Estamos a quase dois anos e meio desde o início da pandemia, caiu a obrigatoriedade do uso de máscaras quando a Covid-19 parecia sob controlo, mas afinal, ei-la de volta e em força, sem dar tréguas. “Portugal é o terceiro país do mundo com mais infeções diárias por milhão de habitantes e o primeiro na Europa. A quinta vaga chegou em força, e duas sublinhagens da Ómicron vieram de novo baralhar o rumo da pandemia. Um número dá uma boa ideia do problema: em Portugal, o número de baixas médicas por doença ou por isolamento, nos primeiros quatro meses de 2022, foi superior ao de todo o ano de 2021″, enquadra Mafalda Anjos no Olho Vivo, o programa de comentário político e económico da VISÃO. “Assistimos ao que era de esperar com o fim das máscaras. Mas o aumento da incidência não se traduziu na gravidade da doença e a situação ao nível dos internamentos e mortos continua, apesar de tudo estável, e a mortalidade tem afetado sobretudo os que têm mais de 80 anos e fragilidades de saúde. Esses têm de ser protegidos”, sublinha a diretora da VISÃO.
A mais recente eliminação das restrições da pandemia foi acompanhada de um ambiente que poderia sugerir que a pandemia estava ultrapassada. “Alguns segmentos políticos e dos media foram responsável por um certo discurso que é um erro de comunicação. Falar em dia da libertação por deixar de se usar uma máscara é terraplanar o que aprendemos nos últimos anos”, afirma o jornalista Nuno Aguiar. “A utilização de máscaras não serve para nos proteger a nós, mas sim os outros. É um pequeno sacrifício, muito comum em vários países asiáticos. E um sacrifício minúsculo a favor do bem comum. Aliás, essa ideia de que podemos ter de fazer um pequeno esforço para proteger a comunidade podia até ter sido um bom legado do combate à pandemia.”
“A fadiga pandémica tornou-se um critério político do Governo: Há um ano, com números menos graves, mostrava-se muito mais nervoso…. De um dia para o outro, aboliu as máscaras e acabou com os testes gratuitos. Parece uma precipitação, a não ser que, no caso dos testes, seja uma forma de baixar os números oficiais de infeções, artificialmente, e retirar o País do pódio mundial de novas infeções…”, afirma Filipe Luís. o editor-executivo da VISÃO continua: “Não podemos pensar que deixámos de ser afetados pela pandemia. Claro que vamos ser afetados. A Humanidade erradicou algumas doenças, outras novas surgiram. Esta é uma doença nova, que causa mortes e vamos ter de aprender a viver com isso, não podemos voltar a parar tudo por causa da Covid. A forma de lidar bem com a Covid é garantir a resposta do SNS e manter o programa de vacinação. Provavelmente, tal como no caso da gripe, terá de haver uma vacina todos os anos”
Ainda assim, há boas novas no horizonte. “A Autoridade Europeia dos Medicamentos autorizou a utilização de um antiviral para tratar doentes com sintomas leves de Covid-19, mas com risco de complicações graves, um produto que nos EUA já está a ser utilizado em força. A Direção-Geral da Saúde disse que iria adquirir o fármaco, é importante que chegue o quanto antes”, sublinha Mafalda Anjos.
Outro tema em análise no Olho Vivo desta semana foi a longa corrida à sucessão no PSD. “A começar a aquecer está também a corrida à liderança do PSD, que neste momento parece um coro desafinado: há dois candidatos a apresentarem propostas e apoiantes e um líder que não sai de cena nem deixa os outros brilhar”, comenta Mafalda Anjos.
Filipe Luís concorda. “O PSD está a comunicar em triplicado, o que causa uma grande confusão mediática e faz com que o partido não tenha mensagem nem discurso. Rui Rio diz uma coisa, Montenegro outra e Jorge Moreira da Silva uma terceira, sobre cada caso que vai surgindo na agenda política. Isto é normal quando há eleições internas, o problema é que a situação se arrasta desde 30 de janeiro… Numa altura crucial para o principal partido da oposição, como é o da discussão na especialidade, do Orçamento do Estado, o PSD está incapacitado de comunicar quais serão as suas alternativas, e quais seriam as suas políticas públicas orçamentais em áreas como a Defesa, a Saúde, o Ambiente a Educação… “
A alguns dias das suas eleições, a campanha permanece morna, sem receber muita atenção. Em parte, isso pode ser explicado pela falta de foco da atual direção do PSD. “O país enfrenta uma crise possivelmente grave, sabemos que os portugueses vão perder poder de compra e o PSD está ocupado a debater revisões constitucionais, ainda para mais negociadas por uma direção que está de saída”, refere Nuno Aguiar. “O partido terá um novo líder seis meses depois da derrota nas legislativas e esse líder estará fora do Parlamento e terá ainda de gerir uma bancada que poderá não lhe ser totalmente leal. Uma sondagem da CNN sugere que, seja com um líder ou outro, o PSD está a perder intenções de voto face ao já fraco resultado das eleições legislativas.”
O caso da receção de ucranianos em Setúbal, o alargamento da NATO à Finlândia e a pretensa ilegalização do PCP estarão também em análise do painel de olheiros residente. Fiquem connosco.
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