campeões da Concacaf 2023

ES Tunis (Tunísia) – via ranking da CAF

Grupo E

River Plate (Argentina) – via ranking da CONMEBOL

Inter de Milão (Itália) – via ranking da UEFA

Monterrey (México) – vencedor Liga dos Campeões da Concacaf 2021

Urawa Red Diamonds (Japão) – vencedor Liga dos Campeões da AFC 2022

Grupo F

Fluminense (Brasil) – vencedor Copa Libertadores da América 2023

Borussia Dortmund (Alemanha) – via ranking da UEFA

Ulsan (Coreia do Sul) – via ranking da AFC

Mamelodi Sundowns (África do Sul) – via ranking da CAF

Grupo G

Manchester City (Inglaterra) – vencedor Liga dos Campeões da UEFA 2022/23

Juventus (Itália) – via ranking da UEFA

Wydad (Marrocos) – vencedor Liga dos Campeões da CAF 2021/22

Al Ain (Emirados Árabes Unidos) – vencedor Liga dos Campeões da AFC 2024

Grupo H

Real Madrid (Espanha) – vencedor Liga dos Campeões da UEFA 2021/22

FC Salzburgo (Áustria) – via ranking da UEFA

Al Hilal (Arábia Saudita) – vencedor Liga dos Campeões da AFC 2021

Pachuca (México) – vencedor Liga dos Campeões da Concacaf 2024

Inês Sousa Real volta a ser uma das deputadas que mais razão de queixa tem do Chega. Depois de ter assumido publicamente os comentários pejorativos que lhe são feitos por eleitos do partido de André Ventura à margem do debate parlamentar, a líder do PAN foi à Conferência de Líderes da Assembleia da República queixar-se de comportamentos menos próprios dos convidados do Chega no Parlamento. E não ficou sozinha nas queixas: Marcos Perestrello do PS saiu em sua defesa e Hugo Soares do PSD também apontou o dedo ao Chega.

Sousa Real aproveitou a Conferência de Líderes para dar nota ao Presidente da Assembleia da República de que têm sido “deixadas coisas à porta do seu gabinete e recolhidas imagens, posteriormente, colocadas nas redes sociais”, frisando que há situações nos corredores do Parlamento que “põem em causa a segurança dos deputados”, como se pode ler na súmula daquela reunião.

A líder do PAN explicou a José Pedro Aguiar-Branco que tinha “feito queixa aos serviços de segurança e à Secretária-Geral da Assembleia da República relativamente a convidados do grupo parlamento do Chega, uma vez que tinha o direito de poder trabalhar tranquilamente”. E defendeu que o Parlamento “deveria refletir sobre a aplicação do Estatuto dos Deputados” a situações que ocorrem fora do hemiciclo.

Inês Sousa Real disse que, além dos objetos que foram já postos à porta da sua sala no Parlamento, “houve convidados do Chega que entraram pelo seu gabinete, para fazer perguntas, e que um adolescente autista foi enviado ao seu gabinete para lhe colocar questões”, perturbando o seu trabalho.

Em resposta à VISÃO, fonte oficial do gabinete do PAN disse, na sequência da queixa apresentada pela deputada, “a Secretária-Geral informou que solicitou ao Oficial de Segurança que sejam desenvolvidas diligências para identificar o autor com toda a celeridade, uma vez que se considera o incidente como muito sério”.

Hugo Soares fala “coação” sobre deputados

Hugo Soares defendeu que, efetivamente, as situações descritas pela deputada do PAN “condicionavam o trabalho parlamentar” e levou à reunião outros comportamentos que considera serem perturbadores.

“A coação e intimidação exercida pelos deputados quando tiram fotografias e fazem filmes de outros deputados no decurso da sessão plenária, com o objetivo de os colocar nas redes sociais, condicionando dessa forma a liberdade dos deputados visados”, foi uma das queixas de Hugo Soares, referência “a comportamentos menos próprios de cidadãos que visitam a Assembleia da República a convite de grupos parlamentares” defendendo que esses partidos têm de ser “responsabilizados pelos atos dos seus convidados” e prometendo trazer a outra reunião exemplos concretos dessas situações.

O comportamento nas galerias

Teresa Morais, que está na Mesa da Assembleia da República, também se juntou aos que acreditam que o comportamento se está a degradar no Parlamento. A social-democrata disse que é frequente “no decurso das reuniões plenárias” que deputados “vão para as galerias encontrar-se com cidadãos”, fazer fotografias e vídeos, “criando ruído e perturbando dessa forma os trabalhos”.

“Os grupos parlamentares deviam ter noção de como é difícil fazer a condução dos trabalhos sem cair na tentação da repreensão dos deputados que também é prejudicial para a imagem da Assembleia da República, que não é uma escola”, alertou Teresa Morais.

PS defende auditoria de segurança no Parlamento

Marcos Perestrello saiu em defesa de Inês Sousa Real, elogiando a sua coragem política, psicológica e física” e atacando “a cobardia política, psicológica e física dos comportamentos de que tinha sido alvo”.

De resto, o socialista entende que o Parlamento deve pedir uma “auditoria de segurança” para mudar procedimentos e pôr fim a “tais comportamentos nos corredores da Assembleia”, que considerou porem “em sério risco a segurança e a liberdade dos deputados”.

Perestrello defendeu mesmo que o Parlamento deve “pensar em restrições de circulação de visitantes no acesso aos gabinetes dos deputados”.

Estatuto dos deputados não tem sanções para quem viola regras

Aguiar-Branco explicou já tinha solicitado “uma avaliação dos procedimentos de segurança” à Secretária-Geral, questionando se as mudanças poderão ser alvo de um consenso.

De resto, o Presidente da Assembleia da República notou que “existe um Código de Conduta dos Deputados, mas não estão previstas sanções para a violação das suas normas, pelo que a solução fica na autorregulação”.

“Quanto à questão do uso do telemóvel em plenário para fazer fotografias e vídeos, o Presidente da Assembleia da República referiu que a Comissão de Transparência e Estatuto dos Deputados pode emitir recomendações sobre a matéria, nos termosdo artigo 27.a-A do Estatuto dos Deputados”, lê-se na súmula da reunião.

Chega diz “desconhecer as situações relatadas” e pede desculpa

Pedro Pinto, líder parlamentar do Chega, afirmou “desconhecer as situações relatadas e considerou-as lamentáveis”, pedindo desculpa a Inês Sousa Real e solicitando que “quando ocorressem situações como essas fossem levadas ao seu conhecimento”.

Rui Paulo de Sousa, eleito do Chega na Mesa da Assembleia também assegurou desconhecer qualquer questão “sobre o comportamento de deputados e convidados nas galerias” e sublinhou que as redes sociais escapam “ao controlo da Conferência de Líderes e da Assembleia da República, devendo ser feita queixa, sobre as questões que suscitam, nos tribunais, deixando a questão para a justiça decidir”. Uma sugestão que se pode afigurar difícil dada a imunidade parlamentar de que gozam os deputados.