O pacote do Governo, que tem boas medidas, falha na ambição. É prudente, como disse o ministro das Finanças, equilibrado, como referiu o Presidente, curto e tardio, como classifica a oposição, e responde pequenas emergências dos portugueses. E por um curto espaço de tempo. Uma de duas: ou o Governo acredita, piamente, que esta crise e esta guerra são passageiras, e por isso aposta na estratégia dos pequenos passos, ou está a guardar tudo para o Orçamento de 2023. Ou coisa nenhuma.
De toda a agitação que existe na Europa, no mundo, nos mercados e nas economias, há três certezas que resistem ao maior dos otimismos, ou a qualquer realismo forçado: a inflação vai continuar a crescer, a tática do aumento de juros dos bancos centrais potencia os danos globais, e a arma russa da energia pode trazer uma pesada recessão para a Europa. Sem gás, e petróleo, as economias mais poderosas da União vão sofrer um impacto nuclear, e daí não fazer nenhum sentido, a prazo, a esperteza saloia do contínuo aumento dos juros, e a escassez no acesso ao dinheiro.
A escola dominante nos Bancos Centrais é fazer aumentar o preço do dinheiro, restringindo-o furiosamente, para baixar o consumo e o investimento e, por tabela, a inflação. O problema, contudo, é que este aumento generalizado do custo de vida, em todos os setores, vem de uma guerra na Europa, que não tem um fim marcado, e de uma superpotência energética, que por acaso é a parte invasora no conflito, que liga e desliga a torneira do gás e do petróleo.
Tudo isto para dizer que 2023 pode ser explosivo. Inflação nos dois dígitos, os juros a triplicar, e uma queda brutal da vida económica e das trocas comerciais. Quem não tem energia não produz, ou só produz o essencial, o que voltará a bater, como os círculos de Dante, nos preços de todos os produtos e bens.
Assim sendo, o Governo bem pode preparar-se para ter de salvar a economia, as pessoas e as famílias. E não vai ser com cheques de 125 euros, ou com meia pensão para os reformados. Há, no horizonte, um furacão de força 4, ou 5, e a catástrofe que carrega exige um Governo preparado, atento, rápido a decidir, empenhado e corajoso. À custa, se necessário, do défice e da dívida. Quem é que vai estar preocupado com isso, na verdade? Arrepia, inquieta, dói, faz mossa, mas não haverá porta de saída.
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