A Asus lançou dois novos periféricos que se incluem na mesma linha: Marshmallow. Não são esponjosos como o doce, mas são coloridos, compactos e feitos a pensar primordialmente em utilizadores mais jovens. E tanto o teclado como o rato recorrem a pilhas (incluídas), uma opção rara nos dias que correm.
Comecemos a análise pelo KW100, que tem um design minimalista e está disponível nos tons verde (ou Green Tea Latte para o marketing da Asus) e creme (Oat Milk). Apreciámos o detalhe das teclas essenciais Enter, Esc e barra de espaços terem uma cor mais escura para uma visibilidade mais imediata. Mas admitimos vários erros de digitação no início por este ser um teclado com 75% do tamanho de um integral (a dimensão com que estamos habituados a trabalhar). O curso de 1,6 mm é confortável e o suporte que permite elevar o KW100 revelou-se útil na ergonomia.
Equipado com uma camada de espuma silenciosa, as teclas de tesoura deste Marshmallow não fazem tanto ruído como as de um teclado mecânico, mas também não conseguem ser completamente silenciosas. O seu ponto mais forte, na nossa opinião, acaba por estar na versatilidade. A física, por um lado, pois o formato compacto faz com que seja facilmente transportável. E a de conetividade, por outro, pois, apesar de não ter dongle para ligação na banda dos 2,4 GHz, pode ser ligado com até três dispositivos por Bluetooth em simultâneo (portáteis, PCs e tablets, por exemplo). Para alternar entre eles basta depois pressionar as teclas Fn e o número associado ao dispositivo aquando do emparelhamento – 1, 2 ou 3 (há até uma informação visual no teclado, pelo que não precisa de se preocupar em decorar nada).
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Valorizamos igualmente as teclas multimédia de atalho que se encontram no topo, já que estivemos quase sempre a ouvir música enquanto escrevíamos esta review no KW100. Tendo em conta o nosso estilo de utilização, desejaríamos, contudo, que as teclas direcionais de cima e baixo fossem maiores e que tivesse retroiluminação.
Tome Nota Asus Marshmallow Keyboard KW100 | €49,99 asus.com/pt
Características Tamanho: 75% de integral • Teclas de tesoura com suporte para 10 milhões de cliques e curso de 1,6 mm • Wireless Bluetooth Low Energy 5.0 com alcance de até 10 m • 2x pilhas AAA • Autonomia anunciada: até 24 meses • Compatibilidade: Windows 10 e 11, Chrome OS, mac OS, iOS, iPad OS • 282x130x18,4 mm • 374,8 g
Passamos agora para o MD100, que nos causou uma excelente primeira impressão. Para começar é 100% em PTFE e traz duas capas diferentes, o que permite ao utilizador trocar quando quiser e dar um novo colorido ao periférico. No total existem três packs de cores diferentes – no nosso caso, recebemos o conjunto com os tons verde e creme a que já aludimos quando falámos no teclado. Destaque ainda para o tratamento Antibacterial Guard, que visa inibir a propagação de bactérias nocivas. As tampas são trocadas com facilidade, as coberturas são magnéticas, e é no interior do chassis que encontramos não só o dongle de emparelhamento como uma alça que pode ser puxada (ou não) para facilitar o transporte.
Além de leve, o MD100 possui outras duas características que nos conquistaram. A primeira é o facto de ser um rato assimétrico. Ou seja, possui um design que faz com tanto utilizadores destros como canhotos possam tirar igual proveito de todas as funcionalidades do periférico. Algo que nem sempre acontece, pois a indústria de ratos tende a privilegiar os destros. A segunda é o silêncio com que opera, um aspeto que temos vindo a valorizar cada vez mais com o tempo.
Como a estética (e o preço) deixam antever, este não é um rato indicado para gaming. O sensor ótico tem três níveis de sensibilidade 800, 1000 e 1600 DPI, que podem ser ajustados num botão na base. São patamares reduzidos para quem requer uma precisão elevada nos jogos, mas ficámos completamente satisfeitos com a nossa utilização relacionada com trabalho e entretenimento. Por fim, a conetividade. Como referimos, podemos usar o dongle fornecido (USB-A) para o emparelhamento. Porém, é igualmente possível optarmos por Bluetooth – o botão presente na base permite comutar entre os dois modos.
Tome Nota Asus Marshmallow Mouse MD100 | €29,99 asus.com/pt
Características Sensor ótico • Resoluções: 800, 1000 e 1600 DPI • Wireless Bluetooth e RF 2,4 GHz (alcance de 10 m) • Compatibilidade: Windows 10 e 11, Chrome OS, macOS 12 • 1 pilha AA • Autonomia anunciada: até 12 meses • 107x60x27,8 mm • 56 g
Situada na fronteira entre Vila Chã e Mindelo, em Vila do Conde, a casa onde Manuel Serrão recebeu Maria Cerqueira Gomes encheu os olhos da apresentadora da TVI. Tanto assim foi que, em abril de 2021, no programa Conta-me, a amiga do empresário não deixou de partilhar o seu espanto: “Com uma casa destas, ainda preferes viver em hotéis?” Por esta altura, segundo o Ministério Público, há seis anos que o empresário vivia no hotel Sheraton Porto, uma estada prolongada que manteve até ao ano passado, cujo custo, 372 mil euros, terá sido imputado a projetos financiados por fundos europeus. Esta não terá sido a única extravagância do empresário: segundo informações recolhidas pela VISÃO, há suspeitas de que Manuel Serrão tenha distribuído, através do mesmo esquema, algumas benesses pelos seus amigos mais próximos, desde jornalistas a escritores e professores universitários.
Uma das plataformas utilizadas seria o Jornal T, fundado em 2015, que tem como objetivo a divulgação da indústria têxtil e de vestuário. Propriedade da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, a publicação dirigida por Manuel Serrão tem como colaboradores os jornalistas Jorge Fiel (ex-Expresso) e Júlio Magalhães, “O Homem da Página 3”, suspeito de ter alimentado o alegado esquema de faturação falsa de Manuel Serrão através de duas sociedades por si controladas, a No Trouble e a House of Learning. Terá sido através da ligação de várias empresas – umas com projetos ligados a fundos europeus, outras como fornecedoras destas – que o Jornal T foi financiado nos últimos anos.
Impostos Em 1998, Manuel Serrão protestou contra a coleta mínima no IRC, introduzida pelo antigo ministro das Finanças Sousa Franco Foto: Alfredo Cunha
De acordo com a procuradora Joana César de Campos, do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), suspeita-se que “alguns colaboradores desse jornal são, em simultâneo, funcionários da Selectiva Moda e da Nicles, sendo na redação desse jornal que têm os seus postos de trabalho, indiciando-se que as suas remunerações possam estar a ser imputadas a projetos cofinanciados da Selectiva Moda, nos quais a Nicles figura como fornecedora”.
