Um novo relatório realizado pela Sociedade Americana do Cancro dá conta de um número que pode ser assustador: esta agência prevê que, até 2050, o número de pessoas com cancro aumente 77%. “Pensamos que este número possa aumentar para 35 milhões até 2050, em grande parte devido ao aumento da população em envelhecimento”, afirma William Dahut, diretor científico da Sociedade Americana do Cancro, citado pela CNN.
O documento, publicado na quinta-feira na revista CA: A Cancer Journal for Clinicians, analisou dados globais de 2022 (os mais recentes disponíveis) sobre a incidência e morte por cancro do Observatório Global do Cancro da Organização Mundial de Saúde (OMS) e concluiu que, nesse ano, foram diagnosticados 20 milhões de casos de cancro. Em relação às mortes por cancro, este número foi de quase 10 milhões (9,7).
De acordo com a equipa que realizou o relatório, estas estimativas indicam que cerca de uma em cada cinco pessoas vivas desenvolverá cancro durante a sua vida. Além disso, os investigadores referem que cerca de um em cada nove homens e uma em cada 12 mulheres vão morrer da doença.
Porque é que os casos vão aumentar tanto?
Segundo o relatório, o cancro do pulmão foi, em 2022, o tipo mais frequentemente diagnosticado em todo o mundo, registando quase 2,5 milhões de novos casos e mais de 1,8 milhões de mortes – este cancro foi também a principal causa de morte por cancro a nível mundial.
O cancro da mama nas mulheres foi, de acordo com o documento, o segundo cancro mais diagnosticado, seguindo-se o colorretal, o da próstata, o do estômago, o do fígado, o da tiroide, o do colo do útero, o da bexiga e o Linfoma não Hodgkin, um tipo de cancro que afeta o sistema linfático, provocando o crescimento anormal de células linfáticas.
Relativamente aos tipos de cancro mais mortais, o colorretal foi o segundo mais fatal, a seguir o do fígado, da mama nas mulheres, do estômago, do pâncreas, do esófago, da próstata e do colo do útero.
De acordo com os investigadores, o envelhecimento da população é um dos principais fatores com impacto na incidência do cancro a nível mundial, mas também o crescimento populacional: a equipa prevê que a população mundial de cerca de 8 mil milhões de pessoas registada em 2022 atinja os 9,7 mil milhões daqui a 26 anos.
Contudo, outros fatores e comportamentos de risco terão impacto neste aumento de casos de cancro, como o tabagismo e a obesidade, registando uma “tendência preocupante”. “Muitos dos fatores de risco de cancro que tradicionalmente se verificam nos países mais ricos, como o tabaco e a obesidade, estão agora a deslocar-se para os países mais pobres”, explica Dahut, acrescentando que estes países “não dispõem dos instrumentos necessários para detetar precocemente o cancro, tratá-lo adequadamente e preveni-lo da forma como é frequentemente feito noutros países”.
O relatório afirma também que o tabaco continua a ser “a principal causa de cancro do pulmão”, e refere que é necessário continuar a apostar em políticas de controlo do tabaco.
“Só a eliminação do consumo de tabaco poderia evitar uma em cada quatro mortes por cancro ou aproximadamente 2,6 milhões de mortes por cancro anualmente”, afirma, por seu lado, Ahmedin Jemal, autor sénior do estudo.
Quanto aos outros tipos de cancro, o documento aborda a importância de diminuir o consumo de álcool e de prevenir o excesso de peso, por exemplo realizando atividade física, na diminuição do risco.
De acordo com o relatório, em 2022, os 10 tipos de cancro mais comuns, tanto em homens como em mulheres, representaram mais de 60% dos novos casos de cancro diagnosticados e das mortes por cancro.
Cancro do colo do útero foi a principal causa de morte em 37 países
O relatório identifica mais um dado preocupante acerca do cancro do colo do útero: este tipo de tumor foi a principal causa de morte por cancro em 37 países no mundo, principalmente na África subsariana, sudeste da Ásia e América do Sul.
Este número pode estar ligado a grandes desigualdades a nível dos rastreios deste cancro mundialmente, mas também ao facto de apenas 15% das raparigas elegíveis para a vacina contra o HPV terem-na efetivamente recebido nesse ano, refere a Asssociação Americana do Cancro.
Já em relação ao cancro da próstata, os números são, por um lado, surpreendentes, mas esperados, por outro, diz, citado pela CNN, Brandon Mahal, oncologista e epidemiologista no Sylvester Comprehensive Cancer Center da University of Miami Miller School of Medicine, e um dos autores de um novo estudo sobre este tipo de cancro, publicado na revista Lancet. “A nível mundial, a população está a envelhecer e o cancro da próstata é sobretudo uma doença do envelhecimento”, diz.
Mahal refere ainda que o cancro da próstata continua a afetar de forma desproporcional a comunidade negra, “apesar de se verificar um certo aumento a nível mundial em todos os países”.