Putin está visivelmente irritado. Tem as suas tropas empenhadas no Sul e Leste da Ucrânia, e em poucos dias perdeu cerca de mil quilómetros quadrados na região de Kursk, e arrisca-se a ficar sem outros tantos na vizinha Belgorod. Alguém ainda se lembra da caminhada relâmpago das tropas do grupo Wagner em direção a Moscovo? Ninguém os conseguiu deter até decidirem parar.
Putin e os seus comandos militares, perante o fracasso da ofensiva inicial contra a Ucrânia, em Fevereiro de 2022, tiveram de injetar e refazer todas as suas forças, desprotegendo grandes comandos militares regionais. Em Kursk e Belgorod, fronteiriças, não existem tropas e equipamentos suficientes para travar a ofensiva, que aconteceu onde menos se esperava.
Raivoso, com 120 mil refugiados russos às costas, Putin ordenou um ataque imediato às ousadas forças ucranianas. Pela cara dos seus ministros e comandantes militares, na reunião de emergência no Kremlin, ninguém se atreveu a dizer que para isso era necessário retirar grandes unidades de combate do território ucraniano. E o mais depressa possível. Ou esperar pela chegada das forças militares da Coreia do Norte (e ainda perguntam se Kiev está a usar armas doadas pelos aliados).
Esta ofensiva direta ao seu território não é apenas uma humilhação, mas acima de tudo um vexame para Putin e um insulto à sua desejada grandeza imperial. A Ucrânia, finalmente, lançou-se contra a Rússia, e os mil quilómetros quadrados significam qualquer coisa como a soma dos municípios de Alcácer do Sal, Grândola e Santiago do Cacém! Mais um esticão e fica com o equivalente ao Algarve.
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