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Além da extravagância no Sheraton – fazendo recordar a atriz Beatriz Costa, que durante 50 anos esteve hospedada no hotel Tivoli, em Lisboa –, o ferrenho portista (quer de clube, quer de cidade) tem um longo historial de presença nas páginas da imprensa e em canais de televisão. A sua participação em A Noite da Má Língua, um programa da SIC que o punha em discussão amigável com Rita Blanco, Miguel Esteves Cardoso e Rui Zink, sob a moderação de Júlia Pinheiro, foi o passaporte para fama (a ela voltou, à Má Língua, entenda-se, 25 anos depois, mas agora em versão podcast, de cujo painel já foi entretanto suspenso). Seguiu-se o comentário desportivo em vários canais de televisão. Menos moderado a defender as cores do FC Porto, Manuel Serrão ora irrompia com uma bem audível gargalhada ou, no mesmo tom, com um berro. Menos se recordarão de que fez parte, lado a lado com a antiga deputada comunista Odete Santos, do Bate Boca, uma rubrica do programa matinal SIC 10 Horas, à época apresentado por Fátima Lopes. “Nunca estive na televisão como profissional, sempre mantive as minhas empresas e os meus trabalhos cá fora, mas, se me convidam e eu acho graça, aceito”, disse-o à TVMais, na altura em que integrou o júri da Miss Portugal 2004.
Apesar da sua exposição pública, Serrão sempre quis que a vida pessoal se mantivesse longe da ribalta, mas as revistas cor-de-rosa adoraram descobrir que se casara com a jornalista Joana Carravilla e que dela se separara em 2007, tendo pelo meio nascido uma filha, hoje com 20 anos (e sócia do FCP desde o dia 1). Além disso, Manuel é filho de Daniel Serrão (falecido em 2017), médico de renome e conselheiro do Papa João Paulo II.
No dia em que foi entronizado Cavaleiro Honorário da Confraria do Vinho Verde, em Braga, Daniel Serrão não poupou elogios ao empresário, que já era confrade há sete anos (assim como membro de mais 11 confrarias): “O meu filho tem uma carreira muito importante. A maior parte das pessoas conhece-o, porque é bem-humorado, mas ele desenvolve um trabalho exemplar na área têxtil. Se houvesse uma confraria dos produtores de moda, ele era o grão-mestre”, contou à Caras.
Interrogados depois da Páscoa
Não era por “mestre” mas sim por “maestro” que Manuel José de Valadares Pinto Serrão era conhecido entre os seus amigos, tal como documenta a ficha técnica do Jornal T. A procuradora do DCIAP, por sua vez, encontrou-lhe outra designação: “principal mentor do esquema de fraude”, o qual, desde 2015, terá obtido a aprovação e o pagamento de fundos comunitários no valor de 38,9 milhões de euros. Como colaboradores mais próximos dos eventuais crimes, o empresário teria António de Souza-Cardoso, sobrinho-neto de Amadeo de Souza-Cardoso, antigo presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários (entre 1991 e 2009), e António Branco Mendes da Silva, seu cunhado, casado com a médica Paula Serrão. Os três “criaram uma estrutura empresarial complexa, composta por um conjunto organizado de pessoas coletivas, todas por aqueles controladas”, refere a procurada Joana César de Campos, fosse “porque participadas, direta ou indiretamente” pelos três ou “porque mantendo ligações entre elas através de sócios comuns, passados ou atuais, participações cruzadas, cargos em órgãos de gestão e colaboradores ou funcionários da sua confiança”.
No radar da investigação está ainda a sociedade Sandra Pimenta Unipessoal, Lda., detida pela atual namorada do empresário. De acordo com a investigação, os encargos associados à atividade da empresa poderão “estar a ser suportados pela Selectiva Moda” e pela No Less, uma sociedade anónima, gerida por Gilda Cerqueira Mendes, também beneficiária de fundos europeus e que, entre o final de 2023 e março deste ano, ganhou quatro ajustes diretos (Câmara Municipal da Maia, Instituto do Emprego e Formação Profissional, Associação das Empresas de Vinho do Porto e Centro para o Desenvolvimento de Competências Digitais).
Manuel Serrão é suspeito de ter alimentado uma teia de amizades e cumplicidades à conta da fraude aos fundos europeus, a qual poderá superar os cerca de 40 milhões de euros já apurados
A própria associação Selectiva Moda, presidida por João Oliveira Costa, mas, na prática, segundo a investigação, gerida por Manuel Serrão (que apenas detém o cargo de vogal), está sob suspeita. O DCIAP considera que, “pelo menos, desde 2014”, esta entidade “tem sido maioritariamente financiada por fundos comunitários”. Pelo que, considera a procuradora Joana César de Campos, até “deveria ser enquadrada” legalmente como “entidade adjudicante”, isto é, todos os serviços por si adquiridos deveriam constar do portal base.gov.pt, que divulga todos os contratos públicos.
Porém, os três principais suspeitos terão conseguido, nos últimos anos, manter um nível de financiamento europeu que não ultrapassasse os 50% dos rendimentos da associação. O que, para o DCIAP, foi conseguido “presumivelmente com a finalidade de obstar àquele enquadramento”. Todos serão interrogados como arguidos depois da Páscoa, de acordo com informações recolhidas pela VISÃO. Até à hora de fecho desta edição, só não foi possível apurar se os interrogatórios decorrerão apenas no Ministério Público ou se os arguidos serão presentes a um juiz de instrução para aplicação de medidas de coação. Tendo em conta os crimes em causa – fraude na obtenção de subsídio, fraude fiscal, branqueamento de capitais – e o valor do desvio, fonte judicial admitiu, como cenário, a apresentação dos arguidos a um juiz para aplicação de cauções elevadas.
Mais ligações familiares
Além do cunhado, as ligações familiares de Manuel Serrão com a Operação Maestro passam ainda pela sua mãe, Maria do Rosário Valadares Souto. Diz o Ministério Público que “com vista à ocultação dos fundos e melhor dissipação e aproveitamento dos mesmos”, o empresário recorreu a várias contas bancárias, entre as quais as da mãe – como cotitular ou autorizado a movimentá-las –, que “instrumentalizava na atividade ilícita”.
A realização de feiras e certames de moda foi o negócio central de Manuel Serrão, tendo ficado conhecido, durante vários anos, como o rosto do Portugal Fashion, enquanto vice-presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários. Após ter saído da ANJE, criou a Porto Fashion Week.
Pelo meio, fundou, em parceria, a agência Best Models. Foi também sócio do ACT, um bar no Porto onde parava muita gente desse universo das passagens de modelos.
