Após um ano de euforia para as criptomoedas, com a Bitcoin a ultrapassar os 100 mil dólares, uma valorização de 120% em apenas um ano, a principal criptomoeda do mundo vem agora dando mostras de uma maior fraqueza.
Atingiu o seu pico máximo a 17 de dezembro, com uma cotação de 103 mil dólares, mas, a partir dessa data, o seu valor tem vindo a baixar. No início desta semana, a Bitcoin atingiu os 87 mil dólares, tendo depois registado uma ligeira recuperação para valores acima dos 90 mil dólares.
Face a este comportamento, os alertas começaram a soar um pouco por todos os mercados financeiros.
Depois desta queda abrupta, Cliff Asness, fundador da casa de investimento AQR Capital Management, admitiu que as criptomoedas mostravam mais sinais de serem uma bolha especulativa do que um ativo financeiro estável e seguro.
Entrevistado pelo programa Money Movers, na cadeia de televisão CNBC, Cliff Asness disse que baseava a sua opinião no facto de a Bitcoin ser praticamente usada apenas para especulação e atividade criminal.
“Para me convencerem do contrário, não basta apontarem os montantes envolvidos nem a valorização da moeda. Terão de me demonstrar a sua utilidade e, até agora, só tem servido para fins especulativos, para utilização por países em conflitos e para pagamentos de resgates de pirataria informática”, disse este especialista.
Já em dezembro, logo após a Bitcoin ter atingido o seu valor máximo, Robin Brooks, antigo economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais dos EUA, admitiu que esta criptomoeda era “apenas mais um ativo bolha”, sem qualquer benefício para a diversificação dos mercados financeiros e com um rendimento zero. E, indo mais longe, garantiu que este tipo de divisas não poderia ser utilizado como reservas monetárias com um valor viável.
Já em Itália, um estudo revelou que o número de investidores que tinham criptomoedas nos seus portfólios aumentou de 8% para 18% em 2024, levando Federico Cornelli, presidente da CONSOB, a CMVM italiana, a lançar um alerta perante a comunidade financeira informando que este tipo de ativo não tinha qualquer valor intrínseco. “Bitcoins e outras criptomoedas são instrumentos altamente especulativos. Não têm nada que as sustente. Não há nada. Não há devedor. Se um dia a bolha rebentar, ninguém poderá pedir qualquer compensação às autoridades ou aos governos”, disse Federico Cornelli.
Um estudo recente feito em Itália mostra que existe uma mudança radical na forma como os novos investidores obtêm a informação para fazerem as suas aplicações. Segundo o documento, as redes sociais tornaram-se a fonte mais popular, com 36% dos inquiridos a confiar em plataformas como o Facebook e o Instagram, ultrapassando os 34% que ainda recorrem aos meios de comunicação tradicionais. Uma tendência que acontece em todo o mundo e que suscita fortes preocupações por parte das autoridades financeiras, dado que as redes sociais são uma fonte fundamental para os indivíduos mais jovens e aqueles com menor literacia financeira ou menos experiência em termos de investimentos financeiros, ou seja, grupos particularmente vulneráveis a investimentos de alto risco.
Atualmente, as criptomoedas já têm uma capitalização – o número total de unidades disponíveis no mercado multiplicadas pelo seu valor – superior a 3,5 biliões de dólares, ou seja, quase a mesma dimensão do PIB alemão, a terceira maior economia do mundo.
A grande subida das criptomoedas no ano passado deu-se por vários motivos, mas o principal está relacionado com a eleição de Donald Trump como Presidente dos EUA, que sempre se manifestou favorável a dar um novo impulso a este tipo de ativo financeiro.
As criptomoedas são uma “alternativa digital” ao dinheiro tradicional e funcionam online sem qualquer tipo de regulamentação por uma autoridade monetária (como acontece com as outras moedas). Por essa razão, são divisas com um valor muito volátil e com fortes restrições em quase todo o mundo. Durante a sua campanha, Trump não só aceitou contribuições feitas com esta divisa digital como prometeu “tornar os EUA a capital mundial das criptomoedas”.
Em setembro, Trump e os seus três filhos – Donald Jr., Eric e Barron – revelaram que estavam a criar a World Liberty Financial, uma plataforma de mercado monetário descentralizada, o que levaria à criação de uma nova criptomoeda denominada WLFI.
Com a sua eleição, muitos investidores começaram a antecipar a desregulamentação e a criação de uma reserva nacional de Bitcoin sob a sua Administração.
A reforçar ainda mais esta ideia, Elon Musk, o homem mais rico do mundo e um dos principais apoiantes de Donald Trump, tem sido um grande entusiasta deste novo mercado desregulado e tem sido um dos maiores investidores na criptomoeda Dogecoin. Além disso, a Tesla, a sua marca de automóveis, foi das primeiras a aceitar Bitcoins na compra de carros.
O ambiente de euforia em relação às criptomoedas ficou criado e o preço disparou atingindo valores recorde, que agora começam a perder força. A tomada de posse de Trump e as próximas decisões que o novo líder dos EUA venha a tomar sobre ativos financeiros poderão ditar se estes novos ativos vieram para ficar ou se, pelo contrário, tenderão a desaparecer tão depressa como surgiram, deixando para trás um rasto de destruição de valor para muitas famílias, sobretudo as mais vulneráveis e menos informadas. 
Um mercado de 3,5 biliões
Existem milhares de moedas virtuais, mas apenas 117 conseguem atingiruma capitalizaçãode mercado acimade mil milhões de euros. Saiba quais são as principais criptomoedas no mundo
Bitcoin
Não só é a mais conhecida como é também a mais valiosa das moedas virtuais
Valor por unidade
$95,65 mil
Valor total do mercado
$1,91 biliões
Ethereum
Plataforma descentralizada capaz de utilizar tecnologia blockchain (mais segurae fiável)
Valor por unidade
$3,19 mil
Valor total do mercado
$388 mil milhões
XRP
Apesar do seu baixo valor por unidade, esta moeda digital já é a terceira mais utilizada
Valor por unidade
$2,54
Valor total do mercado
$147 mil milhões
Tether
Emitida em Hong Kong, está hospedada nas blockchains da Ethereum e da Bitcoin
Valor por unidade
$1,00
Valor total do mercado
$137 mil milhões
Nota: Valores referentes a terça-feira, 14 de janeiro