À meia noite de Portugal, as urnas encerram no estado americano da Geórgia para a eleição dos dois últimos membros para o Senado. Nunca o georgianos se sentiram tão decisivos na política americana. Deles depende quem vai ter a maioria. Aos republicanos basta um senador, e para os democratas tomarem conta do Senado têm de ser os dois (50-48) e mesmo assim contar com o voto de Kamala Harris, que assume a função de presidente do Senado, e que desempata qualquer votação. Como vai ser?
A Geórgia é tradicionalmente um estado republicano, mas desta vez foi conquistado por Biden, pelos tais 11.700 votos que Trump pediu ao telefone. Os dois senadores republicanos teriam sido eleitos em qualquer outro estado, porque bateram os opositores, particularmente David Perdue, que terminou com 49,9 por cento. Só que na Geórgia os senadores são eleitos com 50 por cento mais um, e daí esta corrida louca. Foram investidos milhões, pelos dois partidos, Trump e Biden desdobraram-se em comícios, e dezenas de outros republicanos e democratas estão no terreno.
Tudo é possível, tudo pode acontecer, tantos mais que três milhões de eleitores já votaram antecipadamente, mas à partida parece anedótico que o republicano Perdue não consiga a meia dúzia de votos que lhe faltou para chegar ao Senado. O mesmo não se pode dizer da outra republicana, também senadora, mas que subiu ao cargo por escolha do governador, quando o anterior desistiu, por razões de saúde.
A Geórgia é tipicamente um estado rural, está no meio da tabela dos mais ricos dos EUA, e tem uma população idêntica à nossa, acima dos 10 milhões, mas com um tamanho que é várias vezes Portugal. E com a mesma população, tem de PIB acima dos 500 mil milhões de dólares, mais ou menos o dobro do nosso, e o rendimento per capita é de 52 mil dólares. Outro mundo. As comparações não deprimem, mas reduzem-nos à nossa pequenez histórica e crónica.
O Senado, amanhã, já sabendo quem tem a maioria, vai ser obrigado a debater e votar a certificação do Colégio Eleitoral, e Trump ainda fantasia que será possível uma reviravolta, um golpe na maior democracia do mundo. O médico dele tem de lhe dar umas pastilhas para ver se o acalma e sai, com dignidade, da Casa Branca, no dia 20. Uma coisa parece certa: Trump não vai estar presente na cerimónia de posse de Biden. Ir ao Capitólio seria reconhecer a derrota e o novo presidente, e isso não lhe entra na cabeça. Nem quer. Trump assumiu a condição e o estatuto de mártir da fraude democrata, e só isso o coloca na posição de poder pensar em 2024. Mas até dia 20 ainda pode fazer algumas maluquices, o que não é propriamente muito tranquilizador. Para eles, americanos, e para todos nós no mundo.