Além das preferências clubísticas, é-lhe conhecida a queda para a direita, quando o assunto é política. Foi, aliás, membro da Juventude Centrista e participou, do lado de dentro, no cerco ao Palácio de Cristal, em 1975. Acabou preso pela COPCON – e logo libertado por ser menor – e virou herói no liceu. “Até quis que eles entrassem. Tinha 15/16 anos, um físico razoável e achava que batia em toda a gente”, recordou em tempos Manuel Serrão.
Televisão A Noite da Má Língua, um programa da SIC moderado por Júlia Pinheiro e em que também participava Rui Zink, foi o passaporte para fama. Durante anos, também defendeu o seu FC Porto em diversos canais de TV
Conhecido também como um bon vivant, em que se inclui gostos refinados por refeições bem servidas, dava atualmente voz ao programa de gastronomia Por Pratos Nunca Dantes Navegados, da Rádio Observador, aos domingos de manhã. Até prova em contrário, essa sua participação está suspensa. Em tempos, fizera as Crónicas de Escárnio e Mal Dizer para a TSF.
Quem também suspendeu a colaboração com o Observador e com a TVI/CNN foi o jornalista Júlio Magalhães, amigo e parceiro de golfe de longa data de Manuel Serrão. À semelhança da estilista Katty Xiomara, Júlio Magalhães é suspeito de ter emitido faturas de favor, ou seja, documentos fictícios a atestar um serviço não prestado. Ambos, aliás, foram alvo de buscas domiciliárias.
Júlio Magalhães é um dos acionistas da No Trouble, para a qual contribuiu com 12 mil euros em dinheiro, num aumento de capital realizado em janeiro de 2020, e sócio-gerente da House of Learning, duas sociedades que, “na verdade, são geridas de facto por Manuel Serrão, António Branco Mendes da Silva e António de Souza-Cardoso”, refere a procuradora. “Indicia-se que Júlio Magalhães também faturou serviços a sociedades controladas por Manuel Serrão, os quais não apresentam correspondência com a realidade”, concretizou.
O fim da teia de cumplicidades
A obtenção de quase 40 milhões de euros (valor que, entretanto, pode subir na sequência da investigação) não teria sido possível sem, pelo menos, a cumplicidade de quadros públicos ligados à atribuição dos fundos e à sua fiscalização. Nuno Mangas, presidente do programa Compete 2020, surge identificado como um dos suspeitos de facilitação. Há ainda dois antigos governantes sob suspeita. Ao nível dos quadros intermédios, a procuradora Joana César de Campos identificou vários funcionários da AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal) suspeitos de estar comprometidos com o empresário portuense.
Estes quadros terão participado “em eventos promovidos pela Selectiva Moda, tendo esta associação assegurado as despesas de deslocação/viagens e alojamento dos colaboradores daquele organismo intermédio”. Ironicamente, continuou a magistrada do MP a descrever, as despesas acabariam por ser pagas por fundos comunitários, já que foram integradas nos gastos gerais dos projetos cofinanciados.
Júlio Magalhães e Manuel Serrão têm evitado prestar declarações públicas sobre esta investigação. Pedro Marinho Falcão, advogado do empresário, referiu pretender evitar julgamentos na praça pública.
Mais fraudes
AIMinho e 30 milhões
O Tribunal de Braga está a julgar, desde 2021, uma fraude de 30 milhões a fundos europeus, a qual terá tido como epicentro a antiga Associação Industrial do Minho (AIMinho). Em 2018, o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) acusou 126 arguidos, 79 pessoas singulares e 47 coletivas, entre as quais o antigo presidente da AIMINHO, António Marques. Segundo a acusação, “foram investigadas 109 operações distintas cofinanciadas por fundos europeus e pelo Orçamento do Estado”. Um ano depois da acusação, a Agência para o Desenvolvimento e Coesão, entidade gestora dos fundos, admitiu à RTP que seria o Orçamento do Estado a suportar as perdas. Os arguidos estão a responder em julgamento por crimes de associação criminosa, fraude na obtenção de subsídios, burla qualificada, branqueamento de capitais, falsificação de documentos e fraude fiscal qualificada, remontando os factos ao período entre 2008 e 2013. O Ministério Público (MP) sustentou na acusação que os arguidos atuaram no contexto de operações cofinanciadas por fundos europeus, como fornecedores de bens e serviços que, na realidade, não foram prestados ou candidatando-se a subsídios com projetos que nunca tencionavam executar, conseguindo, desta forma, desviar milhões de euros do orçamento da União Europeia.
Na tarde de quinta-feira, o P3-C Orion descolou do aeroporto internacional da Praia, capital do arquipélago, para o quarto voo ao abrigo de um tratado entre os dois países que este ano alcança a maioridade (18 anos) e que regula a fiscalização conjunta de Espaços Marítimos sob Soberania ou Jurisdição da República de Cabo Verde, assinado em 16 de setembro de 2006.
As missões realizadas este fim de semana em Cabo Verde são as últimas de um percurso que começou há quase um mês, no âmbito da “Africa Maritime Law Enforcement Partnership” (AMLEP).
A aeronave P3-C Orion da Força Aérea Portuguesa partiu, no dia 04 de março, da Base Aérea de Beja para 30 dias de missão e cerca de 100 horas de voo, que começaram em São Tomé e Príncipe.
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Sobre as águas de Cabo Verde já cumpriu 50 horas e conta fazer mais 30 até final, na segunda-feira.
“O intuito geral de Portugal nestas cooperações bilaterais e com entidades internacionais é contribuir para a estabilidade no Golfo da Guiné”, no caso, através da vigilância nas áreas marítimas de São Tomé e Príncipe e Cabo Verde, refere o major Bruno Silveira, que lidera o destacamento.
O Golfo da Guiné é uma vasta área do oceano Atlântico, que acompanha a reentrância da costa africana que vai da Costa do Marfim (a noroeste) até ao Gabão (a sudeste) e onde há um registo regular de casos de pirataria e atividades ilegais.
Portugal junta-se ao esforço internacional para “garantir a livre circulação e prevenir tráficos ilegais”, explica Bruno Silveira, no interior da aeronave, ao verificar as operações tanto na cabine de pilotagem (‘cockpit’), como nos postos de observação.
Durante o voo, membros da esquadra observam monitores com imagens de câmaras de vídeo que vasculham o mar, enquanto outros mostram sinais detetados por sensores.
Há ainda outros elementos que observam a zona marítima diretamente com binóculos.
Por alguns momentos, as imagens e a informação nos monitores centram-se num barco: este último voo do dia está focado em embarcações de pesca.
“Esta aeronave recolhe informação que transmite às autoridades cabo-verdianas”, que depois avaliam se há alguma ameaça às atividades marítimas ou sinal de ilegalidade, explica.
“Estamos ao serviço das autoridades: quando detetamos algo que seja de interesse, reportamos”, explica Bruno Silveira.
A autonomia do P3-C Orion tem permitido realizar voos contínuos de seis a oito horas sobre as águas do arquipélago, garantindo a cobertura de toda a zona económica exclusiva em cada voo.
O balanço da vigilância só será revelado depois de terminadas as missões, na segunda-feira, com o regresso da esquadra 601 a Beja agendado para terça-feira.
*** Luís Fonseca (texto e vídeo) e Elton Monteiro (fotos) ***
O Algarve está em alerta devido à seca e os planos de eficiência hídrica incluem o recurso a Água para Reutilização (ApR) proveniente da ETAR de Vila Real de Santo António para regar dois campos de golfe em Castro Marim, mas a salinidade nas águas residuais provenientes das redes dos dois municípios está a dificultar este objetivo, reconheceu fonte da Águas do Algarve.
Segundo a mesma fonte, estão a ser feitos trabalhos de diagnóstico pelas entidades gestoras das redes de abastecimento de ambos municípios do distrito de Faro e os resultados obtidos já revelaram que, “em algumas situações, existe entrada de água salgada nos sistemas de drenagem da rede em baixa”, tanto em Castro Marim como em Vila Real de Santo António.
“Face à concentração de salinidade nas águas residuais e, consequentemente, no efluente tratado e na ApR (refira-se que a salinidade não é removida nas ETAR), apenas é possível aos campos de golfe de Castro Marim reutilizarem cerca de 30% do que estava previsto”, quantificou a Águas do Algarve.
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A empresa esclareceu que, no total, estava previsto que os dois campos de golfe de Castro Marim pudessem reutilizar, no mínimo, cerca de 0,6 hectómetros cúbicos (hm3) por ano, podendo ascender a cerca de 0,87 hm3 por ano em condições extremas.
As entidades gestoras das redes em baixa dos dois municípios do leste algarvio, a Câmara de Castro Marim e a empresa Águas de Vila Real de Santo António, estão a realizar trabalhos, com recurso a tecnologia e câmaras de vídeo, para identificar pontos da rede onde há intrusão salina e serem “delineadas intervenções para correção” dos problemas detetados.
“Esta situação é particularmente relevante para a ETAR de Vila Real de Santo António, dado que a presença de salinidade elevada no efluente e, consequentemente, na ApR, condiciona fortemente o seu uso para rega, neste caso dos dois campos de golfe de Castro Marim”, justificou a empresa responsável pelo fornecimento de água em alta aos 16 municípios do Algarve.
Sobre as obras e intervenções necessárias para não chegar água salgada à ETAR e os prazos para a sua realização, a empresa indicou que, “só após a execução dos diagnósticos, que se estima possam estar concluídos no primeiro semestre” deste ano, é que serão conhecidos os dados que permitam definir as intervenções e os respetivos orçamentos”.
“A resolução deste problema cabe, em primeira mão, às entidades gestoras das redes em baixa, mas a Águas do Algarve disponibiliza-se, de diversas formas, para apoiar e participar neste processo”, acrescentou, reconhecendo que o problema da intrusão salina nas redes de drenagem ocorre noutras zonas do Algarve, como Tavira, Olhão, Faro, Portimão e Lagos.
A Lusa questionou as entidades gestoras do abastecimento de água nos dois concelhos situados na margem do Rio Guadiana, mas só a de Castro Marim respondeu, através da vice-presidente da Câmara, Filomena Sintra, que disse já ter sido identificado “um conjunto de pontos, com patologias diferentes, e com intervenções que também vão ter de ser diferentes”.
“O que se segue é a elaboração de um caderno de encargos para fazer uma intervenção para criar a estanquidade necessária”, antecipou, acrescentando que a Águas do Algarve vai colaborar em termos de procedimentos de contratação pública e de elaboração do caderno de encargos.
Questionada sobre o investimento necessário, Filomena Sintra respondeu que, “à partida, estão 500.000 euros previstos” para Castro Marim intervir nesta área, ao abrigo dos mecanismos da resolução do Conselho de Ministros que decretou o alerta por seca no Algarve, mas será necessário esperar pela conclusão dos trabalhos de diagnóstico para saber se são suficientes.
“Ainda hoje os desertores são considerados traidores à pátria. Eu assumo a minha condição de traidor à pátria, traidor à pátria do fascismo, da fome, do analfabetismo, da tortura, da falta de liberdade, da prisão, da guerra, da exploração”, disse Fernando Cardoso num colóquio sobre a guerra colonial portuguesa (1961-1974), na semana passada, na Escola Básica e Secundária Dom Martinho Vaz de Castelo Branco, de Vila Franca de Xira.
Carlos Neves recordou que então o Governo os acusava de serem “medricas, cobardes e traidores” e que, 50 anos depois do 25 de Abril de 1974, essa narrativa se mantém válida para alguns.
“Hoje este problema ainda não está resolvido. Para muita gente conservadora continuamos a ser traidores à pátria, à pátria deles”, afirmou. Para Carlos, os milhares de jovens que disseram não à guerra colonial foram uma “tropa sem farda e sem armas” cuja revolta também ajudou à revolução.
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“Se um contigente em África era de 70 mil a 80 mil soldados, os 200 mil jovens desertores, refratários e faltosos chegavam para fazer mais dois contingentes de soldados para as frentes de batalha da guerra colonial. […] Estes milhares de jovens não podem ser descartados, ignorados, têm o seu lugar na luta contra o fascismo e o colonialismo, contribuíram para a revolta dos oficiais de carreira, saturados pelo excesso de comissões por falta de efetivos”, lê-se no seu testemunho publicado no livro “Exílios 2”, editado pela Associação de Exilados Políticos Portugueses.
Na escola de Vila Franca de Xira, Carlos e Fernando estiveram duas horas a responder a perguntas de alunos do 8.º ao 11.º anos.
Foram questionados sobre a vida dos jovens na ditadura, quem os ajudou a fugir, quem os recebeu, como contactavam as famílias ou o que os marcou nos países de exílio.
Em resposta, ouviram relatos de livros e filmes censurados, rapazes aterrorizados pela ideia de ter de fazer a guerra, num tempo em que namorados não se podiam beijar na rua, mas também relatos de camaradagem e do “extraordinário que era a possibilidade de ser livre” nos países de acolhimento.
Houve ainda aplausos espontâneos quando questionados sobre se a falta de conhecimento da ditadura e da guerra contribui para a simpatia pela extrema-direita entre os jovens.
O tema da deserção é ainda hoje pouco falado. A historiadora Irene Flunser Pimentel considera que é uma questão “polémica e quase tabu em Portugal”.
Considerando que silenciamento é esquecimento, em 2015, foi fundada a Associação de Exilados Políticos Portugueses com o objetivo de registar as memórias de desertores (militares que abandonavam as suas unidades militares), refratários (faziam a inspeção militar mas fugiam antes da incorporação) e exilados políticos da guerra colonial.
A viver no bairro da Ajuda, em Lisboa, Carlos Neves medrou o ‘não à guerra’ na Igreja, entre os católicos progressistas, e decidiu sair definitivamente do país quando visitou um amigo ferido em Angola, , no Hospital Militar da Estrela.
“O que vi no hospital – ainda me arrepio – eram jovens queimados, sem pernas, sem braços, e comecei a pensar com os meus amigos como havia de resolver o problema e o problema era como sair do país”, contou.
Foram dois amigos que trabalhavam na TAP que lhe sugeriram ir para a Holanda. Para ir de avião (e não ‘a salto’) teve de pedir passaporte, o que o levou a ir à sede da polícia política PIDE contar a mentira de que a família lhe tinha oferecido a viagem por ter terminado o curso de serralheiro mecânico.
A partida seria em setembro de 1971 mas em julho morreu o pai, operário no Porto de Lisboa. Filho único, ainda pensou ficar para não deixar a mãe – doméstica, sem meios de subsistência e agora sozinha.
Manteve o plano porque enquanto viúva de funcionário público o regime lhe arranjou trabalho e de qualquer forma a mãe ficaria sozinha: com o filho ou na guerra ou no exílio.
No avião, sentou-se ao lado de um holandês “com roupa a precisar de muito sabão” a quem contou, sem saber com quem falava, que ia para a Holanda fugir da guerra. Foi essa ingenuidade que o salvou, quando no aeroporto a polícia não o deixou passar por considerar a história pouco credível perante só ter bilhete de ida e 1.200 escudos.
“O holandês quando percebeu veio de lá de longe aos gritos a dizer que tinha estado três meses num país fascista, que falou com toda a gente e nunca nenhum polícia o chamou a atenção e ali na Holanda, o baluarte da democracia, um país social-democrata, levantava restrições a um jovem. Assinou um documento em que se responsabilizava por mim e deu a morada da sua casa em Roterdão”, recordou.
Quando saíram do aeroporto nunca mais se viram. Carlos foi procurá-lo mais tarde a Roterdão. A rua nem sequer existia.
Fernando ainda foi à tropa, que fez no Algarve com um comandante que se gabava de em África se passear com crânios de africanos na frente do jipe, antes de desertar em 1970. Saiu de Portugal ‘a salto’ pela zona de Marvão, numa fuga de carro com amigos para Paris. Contudo, o ‘não à guerra’ tinha nascido bem antes.
“A partir dos 14 anos tomei consciência de que, mais tarde ou mais cedo, ia bater com os costados na tropa. Em todos os jovens, a conversa do dia e da noite era a guerra. Esta guerra não é minha, esta guerra são pessoas que estão a lutar pela sua liberdade e libertação. Primeiro, era a consciência da guerra e depois era como fazer guerra à guerra, o que implicava o exílio”, contou.
Saíram de Portugal sem saber quando voltariam e se voltariam, admitindo que podia ser para toda a vida.
Carlos, nos Países Baixos, e Fernando, em França, foram ficando em casa de gente que iam conhecendo até arranjarem alojamento que podiam pagar. Trabalharam nos empregos que davam aos imigrantes ilegais, em limpezas, fábricas e hotelaria. Carlos recordou que nas limpezas ficava horas parado entre turnos e, para fugir ao frio gelado do seu quarto, fica pelas igrejas, pois eram aquecidas.
As diferenças sociais que existiam em Portugal também se notavam entre os exilados, entre aqueles a que as posses das famílias lhes permitiam estudar e a maioria que trabalhava para sobreviver. “Eram dois mundos que não se confundiam no exílio, uns no Quartier Latin e outros a fazer greve na fábrica em que trabalhavam”, relatou Fernando Cardoso.
Foi entre a vida dura, contaram Carlos e Fernando, que descobriram a liberdade, a política, denunciaram a guerra colonial, a ditadura portuguesa, desde logo em comités de refugiados, exilados e emigrantes, e à distância se entusiasmaram com o 25 de Abril.
Ambos ouviram a primeira notícia do golpe de Estado pela rádio e, em países diferentes e sem se conhecerem, desconfiaram dos militares de óculos escuros que depois viram na televisão e que lhes recordaram as juntas militares da América Latina, temendo que a revolta fosse tomada pela ultra direita.
Mas rapidamente aplacaram os receios e Carlos fez parte do grupo de 30 exilados que partiu de Amesterdão em carrinhas para a grande manifestação do 1.º de Maio em Paris.
Também Fernando participou mas, contou à Lusa, de cara tapada porque ainda temia o modo como um regime militar lidaria com os desertores (mais tarde seria aprovada uma amnistia para os desertores da guerra colonial).
O regresso a Portugal, com a “mala cheia de sonhos e de esperança”, surpreendeu-os. Tinham saído de um país cinzento, retrógrado, repressivo e regressavam a uma festa.
“Portugal explodiu de afetos, de criatividade, de amor. Cheguei a Lisboa e fiquei espantado, era uma cidade em efervescência. Paris passou a ser uma cidade velha. Portugal foi um laboratório de criatividade durante dois anos”, recordou Fernando.
A guerra colonial durou 13 anos (1961-1974) e mobilizou 800 mil soldados portugueses para África e 500 mil africanos incorporados nas tropas portuguesas para combater os movimentos de libertação.
A discussão da deserção foi desde cedo tema de debate entre opositores à ditadura.
O Partido Comunista Português (PCP) defendia que os militantes não deviam desertar usando a sua incorporação para esclarecer os soldados e organizar a rejeição à guerra, incluindo nos campos de batalha.
Os católicos progressistas e a chamada extrema-esquerda defendiam a legitimidade da deserção, incluindo como gesto político.
Os investigadores Miguel Cardina e Susana Martins apontam para a existência de cerca de 9.000 desertores, número que admitem que tem lacunas em certos anos e setores militares, a que se somam entre 10 mil a 20 mil refratários e 200 mil jovens de faltosos à inspeção. Dos jovens faltosos muitos deles juntavam-se a familiares emigrados na Europa escapando à pobreza.
Há seis meses, os republicanos no Congresso destituíram o seu líder de então, Kevin McCarthy, depois de o acusarem de estar a ser conivente com os interesses do Partido Democrata, em particular ao ajudar a viabilizar orçamentos que consideram ser reflexo do “espírito despesista da Casa Branca”.
Agora, a pressão cresce sobre o seu sucessor, Mike Johnson, depois de este ter ajudado a aprovar, este mês, um projeto de lei orçamental de 1,2 biliões de dólares (cerca de um bilião de euros), que conseguiu evitar de novo uma paralisação de várias agências federais.
As críticas surgem sobretudo oriundas do setor ultra conservador dos republicanos, próximo do ex-presidente Donald Trump (que é recandidato às presidenciais de novembro próximo), que já sugeriram a destituição de Johnson, a quem acusam de ter aliciado 101 republicanos a associarem-se a 185 congressistas democratas para aprovar o projeto de lei, “prejudicando os valores do partido.
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“Fica cada vez mais evidente que as críticas a Johnson fazem parte da estratégia deste setor radical para dificultar a vida na Casa Branca, dessa forma facilitando a campanha presidencial de Trump contra Biden”, explicou à Lusa Elizabeth Gordon, investigadora de Ciência Política na Universidade do Texas, em Austin.
Para esta analista, esta estratégia acarreta riscos para o próprio Partido Republicano, na medida em que coloca em questão a legitimidade dos seus líderes no Congresso, ao apontarem sérios erros na sua atuação enquanto ‘speakers’ da Câmara de Representantes.
Chip Roy, congressista republicano eleito pelo Texas, acusa Johnson de ter desrespeitado as regras da Câmara, ao não permitir o prazo regulamentar de 72 horas para que vários membros da sua bancada analisassem o projeto de lei orçamental aprovado na passada semana.
Elizabeth Gordon considera que esta crítica recai não apenas sobre Johnson, mas sobre a própria liderança republicana no Congresso, dando armas políticas aos democratas para exporem críticas de há muito tempo, de que os conservadores nem sempre acautelam todo o rigor procedimental nas suas ações.
Os próprios republicanos aperceberam-se deste risco e recuaram no apelo para a destituição de Johnson do cargo, dando-lhe o benefício da dúvida para permanecer no cargo, pelo menos pelas próximas semanas, até que seja feita nova avaliação do desempenho do líder da maioria na Câmara de Representantes.
Essa estratégia ficou plasmada na forma como a congressista Marjorie Taylor Greene, (uma das mais fervorosas apoiantes de Trump), retirou uma moção para a destituição de Johnson, alegando que se tratou apenas de “um aviso amigo” ao líder, para que ele repensasse a forma como está a apoiar os intentos da Casa Branca de Biden.
Mas o aviso ficou dado e tem mesmo um propósito estabelecido: o momento em que a Câmara de Representantes tiver de aprovar novo pacote de ajuda para os aliados estrangeiros (incluindo Israel e Ucrânia) e para os projetos de segurança na fronteira.
Sendo estas matérias bandeiras de campanha de Trump, os republicanos que são mais próximos do candidato republicanos não querem que Biden tenha trunfos para mostrar a favor da sua candidatura.
Greene garantiu que voltará à carga com uma moção de destituição se Johnson voltar a tentar aprovar algum novo projeto de lei que inclua estas matérias e que possa favorecer a posição da Casa Branca.
Elizabeth Gordon acredita que, se isso voltar a acontecer, Johnson será mesmo alvo de uma moção de destituição, embora reconheça que o atual momento poderá não ser tão propícia aos interesses da ala ultra conservadora dos republicanos.
“A bancada tem agora um grupo de congressistas moderados que tem vindo a ganhar peso e que teme poder ser prejudicado com uma posição mais radical”, explicou a analista, lembrando que, ao mesmo tempo que se realizam as eleições presidenciais, muitos congressistas vão também a votos e procuram salvaguardar a sua reeleição.
“Uma eleição de Trump seria muito preocupante para as alianças dos Estados Unidos”, segundo o antigo diplomata de 70 anos, indicado pelo ex-presidente democrata Barack Obama para a capital portuguesa entre 2014 e 2017, e implicaria a suspensão de “uma política ininterrupta, quer seja democrata ou republicana”, de Washington em relação aos seus parceiros internacionais.
Para Sherman, atual professor da licenciatura de Filosofia, Política e Economia da Universidade Católica Portuguesa, aquela doutrina, que um regresso de Trump à Casa Branca ameaça romper, envolve o pressuposto de que “as alianças dos Estados Unidos são importantes para a segurança do mundo”.
Como exemplo, elenca o artigo 5.º do tratado fundador da NATO, respeitante à defesa mútua e que prevê que qualquer ataque contra um estado-membro será uma agressão contra todos, e recorda que foi invocado apenas uma vez, após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 da Al-Qaeda em Nova Iorque e Washington.
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O candidato republicano às eleições presidenciais de novembro, onde voltará a defrontar o atual Presidente, o democrata Joe Biden, avisou os aliados da NATO que, se for reeleito, após o mandato que exerceu entre 2016 e 2020, encorajaria a Rússia a fazer o que entendesse em relação a países com dívidas à organização, palavras que provocaram inquietação e mereceram fortes críticas dos estados-membros da Aliança Atlântica.
O antigo diplomata em Lisboa que fez a maior parte da sua carreira profissional como advogado em Boston e que prefere centrar os seus comentários na análise aos riscos de Trump sem comentar diretamente as políticas do Departamento de Estado, observa que os sucessivos episódios do antigo presidente norte-americano em relação à NATO provocam “nervosismo entre os aliados”, registando palavras nesse sentido do chefe da diplomacia britânica, David Cameron, quando disse que a organização transatlântica e o AUKUS (aliança dos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália) terão de estar “na sua melhor forma” caso o republicano volte à Casa Branca.
Mais recentemente, Trump afirmou que não tenciona abandonar a NATO, perante sinais de “preocupação relativamente a um desmembramento da Aliança”, mas manteve a sua posição de que esperava que os estados-membros pagassem a sua parte, em concreto o compromisso reiterado na última cimeira da organização, em julho em Vílnius, de usarem 2% do PIB das respetivas despesas em defesa e equipamento militar.
Robert Sherman enquadra este tipo de declarações no perfil “empresarial num mundo que não é necessariamente assim” do antigo Presidente republicano, apesar de vários países europeus, incluindo a Alemanha, estarem a reforçar os seus orçamentos em defesa e de coletivamente os membros europeus da Aliança perfazerem os 2% acordados.
A sete meses das eleições norte-americanas, a Ucrânia enfrenta dificuldades de armamento e de munições para conter os avanços das forças de Moscovo nas frentes leste do país, quando o Congresso norte-americano mantém bloqueado um pacote de ajuda militar a Kiev de mais de 55 mil milhões de euros devido à oposição da ala radical dos republicanos, controlada por Trump.
Tudo somado, para o ex-embaixador e atual docente universitário, a eleição de Trump e um esvaziamento do papel da NATO “deixaria o mundo numa posição muito mais arriscada e o mesmo se passa com o AUKUS” e o seu objetivo de “reforçar a Austrália como parceiro no Pacífico”.
Também diminuiria, avisa, o papel de dissuasão desta parceria em relação à China, a par da “mensagem enviada pelo Japão, Filipinas e Coreia do Sul junto do líder chinês, Xi Jinping, de que não são apenas os Estados Unidos que têm uma forte aliança” em caso de ação de Pequim contra Taiwan.
“Se também esta se desmoronar devido a Donald Trump, vamos assistir a uma China muito mais aventureira, o que vai provocar instabilidade global”, prossegue Sherman, insistindo que “se trata de uma grande preocupação”, acrescida pela ausência de alternativa ao papel que os Estados Unidos desempenham.
“Penso que é claro que o mundo olha para os Estados Unidos em busca de liderança no mundo. Que outro país é suficientemente forte para assumi-la?”, questiona, dando o exemplo de Joe Biden, após a invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022, “ao contactar todos os aliados da NATO para que se juntassem numa resposta uniforme”.
Para lidar com o Presidente russo, Vladimir Putin, “é preciso que os Estados Unidos desempenhem o papel que mais ninguém possui”, reforça, a que se junta o seu “sistema de armamento mais sofisticado que existe”.
No conflito do Médio Oriente, Robert Sherman critica igualmente a narrativa republicana, ao sugerir que “os apoiantes dos democratas odeiam Israel e que os judeus que apoiam os democratas também odeiam Israel”.
Ao fazê-lo, adverte, está-se a enveredar por “afirmações profundamente divisórias e ofensivas”, atacando pessoas que acham que podem apoiar Israel, mas não o Governo de Telavive na ofensiva contra o movimento islamita palestiniano Hamas na Faixa de Gaza, que já provocou mais de 30 mil mortos, na maioria mulheres e crianças, do mesmo modo que se pode ser norte-americano e criticar a sua administração.
“Eu sou um judeu americano. Não falem comigo sobre como exerço as minhas crenças”, avisa Robert Sherman, que foi indicado em 2013 por Barack Obama para o Conselho do Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, ressalvando: “Isso não significa que não estejamos preocupados ou que não amemos o nosso país, e aquela declaração foi particularmente ofensiva”.
Do mesmo modo, defende que se deve censurar o Hamas pelo ataque terrorista que executou em solo de israelita em 07 de outubro do ano passado, massacrando mais de 1.100 civis e levando acima de 200 pessoas como reféns, e que motivou a atual guerra na região e a resposta de Israel: “Mas a que custo?”
Como consequência imediata do conflito, o antissemitismo está a aumentar em todo o mundo, e também nos Estados Unidos, e “alimenta-se deste tipo de perceções”, assinala o antigo embaixador, observando que, nesta fase “é preciso alguém que una e não é claramente isso que Donald Trump vai fazer”.
Em entrevista à agência Lusa, Robert Sherman, que mantém ligações a Portugal, onde é professor da licenciatura de Filosofia, Política e Economia da Universidade Católica Portuguesa, antecipa uma eleição presidencial nos Estados Unidos “bastante renhida” num “país fortemente dividido”, desvalorizando as sondagens que posicionam o republicano Donald Trump na dianteira.
O antigo diplomata de 70 anos, colocado pelo antigo Presidente Barack Obama na capital portuguesa entre 2014 e 2017, alerta para o alcance nacional das conclusões dos estudos de opinião, quando o sistema norte-americano assenta num colégio eleitoral escolhido por cada um dos estados, que, tal “como o povo, também se encontram divididos”.
Nesse sentido, observa que não se adivinham novidades na maioria dos estados, como no seu, Massachusetts, onde em novembro é esperada uma vitória democrata, ou em Ohio, dos republicanos, “o que significa que 85% dos americanos não terão qualquer papel nessas eleições”.
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Mas o mesmo, adverte, não se verifica nos ‘swing states’ (estados-pêndulo, que tanto podem votar no Partido Democrata como no Republicano), apontando os casos concretos de Michigan, Wisconsin, Pensilvânia, Geórgia e Arizona – “e talvez este ano a Carolina do Norte também esteja em jogo”.
“Pode dar para os dois lados, e é por isso que é impossível prever neste momento quem será eleito presidente. O que é claro é que vai ser uma eleição renhida”, segundo Sherman, que acha que pensar-se numa revisão do modelo eleitoral “ainda que anacrónico”, nesta fase “não é realista”.
Uma alteração, explica, implicaria uma mudança na Constituição “muito mais difícil nos Estados Unidos do que em Portugal”, por exemplo, e que certamente mereceria a oposição dos estados mais pequenos, sobretudo daqueles que podem ser decisivos: “É o nosso sistema e vivemos com ele”.
O que estará em causa nestas eleições, em que o democrata Joe Biden tenta ser reconduzido para mais quatro anos na presidência norte-americana, será “um referendo” à atuação da sua administração, e o eleitorado tenderá a fazer a sua avaliação perante as suas condições naquele momento: “Como é que me sinto em relação à minha vida? Estou feliz? Estou satisfeito com a situação no mundo?”.
Apenas algumas pessoas dirão que a sua situação até é reconfortante face aos conflitos que o mundo atravessa, mas, no final, será a conjuntura económica a ditar as escolhas dos eleitores e os preços que vão encontrar no supermercado, comenta, assinalando que a inflação tem subido acima dos salários.
Por outro lado, Robert Sherman recorda que no passado, o democrata Barack Obama (de quem foi apoiante financiador) em 2012 e o republicano George W. Bush em 2004 estavam nesta fase, a sete meses da votação, atrás nas sondagens contra os potenciais adversários nas respetivas reconduções para um segundo mandato, e que é possível que, daqui até novembro, a economia melhore e as sondagens se tornem então mais favoráveis para o atual Presidente, ou, de contrário, “as coisas vão piorar para Biden”.
O facto de agora se tratar de uma disputa entre Trump e Biden, que há quatro anos desalojou o republicano da Casa Branca, isso torna-a também numa “eleição de escolha”, em que as pessoas pensam: “posso achar que Biden é demasiado velho e que está doente, mas será que acho que Donald Trump é demasiado errático e radical para mim?”.
Robert Sherman vê aliás o republicano como “um unicórnio”, na medida em que “as leis da política e as leis da natureza não se aplicam a ele”, face aos múltiplos processos judiciais que enfrenta, incluindo acusações graves de fraude, tentativa de interferir nos resultados das últimas presidenciais e envolvimento no violento assalto ao Capitólio, antecedendo a posse do seu adversário eleitoral, “o que seria uma sentença de morte para qualquer candidato”.
Oito anos depois de ganhar a presidência, segundo o antigo embaixador, Trump continua também a ser visto como um ‘outsider’, de um modo “não muito diferente do que o Chega fez em Portugal”, e alguém que “abana e desafia o sistema”, incorporando as frustrações de uma minoria — “mas não tão minúscula assim” — que se sente deixada para trás.
“Há também o elemento, que continua a existir no nosso país, das pessoas racistas ou homofóbicas, contra a diversidade religiosa e essas pessoas ligam-se umas às outras através das redes sociais e Trump é visto como o seu porta-voz”, aponta ainda, frisando que um candidato republicano não pode ganhar as primárias sem este eleitorado.
E o mesmo se aplica à base de apoio no partido, e neste caso também aos democratas – “embora a situação seja ainda mais grave no que respeita a Trump” – em que os políticos “estão mais preocupados em manter os seus empregos do que em fazer o que é correto”, olhando para os seus desafios eleitorais próprios e pensam: “Bem, se eu não apoiar este tipo, ele vai apresentar um candidato que é um megacandidato à minha direita, que vai conseguir a maioria e eu vou ser afastado”.
Deste modo, Donald Trump “capturou o Partido Republicano e transformou-o numa subsidiária integral do movimento MAGA [Make America Great Again, Tornar a América Grande de Novo]”, o que parece ser confirmado pelas suas vitórias nas eleições primárias, ganhando a nomeação para voltar a enfrentar Biden, cuja administração enfrentou o desgaste de duas guerras com impacto global, a dificuldade de lidar com o problema da imigração, a que se acresce ainda o fator idade.
“É evidente que a maioria das pessoas está preocupada com a sua idade e a pergunta que está a ser feita é: ‘Confiaria o trabalho mais difícil do mundo a alguém terá 82 anos no início do mandato e 86 anos no final?'”, comenta Sherman, assinalando que, ao contrário do que se passa na Europa, os partidos nos Estados Unidos não são fortes, o que leva a que “não haja ninguém, para além da família de Joe Biden, que lhe diga que não se deve candidatar e só no final se irá descobrir se foi um erro”.
O que o Presidente democrata terá de fazer, diz o antigo embaixador, “é convencer o povo americano de que a idade é apenas uma questão de um número cronológico e que ele estará à altura da tarefa e a par das questões”, contra um candidato republicano que, apesar de ser apenas quatro anos mais novo, se apresenta “mais vigoroso e muito enérgico”.
Para Robert Sherman, esta é uma prova de que “a forma como as pessoas veem os candidatos não se baseia necessariamente num número”, recordando que, no discurso do Estado da União perante o Congresso em 08 de março, no qual Joe Biden se focou “mais na campanha do que no país” e surgiu “muito forte no seu pronunciamento”, seguindo depois para visitas a ‘swing states’ e “é isso que ele tem de fazer”.
A tecnológica chinesa Xiaomi anunciou hoje a venda dos primeiros 50 mil veículos elétricos 27 minutos depois do lançamento oficial do “desportivo de alto desempenho e tecnologia verde”, com o qual se estreou no setor.
O evento de lançamento, realizado na quinta-feira, em Pequim, contou com a presença do fundador da empresa, Lei Jun, que anunciou o preço de venda ao público da grande aposta pessoal: 215.900 yuan (27.667 euros) para o modelo de entrada e 299.900 yuan (38.432 euros) para o chamado Max.
“É 30.000 yuan (3.851 euros) mais barato do que o Modelo 3”, disse Lei sobre o veículo da norte-americana Tesla, cujo preço de venda na China começa em 245.900 yuan (31.571 euros).
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Embora a bolsa de valores de Hong Kong não tenha negociado hoje devido ao feriado de Sexta-Feira Santa, as ações da Xiaomi nos Estados Unidos registaram uma recuperação significativa de 12,51%, após o anúncio da empresa.
A apresentação foi seguida por mais de dois milhões de espetadores através de várias plataformas, incluindo a chinesa WeChat, Youtube e X (antigo Twitter), e contou com a presença de cerca de mil pessoas, incluindo os diretores executivos de grandes marcas chinesas como Nio, Xpeng, Li Auto e BYD.
O lançamento do Xiaomi SU7 segue-se à publicação na terça-feira de um lucro anual recorde em 2023 da campeã mundial dos veículos elétricos BYD, sediada em Shenzhen, no sudeste da China.
O mercado de veículos elétricos chinês expandiu-se a uma velocidade vertiginosa nos últimos anos. Várias marcas chinesas estão agora a desafiar os principais fabricantes alemães, norte-americanos e japoneses.
O veículo da Xiaomi, uma das principais marcas chinesas de telemóveis, dispositivos com ecrã tátil, relógios conectados, auscultadores ou motos elétricas, oferece uma aceleração dos 0 aos 100 quilómetros por hora em 2,78 segundos, bem como uma velocidade máxima de 265 quilómetros por hora, na gama mais alta.
O automóvel está disponível em três versões, Standard, Pro e Max, em nove cores, com a versão Standard a oferecer uma autonomia de até 700 quilómetros, em comparação com os 810 quilómetros do modelo Max, “líder na indústria”, considerou Lei Jun.
“Estamos muito entusiasmados com a resposta ao SU7”, disse o fundador da Xiaomi.
O SU7 estará à venda em 211 lojas de 39 cidades chinesas no prazo de um mês, desde a compra até a entrega do veículo, acrescentou Lei.
O grupo, que ainda não anunciou planos para vender o veículo no exterior, planeia lançar mais modelos de veículos elétricos no futuro, com o objetivo de se tornar um dos cinco maiores fabricantes de carros elétricos do mundo dentro de 15 a 20 anos.
A Evergrande NEV, uma subsidiária do grupo imobiliário chinês que enfrenta um processo de insolvência, deu a si própria “três a cinco anos”, quando foi fundada em 2019, para se tornar o fabricante “mais poderoso” de carros elétricos do mundo.
A sobrevivência da marca está agora em jogo, enfraquecida pelos problemas da empresa-mãe e pelas fracas vendas.
A União Africana (UA) felicitou o opositor Bassirou Diomaye Faye pela vitória nas presidenciais senegalesas, declarou hoje a organização, em comunicado, congratulando-se com a “aceitação unânime dos resultados” eleitorais.
O Presidente da Comissão da UA, Moussa Faki Mahamat, “felicita calorosamente” o chefe de Estado do Senegal, Bassirou Diomaye Faye, “pela proclamação oficial da eleição à primeira volta”, com mais de 54% dos votos nas eleições de domingo, e deseja-lhe “todo o sucesso no pesado e nobre cargo”, de acordo com a mesma nota.
Faye, de 44 anos, nunca ocupou um cargo eletivo no Senegal e vai ser agora o quinto e o mais jovem Presidente deste país da África Ocidental, com 18 milhões de habitantes.
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Ao beneficiar de uma lei de amnistia, Faye foi libertado de 11 meses de prisão 10 dias antes das eleições de domingo, ao mesmo tempo que o líder do seu partido dissolvido, Ousmane Sonko.
Os resultados provisórios finais mostram que Bassirou Diomaye Faye venceu a primeira volta das eleições presidenciais, com 54,28% dos votos, muito à frente do candidato do partido no poder, Amadou Ba (35,79%).
Estes resultados ainda têm de ser validados pelo Conselho Constitucional.
Na segunda-feira, Amadou Ba reconheceu a vitória do opositor antissistema.
No comunicado, a UA “congratula-se com a aceitação unânime dos resultados (…) por toda a classe política senegalesa”, o que “atesta as tradições democráticas profundamente enraizadas neste farol da democracia africana”.